Há alguns nomes que passam por esse planeta e deixam marcas que jamais serão apagadas.
Inventores, artistas, políticos, líderes e tantos outros homens e mulheres são reconhecidos pelo que fazem com maestria e acabam se tornando ícones para diversas gerações, o que é algo pra lá de raro de conquistar de maneira consistente.
Se formos pensar em músicos que romperam bolhas, quebraram barreiras e colocaram seus nomes de forma definitiva na história, temos poucos que se tornaram conhecidos desde o fã mais árduo até a pessoa que nunca viu nenhuma de suas obras mas sabe exatamente sobre quem estamos falando.
E esse é o caso de Kurt Cobain.
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O Peso da Notoriedade e uma Indústria Implacável
Quando fundou o Nirvana em Aberdeen, lá nos Anos 80, Kurt Donald Cobain muito provavelmente gostaria de levar as suas músicas a todos os cantos do mundo, mas esse não era seu primeiro objetivo.
Como um adolescente deslocado que não se sentia nada à vontade na pequenina cidade cinzenta de 17 mil habitantes, Kurt descobriu a guitarra elétrica e seu poder de aliar momentos raivosos com letras onde poderia mostrar seus pontos de vista sobre o mundo.
Mais do que isso, a intimidade com ídolos do Rock And Roll em momentos onde ouvia suas canções lhe proporcionava ocasiões onde Kurt poderia ser ele mesmo, colocando tudo que gostaria no papel e cantando/berrando/botando pra fora o que sentia na mais confusa das faixas etárias de qualquer ser humano nesse planeta.
Através da música, ele se conheceu e se colocou no mundo, mas as coisas rapidamente sairiam de controle.
Fundação do Nirvana
Perto da maioria dos artistas e bandas que têm números expressivos como o Nirvana, a carreira do grupo de Seattle foi meteórica.
Bleach, disco de estreia lançado em 1989, ganhou notoriedade no underground e fez com que as grandes gravadoras se interessassem por aquele trio que poderia colocar qualquer casa de show no chão com uma performance de lavar a alma.
Veio então Nevermind (1991) e hits como “Smells Like Teen Spirit” e “Come As You Are” fizeram com que Kurt Cobain passasse de um tímido jovem do interior para superstar internacional, e aos 24 anos de idade essa é uma barra pesada para qualquer um.
Quando falamos da indústria da música, o que aparece ao mundo representa muito pouco (mesmo) de tudo que acontece nos bastidores, e ainda há um grande esforço para que esse pouco reflita apenas coisas boas de todo processo.
Quem trabalha no negócio há algum tempo, como esse que aqui escreve trabalha há 12 anos, sabe que ele é um negócio com objetivos claros de lucro, crescimento, números, alcance e, naturalmente, dinheiro.
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Se por um lado o sonho de toda banda nos Anos 90 era assinar com uma grande gravadora para rodar o mundo destruindo quartos de hotel, por outro você rapidamente se transforma em uma espécie de funcionário com metas, cobranças e, principalmente, pessoas que você não conhece tomando conta da sua vida profissional e muitas vezes pessoal.
Essas pessoas estão no ramo há muito tempo e sabem que terão uma grande influência em cima da carreira dos seu recém contratados, então não hesitam em cobrar e “orientar” para que seus resultados sejam realizados e suas metas sejam cumpridas.
Em boa parte dos casos, o jogo é esse mesmo: se uma gravadora coloca dinheiro em uma banda e/ou artista, é porque confia que irá lucrar com esse nome, e não é muito diferente de qualquer outro novo negócio que envolve investimento de tempo e dinheiro.
O problema, porém, é que a visão romantizada da música, das turnês e das performances memoráveis muitas vezes contrasta com pouca visão artística, pressão por novos sucessos “fabricados” e empresários (que estão sofrendo tanta cobrança quanto o artista) que imploram para que os hits continuem saindo das caixas de som de forma mágica.
No caso de Kurt Cobain, o peso de tudo isso se somou ao fato de que ele enfrentava problemas pessoais e questões de saúde mental que poderiam ter sido tratadas.
Em uma mistura de todos esses elementos citados acima com o fato de que havia se tornado ícone de uma geração, ele infelizmente acabou não resistindo e tirou a própria vida em 05 de Abril de 1994.
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Kurt Cobain e um Espelho Para Muita Gente
Há exatos 27 anos, perdíamos cedo demais o talento de Kurt Cobain, líder do Nirvana que nos deixou aos 27. 😢🙌 pic.twitter.com/rMvBE2TtBR
— Tenho Mais Discos Que Amigos! 🎶 (@tmdqa) April 5, 2021
Há momentos em que o mundo testemunha as “tempestades perfeitas”, ou os famosos casos de “lugares certos na hora certa”.
Com Kurt Cobain, foi exatamente isso que aconteceu e o músico viu que, de repente, seus hinos contra a sociedade da época associados a guitarras barulhentas e baterias potentes iriam ressoar com os Punks, os Headbangers, os fãs de Grunge, de Rock Clássico, do Rap e até da música Pop.
De repente, Kurt Cobain não estava mais conversando com seus amigos de Aberdeen após um show para 10 pessoas em um bar ou no porão de alguém. Ele estava falando com milhões e milhões de pessoas em uma época onde o acesso à informação era pouco democratizado, então se você estourava e passava na MTV todos os dias (5 vezes por dia) entraria para o imaginário popular de forma contundente.
Se hoje um artista novo explode e a sensação que fica é de que você pode conhecer pelo menos outros 10 similares através da Internet, no início dos Anos 90 a coisa era diferente, e ser tão grande para tanta gente pode ser um problema.
Nessa história, o líder do Nirvana que soube como poucos se expressar e se conectar com a geração de jovens da qual fazia parte, acabou percebendo que agradava quem entendia seus ideais mas também despertava interesse de alguns dos comportamentos que mais odiava na sua vida: quando todo mundo ouve seu som, é claro que haverá pessoas ruins no bolo, comprando seu disco, bebendo demais, sendo violento, compartilhando ideais equivocados e partindo para a próxima grande banda no ano seguinte, sem realmente se conectar com você e, em muitos casos, se colocando na posição de “cliente” e te cobrando por causa de shows e discos.
Quando viu que vinha sendo chamado de ídolo por tanta gente assim, Cobain sentiu o golpe e passou a querer se esconder o máximo que podia, tentando viver uma vida particular longe dos holofotes e até mesmo se distanciando dos seus colegas de banda, Krist Novoselic, Dave Grohl e Pat Smear, que mal o viram antes da gravação do fatídico Acústico MTV, por exemplo.
Infelizmente, esses períodos de isolamento não vieram com um programa de reabilitação, mas sim com o abuso de drogas que faziam com que Kurt se desconectasse da realidade, tentando superar as dores da vida real com efeitos passageiros que rapidamente se dissipariam e logo trariam Cobain de volta ao chão.
Mas a indústria da música é uma indústria, e os fãs queriam novas músicas, novos clipes, novos shows, novas declarações, novas entrevistas, novas palavras e novas respostas de um homem que não as tinha. Ao contrário, aos 27 anos de idade, Kurt Cobain era uma pessoa repleta de perguntas e dúvidas em sua cabeça, e infelizmente não houve tempo para diminuir o ritmo, entender que a mudança foi brusca e redirecionar a rota a um caminho mais saudável que, sim, poderia satisfazer todos os anseios assim que o músico tivesse uma compreensão melhor do que ele mesmo representava.
Afinal de contas, temos inúmeros casos de bandas que explodiram no underground, se tornaram bem sucedidas no mainstream e construíram carreiras sólidas e saudáveis, muitas delas com o apoio efetivo e fundamental das gravadoras com suas equipes, influência e investimento.
Em 05 de Abril de 1994, há 28 anos, Kurt infelizmente nos deixou aos 27 com o peso de ser um dos maiores de todos os tempos. Não precisava ter sido assim. Que sua história seja lembrada, sua obra celebrada e suas palavras repetidas por muito tempo. Você foi gigante, e sua falta será eternamente sentida.