Por Bia Vaccari
Como uma forma de homenagear o rock nacional dos anos 2000, Vitor Kley acaba de dividir seu mais novo single O Amor Machuca Demais, que chega junto com um clipe. A canção dá início a uma Era totalmente inédita da carreira do cantor, após um ano e meio trabalhando na divulgação de seu último álbum, A Bolha.
Com uma temática que flerta com assuntos mais tristes, o que pode soar estranho para quem está acostumado a acompanhar o trabalho do cantor, O Amor Machuca Demais procura dialogar com a nostalgia adolescente de uma geração que hoje possui seus vinte e poucos anos. Pensando nisso, o clipe foi gravado dentro de uma sala de aula e trouxe na posição dos professores figuras que marcaram a vida daqueles que foram adolescentes na década de 2000: Lucas Silveira, da banda Fresno; Di Ferrero, do NX Zero e MariMoon, ex-apresentadora da MTV.
Em entrevista exclusiva ao Tenho Mais Discos Que Amigos!, Kley revela que essa sonoridade sempre esteve muito presente em sua vida, apesar da sua carreira ter ido para uma outra direção — até agora. “É uma influência que eu tenho”, conta o cantor. “A parada do rock já tá instalada no meu DNA, meus pais ouviam bastante, e meu irmão gostava de The Offspring e blink-182 pra caramba. Era algo que vinha comigo há muito tempo.”
No entanto, analisando sua discografia até agora, Vitor revela que Eras como Adrenalizou e A Bolha não deram tanta margem para esse flerte com o rock ser abordado em suas músicas. “As coisas aconteceram de uma forma com ‘O Sol’, ‘Morena’ e tudo mais que não tinha como eu mostrar esse outro lado meu”, revela.
“A gente foi fazendo o que tinha que fazer, só que agora o mundo teve essa pausa”, refere-se o músico ao período pandêmico. “Um dia eu quis falar sobre coisas diferentes, eu tava sentindo coisas diferentes.”
Vitor Kley descreve o momento de isolamento social como “muito louco”: “Nunca pensei que fosse estar com a minha cabeça daquele jeito”, comenta. De repente, o músico teve de lidar com crises de insônia que chegaram a resultar em dores corporais, mas sobretudo, uma enxurrada de pensamentos negativos começaram a aflorar na mente de um cantor cujas músicas sempre seguiram uma temática positiva.
“Tiveram momentos que eu pensei em largar mão na maior das loucuras”, admite. “Mas aí eu volto pra cá, começo a produzir e falar sobre coisas que eu nunca tinha falado. Esses sentimentos mais sombrios te fazem ter inspiração em áreas que você nunca tinha habitado.”
“Tem vezes que eu não tô bem e tá tudo bem — e eu quero falar sobre isso”, comenta. “A gente tem o privilégio de lidar com a arte: tudo o que a gente sente se transforma em algo maravilhoso.”
Em paralelo aos sentimentos e sensações causadas pela pandemia de COVID-19, Vitor Kley ainda presenciou seu irmão viver um término dolorido, que foi justamente quando surgiu a inspiração para a faixa “O Amor Machuca Demais”. “Nunca escrevi sobre isso e é verdade, é uma realidade da vida das pessoas”, adiciona. “Essa parada do rock tá comigo e eu nunca botei pra fora, então mandei pra galera, gravei, todo mundo ouviu e tiveram uma reação de que trouxe uma época boa. Então por que não fazer isso, se vem de forma tão natural?”
Temática “estranha”
Vindo de canções positivas como “Ainda Bem Que Chegou” e “Armas ao Nosso Favor”, a nova faixa traz uma abordagem que fala de dor. Contudo, falar sobre sentimentos ruins numa música não soou estranho para o cantor em nenhum momento.
“São coisas que eu vivi, tive vários relacionamentos que deram errado então pra mim não soava estranho”, conta Kley. “Mas eu senti que para as pessoas que ouviam de fora foi algo mais ‘caraca, do que o Vitor tá falando?’. Dá esse choque, mas eu acho que é esse choque que é legal.”
Mesmo assim, houve momentos em que surgiu um questionamento sobre a mudança: “Hoje mesmo eu acordei pensando se eu tô pirando muito [risos]”, brinca o cantor. “Mas eu vivo pra isso, se é pra ser igual, qual é a graça? Ficaria tudo uma linha reta, e nem é chutar o balde, ainda é Vitor Kley.”
Feats que já vinham com o tempo
Participação especial em “O Amor Machuca Demais”, Di Ferrero já fez uma parceria com Vitor Kley no ano passado para dar uma nova cara ao sucesso “Hoje o Céu Abriu”, do NX Zero. A ocasião, no entanto, não originou em conversas para que o cantor chegasse a trabalhar com o rock hoje em sua carreira.
“Naquela época eu tava divulgando A Bolha, um álbum que foi uma ponte pra minha liberdade musical”, revela. “Ele reúne várias coisas, então eu meio que senti essa liberdade de mostrar todos os lados que eu tenho.”
O fim da Era A Bolha
Eternizada na carreira de Vitor Kley, A Bolha foi uma fase marcada pela cor roxa tanto em seu pré quanto em seu pós-lançamento, além do álbum trazer hits como “Jacarandá” e “O Amor é o Segredo”. No entanto, como foi lançado no meio da pandemia de COVID-19, o disco não teve a oportunidade de ganhar sua própria turnê como o planejado.
“A Bolha não é um espaço no tempo, é um lugar que eu sempre vou habitar”, conta o cantor, referindo-se ao trabalho com muito carinho. “Ela nunca vai sumir da minha vida. ela é o presente, o passado e o futuro. Quero tocar as músicas porque elas são lindas, a gente tá fazendo no show uma mistura de tudo isso.”
“Quando eu faço a cronologia da minha carreira, existe um lugar no palco que é A Bolha também”, conta. “Eu nunca fui um cara de encerrar ciclos, até porque eu acho que todos eles são pontes para os próximos. Eu nunca quero deixar de tocar ‘O Sol’, sou muito grato a essa música e o que ela me trouxe na vida, nem com as outras que vieram depois.”
Próximos passos
De acordo com Vitor Kley, “O Amor Machuca Demais” desencadeou outros assuntos nessa leva. “Ficou tudo meio rockzão, sonzera”, explica. “Acabou trazendo uma nova roupagem, mas ainda é Vitor Kley.”
“Mais pra frente vai virar uma parada com mais canções, mais músicas”, revela. “Quem sabe a gente lança um EP, um álbum… Eu tenho mais três que já estão prontas, tenho uma que tá semi pronta e tem outra que eu já fiz os arranjos em casa e falta levar pro estúdio.”