O cenário de festivais no Brasil em 2022 está ficando cada vez mais rico, mas sem dúvidas a adição mais impactante logo de cara é a chegada do Primavera Sound ao nosso país.
O tradicional festival de Barcelona, que também acontecerá pela primeira vez na Argentina e no Chile em 2022, vai ser realizado em São Paulo durante os dias 31 de Outubro e 6 e Novembro do próximo ano, no Distrito Anhembi e também em showcases espalhados pela capital paulista como parte do projeto Primavera na Cidade.
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Mas, bom, o que torna o Primavera Sound tão especial? Se você nunca ouviu falar do evento, é natural que essa pergunta surja — e pode ser que a resposta não seja tão óbvia assim.
Justamente por isso, e também para obter mais detalhes sobre esse desembarque internacional no circuito brasileiro, conversamos com Joan Pons, porta-voz do festival espanhol e tiramos todas as dúvidas. Confira o papo na íntegra logo abaixo!
TMDQA! Entrevista Joan Pons
TMDQA!: Oi, Joan! Tudo bem por aí? Que prazer falar com você.
Joan Pons: Olá! Tudo certo. Olha, a primeira coisa que eu pensei quando vi o nome do site de vocês foi, “Como eu não conhecia esse site antes? É simplesmente a minha vida!”. [risos] É um ótimo nome, eu amei. Se eu tivesse que fazer só uma entrevista, seria essa. Eu queria conhecer vocês. [risos] E eu estava dando uma olhada pelo site e é muito legal, eu adorei o ângulo de vocês.
TMDQA!: [risos] A gente fica bem feliz com isso, obrigado! Bom, nós estamos bem felizes e empolgados com a chegada do Primavera Sound ao Brasil. É um festival tão grande e sempre foi um sonho poder ir ao Primavera, mas agora é o Primavera que está vindo até nós! Então, primeiramente, como vocês decidiram explorar a América do Sul, especialmente em um ano como 2022 que ainda está com os resquícios da pandemia e tudo mais?
Joan: Bom, a questão é que nós não estávamos pensando em ir para o exterior. Digo, nós temos o festival em Barcelona e o do Porto e anunciamos há dois anos o festival em Los Angeles, mas nós estávamos pensando que estávamos focados demais no Hemisfério Norte.
Digo, como tem tanta gente do Brasil, da Argentina, do Chile, vindo ao nosso festival em Barcelona… talvez nós tenhamos que fazer a jornada de volta. Sabe, fazia sentido fazer festivais na América do Sul. O Brasil é provavelmente o país — entre os três em que realizaremos o festival na América do Sul — que mais leva gente ao nosso festival. Os fãs brasileiros são enormes e são tão apaixonados. Significa muito para nós fazer algo no Brasil.
E aí nós tentamos achar cidades que tenham a mesma vibe, a mesma energia de Barcelona. Isso significa que há uma cultura ali, muitas coisas acontecem; quando você está naquela cidade, você se sente vivo, você sente que ali está acontecendo algo. Novas bandas, uma grande cultura musical… na verdade, eu tenho tanta inveja da cultura musical que vocês têm no Brasil, comparado à Espanha!
Aí nós escolhemos países diferentes, considerando as cidades que pensamos que são mais similares a Barcelona mas também considerando quais países trazem mais público ao nosso festival. Nós então pensamos que é ótimo; é ótimo ter um festival no Brasil, é ótimo ter um festival na Argentina. Nos Estados Unidos também, mas lá é mais óbvio ter um festival, porque o Primavera Sound de Los Angeles é onde estarão todos os asiáticos, além de vários artistas. Não faz sentido pra nós ter um festival, sei lá, no Reino Unido — há muitos festivais lá. Ou outros lugares da Europa, que já têm muitos festivais.
Porque mesmo que nós sejamos bem diferentes dos outros festivais, sabemos que a oferta é tão grande que as pessoas podem escolher qualquer festival, não apenas o Primavera.
TMDQA!: E, nesse sentido, o que você acha que vai tornar o Primavera uma experiência tão única para os fãs brasileiros?
Joan: A questão que sempre dizemos que faz a diferença para nós é justamente o fato de sermos únicos. Isso significa que, às vezes, quando você vê os line-ups de todos os festivais, é tudo igual — você pode mudar uma, duas, três bandas, mas não é realmente como nós.
Nós sempre dizemos que fazemos os nossos line-ups “contra o algoritmo”. Isso significa que você pode meio que adivinhar os line-ups dos outros festivais — “ah, vai ter isso, isso e isso” — e o Primavera Sound é sempre uma surpresa, porque nós queremos que nossos fãs sintam que nós também somos fãs de música. Nós somos fãs de música que estão administrando um festival. É a única diferença.
E nós queremos estar cientes do presente e do passado, de onde nós viemos, e do futuro, e aí escolher o line-up com muito cuidado. É como se estivéssemos fazendo uma espécie de festival de boutique — quer dizer, nós escolhemos a dedo, escolhemos essa banda e não aquela banda, porque significa algo para nós.
Eu acho que isso é perceptível, se você vê a nossa história e os nossos line-ups. Aí, nós pensamos que ao redor do mundo é tão difícil encontrar festivais que sejam similares ao Primavera Sound no que diz respeito à escolha de line-up. Também pensamos que o Primavera Sound não é só sobre a música, mas sobre a cultura da cidade e como você aprende com a cidade e tenta multiplicar as coisas, multiplicar a indústria da música na cidade. O Primavera também é sobre equilíbrio de gêneros no line-up e sobre considerar a música como alta cultura, não apenas aquilo de, “Ah, é um festival, eu não ligo para quem vai tocar”.
Eu acho que esse modelo pode ser bem-sucedido em qualquer lugar do mundo. Mas, se esse modelo cai em uma cidade como São Paulo ou em um país como o Brasil, com uma cultura musical tão grande, significa mais do que isso. É tipo, “Ok, é aqui que temos que estar”.
Quando nosso representante viajou a São Paulo só para ver as localizações, ele disse, “Nós temos que estar aqui. É tão similar a Barcelona”. O Anhembi é tão similar ao Parc del Forum, tem a mesma vibe. Então, simplesmente tem que acontecer ali.
TMDQA!: Como você mesmo disse, o Primavera Sound tem um grande diferencial na curadoria. Mas agora, chegando ao Brasil, imagino que vocês vão ter que explorar mais do que nunca as bandas nacionais. Essa curadoria vai ser feita por vocês ou vai haver algum tipo de parceria?
Joan: Bom, em toda cidade nós teremos uma equipe local de agenciamento que tenta ficar ciente de tudo que está acontecendo em cada cidade. Mas nós já levamos bandas brasileiras a Barcelona! Pabllo Vittar foi anunciada para a última edição mas acabou sendo cancelado, Linn da Quebrada, levamos O Terno há uns dois anos… nos anos anteriores, sei lá, levamos o Cansei de Ser Sexy e o Bonde do Rolê e coisas do tipo.
Então, nós realmente amamos a música brasileira. Provavelmente teremos um time de observadores no Brasil que vai nos dizer, “Olha, vocês têm que ouvir essa banda”, ou “esse artista”, porque é bem “Primavera”. [risos] Isso é algo que a gente fala bastante internamente, porque significa algo. Quando você ouve algo, uma banda nova, você diz, “Eles têm esse toque de Primavera”, que significa que eles poderiam tocar no Primavera.
Eu tenho certeza que há vários artistas locais que são bem “Primavera”, mas de qualquer jeito, mesmo que a equipe local escolha bandas diferentes do Brasil, nós vamos ouvi-las. Porque talvez elas não toquem só no Brasil, mas também em Buenos Aires, no Chile, até em Barcelona. Esse é o espírito de criar uma grande comunidade do Primavera, onde bandas brasileiras podem tocar não só em São Paulo mas em outras edições do festival.
TMDQA!: E você sempre pode olhar o Tenho Mais Discos Que Amigos pra conhecer novas bandas brasileiras!
Joan: É claro! [risos]
TMDQA!: Eu fiquei curioso com uma coisa: o Primavera Sound brasileiro vai ser uma nova experiência ou a ideia é meio que trazer a experiência de Barcelona pra cá? Não sei se isso faz sentido, espero que sim. [risos]
Joan: É bastante empolgante, porque há algumas coisas no Primavera Sound de Barcelona que você não consegue levar para outro país. Mas não queremos ser um Starbucks ou um McDonald’s. Essa é a forma como fazemos as coisas em Barcelona e essa vai ser a forma exata que vamos fazer as coisas em outras partes do mundo: nós queremos ser parte da cidade, parte do espírito.
Por isso, como eu falei antes, nós queremos aprender com vocês. Tipo, “Ok, aqui nós fazemos as coisas desse jeito e não daquele, vamos tentar adaptar”. Porque não queremos ter aquela sensação de algo que foi “perdido na tradução”, sabe? Tipo, algo pode funcionar em Barcelona e não fazer sentido aqui. Então, nós tentamos adaptar e nós tentamos ser parte da cidade — não só chegar da Europa e pousar no Brasil, isso não faria nenhum sentido para nós. Não seria legal pra gente.
É tipo abrir uma loja em outro país que seja tão chata que ninguém iria ligar pra ela. Se nós estamos aqui pela música — e quando dizem que nós estamos aqui pelo dinheiro, nós dizemos que não, estamos aqui pela música —, esse é o nosso espírito. Vamos tentar fazer as coisas do nosso jeito e o nosso jeito é fazer as coisas do jeito que um fã de música faria.
TMDQA!: Queria saber mais também sobre o Primavera na Cidade. Além do Anhembi, vocês vão estar em outras casas da cidade, é isso? Basicamente, será um festival que acontece na cidade inteira durante as datas especificadas?
Joan: Veremos, mas nós queremos ficar uma semana inteira criando uma experiência musical inesquecível para a cidade. Vou dar só um exemplo do que vai acontecer conosco no ano que vem em Barcelona: nós teremos dois finais de semana diferentes, e há artistas como Megan Thee Stallion e Beck que nos perguntaram se poderiam tocar mais um show por volta das mesmas datas em Barcelona. E nós dissemos, “Ok, e que tal se você tocar no festival e na cidade na mesma semana?”.
Faz sentido para nós, não apenas para bandas populares como Megan Thee Stallion e Beck mas também artistas de PC Music, por exemplo — eles tocam no festival e aí se juntam para algum tipo de showcase durante a semana na cidade. É tentar criar essa comunidade.
Mas também faz sentido fazer coisas na cidade porque nos últimos dois anos todas as casas de show na cidade foram muito prejudicadas pela situação pandêmica. É a nossa forma de ajudar a cidade a se curar, a dizer, “Ok, não somos só nós, é a indústria musical inteira da cidade que pode tirar vantagem do Primavera Sound”, ou “pode se sentir parte do Primavera Sound”. Faz sentido?
TMDQA!: Faz total sentido. Voltando um pouco ao local… por que São Paulo especificamente e não o Rio de Janeiro ou Brasília ou qualquer outra cidade?
Joan: Ah, por causa da música do Caetano Veloso, “Sampa”! [risos] Não, sério, a questão é que nós olhamos várias cidades diferentes mas sentimos que São Paulo era muito similar a Barcelona de algumas formas. Provavelmente alguma pessoa de Madri te falaria a mesma coisa, mas nós realmente sentimos que seria a cidade certa para isso. Como falei, o pessoal que foi aí viu o Anhembi e pensou, “Ok, esse é o lugar”.
Fez sentido pra gente com o Sambódromo e toda a história que esse lugar em São Paulo tem por trás. Realmente fez sentido. Claro que eu adoraria fazer o festival durante um mês inteiro, viajando de cidade em cidade pelo Brasil…
TMDQA!: Quem sabe no futuro!
Joan: Quem sabe! Mas São Paulo é ótima. O nosso diretor geral disse que se sentiu em Barcelona — às vezes é algo que você sente e não consegue nem explicar.
TMDQA!: Eu entendo. Bom, e é claro que não poderia faltar: você pode nos adiantar alguma coisa sobre o line-up?
Joan: A pergunta de um milhão de dólares! [risos] Todo mundo quer saber o line-up. O line-up vai ser ótimo. Se você comparar o line-up de São Paulo com os line-ups do Primavera Sound em outras cidades, você não vai sentir nenhuma diferença. Isso significa que haverá grandes nomes. Há algo que o Abel González, chefe de ‘booking’ do Primavera, me contou uma vez.
A forma com que você cria uma ótima experiência de festival de música é mantendo em mente quatro coisas: você tem que ter algum artista que as pessoas estejam desejando ver há muito tempo e você finalmente traz esse artista; aí, você tem que ter algum show que seja desafiador, tipo, ‘Uau, o que é isso? Isso é chocante!’; aí, algo com que você possa se divertir muito, só dançar muito e se divertir; finalmente, você tem também que conhecer a sua nova banda favorita.
É mantendo essas quatro coisas em mente que um line-up de sucesso é construído.
TMDQA!: Não sei se você pode falar isso, mas imagino que os line-ups de São Paulo, Buenos Aires e Santiago sejam bem parecidos, né? Pergunto porque há fãs que às vezes preferem aproveitar para conhecer um novo país.
Joan: Sim, vão ser similares. Porque toda a questão de fazer os festivais diferentes em datas bem parecidas é para facilitar a vida dos artistas. Digo, se você consegue um ótimo headliner e diz, “Você precisa ir para São Paulo e depois voltar”, para os Estados Unidos ou para a Europa, sei lá, eles dizem tipo, “Hmm, isso não parece um bom negócio”.
Mas, se você diz para eles que indo para a América do Sul eles podem fazer na mesma semana São Paulo, Buenos Aires e Santiago, é bem melhor.
TMDQA!: Bom, é isso. Acho que vamos ficar na curiosidade mesmo quanto ao line-up, né? [risos]
Joan: [risos] Vai ser incrível e você vai amar! Nós já estamos amando o Brasil, porque o feedback que nós recebemos só nas primeiras horas de anúncio do festival é apaixonante e muito bom. Estamos muito confiantes que vai ser um grande sucesso e eu mal posso esperar para que aconteça. Eu já quero estar aí! Ainda falta quase um ano, mas…
TMDQA!: Mal posso esperar também! Você pode adiantar uma data ou algo do tipo para esperarmos o line-up?
Joan: Em breve. Eu acho que é em breve.
TMDQA!: Breve é bom!
Joan: Breve pode significar um mês, dois, três ou meio ano. Com certeza antes do festival. [risos]
TMDQA!: [risos] Ufa! Joan, muito obrigado pelo seu tempo e vou aguardar ansiosamente pelo festival. Até logo mais!
Joan: Obrigado, Felipe. Foi ótimo falar com você. Até!