Basta ouvir os primeiros segundos de Earthling, novo disco solo de Eddie Vedder, para entender que você está prestes a embarcar em uma viagem especial.
Isso porque a faixa de abertura “Invincible” é uma das canções mais interessantes feitas por Vedder em anos, explorando ao mesmo tempo o poder de sua voz e a complexidade dos arranjos. O resultado é uma música única, que sinceramente escapa de boa parte dos adjetivos comuns e dá o tom para o que vem por aí — até pelo discurso de Eddie como se fosse um “capitão” preparado para a decolagem.
Logo em seguida, “Power of Right” mostra a veia mais moderna de Earthling. Muito provavelmente influenciado pela produção de Andrew Watt, que entre outros vários trabalhos assina obras do Pop e o último disco de Ozzy Osbourne, ela chega com um riff pesado que logo abre espaço para os vocais ao melhor estilo de Vedder.
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Nesse caso, dá pra adjetivar muito bem: estamos falando de um dos maiores cantores da história, que tem um estilo totalmente característico e incansável. Ainda que já tenhamos ouvido linhas melódicas parecidas em diversas canções do Pearl Jam, Eddie nos presenteia com algumas de suas melhores performances em faixas como “Long Way”, a terceira da obra.
É esta, também, a primeira verdadeira “balada” de Earthling. Apostando em uma sonoridade próxima da música tradicional/Country dos EUA — pense algo como Nasce Uma Estrela misturado com os trabalhos solo anteriores de Vedder —, a canção segue na mesma linha de outras como “The Haves”.
Encontro de estrelas
Além dessa influência da música tradicional americana, Eddie Vedder mostra diferentes formas de fazer grandes baladas em Earthling e grande parte disso está ligado às participações especiais do trabalho, que funciona quase como um encontro de grandes estrelas do Rock.
Também com forte influência do Country, “Picture” vê Elton John ceder sua voz e Abe Laboriel Jr. (da banda de Paul McCartney) assumir a bateria com seu estilo bem característico. Da mesma forma, “Mrs Mills” recebe ninguém menos que Ringo Starr nas baquetas e vai te lembrar instantaneamente de um clássico dos Beatles, enquanto o dedo de Andrew Watt volta a ficar bem perceptível quando falamos de “Brother the Cloud”, um dos melhores singles divulgados antes do lançamento.
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Vale usar a oportunidade para destacar que a grande maioria das faixas conta com um verdadeiro supertime de músicos compondo a banda de Vedder: Josh Klinghoffer (ex-Red Hot Chili Peppers) assume as guitarras ao lado de Watt, enquanto Chad Smith (Red Hot Chili Peppers) toca bateria. Esse quarteto, aliás, é o que vem se apresentando na turnê solo do vocalista.
O lado Punk de Eddie Vedder
Dito tudo isso, é importante deixar bem claro que as baladas são apenas um pequeno pedaço do que Earthling entrega.
Diferentemente de outros trabalhos solo de Eddie, onde a pegada acústica acabava prevalecendo, o novo álbum contém algumas das músicas mais pesadas da carreira do vocalista. Se o Pearl Jam pareceu se afastar um pouco do peso no seu trabalho mais recente, Gigaton, Vedder faz o exato oposto por aqui e se reconecta com sua paixão pelo Rock e, mais especificamente, pelo Punk.
A já citada “Power of Right” é um ótimo exemplo disso, mas o grande destaque fica por conta de “Try” — que já começa logo com um solo de gaita de Stevie Wonder (!) por cima de uma base crua, rápida e feroz. A canção ainda tem participação especial de Olivia Vedder, filha do músico; a irmã dela, Harper, também aparece em “Long Way”.
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O grande ponto Punk do álbum, no entanto, é “Good and Evil”. A faixa provavelmente é a que mais remete ao Pearl Jam, mas ao mesmo tempo traz uma pegada única que explora com menos delicadeza as fortes paixões de Vedder por bandas como os Ramones, da mesma forma que faz “Rose of Jericho”, faixa seguinte.
Earthling
No fim das contas, Earthling passa longe de ser apenas uma celebração da carreira de um dos músicos mais importantes das últimas décadas.
Ao invés disso, o novo disco solo de Eddie Vedder mostra uma liberdade criativa que o músico parecia não ter com o Pearl Jam há anos — por qualquer motivo que seja — e deixa bem claro que o vocalista ainda tem muitíssimo a entregar.
Em tempo, o grande mérito de Andrew Watt na produção desse trabalho não é “modernizar” o som de Vedder. Quanto mais proporção o produtor vem ganhando, mais fica evidente que Watt é um especialista em fazer lendas da música se reconectarem com suas grandes paixões — foi assim com Ozzy e é assim novamente com Eddie, que mesmo nas performances ao vivo parece ter outra energia.
Você poderá ouvir Earthling em todas as plataformas de streaming na próxima sexta-feira, 11 de Fevereiro, ou através do player abaixo caso leia essa resenha já depois do lançamento.