Resa Saffa Park, atriz de "Ragnarok" (Netflix), lança o EP "Spaces" e fala sobre relação com a música: "eu preciso cantar"

Famosa por seu trabalho como atriz, Resa Saffa Park encontra na música uma paixão ardente e fala ao TMDQA! sobre seu novo e ótimo EP "Spaces".

Resa Saffa Park
Divulgação

Já famosa por seu trabalho como atriz, Resa Saffa Park chega com seu novo EP Spaces para mostrar de uma vez por todas o seu incrível trabalho na música.

Apesar de estar em produções aclamadas como Ragnarok (Netflix) e SKAM, é cantando e colocando pra fora seus sentimentos que Resa encontra sua verdadeira expressão criativa, como detalhou em um novo papo exclusivo com o TMDQA!. Spaces chega como a grande obra de sua carreira até o momento, indo do Jazz ao Pop com maestria e conversando com públicos de todos os tipos.

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De origens norueguesas mas criada em Dubai, Resa também estudou artes na Inglaterra e somou influências de todos os tipos para encontrar a sonoridade única que compõe o novo EP, sucessor de Dumb and Numb (2020) e primeiro com o seu atual nome artístico.

Confira a entrevista completa logo abaixo!

TMDQA! Entrevista Resa Saffa Park

TMDQA!: Oi, Resa! Que prazer falar com você. Sou o Felipe e o nome do nosso site significa “tenho mais discos que amigos” em português.

Resa Saffa Park: Eu estava me perguntando o que significa! Estava tentando pensar nisso. É um nome tão legal.

TMDQA!: Obrigado! Bom, primeiramente, queria entender um pouco do que a música significa pra você. Porque você é uma atriz famosa, que poderia só lançar música por ser uma atriz famosa e fazer sucesso assim; no entanto, você se dedica muito a isso e é perceptível. Por que você faz isso? Qual a importância da música pra você?

Resa: Eu sempre quis fazer música. E você pode ter meio que um plano na sua vida, e eu sempre quis fazer atuação e música, o plano sempre foi esse. Mas a criatividade sempre foi, tipo… eu gosto de dizer que a pessoa introvertida em mim faz a música e eu acho que é aí que entra a criatividade, enquanto a pessoa extrovertida em mim ama fazer teatro, porque é sobre se jogar muito ali e fazer coisas divertidas e tudo mais — é por isso que eu faço teatro.

E aí, no teatro sempre veio fácil. Porque sempre foi… acho que sempre foi um hobby, uma diversão. E a música é algo que eu trabalhei duro pra meio que encontrar, porque é mais exigente criativamente. E eu não estou dizendo que músicos são melhores que atores, só estou dizendo que, pra mim, é onde eu sempre dediquei o meu tempo.

E aí de repente a atuação realmente só deu certo. E quando eu vi isso foi tipo, as pessoas podem pensar, “Ah, ela é bem-sucedida, porque ela está em uma série”. Mas, pra mim, eu não sou bem-sucedida até que eu me torne a artista de música que eu sinto que devo ser, se é que isso faz sentido.

TMDQA!: Faz todo sentido sim! E, como eu disse, ouvindo suas músicas isso faz ainda mais sentido, porque dá a sensação de que tem algo ali que é tão importante pra você. Então, voltando um pouco, como começou a sua relação com a música? Como ela se tornou o que é hoje pra você, como surgiu esse sonho de fazer música?

Resa: Pra ser sincera, desde que eu era bem, bem pequena, eu sempre senti meio que essa sensação de algo no meu estômago ou na área do peito que era tipo, “Eu preciso cantar, eu preciso deixar meus sentimentos saírem”. E eu me lembro que a primeira vez que eu senti de verdade que isso era o que eu ia fazer foi quando…

Olha, é porque eu nasci em Dubai, e eu fui à escola lá. E nós tínhamos uma tarefa lá que tínhamos que fazer, e depois que fazíamos a tarefa — eu acho que eu tinha cinco anos, pelo menos uns quatro ou cinco anos, porque você começa a escola com quatro ou cinco anos em Dubai — e eu tinha feito a tarefa, então toda criança que fazia a tarefa ganhava meio que um presente, que era ir a uma salinha menor com fones de ouvido para assistir a um filminho.

Esse filminho se chamava “Walking in the Air”, você já viu?

TMDQA!: Nunca!

Resa: É tipo um boneco de neve que carrega uma pequena criança — é um desenho — e eles voam pela cidade toda. E aí a trilha sonora… não sei se você já ouviu essa música, mas é meio que uma ópera famosa e tudo mais. E eu só ouvi aquilo, eu vi aquilo e senti meu corpo todo de um jeito que, sabe —  com drogas e tudo mais eu nunca tive essa mesma experiência de quando eu era pequena e ouvi isso.

E eu só soube que era por isso que eu ia fazer o que eu estou fazendo e, desde aquele dia, eu passei a me imaginar cantando toda vez que eu ouvia música e fazia melodias e tudo mais.

TMDQA!: Ser criança é incrível, né?

Resa: É, era muito melhor. [risos]

Influências

TMDQA!: E você está falando sobre nascer e crescer em Dubai, mas, olha… eu não gosto de falar muito em estereótipos, mas acho impossível não enxergar um pouco de influência do Pop nórdico na sua música. Foi algo com o que você teve contato mesmo estando longe das origens da sua família ou só mais tarde na vida? Ou estou totalmente errado? [risos]

Resa: Não, não está! [risos] Digo, com certeza, “God Is Drunk” por exemplo certamente tem essa influência. E eu acho que várias das minhas melodias tem sim…

TMDQA!: A que mais me chamou atenção nesse sentido, pra ser sincero, foi “Dandelions”. Tem algo ali…

Resa: Ah, é? Eu nunca tinha pensado nela dessa forma! Pra falar a verdade, eu não tenho ideia de onde isso vem, mas eu vivo aqui, né. Então… mas, na verdade, sabe de onde eu acho que vem? Eu não venho de uma família cristã, mas meu avô e minha avó eram cristãos.

E eles nos levavam à igreja, e na igreja — e também em algumas coisas da igreja na escola, que era obrigatório quando eu estava aqui — nós cantávamos pequenas músicas de uns livretos. E tem várias melodias ali que eu sempre achei que são realmente belíssimas, porque elas têm algum tipo de melancolia, de dor. E eu sempre achei que era um pouco estranho ver essas coisas realmente tristes, mas as melodias são realmente muito belas, e eu consigo enxergar isso.

TMDQA!: Acho que é bem por aí, porque isso era inclusive uma outra pergunta minha. A sua música por vezes soa bastante melancólica, mas as melodias são tão bonitas por mais que às vezes sejam bem tristes — e você acabou de me dar a resposta de onde isso vem. Mas ao mesmo tempo, você tem músicas como “Skeletons’ Waltz” que vão para uma direção totalmente diferente. Então, tipo, a pergunta que não quer calar: o que você ouve? [risos] Porque a sensação que dá é que você ouve absolutamente tudo!

Resa: Nem tudo me influencia! Eu odeio — digo, várias vezes quando a rádio está ligada, tudo que toca aqui na rádio é Pop, tipo, Pop Pop mesmo, aquele Pop comercial que é feito para entreter sem que você tenha que pensar sobre o que você está ouvindo, algo realmente entediante, genérico. Sabe, músicas que têm letras que dizem tão pouco só porque eles têm que agradar todo mundo.

Então eu preciso desligar o rádio porque eu não quero essa música, em primeiro lugar. Eu não quero que ela me influencie porque eu acho que é muito, muito problemático que a gente só fique promovendo esse tipo de música. E, tipo, eu sou muito inspirada pelo Jazz — o Jazz é a música do meu coração.

Quando eu ouvi “All of Me” [do John Legend], eu comecei a ouvir Jazz. Isso foi no fim da minha adolescência, quando eu tinha uns 19 anos, então bem velha — ou mais velha do que nova. [risos] E aí tudo meio que fez sentido pra mim, e aí eu ouvi Billie Holiday e eu só comecei a chorar, porque era só exatamente como tudo ressoava comigo. E aí eu fiquei tipo, “Isso é o que eu venho tentando dizer, isso é o que eu venho cantando, isso é o que eu venho tentando pensar”.

Mas, ao mesmo tempo, fui super influenciada pelo Nirvana! E o Portishead também, e coisas diferentes e aleatórias. Mas eu sou super seletiva, e não há muitos artistas dos quais eu gosto de todas as músicas, alguns eu só gosto de poucas coisas. E o Nirvana. Incrível.

Relação com o Brasil e possível turnê

TMDQA!: [risos] Bom, então agora eu queria falar um pouco sobre o Brasil, porque eu sinto que a gente aqui te adotou muito. O Brasil virou um dos principais países pra você, e você retribuiu esse amor, por exemplo, com o lançamento de lyric videos em português. Primeiramente, como surgiu essa ideia? E como foi ver a sua música chegando até o Brasil?

Resa: É realmente legal. Especialmente legal demais quando eu estou nesse quarto, sozinha, a maior parte de todos os dias ao que parece — especialmente com a pandemia, tudo é tão sombrio e eu me senti realmente muito desconectada do resto do mundo dentro do último ano; eu acho que todo mundo meio que se sentiu assim.

Então realmente é meio que surreal, surreal saber que as pessoas ouvem a minha música tão longe e em um lugar sobre o qual eu nem sei muita coisa, porque eu realmente não sei nada sobre o Brasil! Mas eu falei isso para a minha gravadora, em Paris, e eles falaram que além de tudo era o meu terceiro país em questão de ter mais ouvintes, então sugeriram que eu fizesse algo pra vocês em português. Foi aí que veio a ideia.

TMDQA!: E você chegou a aprender um pouco de português pra isso? [risos]

Resa: Não! [risos] Eu deveria tentar, pensar nas letras como se fossem um karaokê.

TMDQA!: É, acho que funcionaria! Ainda sobre isso, acho que essa escolha me diz o quanto você se importa com as letras das suas músicas. Porque, sei lá, as pessoas também podem se conectar com suas músicas sem as letras, né? Mas, pelo visto, é realmente importante pra você que elas se conectem com suas letras também.

Resa: Sim! E eu relamente amo quando algumas pessoas me mandam mensagens ou me marcam em fotos onde me citam com alguma frase que realmente ressoou com elas e é isso. Ai, isso é algo que faz eu me sentir tão bem, porque isso é o que eu quero no mundo.

Eu preciso sentir que nós somos semelhantes, ou pelo menos que podemos entender uns aos outros e ajudar uns aos outros. Se não, não tem sentido em viver.

TMDQA!: Entendo! Queria falar um pouco sobre “Candles”, uma das minhas preferidas no EP. Ela tem uma sensação de ser quase uma canção de ninar, mas ao mesmo tempo tem uma letra bem melancólica. Como você lida com esse contraste?

Resa: Eu não planejo isso! Eu só canto intuitivamente…

TMDQA!: É a melodia vocal que vem primeiro?

Resa: Sim, mas às vezes a melodia e as letras vêm juntas, pelo menos para um ponto de início, pelo menos para que eu possa entender sobre o que eu vou escrever, se é que isso faz sentido.

Se não for assim, então eu coloco algo ali e aí eu posso decidir, mas realmente depende. Mas a melodia, definitivamente, vem primeiro. E aí eu encaixo as palavras na melodia.

TMDQA!: Entendi! Bom, como você disse, você tem ficado muito tempo no seu quarto nesse período. Por mais que você esteja recebendo muito carinho pela internet, como estão os planos para sair em turnê, ver tudo isso ao vivo? Tem chance de uma passagem pelo Brasil?

Resa: Honestamente é uma situação muito diferente. Eu me sinto bem perdida! Tipo, eu me sinto muito bem, em relação à música; e, em segundo lugar, eu meio que me sinto perdida em todos os outros aspectos da minha vida.

Eu sinto que tudo está sempre bagunçado ao meu redor, eu tenho mil coisas na cabeça. As coisas estão fechando e eu estou sempre perdendo coisas, é só um caos completo. Então, enfim, eu não tenho ideia. Por conta da pandemia, você realmente não sabe o que vai acontecer daqui pra frente. Literalmente, eu não sei como vai ser.

Parece muito distante pra mim a possibilidade de ir ao Brasil, mas esse é o sonho!

TMDQA!: A gente adoraria te ver por aqui!

Resa: Eu realmente vou tentar fazer isso acontecer!

TMDQA!: E, bom, para fechar… como eu disse, o site se chama tenho mais discos que amigos. Então me conta: você tem mais discos que amigos? Qual disco você diria que é seu melhor amigo?

Resa: Eu tenho mais discos que amigos! Eu também sou uma pessoa que gosta de ter menos amigos que são, sabe, amigos próximos, mas eu realmente gosto das pessoas, eu sou uma pessoa muito sociável, só que nem todo mundo pode entrar aqui. Com a música, você pode ter tantas entrando!

O álbum que mais tem me ajudado recentemente, que na verdade é o melhor álbum que eu ouvi desde o Norman Fucking Rockwell, da Lana Del Rey, é um álbum chamado Resurgence, do The KTNA. É tão bom!

E eu sinto quase como se ele tivesse salvado a minha vida. Eu tinha ouvido uma música que eu conhecia de antes, e aí eu só encontrei esse álbum e o ouvi e foi, tipo, tudo fez sentido. E são duas gêmeas nigerianas que cresceram em Manchester que escrevem essas músicas e se chamam de… gêmeas da escuridão ou gêmeas do demônio ou algo assim? [Nota: elas se chamam de “irmãs da escuridão”] Porque a música é tão poderosa e soa quase como uma tragédia grega!

TMDQA!: Que demais! Vou ouvir com certeza. Resa, obrigado pelo papo. Foi um prazer falar com você. Até a próxima!

Resa: Obrigada! Bom dia pra você.

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