Entrevistas

Natalie Imbruglia fala ao TMDQA! sobre "Firebird", disco que "recupera o poder e celebra a independência" da estrela Pop

Marcada pelo mega hit "Torn" nos anos 90, Natalie Imbruglia superou o bloqueio criativo para lançar o ótimo "Firebird". Conheça melhor em papo exclusivo!

Natalie Imbruglia
Divulgação

Mais conhecida pelo seu sucesso nos anos 90 com uma versão de “Torn”, a cantora australiana Natalie Imbruglia está de volta com uma das suas melhores obras até hoje.

Trata-se de Firebird, uma coletânea que conta com a participação de grandes nomes como Albert Hammond Jr. (The Strokes), KT Tunstall Romeo Stodart (The Magic Numbers) e é fruto de uma longa jornada de Natalie para superar o bloqueio criativo, que a perseguiu por diversos anos.

Como um “pássaro de fogo”, ela renasce das cinzas e entrega um álbum cheio de elementos dos Anos 90 mas que, ao mesmo tempo, soa completamente atual e pronto para estar em qualquer rádio.

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Firebird é um verdadeiro recomeço para uma das mais belas vozes do Pop dos anos 90. É, também, o primeiro disco de inéditas de Imbruglia em 12 anos, sendo precedido pelo álbum de covers Male (2015).

Logo abaixo, você confere um papo exclusivo e na íntegra do TMDQA! com Natalie Imbruglia!

TMDQA! Entrevista Natalie Imbruglia

TMDQA!: Oi, Natalie!

Natalie Imbruglia: Olá! Como você está?

TMDQA!: Por aqui tudo bem, e você?

Natalie: Estou bem, obrigada!

TMDQA!: Primeiramente, parabéns pelo novo disco. Ele está realmente muito bom e, mais do que qualquer outra coisa, acho que ele tem aquele som do Pop anos 90 que todo mundo associa com seu nome. Mas, ao mesmo tempo, tem diversos novos elementos que fazem com que ele possa estar nas rádios atualmente sem problema nenhum. É o resultado de todas as influências se juntando? Quão conectada você está com a música atual?

Natalie: Eu acho que eu nunca tento ser atual, sabe? Acho que não é algo que me motiva. Eu nem sequer penso em gêneros; eu acho que o que eu penso é na história que eu quero contar. É assim que eu começo, e eu sempre amei instrumentos orgânicos, tipo, instrumentos de verdade, então sempre que eu decido com quais produtores eu vou trabalhar ou quando vamos fazer demos, é sobre encontrar o equilíbrio entre isso e os sons eletrônicos, para que eles não tomem conta demais.

E quando eu encontrei o [produtor] MyRiot… ele tem os sons mais incríveis para colocar nas demos que estávamos fazendo, que trouxeram um elemento totalmente novo sem levá-las para um lugar que pareça muito artificial. Então, eu acho que eu só sou sensível para coisas assim. Eu nunca tenho a missão de soar realmente diferente. [risos] Então, é, acho que é daí que vem essa vibe anos 90 — sou só eu sendo eu mesma! [risos]

Mas, claro, cada música é seu próprio universo. Se eu estou trabalhando com [um produtor como] Romeo Stodart… eu estou escolhendo pessoas também por seus gostos musicais e suas influências musicais naquela música em particular.

TMDQA!: Que demais. Um dos motivos de eu te perguntar isso é porque seu último disco antes desse, Male, reuniu várias covers de artistas que eu considero bem modernos. Quão importante foi fazer isso e ter essas influências mais recentes?

Natalie: Olha, no que diz respeito a novos artistas, eu amo a Willa Amai. Eu acho que eu ainda sou conquistada por belos vocais. O Leon Bridges eu também amo. O disco Delta Kream, do The Black Keys, também. Eu tenho um gosto bem eclético, mas acho que o Michael Kiwanaku é o artista que… mais mexeu comigo, eu acho.

Eu não me sinto mais tão empolgada — eu não ouço rádio desse jeito mais, e talvez seja por eu fazer música, é como se eu ainda estivesse ouvindo as minhas músicas antigas. Então, no que diz respeito ao que é atual, eu não costumo me envolver tanto. Talvez eu que saia perdendo com isso, mas…

Às vezes há alguns artistas que furam essa bolha que eu acho que são realmente incríveis. Mas eu realmente acho que a Willa Amai tem uma voz bela, de arrepiar, e eu acho que ela tem uma carreira brilhante à frente.

Mas, sobre o Male, acho que nem todas as covers são modernas. Acho que foi só uma questão de trabalhar com o meu produtor em coisas que… de novo, eu gosto muito das histórias, então escolhi canções que mexeram comigo, e outras como a do Death Cab for Cutie que são simplesmente, sabe, fantásticas. Compositores e cantores incríveis.

Acho que foi só uma coletânea de canções que eu amo e eu estava nas garras do bloqueio criativo, algo que eu não revelei na época. Então eu acho que foi questão de encontrar músicas que ressoavam comigo enquanto eu passava por isso.

TMDQA!: E agora, justamente, chegamos ao Firebird, o fim desse bloqueio criativo. E você acabou de falar sobre os elementos orgânicos, que pra mim foram destaque especialmente em músicas como “Nothing Missing” e “Human Touch”. Como é o processo de trabalhar com esses elementos até hoje?

Natalie: Bom, quando eu trabalho com o Romeo, ele sabe que eu amo o Fleetwood Mac. E, sabe, a sensibilidade e o gosto dele — eu amo o gosto dele, eu sou uma super fã do The Magic Numbers [banda de Romeo]. Então, como eu disse, parte do motivo de eu estar trabalhando com alguém assim é justamente a paleta de músicas que ele vai apresentar para inspirar minhas melodias.

Então, sabe, ele traz um tecladinho e improvisa com a sua guitarra. E por eu amar o jeito dele tocar e o seu gosto, isso já vai colocando a música em uma direção específica. Mas, sabe, com ele é sempre… ele sabe que eu amo Fleetwood Mac, então é algo sobre o que eu sempre falo quando estamos compondo juntos.

“Human Touch” é uma música bem especial. Eu acho que nós passamos o primeiro dia de composição dessa música conversando, porque eu acho que depois de tudo que eu passei com o bloqueio criativo, eu aprendi com a composição que as músicas meio que já estão no “éter” e você só precisa sair do meio do caminho. Então eu tento procurar pessoas com quem eu possa trabalhar que tenham um gosto incrível, que tocam muito bem, e que me dêem uma cama musical mas também me permitam ficar confortável o suficiente para que eu possa compartilhar segredos e falar de coisas que vão significar algo.

Porque, pra mim, é importante que a questão emotiva que eu estou tentando falar sobre por trás da música chegue às pessoas. Então está tudo isso acontecendo mas, normalmente, eu estou andando em círculos aqui na fazenda. [risos] Porque eu não consigo cantar melodias quando estou sentada! Então, ele cria essa vibe musical legal e eu começo a literalmente cavar um buraco no chão [de tanto andar] com meu celular na mão, fazendo melodias. Eu tenho meus processinhos estranhos!

E aí, com a KT Tunstall, ela é muito mais dinâmica. Ela é muito mais movida pelo Rock, mas ela consegue fazer tudo. Em “Nothing Missing”, fui eu tendo essa epifania de que não há nada faltando em mim e eu estava tentando me encaixar em algo que eu não sou e caber dentro das normas sociais até me encontrar em uma idade na qual [eu pensei], “Eu vou ser uma mãe solo, eu não tenho um namorado”. [risos] Sabe? O caminho menos usado é bem legal. Então, essa foi minha [jornada].

E depois veio “Not Sorry”, então todas essas músicas são meio que sobre recuperar o meu poder e celebrar a minha independência. Então, acho que é por isso que essa tem uma pegada mais Rock, comandada pela guitarra, porque [o instrumental] sempre vem das emoções das músicas, eu acho.

Firebird e o reencontro de Natalie Imbruglia

TMDQA!: E você adivinhou minha próxima pergunta! Eu ia falar justamente sobre a KT, porque essa colaboração ficou muito legal. Seguindo em frente, duas outras das minhas preferidas foram “Dive to the Deep” e a faixa-título, “Firebird”. Acho que essas duas soam um pouco melancólicas, mas também esperançosas, e resumem bem a sensação que tive com o disco: você lidando com todas essas questões, como o bloqueio criativo, e fazendo algo de bom com isso. É assim que você se sentiu? E, claro, se puder contar mais sobre essas duas faixas!

Natalie: Sabe, é muito engraçado, porque “Dive to the Deep” é de 2008. Eu a escrevi, foi uma música meio surpresa, eu estava no final do processo do álbum voltando a alguns materiais — porque eu tive períodos de composição em que eu escrevi muitas músicas ótimas e aí nada aconteceu com elas, ou eu não tinha um acordo [com gravadora] na época, qualquer coisa assim.

Então, a Caroline Brooks, também conhecida como BELLSAINT, é uma artista realmente especial e uma baita feminista, uma ótima parceira. Era uma música sobre amor não correspondido, algo pelo que eu estava passando na época — um relacionamento não tão saudável, podemos dizer. Eu amo essa música, e eu tropecei nela sem querer! Eu estava olhando para algumas coisas que fizemos juntas e foi tipo, “Essa música é muito especial, eu quero colocá-la no álbum”. Então, essa é meio que uma grata surpresa.

“Firebird” é diferente. “Firebird” surgiu mais pro final do álbum. Eu estava falando com o Simon Proctor, que fez a capa do álbum, e obviamente eu mandei as músicas pra ele antes e tudo mais e disse, “Olha, esse é meio que meu disco de renascer das cinzas como uma fênix”, e falamos sobre isso. E ele colocou “firebird” como a senha para algumas das pastas de ideias, e eu fiquei tipo, [suspiro] “Eu sou um pássaro de fogo! Eu tenho que escrever uma música, é exatamente sobre isso!”, sabe!

E aí eu liguei pro Romeo e falei, “Nós temos 24 horas para escrever a faixa-título”. Então ele veio e nós trabalhamos nessa música, e foram várias coisas diferentes, como coisas que eu gostaria de dizer ao meu filho, mas eu também havia acabado de perder uma amiga e o segundo dia de composição foi o funeral dela.

Então, a música é dedicada a ela, e eu acendi uma vela e pedi para que ela me ajudasse a compor essa música. Acabou se transformando também em uma música sobre voltar pra casa espiritualmente, fazer a passagem, ir aos outros “domínios”; tantos desses temas. É uma canção muito forte, muito potente, que eu acredito que foi escrita com a ajuda da minha amiga do outro lado. Porque tudo só fluiu tão facilmente! É bem sombria, mas muito bela e eu tenho muito orgulho dela.

TMDQA!: Que demais. Quanto a essa questão do bloqueio criativo, como foi o papel da pandemia nisso? Ser forçada a ficar isolada e tudo mais acabou te ajudando ou não teve grandes efeitos?

Natalie: Quando eu tive o bloqueio criativo, foi antes da pandemia e eu fiz várias das minhas composições enquanto eu estava grávida e antes de estar grávida, durante todos esses meses. E aí eu tive o bebê, então quando nós íamos gravar eu tive um pequeno intervalo para ter meu filho, e eu iria para Londres para gravar e eu estava ficando bem nervosa de deixar o meu filho e tudo mais. Então, na verdade, deu certo pra mim.

Eu vivo em uma fazenda, eu estou no meio de, tipo, campos, e eu fui capaz de gravar os meus vocais aqui e aí atravessar uma porta e dar um abraço nele. Me trouxe muita paz, foi muito calmo. Eu estou no meio da natureza. Eu me sinto mal por dizer isso porque muita gente sofreu bastante com a pandemia, especialmente os que ficaram presos na cidade, mas para mim foi realmente ok. Foi bom para o trabalho.

O mega hit “Torn”

TMDQA!: Entendo! E eu queria falar um pouco sobre “Torn” também, é claro. Uma coisa que eu sempre quis saber sobre essa música: em algum momento você sentiu que essa música é sua? Não no sentido de ser “dona” dela, mas de se identificar tanto com a letra a ponto de sentir isso.

Natalie: Olha, qualquer música de um álbum meu que seja cover — e todos os meus álbuns com exceção desse têm umas 3 covers por lá —, seja de um compositor que você conhece ou que você não conhece, eu só consigo cantar se eu me identifico com aquela música. É como qualquer fã de música que ouve algo que você ama! Não é nem um pouco diferente quando você está fazendo uma versão de uma música.

Todo mundo parece ficar tão apegado ao fato de que eu não escrevi “Torn”, e é tipo… se você prestar atenção, vários artistas por aí não necessariamente escreveram alguns dos seus maiores hits. Então, pra mim, não é um problema. Quando o Phil Thornalley [produtor e coautor da faixa original] tocou essa música pra mim, eu senti como se fosse eu — e eu estou falando do que ela estava cantando, do tema sobre o qual ela foi escrita. E esse é o poder da música, você está se conectando com a dor do outro, ou o amor do outro. É isso que nos une.

Então eu acho que o que eles fizeram incrivelmente bem — digo, o Ednaswap [banda da versão original] e o Phil Thornalley— com essa música é ter escrito algo cuja emoção acertou em cheio. E aí a combinação de eu me identificar com isso e cantar isso é o que dá vida à música. É isso que eu amo na música, é o que faz a música ser tão legal.

Eu sempre senti que a música e eu somos um só pro resto da vida! Acho que é justo dizer isso. [risos]

TMDQA!: Sim! [risos] E eu me lembro que foi tão engraçado quando fizemos uma matéria sobre as pessoas descobrindo que “Torn” era cover. Porque na matéria em si a gente falava sobre as pessoas surtando com isso, e é claro que a reação do nosso público foi surtar com a notícia sobre o surto. [risos]

Natalie: [risos] Eu sei! Eu só não entendo qual o problema com isso! Eu não sei por que as pessoas acham isso tão estranho. É bizarro pra mim.

TMDQA!: É, tantos artistas Pop têm compositores escrevendo suas músicas e ninguém fala sobre isso.

Natalie: Eu acho que as pessoas querem acreditar que eu a escrevi! Bom, desculpa, não fui eu. [risos]

TMDQA!: [risos] Pra fechar, não sei se é um tema sensível mas sempre quis saber isso. Ter uma cover como seu maior hit mexeu com sua confiança enquanto compositora? Acha que isso teve a ver com o seu bloqueio criativo?

Natalie: Não. O meu segundo álbum foi a única ocasião em que eu passei por isso, e eu já falei bastante sobre isso em entrevistas: quando você tem uma música que se conecta com o mundo todo, com tantas pessoas assim, é uma pressão muito grande. Mas esse foi o primeiro álbum da minha carreira, eu acho que, sabe, eu já tive muito sucesso com outras canções que eu escrevi — como “Shiver”, que foi muito bem no Reino Unido, e vários singles em que fui coautora.

Pra mim, não é relacionado a isso. Eu acho que eu tive uma quebra de confiança por conta do Come to Life [disco de 2009] não ter recebido um lançamento adequado. [Nota: o contrato de Natalie com sua gravadora estava no fim e não foi renovado, fazendo com que o disco fosse lançado de qualquer jeito, sem divulgação] Isso foi o que gatilhou o meu bloqueio criativo, nada a ver com “Torn”! [risos]

Mas, sabe, não importa a posição em que você está na sua carreira. Acho que você sempre pode ter esses períodos em que você perde sua confiança, e o que é belo em Firebird pra mim é que eu canalizei isso e não desisti, continuei escrevendo e tive o meu melhor momento criativo em vários, vários anos. E eu estou me divertindo horrores! É muito mais divertido agora, eu sou velha demais para me preocupar com essas coisas.

TMDQA!: [risos] Natalie, muito obrigado pelo seu tempo! O álbum está realmente incrível. Fiquei bem feliz porque, né, tinha um tempo que não ouvíamos nada novo de você! Então quando ouvi o Firebird fiquei surpreso positivamente e logo pensei, “Ela ainda sabe o que faz”. [risos]

Natalie: [risos] Eu nunca deixei de saber!

TMDQA!: [risos] É isso! Muito obrigado, Natalie! Espero não precisar esperar mais de 10 anos para ouvir outro disco seu!

Natalie: Bom, esse é o objetivo! Eu já tenho umas cinco músicas na manga, que não iam se encaixar no álbum, e como eu disse tem sido um momento bem produtivo pra mim com as composições. Então, eu quero manter isso firme! Mas acho que nunca mais eu caio num bloqueio criativo tão complicado assim.

TMDQA!: Tomara! Até a próxima, Natalie!

Natalie: Obrigada! Se cuida!