Ao TMDQA!, CHAMELEO detalha processo de conexão com sua essência para criar "ECDISE", seu disco de estreia

Nova revelação da cena brasileira, CHAMELEO lançou há pouco seu disco de estreia "ECDISE" com várias participações incríveis e uma sonoridade única.

CHAMELEO
Foto por MAR+VIN

Nova revelação da cena brasileira, CHAMELEO lançou há pouco seu disco de estreia ECDISE com várias participações incríveis e uma sonoridade única.

A obra tem influências musicais que vão desde o Pop tradicional até o Hyperpop, as guitarras pesadas do Metal e outros gêneros mais exóticos. O grande diferencial é que todas essas estéticas são abraçadas sem medo pelo artista, gerando uma sonoridade única que exalta essas referências e, ao mesmo tempo, impõe uma característica extremamente pessoal às canções.

Não é à toa que isso transparece: em todas as faixas, CHAMELEO conta histórias de sua vivência e de sua transformação, passando inclusive pela superação de um câncer em 2018 e por todo o processo de amadurecimento que acompanhou essa jornada.

O nome artístico, claro, está intimamente ligado a isso. Em ECDISE, que também conta com — mas não se apoia em — participações de grandes nomes como Pabllo Vittar, Carol BiazinJohnny Hooker e mais, o cantor faz um paralelo entre as mudanças de pele de um camaleão e sua própria trajetória.

Tudo isso se liga perfeitamente através das faixas do trabalho, que você pode conhecer melhor conferindo uma entrevista exclusiva com o TMDQA! logo abaixo.

TMDQA! Entrevista CHAMELEO

TMDQA!: Seu nome artístico tem muito a ver com as propostas estéticas que você apresenta, tanto sonoras quanto visuais. Como foi conectar a sua essência com tantas participações incríveis nesse projeto?

CHAMELEO: Foi um processo incrível, eu acho, trazer tantos artistas incríveis, que eu admiro tanto e que fizeram parte da minha história, como pessoa e como artista, e poder misturar um pouquinho com o meu universo CHAMELEO, trazer essa proposta diferente do que esses artistas estão acostumados. Pra mim, é muito legal e muito incrível ver como todos eles se propuseram a fazer parte desse meu universo e ainda assim trazer a personalidade, as características de cada um. Foi um processo incrível e eu acho que tem muito a ver com o significado do álbum também, de ECDISE e dessa proposta de transformação.

TMDQA!: Johnny Hooker, Carol Biazin, Pabllo Vittar, Alice Caymmi e mais: teu disco tem um verdadeiro time de estrelas que complementam a sua sonoridade em momentos bem diferentes e específicos do álbum. Conta pra gente um pouco sobre cada um dos feats? Como você acha que eles complementam o disco como um todo?

C: A escolha dos feats também está muito relacionada ao que o álbum significa. À ecdise, a não se apegar a um gênero só, a uma coisa só. Então, apesar de todos esses artistas terem uma linguagem mais Pop, cada um explora uma vertente diferente do Pop e eu consumo todas essas vertentes.

Então, eu queria trazer no álbum um pouquinho de cada nuance do que eu também consumo e do que eu quero falar como artista. Cada um tem suas referências musicais e eu sinto que, em ECDISE, a gente conseguiu misturar muito bem a minha linguagem, a minha atmosfera, com a linguagem desses artistas que exploram diferentes vertentes do Pop. Cada um na sua, fazendo muito bem, levantando a sua parte do movimento da música Pop hoje no Brasil.

TMDQA!: “Ecdise” também é um termo que tem a ver com o teu nome artístico e é muito simbólico para o momento que você vive. Explica pra gente o que ele significa e como você resolveu batizar o álbum assim?

C: Ecdise é o nome dado à troca de pele nos répteis e de seres que têm exoesqueleto, então eu acho que simbolicamente isso representa muito o que eu quis passar com o álbum e a minha história de vida e como artista.

Então, essa troca de pele que também está muito ligada com meu nome de camaleão, de CHAMELEO, significa muito esse momento de deixar para trás tudo o que te puxa pra baixo: inseguranças, medos, traumas… E realmente trocar essa pele para que outra possa vir, mais viva, mais brilhante, mais forte.

Eu acredito muito nisso. Nessa renovação pessoal mesmo, que para mim aconteceu. Eu inicio ali quando passei por um câncer há três anos, e aquele momento foi um momento muito criativo também. Minha cabeça estava com muitas emoções, muitas coisas acontecendo, e começou ali muito desse processo do álbum ali e do meu processo pessoal de transformação.

Foi muito certo, muito natural: “esse vai ser o nome do álbum”. Tem um significado muito forte, está muito ligado ao meu nome também, à minha paixão pelos répteis, pelos animais e também o simbolismo que isso traz, da transformação.

TMDQA!: Para além da música, há questões pra lá de relevantes que aparecem logo de cara nas suas canções, como a sexualidade. Estamos vivendo um dos períodos mais difíceis da humanidade e a arte sempre esteve aqui para nos dar alento. Como você enxerga esse balanço entre música e mensagem nas tuas canções? Como foi para você colocar pra fora superações pessoais, questões estéticas e de sexualidade nas músicas?

C: Acho que um dos pontos mais importantes de ECDISE é que representa a minha aceitação de quem eu sempre fui — mas que estava guardado, reprimido em algum lugar ali do meu subconsciente.

Então, trazer essas questões à tona, principalmente em relação à sexualidade, é o que dá sentido para mim [na hora de] fazer música, trazer as minhas experiências, as minhas vivências, as minhas lutas, os meus debates em forma de música. Eu acho que, hoje, trazer essas questões e fazer as pessoas se questionarem é um papel fundamental para o artista; pensarem o que vai diferenciar de uma música mais rasa, que você só quer dançar e curtir — que é super importante para os momentos em que a gente só quer rebolar, dançar, beber, mas também existem as músicas que precisam vir como uma forma de questionamento.

Então, trazer essas questões que fazem muito parte da minha vida, da minha aceitação, de quem eu sou é, pra mim, a base de tudo. Trazer a minha verdade em forma de música, porque é o que vai me conectar com as pessoas, principalmente com as pessoas que estão passando por questões parecidas, questionamentos parecidos. Da mesma forma que músicas de outros artistas me tiraram de lugares e têm um impacto muito grande na minha vida, é muito louco poder trazer minhas histórias e estar conectado com muita gente que estava passando pelas mesmas situações ou por pensamentos parecidos.

É reconfortante também para os dois lados, tanto de quem está cantando quanto quem está escutando, porque a gente não está sozinho e nunca esteve, né? Só precisamos nos conectar e a música é um ótimo catalisador para isso.

TMDQA!: Por fim, teus vídeos têm todos ares de mega produção, e chamam muito a atenção do espectador, mesmo de quem não te conhece. Quão perto dos criadores audiovisuais você trabalha para garantir que tudo reflita a mensagem que você quer passar?

C: Que bom que transparece [essa estética de] mega produções, mas por trás é muito corrido, muito suor. Uma equipe de amigos que está junta desde o começo e desde sempre quis fazer acontecer. Foi uma caminhada conjunta, a minha equipe desde que fez os meus primeiros clipes está comigo até hoje.

Eu estou 100% incluso em todo o processo de audiovisual. A ideia inicial geralmente surge da minha cabeça e eu trago e desenvolvemos juntos. Eu comecei no teatro, então, para mim, o audiovisual, gravar o clipe, é a parte mais divertida, que eu mais me sinto vivo, porque é quando eu consigo combinar três paixões: a moda, a música e a atuação/interpretação em uma coisa só.

Eu faço questão de ficar em cima de tudo, desde a parte do conceito geral até que câmera vai ser usada, figurino, maquiagem. Eu sou uma pessoa bem chata, mas como é uma equipe de amigos a gente já tem uma troca que funciona muito bem, então nos entendemos muito bem. Eles já sabem o que eu gosto, eu também já entendo a forma com que a minha equipe trabalha. É um processo muito gostoso de desenvolver, desde a primeira ideia inicial no papel até a parte da edição e finalização do vídeo.

Não tem um clipe meu em que eu não tenha ficado sentado do lado do meu diretor e do meu editor SCOZ para fazer todo o processo juntinhos. Corte, dinâmica… eu gosto muito de estar incluso em todas as funções. Às vezes é bem exaustivo, mas também no produto final tudo fica muito eu, a minha cara, porque todos os detalhezinhos você pode ter certeza que eu estou ali com a minha unhona dando pitaco.

TMDQA!: Você tem mais discos que amigos?

C: Eu acho que amigos a gente tem que contar nos dedos. E música, quanto mais a gente escuta, mais abrimos as nossas possibilidades e os nossos questionamentos internos, seja lá quais eles sejam. Então, sim, eu tenho mais discos que amigos.