Não há dúvidas de que o Acústico MTV do Nirvana é um dos lançamentos mais bem sucedidos da história da indústria fonográfica.
Além de uma performance inspirada de Kurt Cobain, Dave Grohl, Krist Novoselic, Pat Smear e companhia, a obra ao vivo ganhou novos contornos por conta da trágica morte do guitarrista e vocalista, que nos deixou meses antes do lançamento do álbum.
Pois quem contou novos detalhes a respeito da apresentação foi o líder do Foo Fighters, que recentemente disponibilizou um livro ao mundo chamado Dave Grohl – O Contador de Histórias.
Por lá, o músico revela bastidores de shows, detalhes da sua vida como criança e adolescente, criação da família e muito mais, e recentemente a obra foi lançada aqui no Brasil pela editora Intrínseca.
Dave Grohl, Kurt Cobain e a “bateria” misteriosa
No capítulo “Sessão Espírita com John Bonham”, Dave fala sobre um curioso hábito que tinha desde criança, o de “tocar bateria” com os dentes:
Ainda bem novo, comecei a tocar bateria com os dentes, deslizando o maxilar e fazendo movimentos de mastigação para batê-los e simular o som de uma bateria com a boca, fazendo rufares e adornos como se estivesse usando as mãos, sem que ninguém jamais notasse isso. Ao caminhar todas as manhãs para a escola, murmurava melodias e tocava as partes de bateria com os dentes, brincando com as minhas músicas favoritas e compondo canções originais até entrar pelo portão e colocar a mochila no armário. Era o meu segredo mais bem guardado, quase como se estivesse praticando bateria o dia inteiro na cabeça, em silêncio, o que me ensinou novos truques para tentar quando tivesse à mão o instrumento de verdade.
O baterista do Nirvana ainda contou sobre uma curiosa visita ao dentista, quando foi questionado pelo profissional da saúde se ele teria o hábito de mastigar gelo:
Intrigado, respondi:
– Hã… acho que não…?
Ele me disse que havia um grau de deterioração incomum, sinal de que algo estava gastando meus dentes, e na hora entendi o motivo.
– É que eu toco bateria com os dentes! – falei, todo animado e orgulhoso.
Ele, perplexo, me encarou como se eu tivesse perdido a cabeça. Pedi para que se aproximasse. Ele se ajoelhou, posicionando o ouvido a centímetros da minha boca. Toquei ‘Tom Sawyer’, do Rush, para que ouvisse. Meu maxilar avançava e se retraía velozmente, o som de cálcio e esmalte sendo picados parecendo um sapateador num palco irregular. O dentista ficou de olhos arregalados, se afastando chocado e falando que eu deveria rever aquele hábito estranho e prejudicial à saúde oral. Mas não havia volta. Eu estava condenado a praticar percussão ortodôntica pelo resto da vida.
Conexão com Kurt Cobain
Ao continuar a história, Dave faz questão de ressaltar que uma única pessoa fazia o mesmo que ele, e disse:
Só conheci outra pessoa na minha vida que adotava a mesma prática incomum: Kurt Cobain.
Dá pra notar bem isso durante nossa performance no Acústico MTV filmado em novembro de 1993 em Nova York. É possível ver o maxilar de Kurt cerrado e se movendo de um lado para outro em certas passagens do show, já que isso lhe servia como uma espécie de metrônomo enquanto dedilhava o violão. Para mim, fazia total sentido, considerando que cada músico cria a própria dinâmica pessoal. Há um ritmo interno que todo instrumentista segue, e um é sempre diferente do outro. Como escrevi no prefácio de Beast [Fera, em tradução livre], a biografia de John Bonham escrita por Chad Kushins, é um conceito difícil de definir.
Demais, hein?
Dave Grohl – O Contador de Histórias já está disponível em todas as livrarias físicas e virtuais, em um lançamento da Editora Intrínseca, que gentilmente cedeu uma cópia do livro ao Tenho Mais Discos Que Amigos!