2012 e 2014. Esses foram, respectivamente, os anos das últimas apresentações de Alexisonfire e A Day to Remember no Brasil antes das duas bandas serem confirmadas no Lollapalooza 2022 e, com isso, trazerem suas novas turnês ao país.
A noite da última quinta-feira (24) em São Paulo, portanto, serviu tanto como uma viagem no tempo para quem acompanha a cena há anos quanto como uma apresentação a duas das bandas mais marcantes da música pesada na última década, unindo os mundos do Post-Hardcore e do Metalcore — que, convenhamos, quase sempre andaram de mãos dadas.
Completamente lotada, a Audio, na Barra Funda, recebeu primeiro os canadenses do Alexisonfire. Logo de cara, vale um destaque para a pontualidade da banda e da produção com relação a ambos os shows, que seguiram praticamente à risca a programação e proporcionaram toda a base da experiência incrível que foi esse retorno à vida de shows para vários dos presentes.
Alexisonfire em São Paulo começou assim! 🔥🔥🔥@aof_official @Aaudio_ pic.twitter.com/UztUo1N6eG
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No palco, o AOF começou com tudo com a dobradinha “Drunks, Lovers, Sinners and Saints” e “Boiled Frogs”, ambas do disco Crisis (2006), que logo fizeram com que uma enorme rodinha punk se abrisse bem no meio da pista, dando pinta de como a apresentação seria absolutamente catártica para os fãs que aguardaram uma década — entre idas e vindas do grupo — para ver ou rever essas canções executadas com perfeição.
A performance em si, aliás, merece louvores. As vozes de George Petitt, Dallas Green e Wade MacNeil estão mais afiadas do que nunca, enquanto Chris Steele segue encantando com sua presença de palco e Jordan Hastings se mostra um mestre na bateria, lutando até mesmo contra a falta de ritmo do público (este que escreve incluso!) que, empolgado, batia palmas o show todo sem muita preocupação com o tempo das músicas.
O setlist foi tudo que se poderia esperar, com exceção de gostos específicos e da notável ausência de “Born and Raised”, que não foi tocada em nenhuma das apresentações no Brasil até agora. Mas, como o próprio AOF diria, “we are not the kids we used to be, stop wishing for yesterday”! Teve música nova e, enquanto a (já quase antiga) “Familiar Drugs” empolgou o público, a bem recente “Sweet Dreams of Otherness” surpreendeu ao funcionar muito bem ao vivo, mostrando que os caras acertaram a mão no single do próximo disco.
As músicas com refrães fortes, como as duas que fecharam a apresentação (“This Could Be Anywhere in the World” e “Young Cardinals”) foram os grandes destaques, mas a resposta do público para faixas como “We Are the Sound” e “Crisis” foi bem interessante, bem como o belo momento criado com “The Northern” para dar um certo respiro aos presentes.
Depois de 10 anos, a palavra que melhor resume essa passagem do Alexisonfire pelo Brasil é catarse. Sentado na área aberta entre um show e outro, era impossível não reparar o olhar se satisfação do público, que chegava ao local aberto encharcado de suor para recuperar o fôlego e receber de braços abertos o A Day to Remember.
A Day to Remember
De forma semelhante ao que aconteceu com o Alexisonfire, o A Day to Remember já chegou com tudo e apostou em um dos seus maiores hits, “The Downfall of Us All”, para abrir a performance.
Logo de cara, o público já estava completamente conquistado pela banda e os 8 anos que se passaram entre um show e outro ficavam evidentes: a plateia estava sedenta por um show do ADTR, pronta para cantar todos os hits a plenos pulmões, e a banda correspondeu essa energia com um setlist que beira a perfeição.
Pega a @Aaudio_ lotada cantando com o A Day To Remember em São Paulo! 🔥🔥🔥 pic.twitter.com/Z5JLNqLQXK
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A sequência inicial, que contou ainda com “All I Want”, “Paranoia”, “Degenerates”, “2nd Sucks” e “Right Back at It Again”, foi uma prova da capacidade do ADTR de manter seu público engajado a cada trabalho de estúdio. Mais do que isso, a performance de “Rescue Me”, parceria com Marshmello, deixou claro que não havia espaço para qualquer preconceito musical por ali. Felizmente, chegamos (majoritariamente) no ponto em que Pop e Metal podem se unir sem reclamações da maioria dos fãs.
Apesar de tudo isso, é inegável que a melhor resposta da plateia veio em clássicos como “Have Faith in Me” e “I’m Made of Wax, Larry, What Are You Made Of?”, enquanto as canções mais recentes incluídas no setlist, como “Mindreader” e “Reassemble”, dividiam o público — algo que a própria banda parecia reconhecer quando falou sobre a primeira faixa mencionada: “quem souber essa, cante junto; quem não souber, pule”.
Infelizmente, falar em A Day to Remember atualmente é falar em um dos casos de denúncias mais graves de uma cena que foi tão afetada por isso. O baixista Josh Woodard deixou o grupo em meio a diversas acusações de abuso sexual e até um suposto envolvimento em um acidente fatal, sequência de fatos que foi totalmente ignorada pela banda, ao menos até o momento, tanto nas redes quanto no palco.
Enquanto Jeremy McKinnon vive a melhor fase de sua carreira como vocalista, fazendo uma performance impecável sem aparentar qualquer esforço, os guitarristas Kevin Skaff e Neil Westfall tentam usar os timbres mais pesados possíveis para compensar a ausência de Woodard, que não foi substituído, e contam com a ajuda da bateria de Alex Shelnutt para isso.
No fim, a realidade — dura de admitir enquanto (suposto) baixista — é que Josh não faz lá muita falta. As guitarras fazem um ótimo trabalho para compensar, e não é como se Woodard tivesse as linhas mais criativas do Metalcore, que por sua vez já não costuma ter muitos baixistas de destaque. No entanto, esteticamente falando, é inegável que a ausência das quatro cordas chamam um pouco a atenção.
De toda forma, o ADTR já encontrou a fórmula do sucesso faz muito tempo e isso ficou muito claro nessa apresentação, que definitivamente não tem a mesma animação de antes. Felizmente, a saudade do público era tanta que pelo menos Jeremy se rendeu e pareceu bem mais ativo do que em outras performances recentes, ajudando a criar memórias bastante especiais para o público paulista.
Alexisonfire — setlist de 24/03 (Audio Club)
- Drunks, Lovers, Sinners and Saints
- Boiled Frogs
- Old Crows
- .44 Caliber Love Letter
- Rough Hands
- Sweet Dreams of Otherness
- We Are the Sound
- Crisis
- The Northern
- Familiar Drugs
- Pulmonary Archery
- Accidents
- Dog’s Blood
- This Could Be Anywhere in the World
- Young Cardinals
A Day to Remember — setlist de 24/03 (Audio Club)
- The Downfall of Us All
- All I Want
- Paranoia
- Degenerates
- 2nd Sucks
- Right Back at It Again
- Rescue Me
- Have Faith in Me
- Last Chance to Dance (Bad Friend)
- Mr. Highway’s Thinking About the End
- Mindreader
- Reassemble
- I’m Made of Was, Larry, What Are You Made Of?
- Resentment
- All Signs Point to Lauderdale
Bis: - If It Means a Lot to You
- Sometimes You’re the Hammer, Sometimes You’re the Nail
- The Plot to Bomb the Panhandle