Jorge Du Peixe, vocalista da Nação Zumbi, honrou um desejo antigo e lançou recentemente um álbum em homenagem a Luiz Gonzaga.
O TMDQA! bateu um papo com o cantor e compositor pernambucano, que nos contou sobre os bastidores do projeto e ainda revelou novidades da banda mais multifacetada do Brasil.
Segundo Du Peixe, o embrião do álbum surgiu ainda em 2017, quando participou do programa musical Clubversão, onde artistas de diferentes gerações revisitam clássicos da música popular. Na ocasião, Du Peixe gravou com o saudoso sambista Wilson das Neves a música “Manhã de Carnaval” (Luiz Bonfá/Antônio Maria), em um encontro histórico.
O multi-instrumentista Fábio Pinczowski estava à frente da produção do programa e logo se interessou em produzir um disco de Jorge Du Peixe. Nasceu ali uma nova parceria.
Fábio me fez o convite, queria me produzir de alguma maneira, sendo autoral ou cantando outro artista. Ficou na minha cabeça isso.
Jorge Du Peixe e o seu Baião Granfino
O tempo passou e, no início de 2021, Jorge Du Peixe e Fábio Pinczowski entraram no estúdio Doze Dólares, em São Paulo, para gravar o álbum Baião Granfino.
O projeto, que chegou às plataformas no último dia 16 de Setembro, abre espaço para novas propostas sonoras e arranjos criativos que exaltam a obra do Rei do Baião, aliado à interpretação potente de Du Peixe.
Em nossa conversa, o músico ressalta a honra de realizar esse projeto.
Quem é do Nordeste cresce ouvindo essas melodias de todos os lados, seja no rádio tocando na casa do vizinho, seja em uma rádio no táxi, seja seus pais ouvindo. Eu tenho aqui vinil que foi da minha mãe, do Luiz Gonzaga, e é isso, as melodias grudam em você.
O álbum conta com 11 faixas, entre elas, clássicos como “Sabiá“, “Qui nem Jiló“, “Assum Preto” e “Pagode Russo“, além de algumas canções menos conhecidas de Gonzagão, caso de “Acácia Amarela” e “Orélia“. Segundo Du Peixe, “a ideia era ir para lugares diferentes”, passeando por outras paisagens mas mantendo a célula harmônica do baião presente.
As participações especiais em Baião Granfino
Durante a entrevista, Du Peixe nos corrigiu quando usamos a palavra “solo”. Não podemos deixar de concordar e não iremos repetir isso aqui, pois, apesar de assinar o disco com seu nome, Baião Granfino é um trabalho extremamente coletivo.
[É] solo porque quem tá colocando a cara na frente, quem tá interpretando Luiz Gonzaga e tudo mais [sou eu], mas não posso deixar, como não deixei desde o início, de salientar todos esses músicos que colaboraram ali.
Antes do lançamento oficial do registro, o músico já havia apresentado dois singles: “Rei Bantu“, que conta com a presenta dos músicos Mestrinho, Carlos Malta, Pupillo e Swami Jr, além de um coro feminino formado pelas cantoras Victória dos Santos, Naloana Lima e Sthe Araújo; e sua versão para “O Fole Roncou”, com a participação especial da gigantesca cantora e compositora Cátia de França.
As colaborações não param por aí. Nomes como Siba, Lelo Bezerro, Bruno Buarque, Serginho Plim, Yaniel Matos, Gustavo Ruiz, Victor Rice, Bubu, Maria Beraldo, Lívia Nestrowski e Fábio Sá, além do próprio produtor Fábio Pinczowski, também marcaram presença nas gravações.
Novidades para os fãs de Nação Zumbi
É claro que, em uma conversa com o vocalista de uma das principais bandas da música brasileira, não deixaríamos de perguntar sobre as novidades no universo da Nação Zumbi.
O grupo estava gravando um novo disco, com produção de Apollo 9, quando “colocaram um cadeado no mundo” e precisou pausar os trabalhos. O músico nos conta que o “break” forçado acabou lhe permitindo entrar em um processo de ouvir e reescrever algumas letras.
Para mim, escrever a letra é uma questão de vida ou morte, é muito importante saber entrar no tema novo, mergulhar nele, brincar com as harmonias, entrar na música, na métrica e melodia. Então eu preciso de muito tempo para isso. Se tivéssemos dado continuidade das gravações e tentado acabar na época que era previsto, talvez não ficasse completamente do meu agrado.
Du Peixe conta que escreveu a maioria das letras entre 2017 e 2019 e ainda se assusta ao ver como alguma delas parecem ter sido escritas pós-pandemia. Uma delas, ele nos adianta, se chama “Depois do Apocalipse” e deve ser o primeiro single do álbum.
O novo disco da banda ainda não teve seu título revelado, mas os planos é finalizá-lo “o quanto antes para endereçar para mix e master” e lançar o registro já em 2022.
Enquanto o primeiro álbum de inéditas da Nação Zumbi em mais de sete anos não chega, você pode curtir Baião Granfino na íntegra no player abaixo, e, na sequência, conferir nossa entrevista completa com Jorge Du Peixe.
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TMDQA! entrevista Jorge Du Peixe
TMDQA!: Você acabou de lançar o excelente “Baião Granfino”, que leva as obras atemporais do Rei do Baião para passear por novas sonoridades e arranjos inesperados, mas ainda mantendo em seu cerne o gênero que consagrou Luiz Gonzaga. Poderia nos contar um pouco como surgiu esse projeto?
Jorge de Peixe: Esse disco surgiu da vontade antiga de cantar Luiz Gonzaga, somado a um convite inesperado de 2017, quando fiz o programa Clubversão, dirigido por Alê Dorgan e direção musical de Fábio Pincz.
Na ocasião, a convite do pessoal do programa, encontrei com o seu Wilson das Neves, cantando “Manhã de Carnaval”, de Luiz Bonfá. Aí o resultado ficou maravilhoso, bonito pra caramba. Foi ótimo encontrar seu Wilson nesse modo de crooner, as duas vozes somaram legal. Depois Fábio me fez o convite, queria me produzir de alguma maneira, sendo autoral ou cantando outro artista. Ficou na minha cabeça isso. Em 2018, ele me lembrou, 2019 também, e, a partir daí, comecei a fazer uma playlist de Luiz Gonzaga pra dar uma geral e ver o que caberia legal, já que a obra é bem extensa.
Daí mandei uma primeira intenção de repertório, ele me mandou uma outra, e fomos batendo esse papo, vendo como endereçaríamos essas intenções a novas perspectivas musicais. Não só fazer uma versão muito colada, mas agregar intenções novas, já que a gente tem tanto recurso hoje em dia. Em 2020 foi essa conversa toda e, em 2021, a gente decidiu colocar a mão na massa e ver as possibilidades, e que músicos estariam disponíveis e topariam, em meio a pandemia, começar essa peleja. E por aí começamos.
TMDQA!: O disco tá riquíssimo em instrumentação, expandindo o universo das canções do Gonzagão de uma maneira tão cuidadosa e detalhada, um presente lindo para a contemporaneidade… Quais foram os desafios e as facilidades em imprimir o seu estilo nas obras de uma das mais importantes figuras da música popular brasileira? E o quão difícil foi para vocês encontrar o lugar certo para cada elemento dentro desse projeto?
Jorge de Peixe: Pois é, eu vindo das produções dos discos da Nação Zumbi, sempre fomos muito exigentes, muito cuidadosos. Nunca foi fácil, pra mim, confiar um disco a um produtor, a gente tem que ter muita cumplicidade, tem que ser “partner in crime” [“parceiros de crime”, em tradução livre] mesmo.
Vi, desde a produção do programa Clubversão, todo o cuidado [do Fábio Pinczowsk] na produção, na pós-produção, na mixagem e tal, e, durante toda a conversa de pra onde conduziríamos isso, vi que ele é um grande conhecedor da obra do Luiz Gonzaga, além de ter um estúdio, né? Coisa que facilitou muito, dentro desse espectro que a gente tá vivendo, dentro da pandemia, das dificuldades e tudo mais.
Acho que a dificuldade maior foi ver datas e que artistas aceitariam, em primeira instância, ir pro estúdio gravar, já que existia todo um cuidado, um medo, em questão. Mas eu sabia que teríamos cuidado. Fábio é muito cuidadoso, não só o que diz respeito as harmonias e arranjos, mas escolhemos juntos que artistas participariam. Ele, conhecedor de muita gente, por ter um estúdio e muita gente ter participado, tá sempre juntando esses músicos por muitos anos, por fazer este programa também. Parte das pessoas que participaram do disco também tocaram no Clubversao com Wilson das Neves: o Swami Jr., grande violonista; o Yaniel Matos, um cubano, toca violoncelo e piano, tocou piano e cravo no disco. Serginho Plim também tava na ocasião. Enfim, todos fãs da obra Luiz Gonzaga toparam de primeira.
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A principio, montamos as bandas pra gravar e depois fomos pensando em outros músicos, acabou com a colaboração de 20 músicos e todos eles de um calibre altíssimo, muito dedicados em todos os aspectos. Todos vieram de peito aberto pra colaboração, e isso somou muito, né?! Tô bem assessorado ali. E até eles entrarem em estúdio, eu tinha tido, ao longo de 2020, conversado com o Fábio sobre intenções musicas, sobre referências, pra onde iriamos, ter um cuidado muito grande nessa ideia de unidade. Unidade, assim… você pode ir pra vários lugares, pra quem ir pra um lugar só? Nunca entendi essa ideia de unidade. Então esse disco vai por vários lugares, pra vários gêneros… então era importante [ter] essa espinha dorsal do baião, que já foi um gênero musical nacional, pré-bossanova e pré-tropicália, acho que todos os gêneros que vieram depois no país beberam da fonte, e é a obra de Luiz, né? Quando você faz uma releitura, você tem que ter um cuidado redobrado, tá lidando com a obra de outro artista.
A gente teve todo esse cuidado, até na ideia de interpretar Luiz Gonzaga, não é simplesmente cantar, é pegar a obra e tentar imprimir o que já tá ali, aquela melancolia, aquelas harmonias, as melodias que ele traz. O que a gente fez foi adornar um pouco mais o que já tinha sido colocado no mundo pelo Mestre Lua. Foi prazeroso, uma delicia. O estúdio é o parque de diversões maior e quando você lida com bons músicos que vêm totalmente disposto a colaborar da melhor maneira… não tinha como não ficar bonito este disco. Agradeço imensamente todo mundo que entrou nessa com a gente.
TMDQA!: O repertório caminha entre clássicos absolutos e algumas músicas mais lado B da carreira de Gonzagão. Como foi esse processo de seleção e arquitetura da lista de faixas? E como vocês fizeram a filtragem entre o que você queria cantar com aquilo que precisava ganhar voz nesse projeto?
Jorge de Peixe: Olha, confesso que foi difícil e foi fácil chegar nessas 11 músicas. Difícil pela obra extensa e tantos outros temas que ficaram fora, porque a gente tem que sintetizar. Fazer um disco duplo é muito difícil, né? Fazer um disco já é difícil.
Mas muito do que a gente gostava e queria trazer, o que você acabou de citar, não só as clássicas, mas o lado B também. A gente trouxe algumas outras que não eram só baião, né?! “Acácia Amarela” era um bolero, a gente deixou ela mais à la Morricone.
Eu cresci ouvindo, é obvio que quem é do Nordeste cresce ouvindo essas melodias de todos os lados, seja no rádio tocando na casa do vizinho, seja em uma rádio no táxi, seja seus pais ouvindo. Eu tenho aqui vinil que foi da minha mãe, do Luiz Gonzaga, e é isso, as melodias grudam em você, então existem clássicas, tipo “Assum Preto”, [que] não podia ter ficado de fora, né?! E muito por esse momento, não a toa ela foi a primeira do disco. Uma versão, uma ciranda mais soturna, digamos ali. E a letra colabora com isso. Mas ficou bonita, tem aquele outro com piano de Yaniel Matos, então o tema ficou muito bonito.
Fechamos o repertório em 2020, depois de tanto “manda um, manda outro“, a gente limpando, “é uma pena que essa não esteja” e tal, difícil nesse sentido, mas as que ficaram teriam que ficar mesmo. Ao término, quando batemos o martelo do repertório… achávamos que tínhamos batido, mas faltava uma coisa ou outra, “caramba, falta uma música aqui“… e essa música foi “Cacimba Nova”. “Cacimba Nova” é essa paisagem que o Luiz Gonzaga pinta na música e não podia ficar de fora, e foi a primeira a ser gravada do disco.
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Acabou que a gente bateu o martelo com esse repertório e ficou bonito, né?! Assim, vai em vários lugares… não pensamos em cronologia, não teve nenhum critério no sentido de apelo. A gente queria fazer o disco com o que a gente escolher e maravilhosamente, naturalmente, todos os arranjos foram tomando corpo.
Ao longo das gravações, a gente já pincelando aqui e ali, pude trazer pra casa as bases depois das gravações, não só para os arranjos vocais, mas, vez ou outra, eu colocava escaleta, tinha ideia de colocar um pianinho, consegui tocar algumas coisas breves também no disco. Existia uma abertura e uma cumplicidade muito boa com a intenção junto com o produtor, então a gente teve uma conversa muito longa, eu e Fábio, antes. Ele sabia muito bem pra onde ele iria conduzir, como um maestro, juntar todos esses músicos e correr junto com as primeiras impressões das gravações. Ele foi muito rápido e prático no meio de tudo isso. Acompanhei todo o processo de falar com todos os músicos, fazer as sessões, pensar quais músicas seriam gravadas antes. Foi um processo rápido, a gente teve que ser muito prático nisso, e conseguimos. Teve uma maestria muito boa em cima disso.
O disco começou bem nas conversas, até chegar nas mixagens e masterização, foi uma longa conversa e boa, pra chegar nesse final, então ficamos bem felizes com esse resultado.
TMDQA!: Esse foi o seu primeiro lançamento solo, sob o nome Jorge Du Peixe, mas segue sendo um trabalho bastante coletivo, com diversas participações. Como foi trabalhar dessa forma, sem uma banda, mas rodeado de músicos incríveis deixando suas colaborações em diferentes faixas? E como foi esse processo de escolher cada convidado?
Jorge de Peixe: A palavra solo é uma palavra muito complicada. Na verdade, projetos solos eu tenho outros, bem antes desse, esse é a primeira intenção gravada em disco. Qualquer trabalho que você faça solo, você vai ter colaborações dos músicos para poder idealizar o disco. Os músicos foram escolhidos a dedo, são pessoas que eu sou fã, que admiro o trabalho. Alguns já tinham trabalhado comigo, outros eu tinha o desejo de fazer alguma coisa. Alguns, inclusive, nunca tinham se encontrado em estúdio.
Solo porque quem tá colocando a cara na frente, quem tá interpretando Luiz Gonzaga e tudo mais [sou eu], mas não posso deixar, como não deixei desde o início, de salientar todos esses músicos que colaboraram ali. Como disse antes, fui bem assessorado na produção e na condução das músicas…
Mas eu tenho o Afrobombas antes, o próprio Los Sebosos Postizos, por mais que tenham componentes da Nação Zumbi, existem outros também. Mas esse é o primeiro nesse esquema de lançar um disco com meu nome na primeira pessoa. Todo e qualquer projeto vou sempre tentar agregar essas pessoas, todos eles são muito importantes. Trazer a palavra solo para esse projeto é complicado porque eu tô mexendo com uma obra grandiosa, todo mundo remou nesse barco gigantesco.
Como diz Manoel de Barros, “sou fraco para elogios“, e a ideia de solo é de fazer as coisas sozinho, é complicado, então pretendo sempre estar em boas companhias. Para mim, não tem nem como agradecer a participação desse povo todo e todos eles são, claro, de grande importância pra esse disco, para fazer uma obra que, de alguma maneira, imprimisse essa perspectiva atualizada da obra de Luiz Gonzaga. Porque essa ideia de modernizar e tal também é uma palavra muito perigosa, [o disco] traz e coloca adornos ali, já que o baião e as harmonia que ele nos trouxe permitem essa brincadeira toda, então a gente vai brincando até onde pode.
A gente foi ligando para saber a disponibilidade de cada, a maioria pode, um ou outro não pôde participar por está viajando. A princípio seriam seis [ou] sete pessoas e acabou em 20, porque a gente foi chamando, “cabe fulano, cabe ciclano aqui“… Foi interessante também todo esse endereço, de que músico iria pra tal [música]. Não é simplesmente chegar no estúdio e colocar voz. Eu participei de todo o processo, vez ou outra não estando lá nas gravações com os músicos, mas chegar depois e assistir as finalizações de gravação e até agradecer pessoalmente ao fim de algumas sessões por terem topado em meio a esse pandemônio, fazer parte desse desse grito em prol de Luiz Gonzaga. O processo coletivo se dá por conta de toda essa conversa que tivemos antes e de saber quem estaria nesse adorno para esse disco.
TMDQA!: Ainda sobre as colaborações, eu gostaria de saber como aconteceram as sessões de gravação do álbum, com tantos convidados de diferentes regiões do país, em meio a um momento bastante complicado e delicado no Brasil, e como esse obstáculo acabou impactando no disco.
Jorge de Peixe: Tudo isso foi possível por Fábio está aqui em São Paulo, todos os músicos estarem aqui. Pela situação que a gente tá vivendo, os músicos tiveram que fazer teste de PCR para entrar em estúdio, não foram todos de uma vez, as sessões foram divididas em alguns músicos para algumas faixas mais ligeiras e outras mais lentas, teve essa certa logística e depois de um tempo um foi participando de uma outra música e tal, mas esses 20 músicas foram se revezaram.
Todos os músicos estavam em São Paulo, acho que no Rio de Janeiro só o Carlos Malta e a Cátia de França, mas todos gravaram aqui em São Paulo, no estudo Doze Dólares, ali no Bom Retiro. Por isso que todos tiveram essa participação direta e prática assim. Queria muito que outros que estavam longe tivessem participado, mas não foi possível por conta da situação.
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TMDQA!: Sobrou algum material dessas sessões que acabou não entrando no lançamento final? Ou alguma música que vocês queriam muito gravar, mas acabou não rolando?
Jorge de Peixe: Não sobrou nada, sobrou intenção. A gente pensou outra música aqui ou acolá, porque acabamos em 11, talvez fosse 12, mas não de gravação, de sobra de estúdio, realmente não ficou nada. O que gravamos tá pra todo mundo ouvir, foi pro mundo, e é isso, vamos deixar esse disco soar.
TMDQA!: A pandemia trouxe mudanças significativas na maneira como se consome, produz e divulga música. Consequentemente, nesse primeiro momento, “Baião Granfino” não poderá conhecer o calor de um público. Mas a torcida é para que estejamos cada vez mais próximos da volta de eventos presenciais. Você pensa em levar o álbum para os palcos, assim que possível? Ou quem sabe uma apresentação por live? E, desenhando uma turnê, como isso rolaria, com uma banda rotativa ou com um time fixo?
Jorge de Peixe: Pois é, a pandemia nos tirou de nossa rotina, da nossa intenção diária, mexeu a humanidade em vários aspectos, físico, psicológico, profissional… e a verdade é essa, você gravava um disco e demandava show, a cada disco que você ouve, você realmente já pensa no palco, como vai ser esse show e tal.
A gente tá ainda num momento difícil, o disco foi lançado no meio da pandemia, mas eu penso sim, claro, em limitar. A ideia da participação de 20 músicas [foi] tudo porque a gente quis colocar mais adorno e ir trazendo as coisas, mas, a princípio, como eu falei, seriam poucos músicos para finalizar o disco, ao longo das gravações fomos rebanhando mais gente, mas, claro, não dá para fazer um Luiz Gonzaga All-Stars e levar para o palco 20 pessoas, inviabiliza isso, é difícil, não só pela grana, por ser caro, mas pela correria musical, pelo trampo de cada um, são músicos, na maior parte de estúdio e grande parte deles tem suas carreiras, seu trabalha próprio, e nem sempre é possível tá contando com esses músicos para todos os shows.
Então a gente tem que montar uma banda ali e pensar em reproduzir esse disco depois com essa banda fixa que a gente vai fazer. É uma pena não poder levar todos para o palco, é difícil isso. Eu já penso agora, nessas próximas semanas, juntar 3 [ou] 4 para tentar levar, tem muitas minucias que a gente pode samplear, levar para o palco e soltar isso de alguma maneira com periféricos, mas reduzir a banda e tentar.
Não vejo a hora de levar isso para o palco, quero fazer show sim. Vamos ver se em 2022 as coisas melhoram, a gente não vê a hora de ver esse feedback, tocar presencialmente com público mesmo. A ideia das lives vai ficar ali, mesmo o show sendo presencial as câmeras ficarão ali para quem quiser assistir o show remotamente, mas o artista tem que estar no palco, na estrada também… é uma fase 2 depois do estúdio, o processo natural.
Já tem pedidos de show em vários lugares do país, é engraçado e fico feliz com esse feedback muito rápido, e vamos ver o que acontece em 2022. Mas penso sim em levar, o quanto antes, para o palco esse show, pelo Brasil afora e quiçá para o mundo.
TMDQA! – Interpretar grandes artistas não é exatamente uma novidade na sua trajetória. Em 2012, com os Los Sebosos Postizos, lançou o disco “Los Sebosos Postizos Interpretam Jorge Ben Jor”. Já com a Nação Zumbi, foi o álbum “Radiola NZ, Vol. 1”, de 2017, que traz releituras de uma seleção fina de artistas nacionais e internacionais. Poder dar a sua cara a canções tão presentes em nossos subconscientes é algo que sempre te atraiu? Há algum outro artistas em específico que você gostaria de revisitar?
Jorge de Peixe: Cara, antes de qualquer coisa, eu continuo sendo um cara apaixonado por música, cresci ouvindo música, sou colecionador de disco e até imaginaria Tom Waits cantando Nick Cave e vice-versa ou James Blake cantando uma do Mutantes. Essas coisas passam pela minha cabeça. Eu sempre fiz capas de discos, eu desenho antes de escrever, então por conta disso as letras são um tanto imagéticas e trazem umas paisagens.
Ao longo da adolescência, fazia muitos discos com títulos e músicas que não existem ainda, tenho cadernos com vários títulos, “Cicatriz”, do Nação Zumbi, existiu o titulo antes da música. Gosto desse tipo de coisa, tenho essa relação e me imagino cantando muitos artistas ainda que eu gosto e escuto, penso em cantar muitos ainda e preciso conseguir espaço para escrever e lançar no espaço ainda nossas obras autorais, mas gosto muito disso, dessa ideia de ter entrado nessa de fazer esse Luiz Gonzaga com uma intenção de crooner mesmo, de fazer interpretação de outros artistas. Eu acho interessante, cara, e é um desafio, eu gosto desses desafios. Fazer um autor é um desafio maior, mas cantar outros artistas é muito difícil também, porque você tem que ter um carinho e um cuidado redobrado. Você está lidando com uma obra já impressa, consagrada e consistente… e é bom quando fica legal, quando você tem um feedback legal do público.
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Penso em muitos artistas ainda, não vou lembrar agora, mas são tantos. Difícil essa história de trazer para sua intenção, sua perspectiva musical, o tom… tive que baixar, não só em Jorge Ben, como Luiz Gonzaga. É interessante isso, você ouvir em outro tom. No Radiola tive que mexer também em tudo aquilo, bem dizer, tinha muito mais coisas, muito mais intenções ali, e foi muito rápido a gravação daquele disco, a gente teve que ser ligeiro. Gravação dos discos geralmente é muito rápido, então você tem que entrar na intenção harmônica, da métrica e nas melodias… tem que mergulhar muito em cada processo desse, por isso que é um de cada vez, não dá para misturar as coisas. Mas é sempre muito prazeroso, cara, mexer na obra de uma artista, tem esses perigos, esses cuidados que a gente tem que levar em conta, masm passado agora o Baião, vou ter que voltar e mergulhar na obra da Nação Zumbi, a gente tava gravando um disco quando colocaram um cadeado no mundo aí, mas daqui para frente eu não sei quem será o próximo, vamos deixar no bolso, no cofre, essa próxima intenção aí.
TMDQA! – Opa! Falando em novidades da Nação Zumbi, eu queria saber como tem sido as atividades da banda neste período de isolamento. Vocês já planejam o lançamento de algum singles? O que pode nos adiantar?
Jorge de Peixe: Como disse antes, a Nação Zumbi tava preparando um álbum com produção de Apollo 9 e a gente teve que dar esse break, né?! Demorei a ir pra estúdio e voltar e tal. Fui nessa do Baião Granfino, [pois] tava tudo muito mais prático, enquanto o da Nação Zumbi falta terminar algumas letras ainda.
A maior parte do disco tá finalizado, a parte das bases das músicas, mas, para mim, escrever a letra é uma questão de vida ou morte, é muito importante saber entrar no tema novo, mergulhar nele, brincar com as harmonias, entrar na música, na métrica e melodia. Então eu preciso de muito tempo para isso. Se tivéssemos dado continuidade das gravações e tentado acabar na época que era previsto, talvez não ficasse completamente do meu agrado.
Eu acho que esse break que foi importante para ouvir tudo de novo agora e mexer em parte do que eu já tinha colocado em letras, que tinha terminado. Eu tinha feito as letras entre 2017 e 2019, muito do que eu escrevi, que vai ficar ali no disco lançado, vai parecer que eu escrevi pós-pandemia. Tem uma das músicas que chama “Depois do Apocalipse”, talvez seja a primeira que a gente solte. É muito o que tá acontecendo, muito engraçado… não engraçado, mas muito certeiro isso, fico até assustado vez ou outro.
A ideia é trabalhar esse disco e lançar agora em 2022. A gente não vê a hora de colocar esse disco no mundo também. Devo, agora, voltar para essas linhas e finalizar o quanto antes para endereçar para mix e master, para soltar esse disco da Nação Zumbi no ano que vem.