Uma das grandes bandas da nova geração do Reino Unido, o Biffy Clyro acaba de lançar seu mais novo disco de estúdio The Myth of the Happily Ever After.
O improvável trabalho chega pouco mais de um ano depois de A Celebration of Endings e vem como uma resposta à obra de 2020. Para isso, o trio escocês adotou um estilo mais cru: os próprios músicos produziram o álbum, que foi precedido pelos excelentes singles “A Hunger in Your Haunt” e “Unknown Male 01”, unidos em um clipe sensacional.
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Com o lançamento do disco completo, percebemos que as prévias realmente deram o tom do que vinha por aí. Sem se preocupar com a pegada radiofônica — mas encontrando-a mesmo assim em certos momentos —, o Biffy traz o seu trabalho mais experimental dos últimos anos e vai do peso à melodia com a facilidade e maestria que já lhe é característica.
Antes do lançamento do álbum, o TMDQA! bateu um papo descontraído com os irmãos Ben e James Johnston para falar tanto sobre The Myth of the Happily Ever After como sobre toda a carreira de um dos grupos mais especiais da música atual. Confira abaixo!
TMDQA! Entrevista Ben e James Johnston (Biffy Clyro)
TMDQA!: Oi, Ben! Oi, James! Primeiramente, um prazer enorme estar falando com vocês hoje. O Biffy Clyro é uma das minhas bandas preferidas, então estou realmente super empolgado. Queria começar falando sobre os singles do novo disco, e primeiramente “Unknown Male 01”, que tem uma coisa que pra mim é tão Biffy Clyro: parece que vocês colocaram quatro ou cinco músicas dentro de uma só. Nessa música especificamente, vocês lembram qual foi a primeira que escreveram e como surgiu o resto?
Ben Johnston: Na verdade, foi meio que a “segunda metade” da música que veio primeiro. Eu acho que tínhamos isso sob um outro nome alguns meses antes e era uma música direta, bem pesada, que nós curtíamos mas não tinha tantas nuances; era só uma coisa. E aí o Simon [Neil] escreveu a “primeira metade” depois disso, e era também meio que uma outra coisa, até que um dia ele o Simon entrou na sala — como costuma acontecer com o Simon [risos] — e disse, “Vamos juntar essas duas músicas!”.
E nós dois olhamos um pro outro, tipo, “Quê? Esse cara é maluco”. [risos] E, acredite se quiser, funcionou perfeitamente. Eu acho que é a luz e a sombra, o que temos nessa música. E é muito importante ter os dois lados.
James Johnston: Essa música fala de um assunto muito complexo, que é a depressão, e eu acho que musicalmente é preciso ser uma canção complexa para refletir uma parte tão complexa da vida. É um assunto delicado, um assunto difícil de abordar, mas acho que o Simon faz isso de uma forma tão bela e com tanta firmeza e elegância.
Nós perdemos alguns amigos próximos nos últimos anos e é um momento tão difícil, imaginar o que os levou àquela situação. Eu acho que o Simon realmente trata esse assunto com o respeito que ele merece e certamente uma das músicas das quais mais tenho orgulho, uma das minhas preferidas de todos os tempos.
TMDQA!: É uma das minhas preferidas também, mesmo. Falando agora de “A Hunger in Your Haunt”, essa é um pouco mais direta — e tem o retorno do Simon gritante, o que é sempre legal. [risos] Estruturalmente, no entanto, ela me lembra um pouco “That Golden Rule”, especialmente ali no final. E digo isso como um elogio, claro! Mas, com mais de 25 anos de banda, é difícil não se auto-referenciar de vez em quando?
James: A gente provavelmente não fez essa conexão exata que você mencionou, mas eu aprecio isso — e aprecio a forma como você falou também, como um elogio. [risos] Se a gente chegar a algum momento assim, Felipe, a gente passa a deliberadamente escolher uma direção diferente. A gente sempre toma cuidado para não repetir algo que já fizemos antes.
Ben: Mas que banda poderia ser melhor para referenciar o Biffy Clyro? [risos]
James: Bom… [dá de ombros] Sabe, como banda, você passa os primeiros cinco anos se esforçando para encontrar o seu som. E aí, uma vez que você o encontra, você está quase tentando encontrar outras formas para se afastar dele. [risos] É meio que uma coisa engraçada, você não quer se repetir. Mas se você estiver sendo honesto e verdadeiro quando está fazendo música, então é inevitável que existam algumas comparações que você possa fazer, sabe?
Mas eu acho que a gente sempre tenta mudar. Acho que essa música poderia ter vivido em alguns álbuns anteriores, de certa forma; era um riff que a gente tinha há algum tempinho, mas não sabíamos como “destravar” essa música. Eu acho que talvez o Simon nunca tenha achado que tinha os versos perfeitos e os vocais perfeitos, e eu acho que ele só conseguiu meio que destravá-la.
Algumas das outras músicas do disco nos deram a confiança, meio que nos empurraram pra frente e nos ajudaram com outras músicas. Isso te ajuda a chegar nesse estágio, eu diria que é isso que aconteceu com “A Hunger in Your Haunt”.
TMDQA!: Talvez eu esteja errado, mas sinto que essas duas músicas se conectam com o título do disco, no sentido de serem um pouco pessimistas — talvez um pouco realistas demais, infelizmente. É meio que o tema recorrente do disco?
Ben: Sim, eu acho que é. Porque o A Celebration of Endings foi relativamente negativo em sua forma de olhar as coisas, mas ao mesmo tempo era otimista; era negativo no sentido de onde estávamos, mas era otimista para o futuro porque achávamos que conforme a humanidade chegava ao seu pior, a gente tinha chegado ao fundo do poço e o único caminho era pra cima. E ah, como estávamos errados. [risos] Porque tudo ficou ainda pior.
Então, acho que esse álbum é definitivamente um pouco mais pessimista do que o anterior. Há momentos esperançosos, especialmente a última música, “DumDum” [Nota: Ben estava se referindo a “Slurpy Slurpy Sleep Sleep”], que fala sobre “amar todo mundo”. Eu acho que essa música é sobre você não deixar passar despercebido o quanto as coisas podem estar boas, ainda que você esteja de luto porque estão uma merda. Ainda podem rolar algumas coisas incríveis e é algo pelo que você deveria estar feliz.
É um bom sentimento pra fechar o álbum, ficar cantando “ame todo mundo” [“love everybody”]. Porque é basicamente a única chance que temos de sair de qualquer negatividade, é mostrar amor e respeito uns aos outros. Eu amo esse sentimento.
The Myth of the Happily Ever After
TMDQA!: Quando esse disco foi anunciado, eu meio que inevitavelmente o comparei ao Lonely Revolutions, como se fosse uma sequência do anterior. Eu estava bem errado, pelo visto, né? Você consegue dizer se esse disco se conecta ao Celebration of Endings e de que forma?
James: Eu acho que ambos são discos que refletem bem os momentos em que foram feitos e os momentos em que foram escritos. O Ben falou sobre o Celebration ter uma visão sobre a sociedade, sobre a humanidade em que todas as armadilhas do lugar onde caímos, os maus comportamentos, todos os momentos terríveis, nos levaram a pensar que as coisas só poderiam melhorar a partir dali.
E acho que agora, de novo, estamos novamente em um ponto muito sombrio. Mas eu, na verdade, vejo uma positividade nesse disco — há muitos comentários sobre momentos difíceis, mas eu vejo várias mensagens positivas. Acho que pode ter a ver com onde a minha cabeça está, porque eu acho que novamente só podemos melhorar. Acho que essa porra não tem mais como piorar.
Então, eu sinto que…
Ben: Foi o que pensamos antes…
James: [põe a mão na cabeça] Foi o que pensamos antes, né. [risos] Eu estou me apegando a esses versos que falam sobre as coisas melhorarem e amarmos todos uns aos outros. Essa ideia, eu estou me apegando a isso no momento.
Ben: Eu acho que The Myth é uma “reação” ao Celebration of Endings, enquanto o Lonely Revolutions era meio que as músicas que sobraram das sessões de Only Revolutions. Então, não é um disco de lados B, é muito mais um álbum que foi escrito, que tem muito mais para ser visto do que o seu disco padrão de lados B. Definitivamente não é um disco de lados B. Eu diria que é um álbum que acompanha o Celebration of Endings.
James: Ele meio que começou sendo como o Lonely Revolutions foi para o Only Revolutions. A gente pensava nele mais como um compilado de lados B, uma peça para acompanhar, mas aí…
Ben: Virou muito mais do que isso.
James: O Simon só pegou uma ou duas músicas que já existiam das sessões e só pareceu que nós estávamos destravando uma nova direção para a banda. E eu acho que essa nova energia meio que serviu como combustível para reformarmos algumas das outras canções com as quais não sabíamos como lidar e tudo começou a ficar mais fresco, novo para nós.
TMDQA!: Eu vi também que houve uma mudança de produção, com vocês mesmos ficando responsáveis por isso. Não sei se é uma consequência disso, mas esse disco me soa belo e cru. Foi uma consequência ou não? Como essa mudança de produção afetou o disco?
James: Eu acho que é um comentário justo. Eu acho que quando trabalhamos com o Adam Noble, nós temos uma abordagem muito mais crua e…
Ben: Desculpa interromper, mas não é como se fosse o Biffy e aí o produtor. Quando trabalhamos com o Adam Noble, é quase como se ele estivesse na banda, sabe? Ele é tão aberto a qualquer ideia, ele não é… às vezes, com produtores, você tem que fazer todo um trabalho para convencê-los de que a sua ideia é válida ou que não é totalmente maluca. Mas o Adam Noble confia muito em nós.
Talvez isso tenha surgido por termos trabalhado com ele no álbum de trilha sonora que fizemos, o Balance, Not Symmetry, que também foi gravado, produzido e mixado pelo Adam Noble. Então, eu acho que nesse processo houve mais confiança e disposição dele para entrar no buraco do coelho conosco.
James: E eu acho, Felipe, que também o fato de gravarmos no nosso próprio espaço — o que era a nossa sala de ensaios agora virou um pouco mais do que isso, a gente deixou o lugar um pouquinho mais legal. [risos] E deixamos ele mais propício para que um disco fosse gravado, então acho que sermos as pessoas que estavam destrancando as portas pela manhã e trancando-as à noite, sermos os responsáveis por plugar os microfones, acho que isso teve um efeito.
Acho que isso fez com que a gente se sentisse mais livre, de certa forma, porque não estávamos tentando ser educados na casa de outra pessoa. A gente estava na porra da nossa casa e podíamos só ser nós mesmos. Acho que isso provavelmente teve alguma coisinha, algum efeito psicológico.
TMDQA!: Que legal. Falando no Celebration of Endings, eu vi a transmissão ao vivo que vocês fizeram no ano passado e foi tão incrível, as músicas parecem muito legais de tocar ao vivo. Mas aí, agora que vocês estão começando a voltar pra uma turnê, vocês lançam outro disco! E aí? Vamos ter shows de 3 horas pra caber tudo? [risos]
Ben: Acho que a gente vai ter que abraçar totalmente a coisa do [Bruce] Springsteen, porque não sei como a gente vai fazer! [risos] São tantas músicas para tocar e quando começamos a pensar em quais músicas das mais velhas a gente tem que tirar do setlist, para que as novas caibam, é de partir o coração! Estamos falando de algumas músicas verdadeiramente importantes; tipo, “Many of Horror” pode não estar no próximo setlist, sabe?
TMDQA!: O quê?! Como assim?!
James: [risos]
Ben: [risos] Eu sei! Você está pensando, “Que porra?!”, mas sério, a gente tem dois álbuns inteiro de merdas que queremos tocar. E a gente acha que essas músicas são especialmente importantes agora, porque elas foram escritas sobre o agora e elas devem estar se conectando com as pessoas para quem vamos tocá-las. Então, é realmente uma dor de cabeça.
James: Olha, eu não consigo nos imaginar tocando “Cop Syrup” [do Celebration of Endings] e aí outra música depois. E eu não consigo nos imaginar tocando “Slurpy Slurpy Sleep Sleep” e aí outra música depois. [risos] Então eu não sei. Você acabou de destacar um enorme problema para a banda nesse momento. [risos]
Mas no fim das contas, vai ficar tudo bem. É uma boa dor de cabeça para ter. Eu estou dizendo isso quase que pra mim mesmo, porque eu vou ser o que vai ficar frustrado no ano que vem quando tivermos que mexer com todas essas músicas que amamos tocar. Talvez a gente só precise tocar duas noites em cada cidade e só fazer setlists diferentes em cada uma.
[Olha para Ben] Essa é uma ideia ótima!
Ben: Vamos fazer isso!
TMDQA!: Vai virar o Pearl Jam. [risos]
James: É isso, cara. Você acertou.
Biffy Clyro e os mais de 25 anos de carreira sem abandonar as origens
TMDQA!: Falando sobre isso ainda, eu acho tão legal que vocês nunca “apagaram” discos como o Blackened Sky dos shows. Músicas como “57” e “Justboy” são presença constante nos setlists, e eu acho importante demais que vocês continuem tocando! Mas queria saber: vocês as tocam porque acham que é importante pras pessoas ou porque é importante pra vocês ou ambos?
Ben e James: Ambos.
Ben: Eu sinto que nós definitivamente não queremos… eu acho que nós deixamos [essas músicas] fora do setlist por alguns anos porque foi muito difícil encaixá-las, mas nós só não queremos desrespeitar nada das coisas antigas. Nós continuamos muito orgulhosos. Acho que, em se tratando de álbuns de estreia, o Blackened Sky é um dos melhores que você vai encontrar por aí. Eu acho que ele é incrível e eu ainda sou um baita fã desse disco.
E, veja, é clichê, mas tocar as músicas em lugares diferentes, em cidades diferentes, traz um sentimento diferente, sabe? O público faz com que essas músicas sejam diferentes toda noite, só pelas suas reações, então o fato de estarmos tocando músicas como “57” em lugares ao redor do mundo, músicas que tocávamos na nossa garagem quando tínhamos 15 anos de idade, é muito especial. Por esse motivo, sempre vai ser.
James: Eu acho que somos sortudos! Somos sortudos por ainda amarmos esses discos. Muitas bandas se distanciam disso, ativamente escorregam pra longe dos seus primeiros materiais… eu acho que nós somos sortudos. Isso é tudo que eu consigo ver, que temos sorte por ainda termos sentimentos tão fortes por esses discos.
TMDQA!: Vocês pensam em algum momento no futuro em fazer algo que remeta a essa sonoridade?
Ben e James: É difícil dizer.
Ben: É um disco tão velho. [risos]
James: Eu acho que em questão de estilo, nunca diga nunca. A gente acabou de falar de “A Hunger in Your Haunt”, que de um ponto de vista sonoro e de um ponto de vista estilístico poderia facilmente se encaixar em alguns dos discos antigos. Mas acho que sutilezas e nuances que nós aprendemos e conquistamos como banda que é difícil homenagear os discos antigos.
Eu acho que nós melhoramos…
Ben: Nunca mais vamos forçar para cantar com sotaque americano. [risos]
TMDQA!: [risos] Então era intencional? Vocês estavam mesmo tentando soar como americanos?
Ben: Sim, claro! [risos] Porque é como o James falou antes. Nos primeiros anos você está tentando encontrar o seu som, e eu acho que o nosso som naquela época era o Nirvana misturado com uma outra pessoa, misturado com uma outra pessoa, então nós soávamos como isso. Nós definitivamente não vamos voltar pra trás desse jeito, mas nós ainda temos um amor gigante por esses discos.
TMDQA!: Uma última pergunta sobre os shows que eu sempre quis saber. Depois de tanto tempo, “Living Is a Problem Because Everything Dies” é a música mais tocada por vocês ao vivo. Ainda é difícil acertar aquela introdução toda noite?
Ben e James: [risos]
James: É uma linha tênue entre se concentrar muito e não se concentrar nem um pouco. É meio como… ah, eu ia fazer uma metáfora estranha aqui. Assim que você acha que sabe o que vai tirar de letra, é aí que tem mais chances de dar merda. Então, você precisa estar… eu sempre estou com um olho no Ben, mesmo que eu esteja fingindo não olhar…
Ben: [risos]
James: …porque ele é minha rede de segurança, se eu me perder eu posso só olhar pra ele. Mas eu acho que, como você falou, a gente já tocou essa música mais do que qualquer outra, então meio que virou natural. Uma vez que você aprende essa parte — e eu não quero entregar nossos segredos —, não é super complicado, uma vez que você sabe. Eu acho. Eu não sei, na verdade.
Ben: Você só precisa aprender. [risos]
James: [risos] É só aprender!
Ben: É só aprender e o resto é sentir na hora.
James: A gente fez… nenhuma noite é igual à outra, eu posso dizer isso. O Simon está sempre desacelerando ou acelerando um pouco e meio que sentindo como está o ambiente. Então é sempre meio que um ser vivo, de certa forma.
Ben: Às vezes começa e é rápido demais e aí a gente tem que se virar. Porque não usamos metrônomo nessa música, é tudo totalmente livre. A gente só tem que ouvir a guitarra do Simon com atenção e esperar que estejamos ouvindo certo. [risos]
James: Mas eu acho que nunca deu merda.
Ben: Talvez uma vez ou duas. Ninguém sabe. [risos]
James: [risos]
TMDQA!: Essa música, pra mim, tem uma das poucas coisas que eu consigo definir que é uma característica bem Biffy Clyro, que é quando rolam essas “quebras” nas músicas, mudando bastante. Esse tipo de coisa costuma surgir em sessões de improviso, jams, ou vocês sentam e escrevem mesmo?
Ben: É difícil você tropeçar nessas coisas — certamente não com “Living Is a Problem”, por exemplo — enquanto está improvisando. São coisas que têm que ser pensadas e escritas, como você disse. Mas a gente sempre foi muito fã da dinâmica, essa coisa da luz e da sombra é muito importante pra gente.
Sabe, crescer ouvindo o Nirvana, uma banda que ia de algo muito, muito pequeno pra algo muito, muito grande.
James: A gente tem que trabalhar bastante para colocar essa dinâmica e o drama nas nossas músicas. E eu acho que esses pequenos momentos dos quais você fala são uma boa forma de inserirmos esse drama na música. Mas também, eu acho, só todas as músicas que nós ouvimos desde que éramos crianças se adentraram e nós não ouvíamos Madonna e coisas do tipo, a gente ouvia umas merdas estranhas…
Ben: Fale por você. [risos]
James: [risos] Eu acho que isso só se adentrou e nós ficamos bem felizes de sermos um pouquinho estranhos, sabe? É algo que conseguimos ser bem facilmente. Então se conseguimos encontrar esses momentos que são um pouco estranhos de ouvir, sempre vamos tentar inclui-los.
TMDQA!: Por fim, uma das músicas mais emblemáticas de vocês é “Biblical”, que abre justamente falando sobre voltar no tempo e ter um começo do zero. Vocês em algum momento sentem algo do tipo com a banda? Afinal de contas, crescer também vem com suas dificuldades quando se fala de uma banda.
Ben: Na música, é apenas uma questão que o Simon faz. Acho que a resposta sempre foi não. [risos] Eu não mudaria nada do que aconteceu. Eu não teria um nome diferente para a banda, eu não faria com que nós fôssemos menos estranhos. Eu acho que a forma como nós fizemos as coisas foi o jeito certo.
James: A gente está sentado aqui em Londres e nós vamos tocar na porra da arena de Wembley amanhã, que é um dos meus locais preferidos de todos os tempos! De alguma forma, por ainda sermos só nós 3 — o Simon disse isso em uma entrevista há pouco, a gente ainda sente como se tivéssemos 15 anos.
Digo, nós todos somos casados, nós temos casas, nós temos responsabilidades e nós meio que crescemos um pouquinho de algumas maneiras… [risos] Mas quando se fala da banda, nós ainda nos sentimos muito similares ao que éramos quando mais novos. Não há, tipo… nenhum de nós deixou a fama subir à cabeça, sabe? Acho que se alguém aparecesse tentando ser “o fodão” seria tipo, [imita sotaque inglês] “Quem caralhos é esse cara?”. [risos]
Eu acho que nós mantemos os pés no chão uns dos outros, de certa forma, então eu nunca fico querendo “tempos mais simples” como era quando éramos mais novos. Quando você faz as contas, não poderia ser mais simples. Nós três nos encontramos, fazemos música e voltamos pra casa nos sentindo incríveis. Ocasionalmente, há algumas complexidades da vida que vêm com o fato de sermos uma banda com um longo tempo de estrada, mas ainda é bastante simples de certa forma.
E eu acho que ainda é algo que nós realmente curtimos. Ainda é sobre três caras fazendo música juntos e eu espero que isso nunca mude.
TMDQA!: Bom, essa era a resposta que eu queria ouvir. [risos]
Ben e James: [risos] É isso, Felipe.
TMDQA!: Ben, James, muito obrigado pelo tempo de vocês. Foi um prazer enorme e espero que possamos nos falar de novo em breve, quem sabe no Brasil!
Ben e James: Sim! Estamos de dedos cruzados! Estamos morrendo de saudades.