TMDQA! Entrevista: Sidoka, "SHH.." e o "tributo ao silêncio" recheado de belas melodias

Com o disco "SHH..", Sidoka explora a dualidade do silêncio com a ajuda de belas melodias e beats envolventes. Confira entrevista exclusiva!

Sidoka
Divulgação

No início do mês de Outubro, Sidoka deu um passo importantíssimo em sua carreira com o lançamento de SHH.., seu disco mais conceitual até agora.

Com uma inspiração no silêncio, a obra vê o jovem rapper mineiro explorar estéticas novas como o Drill — mas, claro, sem abandonar a sonoridade e que o consagrou e lhe deu quase 700 milhões de plays nas plataformas de streaming em apenas quatro anos de carreira.

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Em SHH.., Sidoka traz participações, beats e produções de artistas como Raffa MoreiraMC AnjimChris MC, DJ Coala, DogDu, Pexande, Dogor, Zemaru e muito mais. O destaque fica por conta das belas melodias exploradas por ele através de todo o álbum.

Justamente com isso em mente, conversamos com o músico sobre a sua abordagem com relação à música, letra e conceito do novo álbum. Tudo isso, claro, com o bom humor já característico do mineiro. Confira abaixo na íntegra!

TMDQA! Entrevista Sidoka

TMDQA!: E aí, Sidoka! Beleza?

Sidoka: Satisfação toda, Felipe! Cê tá mil grau? Como é que tão as coisas por aí?

TMDQA!: Tudo certo! Primeiramente, queria te parabenizar pelo disco novo, de verdade. Pra começar, queria te perguntar qual foi a sua inspiração pra explorar essa dualidade do silêncio. Você considera que o silêncio seria um oposto da música ou, pra você, são coisas que se complementam?

Sidoka: Na real, o meu álbum é um tributo ao silêncio. Porque o álbum em si é o “shh…”, entendeu? É como se você estivesse mandando alguém calar a boca, mas não é isso. O silêncio é simplesmente a ausência de fala, não dos barulhos. Por exemplo: você não consegue mandar a chuva calar a boca, tá ligado? Você não consegue mandar o vento calar a boca, não tem como, você vai estar ouvindo o silêncio.

E quando a pessoa estiver ouvindo o meu álbum, querendo ou não, ela vai estar em silêncio ouvindo aquilo ali, bota fé? Eu estudei muito sobre isso, eu pesquisei muito sobre o silêncio. Porque muitas vezes a pessoa tá em silêncio em um lugar e tal e muita gente acha que ela tá ruim, que ela tá “paia”, mas muitas vezes ela tá refletindo. Ela tá bem. E eu queria mostrar o lado bom do silêncio pras pessoas.

TMDQA!: E uma coisa que chama a atenção — e acho que não é só nesse álbum, já virou uma característica sua mesmo como artista, é que tem muita melodia bonita no disco. Até a “SE EU ABRIR MINHA SHOULDER”, que por enquanto é o hit do disco, é um ótimo exemplo disso. De onde veio essa sua preocupação com a melodia? É algo fundamental pra você, ter uma boa melodia? Porque muita gente se preocupa só com a letra, o que também é válido, mas você parece ter essa preocupação com a melodia.

Sidoka: Com certeza, até porque o autotune… a gente gosta de deslizar nele, daquele naipe, entendeu? Então a gente tem que ter uma preocupação com a melodia, demais. Por exemplo, os beats eu escolho com muito cuidado, fraga? Eu gosto de um beat que vai me inspirar, que vai causar um impacto não só em mim mas em quem vai ouvir também, tanto é que eu trouxe vários bagulhos diferentes, vários Drills melódicos nesse álbum, umas coisas novas, tipo um “Sidoka no Drill”, umas coisas diferentes.

E é isso, mano, eu tô sempre querendo me inovar. Mano, a melodia sempre vai estar dentro de mim, porque é assim que eu começo qualquer música. Se eu ouvir o beat eu vou [começar a cantarolar] e eu já vou escrever tudo em cima dessa melodia, tá ligado? Eu acho que é um bagulho que, tipo, a rapazeada escuta e, sei lá, mano, pega a viagem. Eu nem sei explicar. É uma coisa que nem cai minha ficha, nunca.

TMDQA!: Mas pega mesmo! Você falou do Drill e, pra mim “N LEVA A MAL” foi justamente um outro grande destaque do disco com essa pegada. Foi você que pensou em fazer algo assim ou só rolou? Como surgiu essa música?

Sidoka: Na real, eu nunca me interessei muito no Drill não, no passado, porque eu achava que era um trem que eu não conseguia me encaixar. Só que aí eu vi que eu conseguia fazer um trilhão de flows em cima do Drill. Eu consigo pausar, eu consigo fazer o Sidoka em cima do Drill, e é um bagulho diferente, um bagulho que ninguém nunca viu, um bagulho novo.

E “N ME LEVA A MAL”, pra mim, antes dela ainda tem “Titular”, que foi uma adaptação do Drill que eu consegui colocar minha característica ali dentro daquele beat, pausar o beat toda hora do jeito que eu faço, tá ligado? E é o Sidoka no Drill, é simplesmente isso. E eu tô procurando vários Drills diferentes, não aqueles que é sempre a mesma coisa. Uns com a melodia por trás, trazer uns bagulhos diferentes. Tanto é que, nesse álbum, tem uma love song que é num Drill, que é “QUEM É ELA”.

Então, tipo, eu comecei a explorar o Drill porque eu vi que eu conseguiria expandir meus flows a qualquer momento do beat. E foi mágico pra mim.

TMDQA!: Ficou bem foda. E essa música bombou bastante, chegou a ficar no Em Alta do YouTube, e você até postou falando sobre como era incrível conseguir isso “sem um real de impulsionamento”. Queria saber quão importante é isso pra você, essa coisa do “fã real”, como você escreveu.

Sidoka: A gente nunca impulsionou, na vida. Bota fé? Nada. E é muito gratificante ver que no orgânico a gente tá batendo bonito, fraga? Ver que os fãs acompanham mesmo, ver que os fãs são, tipo assim, eu nem sei falar dos meus fãs, mano. O tanto de amor que eu sinto por eles. Porque é uma coisa que, tipo… o MIAW, por exemplo, da MTV, uma coisa que eu nem divulguei direito e vi os fãs votando que nem loucos pra eu ganhar o bagulho, tá ligado?

Vários caras que se vestem que nem eu, é um bagulho muito louco. Meus fãs, mano, eu não tenho nem palavras. Eu acredito que seja um dos fandom mais fortes do Brasil, sinceramente. Nem queria falar isso, mas eu acho que é. Porque os caras são muito loucos, e eu acho isso muito foda, sinceramente!

TMDQA!: E essa parada de se vestir é muito doida, né. Isso virou uma parte da sua identidade mesmo como artista, né? A cultura do hype ali e a galera abraçando isso.

Sidoka: Sim, pois é, a rapazeada gostou da luva, né… do “oclin” e tal.

TMDQA!: Luva & Oclin!

Sidoka: Rapazeada piando no show de noite de óculos! Mano, teve um moleque aí que tava se vestindo que nem eu, tampando a cara, de touca, os caras tavam achando que era eu. Tavam tirando foto com ele! Tá ligado? Querendo ou não, eu acho muito foda isso, porque a rapazeada meio que consegue se ver em mim, mano, e eu acho isso muito foda. A pessoa se ver em mim eu acho muito interessante, muito.

A “instituição” Sidoka e a Intactoz Corp.

TMDQA!: Ainda um pouco nesse sentido, eu acho que você, assim como vários artistas dessa nova geração, é fruto dessa nova cultura de produção caseira, independente, com recursos mais acessíveis e tal. Mas agora você tá com a Intactoz, que acho que vai abrir porta pra muita gente e talvez até uma profissionalização que nem você teve acesso, né.

Sidoka: Bom, negócio é o seguinte, a Intactoz é a nossa empresa. A gente sempre foi “nós por nós”. Meu empresário sou eu, tá ligado? E a gente criou a Intactoz, eu e os meninos e tal, e sempre a gente tenta trazer oportunidade pra moleque novo da cena daqui, pra poder piar em algo meu, pra piar em música nova minha, sempre tô querendo abraçar a cena e sempre tô abraçando a cena daqui.

A Intactoz é muito mais do que só uma empresa. A gente faz de tudo! A gente vende roupa, chegou uma época que a gente vendia até pomada pra cabelo, cara. [risos] Então, tipo, é expandir o bagulho. A gente fez um CNPJ gringo agora que eu falei, “Credoooo, bagulho é doido”! [risos] E a gente faz de tudo pra Intactoz ser gravadora, marca de roupa, pra agenciar artistas, tem artistas que a gente aposta também, a gente faz de tudo.

A gente tomou muito tapa na cara que podia não ter tomado, porque né, a gente não tem empresário. Mas já que somos nós os empresários, a gente tomou muito tapa na cara, então temos coisa pra ensinar. Estamos aí pra abraçar a cena mesmo, e tem muito moleque aí que a gente confia que vai estourar cabuloso.

TMDQA!: Tomara! Cara, hoje o Sidoka é quase uma instituição mesmo né, não é só uma pessoa. Fiquei curioso: você sente que se o Sidoka tivesse surgido há uns 10, 15 anos, quando a gente não tinha tantos recursos como hoje pros artistas independentes, pra produção caseira, você acha que ia rolar do mesmo jeito?

Sidoka: Eu acho que as coisas acontecem no momento certo. Não sei nem te explicar isso, tá ligado? Porque na época passada, querendo ou não, quanto mais passa o tempo mais tecnologia a gente tem, por isso o tempo passa mais rápido. A internet fortaleceu pra caralho pra que eu divulgasse meus trampos, meus bagulhos todos, meu Twitter, entendeu? Meu Instagram.

Então, se eu voltasse no tempo, se o Sidoka tivesse aparecido há um tempo, acho que seria diferente… MAS, eu não ia deixar de deixar uma luva perante o mar. Eu ia fazer o meu, tá ligado? E eu não ia parar até conseguir.

TMDQA!: Voltando um pouco pro disco, outro destaque pra mim é a “ATESTADO MÉDICO FALSO”, que tem aquela coisa tradicional do seu Trap mas também tem uma batida que lembra o Funk. Você curte o Funk? Qual a sua relação com esse gênero?

Sidoka: Eu vim do Funk! Eu vim das batidas de palma, de freestyle no Funk. Eu vim dos bailes Funk, eu vim do Mizuno, eu vim da juliete rosa, eu vim da camisa de time. Eu vi o Funk todo final de semana, como que era, só que meu rolé sempre foi o Rap. Mas eu vim do Funk.

O que aconteceu foi que eu não tinha dinheiro pro rolé de Rap, então eu ia trabalhar com meu amigo que é DJ de Funk. E eu via o Funk de tudo quanto é lado, e eu falava, “Caralho, mano, acho que eu vou virar MC de Funk”. Só que aí Deus falou, “Não, vai escrever seu Rap”. E aí fui escrever meu Rap, que acabou virando Trap, que acabou virando deboche, que virou a luvinha, que virou eu!

TMDQA!: [risos] E agora está aí usando um pouco do Funk também, né.

Sidoka: Com certeza!

TMDQA!: Eu inclusive lembrei esses dias do “Ela Gosta de Bala” e fiquei viciado de novo nessa música.

Sidoka: Esse foi o Sinuka! É o Sinuka. Ele é doido. [risos]

TMDQA!: [risos] E vai ter mais Sinuka ou por enquanto ele tá no canto dele?

Sidoka: O Sinuka tá em Cancún agora, entendeu? Ele é o tal do foda-se, ele entra no meu canal, faz o que quiser, escolhe qualquer tipo de música e solta. [risos] Agora, falando fora do personagem, Sinuka é meu alter ego pra falar o que eu quiser, fazer qualquer tipo de música e foda-se, é isso mesmo. [risos]

TMDQA!: [risos] Essa música gruda demais na cabeça, é surreal.

Sidoka: Eu lancei até no álbum a “HOJE”…

TMDQA!: Eu ia falar agora, cara! Essa foi a minha preferida, inclusive, viciei demais. Mas me conta mais dela, então!

Sidoka: Da “HOJE”? Ou do “Ela Gosta de Bala”? Ou das duas?

TMDQA!: Das duas, então!

Sidoka: O “Ela Gosta de Bala” foi simplesmente a gente achar um beat no YouTube que era Summer Eletrohits e eu comecei a fazer um freestyle: “Filha da puta, ela gosta de bala”. E virou isso. E a gente começou a tocar essa música nas festinhas aqui de BH e pegou, mano. Pegou, explodiu, antes de explodir no YouTube! Todo lugar que a gente ia essa música tocava.

A “HOJE”, com o Zemaru, é simplesmente porque eu o Zemaru conseguimos chegar em um nível de voz aguda desgramado! Aí eu falei, “Ô Zemaru, foda-se mano! Vou lançar como Sinuka e cê lança como Zemaru mesmo”, e ele falou, “Eu pulo na bala”, e foi o que aconteceu, mano. “HOJE” é aquela música ali, e é tipo, minha mãe ama essa música.

TMDQA!: E a “HOJE” tem essa parada bem solta, que é muito massa, mas tem uma guitarrinha ali, uma melodia muito bonita. E eu queria te perguntar, você tem alguma relação com esses instrumentos orgânicos? É tudo sample ou você ou alguma outra pessoa de vez em quando toca?

Sidoka: Não, não tem galera que toca não! É beatmaker, rapazeada faz o sample, que faz o beat na hora no piano, que faz o piano virar uma flauta, que faz a flauta virar um órgão, tá ligado? [risos] É isso, mano, é beatmaker. Não tem ninguém por trás tocando um violão, tocando nada. É todo mundo no sample mesmo. É beatmaker tanto gringo quanto brasileiro, tá ligado?

E meus trabalhos todos são bem divididos mesmo, 50/50 com todos eles, então eu tenho uma relação muito bom os beatmakers. Mas não tem ninguém com os instrumentos que faz os bagulhos pra mim não. [risos] É tudo no pianinho mesmo.

TMDQA!: Bom demais! E pra fechar a entrevista, o que vem por aí pro Sidoka ou pro Sinuka ou pra qualquer outro? [risos]

Sidoka: Ou pro Sukata, ou pro Sinopse, ou pro Sukita. [risos] É o que que era pra falar mesmo? Pra mandar um recado pra eles?

TMDQA!: [risos] Não, o que vem por aí de projetos e tal.

Sidoka: Ah, então, vou te falar. O Sinuka é imprevisível, cara. Ele pode aparecer do nada, ele pode sumir do nada. O Sukata é quando eu tô, nossa senhora, quando eu to lombrado, fodido. Já o Sinopse é aquele cara que sabe o que vai acontecer, e sabe que o que vai acontecer vai dar certo ou vai dar errado, só que aí você depende de quem vai perguntar, entendeu?

Só que aí o que que pega: o Sinuka é o foda-se, lança em qualquer beat. O Sukita é o Funk.

TMDQA!: E o Sidoka vai ficar de boa?

Sidoka: O Sidoka fica na dele, tranquilo. Mas o Sinopse, se pá ele lança um pagode, a gente não sabe. Vamos ver.

TMDQA!: [risos] Valeu demais, Sidoka! Foi ótimo o papo. Espero que a gente possa falar de novo em breve!

Sidoka: Muito obrigado pelo convite! Gostei da sua camisa aí, cê tá malado. [risos]