Doug Pinnick, lendário vocalista e baixista do King’s X, uma das bandas mais influentes do Rock e considerada pioneira do Metal Progressivo, falou sobre temas sensíveis em uma entrevista recente ao The Chuck Shute Podcast.
O frontman, que sempre se identificou como gay mas manteve sua sexualidade em segredo até 1998, explicou sua relação com a religião no papo de dias atrás. Ele desabafou, afirmando até que chegou a “implorar” para que Deus lhe “convertesse” (via Blabbermouth):
Ouvir que se você é gay, isso é uma aberração, e que Deus odeia isso mais do que qualquer outra coisa que não seja a blasfêmia do Espírito Santo… De acordo com a Bíblia, um homem não pode se deitar com outro homem; é uma aberração. Então eu ouço isso a vida inteira e eu sou gay. Então eu não contava pra ninguém.
Uma vez eu decidi, ‘Bom, eu vou fazer como Jesus fez: eu vou fazer jejum por três dias e pedir para que Deus me mude’. E eu fui e me sentei em um trailer no interior e fiz jejum, não comi e só bebi água por dois dias. E eu rezei e rezei e chorei e implorei para que Deus me mudasse, e eu não senti nada. E eu parei e falei, ‘Eu desisto’.
E tudo que eu podia pensar no fundo era nas escrituras, que as pessoas dizem: ‘Não desista de Deus’ e ‘Deus ainda não terminou com você’ e ‘Você tem que esperar por Deus’ e ‘Você tem que ter as coisas no tempo de Deus’. Então qualquer coisa que eu fizesse que não funcionasse era culpa minha.
Em seguida, ele continuou citando a “opressão” que sofreu dentro do cristianismo. O tema espiritual sempre esteve bem presente nas letras do King’s X, que também lidam muito com a aceitação de si próprio, e Doug explicou alguns dos motivos por trás dessas palavras:
Veja, a religião para mim não era nada além de opressão. Eles não me deixavam fazer nada. Eu me lembro de sentar na igreja com a minha bisavó com quatro ou cinco anos, na fileira da frente, ouvindo o pastor gritar e esbravejar sobre como se você dançar, se você beber, se você fumar cigarros, você vai para o inferno, os demônios vão te pegar. Eu ia dormir toda noite morrendo de medo, enquanto era criança, pensando que o demônio iria vir e me incomodar. Eu tinha pesadelos o tempo todo, acordava gritando.
Para mim, a religião era abusiva. E para outras pessoas não é assim, e tudo bem por mim. Mas pra mim, é. E quando alguém vem me dizer que, ‘Ah, Deus te ama e Ele morreu pelos seus pecados’, eu sempre quero dizer, ‘Vá se foder’. Mas ao invés disso eu tenho que ser como eu quero que todo mundo seja — aceitar a pessoa por quem ela é e pelo que ela acredita e amá-la, porque não importa.
O amor cobre uma multidão de pecados — até a Bíblia fala isso. Bom, alguém me disse que vem da Bíblia. Eu não tenho certeza, então não me cobre.
Aos 71 anos de idade, Pinnick aproveitou para destacar a forte presença da hipocrisia dentro da religião e mostrar o seu respeito pelas pessoas que realmente acreditam no que pregam:
Eu acredito que há muitas, muitas, muitas, muitas pessoas que acreditam de verdade e que eu admiro e aplaudo. Mas eu acredito também que há muitas, muitas, muitas, muitas pessoas que são simplesmente pessoas más que estão ali só pelo seu próprio ganho pessoal — pessoas más e narcisistas que estão usando a religião para… Digo, quando um cara diz, ‘Me dê seu dinheiro, porque Deus quer que eu tenha um avião’…
Você tem [Jimmy Swaggart, famoso pastor de televisão dos EUA] e todas essas pessoas te pedindo o seu dinheiro, isso é só um monte de merda; eles são só mentirosos. Eles são um bando de narcisistas que encontraram uma forma de extorquir as pessoas. Eu tenho TANTO nojo deles. E eu tenho uma tristeza pelas pessoas que acreditaram nisso, e ainda acreditam nisso. Eu tenho uma tristeza por elas — não um desgosto; eu tenho uma tristeza.
E eu tenho que ficar longe porque eu não sou o tipo de pessoa que elas vão aceitar. E é triste para mim. Mas a vida é assim.
Você pode conferir esse papo de Doug Pinnick na íntegra clicando aqui.
Doug Pinnick e o King’s X
O King’s X surgiu em 1979 e logo se transformou em uma banda queridinha dos músicos, sendo amplamente citada como influência por artistas das gerações seguintes mas nunca obtendo o mesmo sucesso comercial que alguns destes, como Smashing Pumpkins, Pantera, Pearl Jam, Alice in Chains, Dream Theater, Soundgarden e tantos outros.
Parte dessa falta de sucesso pode estar relacionada ao fato de que as letras com temáticas espirituais fizeram a banda ser considerada parte do Rock Cristão por alguns anos, até que a revelação da sexualidade de Pinnick causou um boicote que levou o vocalista e baixista a pensar até mesmo em suicídio.
Felizmente, o grupo segue ativo e deve lançar em breve seu primeiro disco em 14 anos. O sucessor de XV (2008) ainda não tem data para chegar.