"CODA - No Ritmo do Coração" aposta na simplicidade para tratar de assuntos muito importantes

Em CODA, Sian Heder conta história de uma família de deficientes auditivos de forma leve, mas não foge de questões importantes como preconceito e bullying.

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Foto: Divulgação

CODA – No Ritmo do Coração é um filme perfeito para a Sessão da Tarde, com doses generosas de emoção, humor e uma jornada de autoconhecimento cativante. A fórmula é relativamente simples, com uma protagonista adolescente lidando com os problemas típicos da sua idade e superando dificuldades para atingir um objetivo aparentemente inalcançável.

No entanto, a diretora e roteirista Sian Heder vai além e se aprofunda em discussões muito relevantes, como o preconceito com pessoas com deficiência e o papel das comunidades nas quais elas estão inseridas no processo de inclusão social.

Remake da comédia francesa Família Bélier (2014), CODA – No Ritmo do Coração acompanha a jovem Ruby (Emilia Jones), única integrante capaz de ouvir em uma família de pessoas surdas. Ela tem o desafio de conciliar o trabalho com o pai em um barco de pesca, o papel de intérprete da família no dia a dia e seu sonho de estudar música.

O grande diferencial de CODA é a sensibilidade com a qual aborda temas delicados em um roteiro descomplicado. A preferência por atores que são deficientes auditivos, a inclusão de pessoas surdas na equipe de produção e a escolha de deixar cerca de 40% do filme em ASL (a linguagem de sinais dos Estados Unidos) mostram o comprometimento com a mensagem transmitida.

Daí vieram os prêmios de Melhor Filme, Melhor Roteiro Adaptado e Melhor Ator Coadjuvante no Oscar, os dois primeiros mais polêmicos e o último um consenso.

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Em inglês, CODA é uma sigla para Children of Deaf Adults (filhos de adultos surdos), mas também é a seção que encerra uma composição musical. Esta rima é simples mas conecta os dois principais pontos de reflexão de Ruby.

Ser o elo entre sua própria família e o mundo é uma responsabilidade enorme e a leva a questões como “se eu não estiver aqui, o que será deles?”. Enquanto pensa demais nos outros, ela acaba sendo negligenciada, em uma inversão de papéis que é sutil no texto do filme, mas ainda assim é muito interessante: no seu próprio núcleo familiar, Ruby é a minoria e se sente excluída, com seus objetivos pessoais sendo colocados em segundo plano em detrimento de uma necessidade coletiva.

Colocá-la nesta posição, no entanto, não invalida a preocupação dos pais de ficarem incomunicáveis na ausência da garota. Há diálogos que tratam diretamente da falta de vontade da sociedade de se adaptar a eles, situações que os levam à beira do conformismo e os colocam em uma posição de excentricidade que sequer deveria existir.

CODA – No Ritmo do Coração

No Ritmo do Coração trata da surdez, mas este cenário é o mesmo para as mais variadas deficiências quando o assunto é a falta de disposição das pessoas para incluí-las na sociedade que as cerca. Novamente, o filme mostra de forma simplificada questões que são muito complexas.

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Foto: Divulgação

CODA – No Ritmo do Coração conta com atuações de alto nível, o que resultou no merecido prêmio de Melhor Ator Coadjuvante no Oscar a Troy Kotsur, que interpreta Frank, o pai de Ruby.

A atriz Emilia Jones é mais uma que merece destaque, devido à dedicação que demonstrou ao papel. Ela aprendeu a linguagem de sinais em nove meses, teve aulas de canto e de como operar um barco pesqueiro.

A diretora Sian Heder também precisou se engajar para que o filme saísse com a naturalidade planejada. Ela também aprendeu a ASL, entrevistou CODAs e passou a frequentar a Deaf West Theatre, organização teatral que faz peças com atores surdos. Foi justamente em uma dessas visitas que ela conheceu Kotsur.

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Foto: Divulgação

O filme teve um excelente desempenho no Festival de Sundance em 2021, quando conquistou os quatro prêmios para os quais foi indicado: Grande Prêmio do Júri, Prêmio do Público, Melhor Diretora e Melhor Elenco. A produção ganhou visibilidade e foi comprada pela Apple por 25 milhões de dólares, um valor recorde.

Assim como O Som do Silêncio (2020), CODA – No Ritmo do Coração é um convite para reinterpretar o som nos filmes e na nossa vida. Além disso, tais obras ajudam o espectador a se acostumar como o silêncio como ferramenta de comunicação e não como um vazio a ser preenchido.

Lançado no AppleTV+ e nos cinemas ainda em 2021, hoje o filme está disponível no Amazon Prime Video aqui no Brasil.