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TMDQA! Entrevista: falamos com Rincon Sapiência sobre o novo single "SOL", em parceria com Marissol Mwaba

Rincon Sapiência é um dos grandes nomes do rap atual e tem novo projeto em parceria com Marissol Mwaba. Veja entrevista exclusiva com o TMDQA!

Rincon Sapiência e Marissol Mwaba
Foto: Marshall Farias

Rincon Sapiência é um artista plural, com vários universos dentro de si, pra ser visto e ouvido. Hoje, ocupa lugar de grande importância para o rap e está sempre produzindo música de qualidade em seus discos e nas colaborações com outros artistas como Mano Brown e Iza.

Recentemente, ao completar 36 anos de idade, o MC, produtor musical e empresário lançou “SOL”, em parceria com Marissol Mwaba, continuando a trajetória de lançar singles enquanto espera o momento certo para produzir o terceiro álbum de inéditas.

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E assim tem sido o trabalho de Rincon: desde a ascensão maior com o influente disco Galanga Livre, de 2017, e uma sequência de trabalhos elogiados trazendo à tona questionamentos sociais ou apenas se permitindo falar do Sol que entra pela janela da nova casa na Zona Leste.

Nos dois universos, se é que é preciso separá-los, a riqueza poética do MC se mostra forte e coesa, sempre conversando bem com a realidade do momento em que estamos inseridos como sociedade.

O Rap de Rincon continua falando do dia-a-dia com leveza, mas de forma certeira e dura, com a segurança de quem hoje pratica a autogestão da carreira e se permite mergulhar de cabeça em outros universos como o audiovisual, com a mesma dedicação que realiza na sua carreira musical.

Falar de inferno astral, de astros e planetas — temas comuns a muitos de nós — ficou mais fácil com a cantora e compositora Marissol Mwaba, astrofísica em formação, multi-instrumentista e parceira de Rincon desde o disco Mundo Manicongo.

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Sobre a colaboração, Marissol afirma:

Ele tem um olhar muito atento e especial para as coisas e isso transparece na forma genial dele de fazer cada detalhe do som. Toda vez que fazemos algum trabalho juntos, volto pra casa encantada e inspirada porque a música dentro dele vai muito além do audível.

Os dois vivem o chamado inferno astral no mesmo período, já que fazem aniversário com uma semana de diferença, e é nessa união de celebração que o flow das letras e ritmos do novo single levou o rap de Rincon mais uma vez para um lugar agradável, conversando com o universo pop e outros gêneros.

Aqui no TMDQA!, tivemos uma conversa exclusiva com o MC sobre vários assuntos e, claro, sobre o novo single. Confira abaixo!

TMDQA! Entrevista Rincon Sapiência

TMDQA!: Você se considera um “ponta de lança” na música brasileira? Vendo a sua trajetória até aqui, é facilmente compreensível usar o termo devido a tantas frentes nas quais você atua, produz, canta e faz. Qual a importância dessa sua forma de autogerir a carreira e como isso se refletiu desde o seu primeiro trabalho?

Rincon Sapiência: Eu posso dizer que só existe o trabalho por conta dessa postura, já que a gente vem de condições adversas, principalmente financeiramente. Eu peguei esse impulso todo da tecnologia, internet e de como isso ajudou a democratizar os acessos. Quando eu passei a ter conhecimento das tecnologias e de como fazer uso delas, de como acessar, de como evitar os gastos, de fazer com que as coisas acontecessem, eu entendi que eu tenho um poder de criação de produção.

Tudo que me aconteceu, os tijolos que eu usei pra construir até chegar a ter uma maior ascensão, foram por conta disso, por conta dos acessos e do conhecimento da forma de como usá-los. Entendendo que, com a máquina que eu tinha, conseguiria produzir, gravar voz e fazer outros processos da música. Entendendo isso, passei a executar. A grande maioria dos meus trabalhos eu diria que foi feita dessa forma, com a minha autogestão, e dessa forma eu consegui colocar muito do meu trabalho na rua.

TMDQA!: O novo single “Sol” chega no seu 36º aniversário, vem em parceria com a Marissol Mwaba e trata de temas como o momento em que estamos, os astros e o signo solar. Como rolou essa parceria e como esses temas se relacionam com a forma de enxergar a sua própria estrada?

Rincon Sapiência: Ali é tudo muito espontâneo. Quando eu comecei a fazer essa música, eu já estava com dois álbuns, muitos singles, muitas participações com outros artistas de rap e de fora do eixo do rap. E quanto mais você produz, é bacana olhar pra trás e ver o tanto de coisa já feita. Mas eu me atento muito em não reproduzir mais do mesmo, então dentro da minha linha de produção eu fiz uma música e senti que a linha dela era positiva, divertida e fiquei pensando o que eu poderia falar pra combinar com essa energia.

Até que o fato de eu estar num inferno astral, um mês antes do aniversário, ter mudado de casa, voltando a morar na Zona Leste (SP)… as manhãs passaram a ser mais bonitas, o cantar dos pássaros, o sol, o rastro da luz dele pela janela, a praça que tem perto de casa, todas essas coisas me inspiraram. Eu sou um cara muito aberto a deixar fluir a criação e não se amarrar a algo específico, então falar do sol, da importância dele, de contemplá-lo, foi algo bem espontâneo.

E a participação de Marissol, na minha visão, estava relacionada a essa parte astral. Ela, além do trabalho com música, tem estudos de astrofísica, é virginiana como eu e acima de tudo é muito criativa. E eu sabia que ela poderia ser a pessoa certa para a melodia que eu não conseguia encaixar além do rap, e assim conseguimos criar essa música que tem essa energia bem bacana.

TMDQA!: Além de ser um dos nomes de destaque na música brasileira nos últimos anos, você tem feito trabalhos no mundo da publicidade e do audiovisual. Como esses horizontes se abriram pra você?

Rincon Sapiência: Eu sou um cara muito aberto a trabalhar em outras frentes, desde que elas tenham a ver com a minha personalidade e com o que eu posso oferecer. O audiovisual é algo que… desde quando eu saí dos empregos formais e sonhava em trabalhar com a música, sabendo das dificuldades que era trabalhar com a música e com a necessidade de ter uma renda, sempre que eu pensava em trabalhar pra alguém e fazer algo que eu gosto, o audiovisual aparecia ali em primeiro plano.

Então eu tentei me inserir no mercado de trabalho no audiovisual também, não consegui. E pra eu entrar no mercado, acabei estudando, fazendo alguns cursos, pegando câmeras emprestadas, dando rec, curtindo, experimentando. E isso fez com que eu tivesse um certo conhecimento e a pandemia acabou sendo um momento ideal pra aflorar esses conhecimentos, já que nos trouxe algumas limitações no que diz respeito a contar com pessoas, não poder aglomerar, entre outros detalhes. Então, deixei fluir mais esse meu lado de audiovisual e também a publicidade.

Eu posso estar performando nesse conteúdo, posso fazer locução, trilha, posso pensar contexto, escrever um manifesto. Então, dentro das minhas expertises, eu tenho potencial e competência pra atuar nessas áreas. A pandemia fez com que eu desse atenção pra esse outro lado e tem rolado muito bem, eu tenho gostado dos resultados que tem acontecido.

TMDQA!: Desde o S P Gueto B R de 2014 você tem se dividido entre discos e singles, num ritmo de sempre estar produzindo e apresentando algo novo. E já que estamos numa fase em que o single está muito em evidência, devido às plataformas de streaming, como você vê a diferença entre lançar apenas singles ou discos completos nos tempos atuais?

Rincon Sapiência: Eu sempre admirei grandes discos, grandes obras de outros artistas. E eu como artista sou tentado a fazer grandes obras também, grandes capas, fotos, conceitos, tudo isso, mas entendo a época que a gente vive, a forma que as pessoas consomem a música pelos streamings. Entendo também que lançar coisas esporádicas é não necessariamente costurar algo, que é o que fazemos quando fazemos um álbum — desde a primeira faixa até a ultima, tudo é costurado. E os singles não.

Considerando que na minha carreira eu usufruí pouco dessa forma de expor minhas músicas, eu também vi 2021 como um ano ideal pra fazer isso, porque muitas vezes a gente cria pensando em construir alguma coisa e muitas vezes a gente quer fazer algo espontâneo, como quando o sol te inspira e você quer fazer algo sobre o sol e depois uma outra coisa te inspira e você faz a música sobre essa outra coisa e não tem ligação.

Então, por conta disso, a melhor forma de expor é descolando uma música da outra e também entendendo o que é momento e de como os singles tem rolado. Eu acho bacana essa forma de trabalhar com singles, mas eu ainda tenho dentro de mim o gosto e o apreço de fazer álbuns. E no melhor momento eu farei o meu terceiro álbum, depois desse processo de lançar alguns singles.

TMDQA!: A sua obra carrega um contexto político e social de extrema riqueza e se faz necessária em tempos tão complicados. Sabendo que a música sempre teve esse papel fundamental no contexto social, como bandeira de luta, como você analisa esse momento do Brasil e qual a relação que todo esse momento que estamos passando impacta na sua forma de cantar e fazer música?

Rincon Sapiência: É uma relação complicada, porque eu como artista e indivíduo sempre faço essa força pra me colocar como um indivíduo e também expor meus anseios pessoais, minhas paixões, minha contemplação ao sol ou qualquer outro tipo de visão individual.

Às vezes acaba não sendo muito saudável carregar essas cargas coletivas, porque nem sempre a gente dá conta. Então sempre me permito ser um indivíduo com minhas perspectivas, minhas visões e colocar isso na minha arte. Mas, dado o momento, esse macro influencia a gente sim, tudo que tá acontecendo… e a partir disso a gente se coloca, se posiciona e a arte tem esse poder de registrar — no meu caso a música, mas poderia ser a pintura ou qualquer outra manifestação artística. A arte faz retratos da época.

Então, sim, algumas obras minhas têm esse registro sobre tudo que tá acontecendo. Acaba saindo isso no meu criativo, mas eu também fico entre esses lados de ser representativo, de ser porta-voz de alguma forma da minha quebrada, da minha cor, entre outras representatividades que eu carrego, como também tem momentos em que eu me dou espaço pra expor minhas individualidades e falo da minha perspectiva pessoal, então isso acaba sendo algo complexo. Sobre as obras que tenho feito, eu tenho trazido as duas coisas, no meu ponto de vista.

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