ENTREVISTA: Pitty lança o EP "Casulo" e inaugura seu próprio selo em grande estilo

Inaugurando sua gravadora, Pitty lança o EP "Casulo" com Drik Barbosa, Jup do Bairro, BADSISTA, WEKS, Pupillo e mais. Leia entrevista exclusiva.

Pitty em ensaio de Casulo
Foto por Otavio de Souza

Com uma carreira que atravessa mais de duas décadas, Pitty é um dos mais importantes nomes da música brasileira desde o início dos Anos 2000.

Com origens no hardcore, a artista iniciou sua trajetória à frente da banda Inkoma e ficou conhecida pelo grande público brasileiro após o sucesso do seu disco solo de estreia, o ótimo Admirável Chip Novo (2003).

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Nos últimos anos, Pitty se reinventou, buscou novas parcerias, se reconectou com as origens e deixou bem claro que a ideia de parar não passa, ainda bem, pela sua cabeça.

Agora, ela dá um novo passo à frente através do lançamento de Casulo.

Novo Projeto da Pitty

No EP de quatro faixas, a cantora não apenas reúne um time de primeira como também dá o pontapé inicial em seu próprio selo, que leva o mesmo nome do lançamento.

Ao apresentar parcerias com Jup do Bairro, Pupillo, Drik Barbosa, BADSISTA, WEKS e mais, ela traz músicas inéditas ao mundo ao mesmo tempo em que dá um gostinho da própria curadoria no que será o Casulo, uma parceria com a Deck.

Em entrevista exclusiva ao TMDQA!, Pitty falou sobre tudo isso e mais um pouco, e você pode ler o papo com Tony Aiex logo abaixo, após o clipe oficial de “Diamante”.

A canção com Drik Barbosa e WEKS fala sobre as dificuldades de ser mulher na indústria da música e o vídeo ganhou ares de grande produção, repleto de simbolismos.

Continua após o vídeo

TMDQA!: Oi Pitty! Obrigado por nos receber nesse momento que marca uma fase tão importante na sua carreira! Eu queria começar perguntando sobre a vontade de criar e apresentar ao mundo esse seu “Casulo”. O nome não apenas batizou um quadro dentro do seu canal da Twitch durante a pandemia como também te motivou a criar um selo e lançar um EP com ele.

Pitty: Oi gente! Brigada vocês, tamo junto. Pois é, eu tenho tido vontade de produzir audiovisual há um tempo, e na pandemia isso se concretizou. Abri minha produtora, a SETEVIDAS, e através da Twitch, do GNT e de outros canais fui criando e escoando essa produção. Criamos um canal de TV em livestreaming, e a grade era feita de programas com editorias específicas: o “Boteco” era de entrevistas. “Na Sua Estante” sobre livros, filmes e cultura; o “Luau Sarau” com música ao vivo e arte acontecendo simultaneamente… e o “Casulo” também foi um desses programas. Eu tinha vontade de ter um programa que mostrasse o processo criativo da música desde o comecinho. Criação, produção. Acho que as pessoas veem muito a coisa pronta, e não imaginam como é realizar a composição e gravação. E aí me veio a vontade de desafio: e se a gente criar uma canção do zero, com câmera aberta, com geral acompanhando esse processo? Daí veio o “Casulo”.

TMDQA!: Como foi todo o processo para tirar as ideias do papel e quais foram as suas motivações para tal?

Pitty: Bastante isso que te contei, a vontade de compartilhar com as pessoas que amam música o processo artesanal que envolve isso. Numa era muito calcada em foto, imagem, pouca importância em relação à parte lírica… como espectadora, sempre pirei em ver o processo criativo de músicos que admiro. E pensei em compartilhar e trazer de volta o olhar sobre isso. O trampo que dá fazer um som! E a beleza que é, também, quando a criação flui. É um processo mágico. E nesse caso, com esse adicional de “perigo” que comentei: fazer isso numa livestreaming sem saber onde iríamos chegar.

Foto por Otavio de Souza

TMDQA!: “Casulo” é sobre colaboração. É sobre escrever com outras pessoas, improvisar, mergulhar em novos ritmos. Como você chegou aos nomes que aqui compartilham o trabalho com você? Como foi trabalhar com Drik Barbosa, WEKS, Jup do Bairro, Monkey Jhayam, Pupillo e mais?

Pitty: Foi incrível. Com cada um desses artistas eu aprendi algo valioso e diferente. São universos distintos, e a ideia era justamente misturar essas bagagens pra ver no que dava. Qual seria nosso ponto de encontro. E foi lindo perceber que foram vários com todo mundo ali. A escolha foi feita primeiro por admiração – eu conheço e sou fã de todas e todos. E aí teve a conspiração do universo, porque no momento em que estava com essa ideia, eles também meio que já estavam a fim de fazer algo comigo. Aí pronto, foi só fluir.

TMDQA!: Um aspecto bem importante das participações especiais é que elas estampam logo a capa do seu lançamento, junto de uma foto sua e do nome em destaque. Você acha que esse tipo de simbolismo fortalece a ideia de união e passa a mensagem de colaboração plena, onde todos fazem parte do processo?

Pitty: Totalmente, até porque é realmente um processo absolutamente colaborativo. Não é um trabalho “meu”. É um EP feito em conjunto com essas pessoas. A ideia desde o começo era juntar uma produtora ou produtor musical e uma cantora ou cantor. E assim foi.

Considero “Casulo” um coletivo, não necessariamente meu novo trampo. Eu só estou ali junto com aquela turma incrível, fazendo parte. Artistas talentosíssimos que podem ter um alcance ainda maior. Gente com ideias novas, frescas. Adoro poder somar com a cena e trazer coisa nova pra roda.

TMDQA!: Logo de cara, algo que salta aos ouvidos é a sonoridade da primeira canção, “Diamante”, que tem Drik Barbosa, WEKS e navega por elementos do Trip Hop, do R&B e mais. Definitivamente é uma abordagem diferente das canções que você lançou no passado, mas mantém a sua ideia de debates, discussões e contestações na letra, que fala sobre a dificuldade de ser mulher na indústria da música. Essa ideia de sair das guitarras foi proposital? Como você entende a importância que você dá à pluralidade musical no seu dia a dia?

Pitty: Eu mergulhei muito no universo de cada artista que convidei. A Drik é mais do rap, mas é super versátil; canta tudo muito bem. Eu também amo esses estilos, rap, trip hop. O Dani tem super essas referências de coisa lo-fi e R&B. Então juntou tudo. E ainda tem uma parte “esporrenta” hardcore a la Beastie Boys no meio! (risos)

É isso, é explorar as possibilidades musicais.

E o texto, claro, dentro de qualquer estilo ele é contestador, questionador. Isso é uma constante. Tem guitarra nessa música sim, viu? Martin gravou umas guitas lindas e no final elas aparecem bastante.

TMDQA!: Esse som também ganhou um clipe incrível, repleto de simbolismos. Conta pra gente um pouco sobre a ideia pro vídeo?

Pitty: Eu chamei o Kenny Kanashiro pra esse projeto e minha primeira ideia era um curta em quatro atos. Por conta de pandemia, tempo, etc, resolvemos fazer um primeiro videoclipe – de “Diamante” – e um vídeo manifesto sobre o Casulo como um todo, que já esta nas redes. A ideia do clipe veio dos brainstorms, contei pra ele o que pensamos quando fizemos a letra, o que eu imaginava, sobre o que é o Casulo; e ele foi traduzindo isso em imagens e símbolos. Uma equipe incrível, baita fotografia, muita garra e amor na hora de filmar. Foi um set muito intenso e divertido.

TMDQA!: “Busca Implacável” já parece ter uma vibe mais “roqueira”, ainda que sem elementos óbvios do gênero como foco principal. Os vocais de Jup do Bairro e a participação de BADSISTA contribuem muito pra isso, inclusive. Vendo tantos jovens misturando influências do Rock And Roll com Rap, Hip Hop, R&B e tantos outros elementos hoje em dia, você acha que o Rock em 2022 é exatamente isso, um grande caldeirão criativo que não tem amarras e barreiras?

Pitty: Pra nós, sim. Porque se prender a rótulos e tradições e qualquer coisa que não seja a verdade no fazer não é a nossa. Nunca foi pra mim, desde sempre, e encontrar pessoas como Jup e BADSISTA que também sentem isso hoje faz todo sentido. Venho buscando essa turma há tempos. Quando lancei o Admirável Chip Novo, e depois cada um dos meus discos, sempre tinha alguém pra dizer que era rock demais, ou não era rock suficiente, ou era isso ou aquilo. Pra mim, texto, intenção-intensidade, e MÚSICA. Pra elas também, e foi isso que a gente sacou em estúdio. As duas são bem roqueirinhas, viu? Inclusive veio da Bad o lance de solo de guitarra – nessa música tem muita guitarra, e umas guitarras podronas, muito fuzz, etc. Esse dia foi TÃO divertido. Elas são muito figuras. A gente riu o tempo todo, mas na hora de falar sério, a parada rola também. Essa letra é a mais pesada do EP.

TMDQA!: Por falar em guitarras, ao saber da participação de Pupillo em “Simplesmente Fluir”, já imaginamos diversas delas, mas a canção é toda baseada em sintetizadores. Ele mesmo disse que a intenção foi essa e o som nasceu com bases em discos de Rock dos Anos 70, como os de Gary Numan. Conta pra gente um pouco sobre o processo dessa faixa, que parece celebrar clássico e contemporâneo ao mesmo tempo?

Pitty: É bem isso. Pupillo é um músico extraordinário, e um conhecedor de música. Tem referencias incríveis, saca o som de cada época… a gente queria um rock dançante, pra mim tem a ver também com Happy Mondays ou Jane’s Addiction. O fluxo de trabalho com ele é muito fluido; eu pensava e ele já estava realizando, e vice-versa. Admiro demais ele como produtor também, e além de meu amigo de longa data sempre foi também um incentivador de que eu desse passos diferentes. Sempre me dizia, “bora experimentar, tem muita coisa aí em você pra sair, se joga”.

TMDQA!: “Diário” me lembrou algumas parcerias mais recentes suas, como as do disco “Matriz”, bem como traços de influências latinas como a gente ouviu tão bem em bandas como The Mars Volta. Como foi essa incursão por elementos como a própria música latina e o reggae pra você?

Pitty: Super natural. Sempre fez parte das coisas que escuto, e desde o SETEVIDAS veio pras gravações. No Matriz, essa referência veio com mais força ainda. Esse som com Monkey Jhayam e Rockers Control é uma delícia. E é um reggae puxado pro samba, ele é em compasso binário, se ligue. Eles vieram com essa proposta e o refrão e eu senti bater fundo, tinha tudo a ver com o momento, pandemia, etc. Escrevi o segundo verso mantendo a rítmica das palavras, a tônica na mesma sílaba, pra manter o balanço.

Foto por Otavio de Souza

TMDQA!: Em tempos onde todos parecem ter “fórmulas perfeitas” para lançamentos digitais, procurando engajamento, compartilhamento e números, você inicia um novo trabalho com um EP e não apenas compartilha suas visões de mundo através de canções, como também passa a abraçar novos artistas. Como você enxerga esse desafio de “indústria” mesmo, de mercado? Quais são os planos do selo Casulo a médio prazo?

Pitty: Por enquanto, soltar esse projeto no mundo, que envolve dois atos. O segundo eu conto logo mais…

Mas sinto que em termos de mercado é importante ter selos e espaços que mostrem o novo. Tanta banda e artista massa! Penso que o modelo atual, calcado em números, likes e fotos, sacrifica a arte e os criadores. Fica tudo vazio e baseado em ilusão: nem todo mundo sabe, mas muitos números e charts e “posições” são compradas. Ou seja, pra quem tem cacife, o jabá só mudou de lugar. É um engodo que se vê claramente na prática: às vezes a pessoa tem milhões de views, mas não enche uma casa pra 3 mil pessoas. Não segura uma hora e meia de palco num festival, porque não tem repertório. Não construiu base pra isso. Não faz sentido, né? Acho que a gente nunca pode se render a essa lógica de mercado que só visa o lucro imediato e suga os artistas até não ter mais nada. Isso só muda de época: no meu primeiro disco eram outros agentes, a mesma lógica. Mas, segue sendo esse dilema.

TMDQA!: Você foi uma das artistas que fizeram ótimo uso da Internet na pandemia, criando uma programação completa na Twitch e não apenas interagindo com fãs, como criando programas e quadros diferentes para manter a chama acesa e nos relembrar de tempos como o auge da MTV Brasil. Para além do selo, o que você aprendeu durante esse processo todo que você irá levar para sempre na carreira? Qual foi a importância dos fãs para que você sentisse menos o peso da falta de shows na pandemia?

Pitty: Foi muito alimentador pra mim, e foi uma oportunidade de aprender e experimentar audiovisual. Fazer programas valendo, ao vivo, sem piloto! Agradeço demais aos meus companheiros de Brains da Laje, Nani, Brizio, Joanna. Criamos tudo ali em intermináveis brainstorms. Abertura de programas, roteiro, letterings. Filmamos as aberturas a la Michel Gondry, inventando, com os recursos que tínhamos na mão. Dogma total. Durante as lives eu operava as câmeras, os VTs, lendo roteiro e interagindo com o chat. Como um switcher de TV, mas no computador. Convidados incríveis passaram por lá, de Arnaldo Antunes e Adriana Calcanhotto a Roberta Estrela D’Álva e Larissa Luz. Foi um aprendizado gigantesco!

E os fãs… nossa, nem sei o que dizer. Ficamos muito mais próximos. Teve sessão de “TeraPitty”, onde eu chamava um deles pra tela pra conversar ao vivo. Tinha baile, onde eu discoteca. E eles formaram um grupo super coeso, que inclusive eu soube que se reuniu no fim do ano! (risos)

Casulo, o EP, já está disponível em todas as plataformas de streaming.

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