Hoje, ironicamente no Dia da Mentira, o Red Hot Chili Peppers está finalmente apresentando um novo disco de estúdio ao mundo.
Unlimited Love não apenas é o primeiro álbum dos caras desde The Getaway (2016), como também marca o retorno do guitarrista John Frusciante, aquele que mais fez história com o instrumento na banda entre todas as suas formações.
O novo lançamento marca a volta de um dos grupos mais influentes de todos os tempos aos holofotes, e o primeiro lançamento com Frusciante em 16 anos deve reacender chamas de muitos fãs do Red Hot mundo afora, inclusive aqui no Brasil.
Músicos Brasileiros falam sobre o Red Hot Chili Peppers
Aproveitando o momento quente para uma das bandas mais quentes do Rock, o TMDQA! pediu para que músicos brasileiros falassem sobre a influência da banda em suas carreiras.
PJ, baixista do Jota Quest, tem uma história bem curiosa sobre como conheceu a banda:
Meu primeiro contato com o Red Hot foi muito engraçado. Eu devia ter uns 15, 16, 17 anos, não sei, eu tava tocando baixo já.
E naquela época não tinha Internet, né. E havia quatro canais na televisão. O único programa que tinha era o FM TV, que passava toda sexta-feira, de 6 às 7, ou de 7 às 8, tocando os sucessos da época.
Cyndi Lauper, Madonna, Michael Jackson, Dire Straits, INXS… e sempre o último clipe era de uma coisa nova.
Aí eu lembro que eu fui beber água na cozinha e voltei, e quando voltei já tava passando o clipe dessa banda nova. E eu vi uma galera diferente, com uma postura diferente, irreverente, meio engraçada, tocando uma ‘funkeira’ e o cara dando uns slaps no baixo.
Eu já tava tocando e pensei, ‘nossa, que coisa legal!’, e eu esperei o final do programa, porque antigamente tinha que esperar o final do programa pra eles anunciarem quem era.
Só que nesse dia não anunciaram. Eu falei, ‘caramba, velho, a menina não falou o nome da banda! E agora, como vou fazer?’
Lembrando: não tinha nada, não tinha Internet, não tinha Google, não tinha nada. Não tinha o que fazer. Eu fiquei esperando pra que tocasse na semana seguinte, mas não passaram de novo. Não passaram nunca mais.
Depois de um ano eu indo em lojas de disco, tentando falar com os caras, conversando com os vendedores, descrevi a banda falando que era ‘assim, assado’, e ninguém sabia me dizer o que era.
Depois de quase um ano, cara, esse clipe passou outra vez. Era ‘True Men Don’t Kill Coyotes’, e depois de um ano eu fui saber que passou outra vez na TV e falaram. Aí fui e comprei o disco ‘Freaky Styley’, que tinham lançado no Brasil.
Além disso, ele ainda falou como incorporou elementos da sonoridade dos Peppers em sua carreira com a banda mineira:
Nessa época, 1986, 1987, quando eu conheci a banda, o Red Hot era bem funk, funk raiz, aquele baixo repetindo o groove do começo ao fim e o Anthony Kiedis sempre apresentando elementos do Rap. Vale lembrar pra quem conheceu a banda mais novo, que quase não tinha melodia ali, era muita coisa do Rap. Os elementos melódicos começaram a aparecer no disco Mother’s Milk e ficaram mais fortes no Blood Sugar Sex Magik, com o [produtor] Rick Rubin.
Então, é esse lance do funk, né. O groove tem que ter uma célula do baixo e da bateria que se repete, né. É um fundamento do groove. E esse fundamento eu trouxe pra minha vida como músico.
E no Jota Quest, apesar de ser uma banda Pop com influências de Funk e de Rock, eu tento manter isso. Não quero imitar o Flea, eu não gosto quando você imita a pessoa, mas é uma referência.
Eu acho que o Jota, principalmente nas músicas que não tocaram no rádio, porque geralmente quando a pessoa não vai a fundo na banda só ouve o que toca no rádio, a gente tem essa base e tem esses fundamentos.
Eu já tive várias bandas de tributo a Red Hot, mas hoje não tenho mais não. Hoje em dia tem overbooking de bandas tributo a Red Hot!
Por fim, o baixista do Jota Quest ainda citou as suas músicas favoritas do disco Unlimited Love, cravando “Watchu Thinkin'”, “White Braids & Pillow Chair” e “Let’ em Cry”.
Sobre a última, ele inclusive sinalizou que soa como “If You Want Me To Stay”, lançada por Sly and the Family Stone em 1973.
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Influência, genialidade e as aulas de John Frusciante
Tomás Bertoni, guitarrista da banda brasiliense Scalene, não mediu palavras para falar sobre o que pensa dos caras e os chamou de gênios:
A carreira do Red Hot não é nada menos que cinematográfica. Os altos e baixos, tanto nas vidas pessoais como na profissional, são intensos e interessantes. As trocas de integrantes, das efêmeras às trágicas, a longevidade que permeia décadas, tudo se soma pra uma aura de grandes lendas reservadas pra cada vez menos grupos. Foi uma das primeiras bandas que me tornei fã.
Minha irmã mais velha colocava um asterisco nos CDs e DVDs nas músicas que eu não podia ouvir em casa quando os pais estivessem. São gerações que têm a infância, adolescência e vida adulta de alguma forma marcada por eles.
A informalidade e diversão de algumas canções à profunda tristeza e melancolia de outras. A visão não-idealizada e realista da Califórnia e vida estadunidense. A autenticidade de cada integrante e como se complementam. E a habilidade de veicularem emoções e anseios, em diferentes épocas, através de músicas artisticamente belas que também atingem o objetivo comercial. Gênios.
Raphael Miranda, baterista e baixista da banda Ego Kill Talent, também celebrou a obra do RHCP e falou sobre as expectativas para Unlimited Love:
Eu me lembro dos primeiros contatos com a música do RHCP no início da saudosa MTV Brasil, quando eles lançaram o disco Blood Sugar Sex Magik. Eles se destacavam muito da cena da época, fazendo aquele Rock misturado com Funk e umas coisas de Rap, e isso chamou muito a minha atenção.
Ainda acho o BSSM o melhor disco da banda e muito desse mérito é do John Frusciante. Desde que entrou a primeira vez pro RHCP ele mudou bem o som da banda, trouxe mais o funk e melodias nas guitarras, o que eu acredito que tenha aumentado o alcance comercial deles. Ele é um guitarrista extremamente criativo. Com o Californication ele inovou mais uma vez com aquele estilo bem mais minimalista, os solos e riffs são muito ‘cantáveis’ e as músicas grudam na cabeça. O cara é foda! Basta ver que ele já entrou pra banda 3 vezes e todas foram bombásticas!
Estou bem ansioso pra ouvir o Unlimited Love!
Michelle Marques, guitarrista da banda Taboo, falou sobre a influência no aprendizado, algo fundamental para que novas gerações de fãs, músicos e profissionais ligados ao Rock apareçam e criem suas carreiras:
Comecei a tocar guitarra com 15 anos e lembro que eu tinha um CD que eu ganhei de um amigo com músicas do RHCP, e eu ouvia aquele som sem parar, fiquei fascinada e comecei a tirar os riffs mais marcantes na minha primeira Stratocaster. Lembro de tocar os riffs de ‘Scar Tissue’, ‘Californication’, ‘Dosed’ e ‘By The Way’, eram minhas preferidas.
Depois eu consegui o DVD do ao vivo no Slane Castle, e eu via o John com uma performance incrível como se a guitarra fizesse parte do corpo dele. Ele apareceu com uma Gretsch White Falcon lindíssima, foi a primeira vez que me apaixonei por uma semi-acústica. Os riffs do John são inigualáveis.
Acho que o John no palco ao vivo foi uma das coisas que mais me impressionaram, ele é muito visceral, eu lembro que minha Strato era da mesma cor que a dele, eu fazia disso uma conexão (risos).
Fiquei muito apaixonada por aquele jeito de tocar, ele realmente foi uma inspiração.
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Diferentes fases
Fred Mattos, da banda de rock alternativo Sound Bullet, também falou sobre como John Frusciante é importante para ele, inclusive brincando com a posição de baixista na banda.
Além disso, também falou sobre como descobriu a banda mais tarde:
Eu sempre acho muito engraçado que o meu favorito na banda seja o Frusciante, apesar de eu ser baixista. Deveria ser o Flea, né? Toda a minha geração aprendeu a tocar slap com ele. Mas eu não consigo deixar de achar fantásticas as melodias do Frusciante e aquele jeito meio vagabundo (no bom sentido!) de tocar. É muito solto e completamente impossível de imitar. Acho que essa é a grande beleza da guitarra.
Também acho curioso que eu fui me interessar por eles mais tarde que o normal, principalmente após ter banda e ouvir as recomendações de quem produziu a gente, como o Patrick Laplan. O Red Hot Chili Peppers é uma banda meio inescapável se você toca algum tipo de rock, tem muita coisa ali, muito riff incrível e é sempre possível entender algo novo quando se escutam as músicas.
Já Gabriel Zander, vocalista e guitarrista da banda Zander, falou sobre as fases em que acompanhou a banda bem de perto:
Fiquei em choque quando vi pela primeira vez o clipe de ‘Higher Ground’ na MTV. Demorei pra descobrir que era uma cover, inclusive. Mas ver aquela galera agitando e tocando um som frenético e energético com um baita refrão em coro me contagiou muito.
Logo depois veio ‘Knock me Down’ e fui direto comprar o Mother’s Milk. Me apaixonei pela banda e fui pegando toda a discografia em ordem decrescente. Passou a ser a minha banda preferida por um tempo, e quando saiu o Blood Sugar Sex Magik, acho que a banda se consagrou de verdade.
Pra mim, esse disco é fácil Top 10 de melhores álbuns de todos os tempos. Ainda consegui pegar o show do Hollywood Rock em 1993, mas me lembro que o Frusciante tinha saído e o substituo, Arik Marshall, havia sido jogado ‘na fogueira’, então o show foi diferente.
Poucas vezes acompanhei tão de perto uma banda como o Red Hot até o One Hot Minute, comprando todos os discos. Com certeza é uma das melhores e mais importantes da minha geração.
Unlimited Love
Você já pode ouvir o aguardado novo disco do Red Hot Chili Peppers, Unlimited Love, em todas as plataformas de streaming.
E a gente pode atestar uma coisa: as músicas disponibilizadas anteriormente não fazem jus ao discão que temos em mãos aqui, digno de estar entre os melhores da discografia dos caras!
Nós invadimos a playlist TMDQA! Charts com 3 canções novas do álbum, e você pode ouvir todas elas tanto no Spotify quanto na Deezer. É só clicar nos links!