Música

Zander e Teco Martins embalam discussão sobre veganismo na inédita "Algo Que Não Machuque"

Perto de lançar seu novo disco, Zander disponibiliza mais um single, dessa vez com a participação de Teco Martins (Rancore).

Gabriel Zander e Teco Martins
Foto por Murilo Amancio

Foto por Murilo Amancio

A banda brasileira Zander segue firme e forte com seus singles, agora em um novo feat com Teco Martins (Rancore, Sala Espacial, carreira solo).

Juntos, o grupo de rock alternativo e o vocalista estão disponibilizando a soturna “Algo Que Não Machuque”, cuja letra fala sobre um tema comum para os dois lados.

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Após parcerias com Lucas Silveira (Fresno), Popoto (Raça) e mais, o Zander voltar a usar seus elementos de rock alternativo, post-hardcore e mais ao abordar o veganismo.

A abordagem do assunto é feita como uma maneira de estimular o pensamento sobre o assunto e discutir a respeito das consequências do consumo de carne animal para o mundo e a sociedade.

Em um refrão forte, a banda e Teco Martins fazem bonito ao estimular essa discussão cada vez mais necessária, principalmente através da música.

Novo Disco

Nos próximos dias teremos o disco completo do Zander nos serviços de streaming, com direito às músicas que já saíram e novidades que ainda não foram reveladas ao mundo, incluindo canções e participações inéditas.

Vale ficar de olho pra seguir uma das bandas mais interessantes da música alternativa brasileira nos últimos anos.

Entrevista Zander e Teco Martins

Você pode ouvir “Algo Que Não Machuque” no player abaixo e nas playlists TMDQA! Alternativo e TMDQA! Radar, no Spotify.

Enquanto escuta, pode sacar o papo que o TMDQA! teve com eles logo abaixo.

TMDQA!: Como é pra você abordar um tema tão importante mas com tantas opiniões diferentes em cima e transformar a sua visão em forma de música?

Gabriel Zander (Bil): Acho que pra mim acaba sendo uma necessidade falar das coisas que eu sinto, vivo, penso e são importantes pra mim. Acaba sendo um dever do artista, de quem compõe e escreve, retratar o seu agora, a sua verdade. Não escrevo de forma direta ou panfletária, porque além de ser a minha visão sobre um determinado assunto, também acho que se aplica à várias questões na vida e gosto que as pessoas tenham suas próprias interpretações e identificações coma letra. Porém, hoje em dia acredito que seja necessário comunicar mais próximo e aberto com a audiência e ter a maior conexão possível com ela. A minha intenção é trazer o debate de algo que considero de extrema importância.

Teco: A letra foi o Gabriel quem fez. Pra ser sincero eu nem sabia que era sobre veganismo. É uma poesia que abrange várias possibilidades de interpretação… Pra mim soa muito como a capacidade de nos permitirmos experimentar outros estilos de vida, de quebrarmos paradigmas pessoais e sociais e nos metamorfosearmos rumo a novos caminhos nessa eterna busca de aprimoramento do ser.

TMDQA!: Lutar por uma causa é sempre uma tarefa árdua, seja qual for, e aqui vocês levantam bandeiras de uma maneira sutil. A intenção sempre foi essa, de passar a mensagem sem tentar pregar qualquer tipo de ideia diretamente, mas sim fazer as pessoas pensarem a respeito?

Bil: A intenção não é de levantar bandeira nenhuma, de forma alguma. Tanto que a primeira vez que escrevi a letra e mandei pro Teco, ele achou que eu estava falando de um tipo de amor libertário, um relacionamento aberto e que por não viver isso, ele teria que interpretar a letra como se fosse outra pessoa. Quando na verdade o assunto e a intenção eram o mesmo. Daí eu praticamente reescrevi a letra pensando no Teco, usando o estilo de vida dele como metáfora pra um tipo de libertação estrutural e consciente, tanto em relação ao sofrimento alheio e a maldade embalada em função de toda uma indústria que considero assassina, quanto a busca por um estilo de vida alternativo ao que nos é tradicionalmente imposto. O fato de se transformar, se conscientizar, ter mais empatia e querer e aceitar as mudanças em função de algo novo e melhor e que principalmente não machuque nada nem ninguém.

Teco: Acredito que faz parte do ofício do artista abrir caminhos, apontar possibilidades, e tornar as pessoas mais sábias. Esse assunto é urgente, não apenas pela empatia com o sofrimento de outros seres vivos (que já seria por si só um argumento bem convincente) mas também pela necessidade de estancarmos essa imensa destruição ambiental que o consumo de carne vem causando em nossos ecossistemas.

TMDQA!: Musicalmente vocês dois têm passados bem parecidos, fazendo seus nomes na cena Punk Rock e Hardcore, tendo muitos seguidores no underground e sendo celebrados por pares que até hoje os citam como influências. De lá pra cá, se aventuraram em atividades distintas e se reencontram de novo para fazer música. Como é tecer uma parceria com alguém que não apenas compartilha as suas ideias atualmente, como também se formou nos mesmos lugares?

Teco: Na adolescência eu ouvia muito Noção de Nada (banda que tinha Bil como vocalista e guitarrista). Já era admirador da musicalidade do Gabriel porém não o conhecia pessoalmente. Na tour de despedida do Rancore, o Zander tocou em alguns shows e lá eu realmente conheci o poder sonoro dessa banda. São incríveis! Disse sim pro convite antes mesmo de ouvir a música. Zander com certeza é uma das bandas que eu mais gosto desse cenário Rock/Hardcore atual. E esse disco novo deles está sensacional. Fico muito feliz e honrado por fazer parte desse capítulo da banda!

Bil: Assim como o Teco, foi nessa turnê que realmente me conectei com o Rancore, entendi a importância e grandeza da banda ali naqueles shows, vendo a reação do público, que era sempre um transe catártico. Esse tipo de coisa me energiza e me cativa muito, ouvir a galera cantar junto e participar de cada show como se fosse o último da vida. Voltei pra casa fã do Rancore e também do Teco. Percebi ali um grande e verdadeiro artista, o que não é tão comum assim de achar nesse meio onde a maioria infelizmente não pode viver da sua arte e precisa ser uma coiso no trabalho e outra no palco. Antes mesmo de escrever a letra, enquanto estávamos fazendo a pré produção no estúdio Costella, um dia o Capilé ouviu e falou: “Essa parte lembra muito Rancore!”. Ali eu já comecei a pensar na possibilidade de trazer o Teco pra essa música e quando escrevi a letra, já queria trazer um tema que fosse em comum aos dois. Pra que ela pudesse ser realmente amplificada de uma forma real. Acredito que foi o que aconteceu. Uma enorme honra e satisfação tê-lo não só na música, mas também parte de álbum e da nossa história agora.

TMDQA!: Ao lançar canções assim, é inevitável que alguns ouvintes entendam como uma tentativa de mudar suas opiniões “à força”, o que obviamente não é o caso aqui. Mas que tipo de mensagem você tem para aqueles que acham que posicionamento na arte é a tentativa de forçar algo?

Teco: Ninguém é dono da verdade absoluta. Conscientes desse fato estamos aqui pra comunicarmos as nossas verdades pessoais, que aprendemos ao longo da jornada; não em forma de imposição, mas sim de propostas, e também sempre abertos a dialogarmos e aprendermos uns com os outros. Faz parte da arte trazer possibilidades e provocações. Se for pra ficar no lugar comum só pra agradar eu nem saio da minha roça, que plantar comida dá trabalho e eu não tenho tempo pra gastar com mixaria poética.

Bil: Concordo totalmente com o Teco nesse ponto. Não queremos e nem podemos impor nada a ninguém. A gente canta sobre a nossa visão, a nossa verdade. É importante pra mim o uso da palavra considerar quando se trata desse tema e isso está na letra. Mas também acredito em karma, e acho que consumir o mau trato de animais, além de todas as questões pessoais e políticas, é uma energia muito pesada que de alguma forma acaba voltando pra gente. Basta ver como começou a própria Covid 19. Mas os caminhos que iremos tomar são escolhas e cabe a cada um refletir sobre o assunto. Essa é a proposta, a reflexão e também o debate.

TMDQA!: Teco, há muito tempo você tem se conectado com a natureza e divulgado a palavra de modos de vida sustentáveis, apreço pelos animais e muito mais. Quando recebeu o convite do Zander para participar dessa faixa, como imaginou retratar o que você vive em uma letra que fosse poderosa?

Teco: O Gabriel fez essa letra pensando no estilo de vida que escolhi. Acho que já estou a um passo além do veganismo que é, além de ser vegano, plantar e cultivar meu próprio alimento e da minha família. Larguei a vida na grande cidade pra fazer AGROFLORESTA, ou seja, reflorestar um bioma degradado pela monocultura e por pastos de animais pra abate com alimentos orgânicos. Você que está lendo isso, é imprescindível que pesquise sobre : PERMACULTURA!

TMDQA!: Bil, de que forma essa canção se conecta com o todo do álbum, que vem sendo lançado em etapas e capítulos, cada um com suas histórias particulares e motivações diversas?

Bil: Acho que todas elas se conectam pela sonoridade. Foi um critério nosso inclusive na escolha do repertório, que as músicas tivessem alguma ligação que justificasse elas estarem juntas num mesmo álbum. Porém não tinham letras ainda e como sou eu quem escreve, eu naturalmente falo sobre a minha visão do momento, como eu me sinto, como eu percebo as coisas. Assim como pandemia, dúvidas, medo, quarentena, langhishing, depressão, limbo, morte, paternidade e também esperança, mudança, adaptação e persistência, o veganismo também é um assunto muito presente e importante na minha vida agora e acredito que precisava estar de alguma forma presente nesse álbum em 2021 também.

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