Manu Gavassi sai da "caixinha" e fala ao TMDQA! sobre o ambicioso projeto do álbum visual "GRACINHA"

Em entrevista exclusiva ao TMDQA!, Manu Gavassi falou sobre seu ambicioso álbum visual "GRACINHA", que acaba de ser lançado em áudio. Leia na íntegra!

Manu Gavassi
Foto por Gabriela Schmidt

Os últimos anos foram de muita mudança para Manu Gavassi.

Depois de lançar o EP CUTE BUT PSYCHO em 2018, a artista participou do Big Brother Brasil e viu sua vida tomar um rumo diferente. Em meio a um grande processo de autoanálise e de adaptação não só à sua nova realidade mas à realidade do mundo como um todo, surgiu um dos projetos mais ambiciosos de Manu: GRACINHA.

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Trata-se de um álbum visual, que parece ao mesmo tempo uma ideia tão ousada e tão óbvia — afinal de contas, vem de uma mente que se tornou conhecida por suas geniais estratégias de marketing durante o reality show e que sempre teve o elemento visual muito forte em seu processo criativo.

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Esta parte do álbum, que contou com a produção da F/SIMAS, escritório que gerencia a carreira da artista e que também atua como produtora de conteúdo no mercado audiovisual, ainda não está disponível e vai chegar diretamente no Disney+ em uma iniciativa (novamente) ambiciosa no dia 26 de Novembro.

No momento, GRACINHA chegou completo em áudio e, em suas nove faixas, percebemos o carinho do produtor Lucas Silveira (Fresno) em criar uma cama perfeita para que Manu Gavassi brilhe e entregue seu melhor e mais maduro trabalho até hoje.

Aqui no TMDQA!, tivemos a oportunidade de bater um papo descontraído e pra lá de interessante com a cantora para entender melhor tudo que levou à produção deste trabalho. Você pode conferir a entrevista na íntegra logo abaixo!

TMDQA! Entrevista Manu Gavassi

TMDQA!: Oi, Manu! Que prazer estar falando contigo, ainda mais sobre um projeto tão especial, que parece vir de um lugar tão íntimo pra você. Essa ideia de você fazer um trabalho audiovisual — uma coisa que parece tão óbvia quando se fala em Manu Gavassi, mas ao mesmo tempo ninguém esperava — veio de onde? Qual foi a influência do seu afastamento das redes sociais nessa obra?

Manu Gavassi: Primeiro, Felipe, obrigada! Muito feliz de estar aqui conversando sobre música, é muito gostoso. Estou na fase inicial de falar sobre esse trabalho que eu guardei por tanto tempo, com tanto carinho. Então pra mim é muito gostoso, obrigada de verdade pelo espaço.

Cara, GRACINHA… Acho que a ordem foi o seguinte: eu tinha umas músicas soltas em 2020. Quando eu compus “GRACINHA”, que foi do nada, tudo ganhou uma cara pra mim. E aí, foi em Dezembro, eu decidi que era um álbum visual e eu decidi que eu queria mostrar pra Disney, que eu queria lançar na Disney.

Então, a partir daí ele virou um álbum visual. E um mês depois eu me afastei das redes sociais — foi um grande acaso, eu não tinha planejado isso mas, sim, acho que o projeto aconteceu da maneira que ele aconteceu e ele foi criado da maneira que ele foi criado porque eu estava completamente distante de qualquer referência, distante das minhas próprias inseguranças que são monstros que aparecem pra mim quando eu estou muito online, muito focada. Pra mim, tudo isso está muito colado e nada foi por acaso.

Mas, realmente, acho que o meu pensamento foi: eu vejo uma cara pra isso. E tudo que eu tenho trabalhado… existe audiovisual, não é só música. Por muito tempo eu me afastei da música, pra trabalhar com audiovisual, pra estudar roteiro. Comecei a imprimir isso em todas as minhas publicidades, estava trabalhando como atriz no ano passado também, fiz uma série super legal pra Netflix. Então, pra mim, quase que era mais confortável falar, “Não, tá bom, não quero cantar”. Porque pra mim é uma coisa que dá tanto trabalho e mexe tanto com as minhas inseguranças, e é uma carreira em que você se expõe muito mais, sabe? Então, dói né. Às vezes dói você ser tão sincero e falar sobre os seus sentimentos e bancar ser você mesmo e se expor — olha quem fala, né, eu entrei no Big Brother. Mas enfim. De qualquer maneira, dói. [risos]

TMDQA!: Não é porque você fez que é fácil, né.

Manu: Exatamente! E eu acho que eu sempre olhei pra música com um certo desconforto, por todas as críticas que eu já recebi mais nova também. Eu sabia onde eu estava pisando e às vezes era mais confortável me afastar disso. E nos três últimos anos eu fiz várias experimentações; não lancei álbuns mas lancei EPs e tal, fui vendo onde eu me sentia confortável, onde eu me sentia eu. Foi um grande processo até eu chegar a essa conclusão: cara, eu tenho que fazer um álbum visual porque isso junta tudo que eu sei fazer. É um projeto completo pra mim, pra tudo que eu sou apaixonada: pra narrativa, pras experimentações que eu tava fazendo como diretora também, como conceito visual também. Eu gosto de coisas que contam uma história, eu gosto de conceito, eu me sinto mais confortável trabalhando dessa maneira.

Pra mim, na minha história, no que eu sei fazer bem, não tem muito sentido ficar correndo atrás de um hit por mês porque isso nunca vai me deixar feliz. Acho que no final das contas sucesso é o que te faz feliz, é isso que eu entendi muito. Sucesso é o que me faz feliz, então eu ia ser completamente infeliz correndo atrás de números, de algoritmos, e fazendo o que eu tenho que fazer “by the book“, sabe? O que me pedem pra fazer na minha carreira, mas que pra mim não significa nada. Então, eu lutei contra todos esses monstros com essa decisão. E acho que foi a decisão mais certa que eu poderia ter tomado, porque me arremessou pra fora da minha zona de conforto de novo e isso só me rende bons frutos. Então, eu estou muito feliz.

“Eu nunca fui tão sozinha” e a reflexão interna de GRACINHA

TMDQA!: Você deu início a esse projeto com “Eu nunca fui tão sozinha”, que eu achei perfeito como primeiro single. Aliás, pra mim, é a melhor do disco!

Manu: Ai, obrigada! Eu amo! É o meu xodó.

TMDQA!: [risos] É muito legal! E quando ela saiu, você fez ali um desabafo em uma postagem no Instagram, falando sobre o seu medo e tudo com que você teve que lidar. E a sensação que eu tenho é de que o álbum todo é um pouco isso, é um álbum de muita reflexão interna e sinto que essa música resume bem isso. Depois de um período de Big Brother — que como você falou, não é fácil — e tudo mais, ficar um pouco longe das câmeras, longe das redes, e até mesmo isolada por conta da pandemia te ajudou a olhar pra dentro e encontrar essas letras, lidar com esses medos?

Manu: Com certeza. Eu vejo muito que tudo que envolve esse álbum é um processo, assim, de três anos pra cá. Não foi só a pandemia, não foi só o Big Brother, não foi só esse momento da minha vida; eu acho que existiu uma história minha, pessoal, de libertação. De até entender… Cara, antes eu entendia que me colocavam em uma caixinha. Nessa caixinha eu estava e ficava ali comportada, esperando a minha vez que nunca chegava — porque quando você está na caixinha, você não faz nada memorável. É horrível estar na caixinha pra um artista. E todos os meus ídolos são meus ídolos justamente por não estarem.

Eu comecei a ponderar isso. “Quem eu sou? Por que eu tenho tanto medo de ser quem eu sou? Eu acho que eu não vou ser aceita? É o medo da pessoa que sofria bullying na escola, que eu carrego até hoje?”, sabe? “Por que eu me prendo tanto no óbvio?”. Uma popstar óbvia faz isso — é isso que eu preciso fazer. Eu entendi que isso não funciona pra mim, porque isso só funciona se é verdade pra você.

Se é verdadeiro pra você ser uma popstar que faz o que uma popstar padrão faz, vai dar super certo. E vai ser incrível! Vai te deixar feliz e vai dar muito certo. Agora, se não é o caso, é só uma grande prisão, sabe? E acho que nos últimos três anos eu fui percebendo que… Tá bom, talvez eu não seja muito normal e que ótimo. Eu adoro não ser muito normal. Talvez eu seja especial por ser assim. Então, deixa eu abraçar as minhas ideias ao invés de tentar muito agradar. Então, é uma coisa com a qual eu venho lutando contra. Eu acho que GRACINHA é muito esse desabafo.

Eu falei tanto que eu esqueci qual era a sua pergunta, porque eu tinha um ponto pra chegar.

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TMDQA!: [risos] Era pra falar de como você lidou com esses medos, já que essa música parece tanto um desabafo sobre isso.

Manu: Isso, exatamente! E essa música que você gosta especificamente — e ainda bem que você gosta porque é uma das minhas favoritas, eu amo [risos]. Quando eu recebi aquela produção do Lucas eu já pensei, “Não, eu não acredito que eu vou cantar em cima disso! Isso é muito bom!”. Eu já tinha amado a base, assim, era tudo que eu estava escutando — meio lo-fi, tinha tudo a ver com a fonte que eu estava bebendo e eu sabia que, com a minha voz, com o meu jeito, ia ficar uma coisa diferente, não ia parecer uma cópia de nada, ia ter uma identidade.

E é um desabafo total do período que eu estava vivendo no ano passado, que era sair de um reality show, me deparar com o mundo em uma pandemia, me sentir grata mas me sentir morrendo de medo, não entender por que as pessoas usavam máscaras e por que elas estavam felizes em me ver só que usando máscaras. Tipo, cara, se o mundo está acabando como que você está feliz de me ver? Tipo, na minha cabeça, eu estava com muito medo de tudo.

Foi um período muito difícil pra mim, e ao mesmo tempo foi o melhor período da minha vida profissional. Porque pela primeira vez eu tive voz, eu consegui ser eu mesma, ser respeitada por quem eu era. Eu consegui que uma ideia minha muito ousada — que foi a de gravar os vídeos e tudo, mostrando quem eu sou, fosse ouvida. E as pessoas pela primeira vez falaram, “Nossa, ela tem talento”. Foi a primeira vez que eu senti isso em 10 anos de carreira, então foi muito importante, foi muito bonito. Mas ao mesmo tempo tinha tudo isso acontecendo, então foi meio caótico!

Eu sinto que esse álbum… Eu chamo ele de um “grande brechó”, porque ele tem várias histórias que se cruzam, ele tem várias sonoridades diferentes. Ele é muito pessoal; não gravei em estúdio, gravei em uma casa com o Lucas, que é uma pessoa que agora é quase um irmão mais velho pra mim. Então, assim, tudo isso deixou esse álbum com um gostinho muito diferente. Eu acho ele difícil de definir, sabe? Mas acho que ele é um passo muito importante pra minha carreira, pra minha libertação como artista mesmo.

TMDQA!: Legal! Você vai falando e eu já estou adorando que você está tocando em vários tópicos que eu já anotei no roteiro pra te perguntar. [risos] Mas vamos por partes. Falando justamente dessa música e desse post, você falou lá também pra galera “se divertir dançando” e isso me chamou muita atenção pela temática da letra — não é uma música pra você se divertir dançando!

Manu: [risos]

TMDQA!: E no disco todo meio que acontece isso, essa dualidade e contraste do instrumental não só com a sua voz mas com a letra. Como foi explorar isso? Aliás, agora que você falou que recebia esses instrumentais e cantava em cima disso, como foi pegar e fazer uma letra que vai justamente de encontro à sonoridade instrumental?

Manu: Felipe, era assim, eu vou te falar que não foi nada planejado. Era o que saía de mim, sabe?! Daí eu percebi como eu estava me sentindo. “Eu nunca fui tão sozinha assim” eu acho que foi uma das primeiras músicas que eu escrevi do álbum. Quando eu recebi aquela base, que era tudo que eu sempre quis, e escrevi aquela letra, eu pensei, “Nossa, eu estou muito louca mesmo. Eu estou sentindo coisas estranhas, porque olha pra onde a minha mente me levou”, sabe? [risos]

E logo depois disso o Lucas mandou várias bases pra mim — a gente trabalhou muito à distância, né, e ele mandava várias bases que ele fazia, instrumentais. E [elas eram] muito Pops! E eu falava assim, “Eu não sei nem o que fazer com isso. Eu não sei nem o que escrever”. Tipo, não me emocionava, porque talvez eu não estivesse nessa fase, sabe? As bases mais “óbvias”, seguras, que eu teria escolhido em outro momento da minha vida e que seria até inteligente escolher em termos de agradar o sistema, eram bases que eu falava, “Hmm, não”, tipo, “Não sei escrever nisso, não me emociona, não sei o que fazer com isso aqui com tudo que eu estou sentindo, com tudo que eu tenho pra falar”.

Então foi um álbum que eu respeitei muito a minha vontade. Eu não tentei fazer nada. Era tipo, o que vinha e parecia real, vai entrar. Isso explica ter entrado uma música super pessoal que eu fiz pra minha irmã, que em outros momentos jamais entraria, eu e o Lucas jamais teríamos tomado essa decisão de colocar essa música nesse álbum.

E a gente até teve uma conversa engraçada que ele falou, “Tem certeza? É linda a música, mas não tem nada a ver”. E eu falei, “Tem a ver porque eu que fiz”. [risos] Eu estava tentando me convencer! Eu fiz, então tem a ver, coloca aí! E foi um exercício que eu fiz. “GRACINHA” é uma música muito diferente do que eu estou acostumada a lançar, mas é muito parecida com o que eu compunha na sala da minha casa, sabe, pra me divertir, pra desabafar? E depois eu desistia de lançar, tipo, “Isso aí não tem nada a ver”. Eu me vejo muito nessa música, mas realmente, eu imagino que pras pessoas ouvindo seja, “Nossa, muito diferente de tudo que você já fez”. Em certo ponto realmente é, né? Muito diferente da maneira que eu vinha me apresentando.

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Em termos vocais eu acho que eu também me permiti me soltar um pouco mais, e nessa música se nota que eu realmente fui pra lugares, pra melodias, pra registros da minha voz que eu nunca mais tinha explorado por medo. Por trauma. Eu fui tão criticada quando eu era adolescente, quando eu comecei a cantar, que eu fiquei aqui, olha, nessa linha. [faz uma linha reta com as mãos] Pra nunca ser criticada. Eu me moldei em cima das críticas, eu acreditei nelas e eu construí toda uma vida em cima das críticas.

Então, acho que essa é a primeira vez que eu solto a minha voz em algum lugar. Eu acho que ainda é o início, tá? Eu ainda estou engatinhando nisso, é um músculo que está atrofiado em mim, mas eu tenho fé que eu vou conseguir! Eu acho que foi um primeiro passo de libertação, pelo que eu percebi.

Parceria com Lucas Silveira e Lucas Lima

TMDQA!: Que demais. Você já falou um pouco mas eu queria saber um pouco mais sobre como foi trabalhar com os Lucas — além do Silveira, tem o Lucas Lima também, né? Como foi ver essas pessoas dando vida às suas ideias ou te ajudando a dar vida às suas ideias?

Manu: Ai, foi muito legal. Minha história com o Lucas Silveira… é longa. Porque ele estava na primeira gravadora que eu entrei, quando eu tinha 16 anos, e eu lembro que ele me ajudou. Ele foi o único que postou meu clipe, o que pra mim, imagina — eu estava na escola, tipo assim, eu estava de uniforme quando eu vi, eu não acreditei naquilo.

TMDQA!: E na época a Fresno…

Manu: É! Hello, tipo, como assim ele postou meu nome, meu clipe?! Então eu lembro muito disso.

E ele é o único compositor que eu gravei. A única letra que não é minha que eu gravei em toda a minha história foi do Lucas, nesse álbum, porque ele me deu de presente. Ele fez uma música muito fofinha e me mandou e eu gravei no meu primeiro álbum.

Então, a gente iniciou a nossa história ali só que ela ficou completamente adormecida. Eu era uma criança, anos se passaram, nossos caminhos não se cruzaram mais — a gente se encontrava, tinha aquele carinho de conhecido, gosto dele, mas a gente nunca mais tinha falado de música até acho que 2 anos, 3 anos já, quando ele produziu a segunda parte do meu EP CUTE BUT PSYCHO. E daí deu um match total. Eu admiro muito o Lucas, eu acho ele muito genial, eu admiro a coragem dele, eu gosto muito da Fresno. O álbum que eles acabaram de lançar eu achei, assim, arrebatador. Grande aula. E eu ouvi e pensei, “Ainda bem que esse homem que produziu meu álbum, gente, porque se não fosse ele eu ia querer ele”.

É muito bom. E a gente tem uma relação que eu falo que é muito de irmão e irmã. Eu defini assim pra ele e ele concordou, porque a gente tem uns “arranca-rabo” assim! A gente já discordou várias vezes, a gente já teve várias rixas na nossa relação. Ao mesmo tempo, sempre foi muito produtivo, sabe? Eu acho que a gente se admira muito antes de tudo. Somos dois artistas e artistas são sempre muito fiéis à sua visão, né? Acho que isso que gera algumas faíscas, mas eu acho muito produtivo.

E esse processo foi muito carinhoso, porque a gente gravou em uma casa que a gente alugou, no meio da quarentena. A gente quarentenou junto ali naquela casa, ele trouxe a família dele; trouxe a Sky, que é um grande presente, minha amiga de cinco anos [risos], que é a filha dele, a Karen [Jonz], que é maravilhosa. E a gente pôde passar esse tempo juntos como humanos. Não como profissionais com hora marcada pra acabar no estúdio mas como humanos se entendendo naquele período.

Ele também teve muita sensibilidade. Eu estava muito quebrada por dentro gravando esse álbum. Eu chorava muito, eu tinha muito medo, eu estava muito assustadinha — tadinha de mim. E ele teve muita paciência comigo, ele foi muito carinhoso, sabe? Ele e a família dele. Então, acho que eu nunca mais vou gravar um álbum assim. Acho que foi uma coisa muito atípica, mas muito especial.

E o Lucas Lima entra em outra fase, que é a fase do álbum visual — ainda nem posso falar muito sobre isso mas eu chamei ele pra fazer a trilha do álbum visual, o que, assim, me emocionou, assim… Esse homem também me viu chorar quando ele me mostrou o que ele tinha feito! [risos] E eles eram amigos, né? Eles estudaram juntos, uma grande loucura isso. Eu nem sabia. Então, foi muito especial. Foram encontros bem marcantes.

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TMDQA!: Estou bastante ansioso pro álbum visual e já queria entrar um pouco nisso. Porque assim, a gente vê isso muito como uma coisa gringa, né? De lançar no Disney+ e tal, a gente pensa que é uma coisa, “Ah, só a Billie Eilish mesmo”. E de repente vem Manu Gavassi e pronto! [risos] Como foi que isso aconteceu e como está sendo ter o Mickey do seu lado nessa aventura, como você convenceu as pessoas da sua ideia?

Manu: Antes de mais nada, obrigada Mickey! Eu sabia que algum dia eu usaria essa frase em alguma situação bem melhor, que faria mais sentido. [risos]

TMDQA!: [risos] Acho importante dizer que eu tenho uma tatuagem de Kingdom Hearts que tem o Mickey.

Manu: Perfeito! Então estou dando entrevista pra pessoa certa! [risos]

TMDQA!: É isso.

Manu: Quando eu compus “GRACINHA” e eu vi o lado para o qual estava indo a minha cabeça — me parecia uma música meio atemporal —, eu entendi que era um álbum visual. Eu entendi que, mais do que isso… No Big Brother, eu consegui uma coisa que eu acho que é o maior presente: conseguir trocar com pessoas de todas as idades, pessoas de todo jeito, sabe? Eu sou abordada na rua com carinho por vovós, por crianças, por pessoas da minha idade! Isso é impagável. E eu acho que isso você só consegue quando você conhece as pessoas pessoalmente, talvez, quando você tem uma troca muito sincera. E, querendo ou não, essas pessoas moraram comigo por três meses. Elas conheceram tudo de mim. De verdade, conheceram! Aquilo não era um personagem, era eu, louca, enlouquecida, confinada!

Então, por eu ter tocado essas pessoas, entender que meu público virou uma coisa mais ampla — a percepção, né, não estou falando do meu público porque é diferente a pessoa realmente consumir seu álbum, só que mesmo assim existia uma abertura pra essas pessoas consumirem o que eu tinha pra entregar.

Por isso a Disney ficou na minha cabeça. Eu falei, “Cara, filmes da Disney, pra mim, são pra todo mundo”. Tem uma história profunda que se o adulto quiser ele chora. Eu assisto filmes e falo — Soul! Eu assisto Soul e falo, “Isso não é pra criança, gente! Não é pra criança! Estou aqui chorando, não é pra criança isso!”. Então, eu acho que existe essa alma nos conteúdos da Disney. Historicamente é assim, né. Quem é sensível principalmente consegue perceber isso.

E eu entendi que eu queria essa sensação no meu álbum no final das contas. Eu queria que pra cada pessoa tivesse um significado e qualquer um pudesses assistir e tirar suas próprias conclusões. Aí que eu falei, “Eu quero conversar com a Disney. Eu tive uma ideia e eu quero lançar pela Disney”.

É um pouco difícil, né? Eu achei que eu levaria um não no meio da cara. Mas não foi assim e as portas se abriram lá pra mim de uma maneira muito linda, de uma maneira que fosse ser, tão natural, tão tranquila. Foi muito legal, foi incrível. Até hoje eu me belisco antes de dormir — falo, “É impossível isso estar acontecendo”. Mas isso de fato está acontecendo. [risos]

“Molejão em francês” e mais curiosidades de GRACINHA

TMDQA!: Estou ansioso pra ver! Uma pergunta bem rapidinha, e eu espero muito não estar errado com isso: “Tédio” tem uma homenagem ao Molejo ali, né?

Manu: [risos] Tem! Tem totalmente!

TMDQA!: De onde veio isso? [risos]

Manu: Cara, veio que eu e o Lucas muito doidos no estúdio, entediados já, ouvindo a mesma melodia há um milhão de anos, ele começou a cantar em cima, eu acho. Porque “não era amor, era cilada” é meio óbvio, né? Então a gente sempre ficava, “Nossa, parece um pouco essa melodia, hein?”. Daí no final ele cantou, “Quase morri do coração…” e eu falei, “Não, não acredito. A gente vai ter que fazer isso”.

Imagina ainda chamar uma francesa, cantar quase um Molejão Pop francês? É a melhor mistura que eu já ouvi falar, gente. Foi muito divertido. A gente nem pensou muito, a gente só fez.

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TMDQA!: Ficou realmente incrível. [risos] Outra pergunta rápida é sobre “Catarina”. Você lembra qual foi a reação da sua irmã quando ela ouviu a música pela primeira vez?

Manu: Foi a reação que me fez colocá-la no álbum. Eu estava nessa de não me julgar, pegar o violão, experimentar acordes e o que vinha na minha cabeça. Era início de Janeiro e eu faço aniversário no início de Janeiro e minha irmã no final. E eu estava ali cantando e eu comecei a brincar com o nome dela e a música saiu! Saiu em dez minutos, foi muito fácil — quando é pra ser é assim, quando é sincero só sai.

E eu escrevi tudo aquilo pra ela, e era muito ela, era muito íntimo. Era a maior prova de amor que eu já fiz pra alguém, a mais sincera. E daí eu mandei pra ela no aniversário, falei, “Vou dar pra ela de aniversário”. Daí no aniversário eu gravei bonitinho — no celular mesmo — e mandei pra ela. Ela estava viajando e quando ela recebeu ela me ligou chorando e falou, [imitando uma pessoa chorando] “Você estragou meu dia! Eu não consigo parar de chorar!”. E daí eu falei, “Nossa, que lindo. Que lindo que ela recebeu dessa maneira, porque é muito sincero mesmo”. É muito forte, a nossa relação é muito forte. É muito de almas gêmeas, eu sinto.

E eu nunca colocaria essa música no meu álbum em outros carnavais, porque eu realmente pensaria, “Não, na categoria que eu coloquei não existe lugar pra isso”. E quando eu falei pro Lucas, ele falou, “Lindíssima, mas você tem certeza?”. E eu falei, “Tenho certeza, porque fui eu que escrevi”. Então, foi exatamente essa história. A história aconteceu exatamente assim. E eu banquei colocar essa música porque ela era muito sentimental, ela era muito… Bonitinha por ser verdadeira, sabe? Talvez seja a maior história de amor. É o meu primeiro amor a minha irmã mais nova; a gente é parceira a vida inteira.

Então, eu tentei não me julgar. Sabe? Pensar, “Ah, mas isso fica estranho no meu álbum?”. Não estou nem aí se fica estranho. Eu escrevi, achei lindo, emocionou minha irmã, e no álbum ela está! Eu fiquei muito feliz de ter bancado, como artista, uma decisão que é baseada no meu coração e não em teorias.

TMDQA!: E, pra fechar, eu não podia deixar de perguntar do “Reggaeton triste”. Foi a primeira coisa que eu bati o olho na tracklist e pensei, “Meu Deus, como assim?”. [risos]

Manu: Nada a ver!

TMDQA!: É! E aí eu ouvi e entendi o que aconteceu. E eu queria saber justamente como foi isso, porque esse álbum vai pra vários gêneros diferentes, né?

Manu: Esse álbum é uma loucura. É o “grande brechó”.

TMDQA!: Isso foi você saindo da caixa?

Manu: Não, isso foi só… Eu fazendo a primeira ideia que vem na minha cabeça! Eu passei um mês viciada em Reggaeton. Sei lá. Tive esse mês aí que eu viciei em Reggaeton. Daí eu lembro de um Reggaeton específico que era desse menino, Vic Mirallas, e chamava “Me Condena”, uma parceria com a Maro que é uma cantora portuguesa — excelente, aliás.

E eu achei tão linda aquela vibe, era tão gostosa e inteligente. E eu fiquei meio viciada nessa música, eu só ouvia essa música. E aí teve a do Maluma também, “Hawái”. Fiquei cantando “Hawái” sem parar na sala de casa. Aí eu falei, “Tá bom, estou nessa fase. Como que eu abraço essa fase?”. Daí eu mandei pro Lucas — ele riu, né — e eu falei, “Mas você é Emo! Faz um Reggaeton triste!”. Daí ele, “Óbvio. Claro que sim.”. Daí ele mandou um violão, eu fiz uma melodiazinha na minha boca que virou o refrão, que é meio que uma cantarolada porque a gente ainda não tinha letra. A gente só abraçou a ideia.

Então, acho que tudo nesse álbum não foi pensado. Não foi, “Ai, isso é coerente?”. Não é coerente. Eu também não sou. Eu mudo de opinião, eu mudo de roupa, mudo de cabelo, mudo de fase, faço diversos projetos, não sei definir minha profissão. Então, eu resolvi abraçar isso. Eu vi que os artistas que eu mais gosto sempre fizeram isso, então por que que eu luto tanto pra me encaixar em alguma coisa? Sendo que o mais legal é você brincar com a música e aceitar o que você gosta, sabe? Aceitar suas fases. Acho que isso resume bem o álbum.

TMDQA!: E é muito legal porque é um contraste da Manu do BBB, né. Que deixou tudo planejado…

Manu: É! Eu acho que esse ano me obrigou a perder o controle, em todos os sentidos. A música é algo que me dá muito medo, então é muito emblemático que é na música que eu fui obrigada a perder todo o meu controle — controle de prazos pra entregar, controle de quando vai lançar isso, não dependia só de mim, acabou se esticando por muito mais tempo do que eu imaginei.

Eu nunca pensei em ficar tantos meses fora das redes sociais, mas me fez bem, eu fui abraçando isso. Eu nunca pensei em lançar um álbum, assim, “Ah, deixa eu fazer, deixa eu chamar esse feat porque eu quero, deixa eu fazer isso porque eu quero”; “ah, deu na telha, fiz essa música pra minha irmã, deixa eu colocar”. Eu sempre fui uma pessoa que planeja muito — eu tenho problemas com controle, com planejamento.

Então, pra mim, acho que é o início de uma libertação. Eu decidi perder um pouco o controle. É isso.

TMDQA!: Legal! Já estou ansioso pelos próximos passos!

Manu: Ai, que bom! Espero que você goste do álbum visual!

TMDQA!: Com certeza! Manu, muito obrigado, foi um prazer falar com você. A entrevista foi maravilhosa. Obrigado mesmo.

Manu: Ai, Felipe, obrigada você. É muito gostoso poder falar sobre isso. De novo, está sendo um momento muito especial. Você foi muito incrível. Obrigada mesmo!

TMDQA!: Obrigado e espero que você curta tanto a entrevista quanto esse momento tão especial!

Manu: Beijo e até mais!

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