Texto por João Hermógenes (@_jhermogenes)
Treze de março passou, e pela primeira vez em 6 anos, o rapper Djonga não lançou um álbum.
Com um impacto enorme em toda a geração atual do rap nacional, Djonga praticamente criou um feriado para si mesmo, onde milhares de fãs já sabiam que quando março chegasse, o homem lançaria um novo disco.
Por que em 2022 seria diferente? E por que isso é, na verdade, uma boa notícia?
Discografia de Djonga
O primeiro de todos os fatores é talvez o mais preponderante: os álbuns de Djonga não causam mais o mesmo impacto de antes. Heresia foi o álbum de estreia de uma das maiores promessas do rap da última década, e imediatamente o transformou em realidade, com letras extremamente afrontosas e performances enérgicas que ainda tocam e motivam muitas pessoas até hoje. Em sequência veio O Menino Que Queria Ser Deus, o clássico indiscutível de Djonga que o colocou no topo do jogo, criando um álbum mais completo e polido que seu antecessor, embora igualmente importante. A trilogia inicial do MC mineiro é completa em 2019 com Ladrão, o disco com que a mensagem de Djonga atingiu ainda mais o grande público, entregou grandes faixas e seu maior hit solo (“Leal”).
O problema é que dali em diante a curva começou a ser descendente, conforme Djonga atingia novos lugares e virava uma pessoa nacionalmente conhecida. Histórias da Minha Área, embora com bons momentos, já causou um impacto reduzido em público e crítica, onde pouca coisa ali soava muito diferente dos discos anteriores. Nu veio após uma grande polêmica por um show lotado na pandemia e um suposto cancelamento, e embora esse fosse o plano de fundo do disco, raramente esse tópico é usado nas linhas do MC, onde a fórmula muito se assemelha com uma versão menos trabalhada do que ele já fazia anteriormente. Os dois discos finais mostravam um certo esgotamento de pautas para o artista, ao mesmo tempo que a parceria com o produtor Coyote, extremamente bem sucedida no início da discografia, já não entregava os mesmos frutos. Outro disco hoje dificilmente fugiria dessa tendência, e a imagem artística de Djonga poderia ser mais arranhada ainda.
Fôlego e significado artístico
A outra questão para esse não lançamento é o prazo. Um ano por álbum solo não é sustentável nem mesmo para os mais prolíficos artistas, não num alto nível. Eventualmente essa sequência teria que acabar e esse é um bom momento, embora pudesse ter vindo um ano antes. Djonga ascendeu de promessa a estrela nacional durante essa sequência de discos e não teve tempo suficiente para digerir e falar profundamente sobre essa mudança. Além disso, depois de seu último disco ainda saíram dois EPs colaborativos do MC – Egito e AQuadrilha, ambos esquecíveis. Se Djonga quiser voltar a lançar bons trabalhos, o ideal é tomar um tempo maior para digerir novas vivências, mergulhar em novos tópicos e experimentar novas ideias musicais.
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Indústria da Música
E por último, temos o lado comercial: nada apontava por uma grande expectativa para algo que Djonga pudesse fazer agora. No último ano, polêmicas e lançamentos com recepção desempolgada marcaram a vida pública de Gustavo, e outro álbum agora provavelmente não atrairia grande interesse por parte do grande público, que cada vez mais consome o rap criado para danças do TikTok, ou do público mais intrínseco do gênero, que já se afasta aos poucos da linha seguida pelo artista. Num geral, o público brasileiro ama uma história de superação, ama torcer pelo azarão e Djonga não tem mais isso a oferecer – ele já é um preto no topo.
Por fim, parece melhor para todos que este ciclo de lançamentos anuais seja encerrado agora. Em time que está ganhando não se mexe, mas isso só vale até o momento em que ele deixa de ganhar, e é seguro dizer que esse é o caso aqui. Que Djonga saiba aproveitar a liberdade para lançar novos hits, aproveitar sua vida e, quando estiver preparado, voltar a entregar excelentes álbuns. Talento para isso ele tem!