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"Em dois anos fomos esquecidos": Mano Brown explica e relembra pausa dos Racionais

Mano Brown, lenda do Rap nacional, explica durante o Podpah Podcast alguns dos motivos que levaram os Racionais MC's a fazerem uma pausa em 1999.

Racionais MC's
Foto: Klaus Mitteldorf / Divulgação

Como você já deve saber, Mano Brown participou do Podpah Podcast na noite da última segunda-feira (07) e por lá o papo foi do Rap à política.

Enquanto conversava com os apresentadores Igão e Mítico, o músico falou sobre alguns motivos que levaram seu grupo Racionais MC’s a fazer uma pausa em suas atividades em 1999.

O rapper explicou um pouco sobre o momento em que percebeu que o grupo, que estava no auge em 1998 após o lançamento do álbum Sobrevivendo no Inferno no ano anterior, precisava reavaliar seu trabalho. Ele apontou:

Existia um movimento que estava estabilizado e eu vinha com uma ideia totalmente no contraponto do que era, e tipo assim, suicida, atitudes suicidas. Por exemplo: sair de cena. Racionais em 98 estava no auge com ‘Sobrevivendo no Inferno’. Casa lotada foi para os Estado Unidos, Japão, Alemanha e tal; não sei se fomos os primeiros, mas fomos um dos primeiros a fazer seu rolê.

Quando a gente voltou para o Brasil, quando chegou lá no ano de 99 eu notei que o rap ia mudar, ia mudar, não tinha mudado ainda. Eu vi o Racionais cantando e falei ‘tá ruim’, eu olhei a gente durante um show assim, observando, e falei, ‘tá ruim’.

Ao ser questionado por um dos apresentadores do programa o motivo de estar ruim, Brown respondeu:

Porque tava tudo ruim. O entorno não tava bom, a gente não tava bem. Não tinha felicidade, não tinha espontaneidade mais de ninguém. Era uma coisa que precisava ser revista para que uma nova geração pudesse ter liberdade e passar. Porque era um movimento emparedado. O jovem não tinha espaço se não fosse aquilo.

E eu não tô falando que eu sou o salvador de ninguém não, que eu que fiz, fiz sozinho. Eu não fiz nada sozinho. Mas nessa época a gente pensava essas coisas, eu pensava e falava com o Racionais. Falei, ‘Olha, a gente vai ter que sair de cena, tá ruim, o Brasil não é isso. Os que têm que ouvir, não ‘tá’ ouvindo’. Eu percebi na época, os que têm que ouvir não tão ouvindo, tá batendo e voltando. Muita violência, já tem muito na televisão, estamos assustando as pessoas e era um clima mórbido.

Às vezes colava uns caras com umas bíblias gigantes, com as roupas meio de padre, meio de louco assim. Um cara com uma Bíblia gigante no canto olhando pra mim fixamente e eu, ‘O cara vai dar um tiro em mim com essa Bíblia’, umas coisas estranhas. O Rap sempre foi extremado no Brasil. Ele vai do 8 a 80 rápido.

Em seguida, Mano Brown concorda com a fala de Igão de que o livro Sobrevivendo no Inferno, lançado pelos Racionais em 2018, foi “religião para muitas pessoas” e reforça que é um livro sincretizado.

Mano Brown e a pausa dos Racionais

Retomando o assunto da pausa do aclamado grupo de Rap, o apresentador Mítico pergunta para Brown como foi a reação dos outros integrantes no momento em que ele disse que as coisas não estavam bem. O rapper explica:

Aí é os Racionais sendo Racionais. O KL Jay olhou profundamente pra mim. O Edi Rock tem uma resposta que é do Edi Rock: ‘nós vamos viver do quê?’.

[…] O Kleber [KL Jay] olhou pra mim e disse, ‘Mas algum dinheiro [vai ter que ter], vai ter conta pra pagar, porque as contas vencem’. A gente se vira, tio, a gente se vira. E cada um foi para o seu corre. A gente tem que fazer o disco novo dos Racionais, não sei como.

Aí minha vida virou de cabeça pra baixo [por] dois anos. Parou de entrar dinheiro, paramos dois anos. Parou, suicida, é coisa de artista, não faça isso. Muita coisa aconteceu, numa época de muita dificuldade. E aí eu fiquei com, sei lá, 14 meses de condomínio atrasado. A vida é difícil.

Sabe o que é muito louco no Rap? As pessoas esqueceram da gente. Em dois anos. Tenho certeza. É muito volúvel, malandro. Não vai pra grupo, é muito volúvel. Em dois anos a gente foi esquecido.

Sobre o receio de retomar o trabalho após o período de pausa, Mano Brown declarou que voltou “botando uma fé do caralho” e, apesar do primeiro ano e meio ter sido difícil, todos ficaram otimistas quando o novo disco Nada como um Dia após o Outro Dia (2002) começou a ficar pronto.

Ele conta que o principal motivo para isso é “porque era um disco foda” e ainda descreve a fase como “muito louca e até mística”. Você pode conferir este trecho da entrevista no vídeo abaixo e alguns outros cortes do programa aqui.