Não existe uma fórmula certa para se fazer música boa. Os elementos que você usa, as palavras ditas e as melodias que você compõe nunca estão certos ou errados. O gol do jogo é a maneira pela qual você disponibiliza essas ideias. A recepção positiva de um resultado, no fim, parte mais da individualidade do artista do que de qualquer outro fato externo.
Em pleno 2021 e diante de uma sociedade com vidas cada vez mais digitalizadas, fazer mais do mesmo e replicar fórmulas é perigoso. Se basear em rótulos é perigoso. Ser previsível é perigoso. Não à toa, as cenas que mais arregalaram os olhos dos brasileiros nos últimos anos entregaram singles e álbuns refrescantes, que soam como novidades. Lançado no último dia 22, o disco de estreia do cantor e compositor niteroiense Sávio, intitulado Converso Com Todas As Coisas, é um ótimo exemplo disso.
Essa dita refrescância é resultado de um conjunto de nove faixas que, baseadas na MPB clássica, pescam outras referências em prol de algo mais rico. O som moderno proposto no disco também traz consigo elementos de folk, do indie, do samba e da música eletrônica sob uma perspectiva pop.
A liberdade em ser sincero com a própria arte
Um verdadeiro acerto da chamada “nova MPB”, além de ressignificar rótulos, é dar a liberdade aos artistas para tocarem o som que sentirem. Foi o que Cícero fez em Canções de Apartamento (2011). Foi o que Duda Beat fez em Sinto Muito (2018). É também o que Sávio fez agora.
No disco, ele musicaliza a sua alma e suas vivências. Analisa o presente, lembrando do passado e pensando no futuro. Tudo isso de uma forma atmosférica e envolvente, que não parece ter pressa e não apela para impressionar seu ouvinte. Essa magia vai desde os riffs grudentos à delicada e perceptiva percussão, passando por melodias vocais e instrumentais que se complementam e pincelam, aos poucos, um quadro cheio de cores vivas e detalhes minuciosos.
Sávio canta sobre um personagem chamado “Dedé“, um “cara maneiro conhecido pelos papos de milhares de bares das madrugadas”. Mas ele também mostra experiências pessoais palatáveis a seu público, desde a casa bagunçada de “TudoBem” (com participação de Anna) à dança leve da faixa-título (com participação de Pedro Mann). Aos poucos, nos sentimos envolvidos nessa imersão atemporal e universal que, de fato, conversa com todas as coisas.
Novo clipe
A divulgação do novo lançamento conta também com o videoclipe de “Quase Tanto Faz“. O belo e nostálgico vídeo, dirigido por Tai Fonseca, foi gravado na praia de Jurujuba (em Niterói), e mostra duas versões de Sávio em um inspirador diálogo sobre o passar do tempo e as mudanças da vida.
Sobre o disco e seu conceito, Sávio destaca:
Este é o meu álbum de estreia. Em diversos momentos, busquei enxergar coisas ou até ‘sinais’ que me mostrassem um caminho para contar alguma uma história, algo grande. Nunca achava uma ideia boa o suficiente. Isso até um amigo me dizer que ‘não é difícil ter boas ideias, difícil é ter quem sinta ou as entenda como você’. O disco conta a forma como eu me vejo e sinto tudo, compondo da liberdade que tenho aos vinte e poucos anos. É a maneira como me sinto agora e por isso afirmo que não vai ser por muito tempo. Sei lá quanto tempo a gente tem e, por isso, eu prefiro conversar com todas as coisas.
Confira abaixo o álbum na íntegra!
Ficha técnica
Artista: Sávio
Produção: Cyro Neto, Vini Pitanga e Sávio
Gravadora/Distribuição: Pomar (gravado em 2020 e 2021 no estúdio Cia. dos Técnicos e no Estúdio do Vini)
Mixagem e Masterização: Cyro Neto (exceto “9a Faixa”, mixada por Vini Pitanga)
Letras: por Sávio (exceto “Tudo Bem”, letra por Sávio e Anna)
Identidade Visual: Felipe Latgé