Rafael Bittencourt relembra origens de "Rebirth" e fala sobre turnê que irá celebrar clássico do Angra

O Angra anuncia seu retorno aos palcos na turnê nacional que irá celebrar duas décadas do clássico disco "Rebirth", um dos maiores sucessos da discografia.

Angra
Foto por Henrique Grandi

O Angra irá comemorar, em turnê, um dos discos mais icônicos do heavy metal brasileiro e mundial, o clássico Rebirth que está completando vinte anos.

Um dos maiores sucessos da discografia da banda estará nos palcos de todo o Brasil nos meses de junho e julho com Rafael Bittencourt (guitarra), Fabio Lione (vocal), Marcelo Barbosa (guitarra), Felipe Andreoli (baixo) e Bruno Valverde (bateria) em shows que marcarão também a volta do Angra aos palcos.

Com várias datas por todas as regiões do país, incluindo São Paulo no dia 02 de julho no Tom Brasil, a “Rebirth 20th Anniversary” traz a chance de todos que viveram a época gloriosa do lançamento do disco há duas décadas e também quem ainda não teve a oportunidade, conferir ao vivo clássicos como “Nova Era”, “Rebirth”, “Heroes of Sand” e “Running Alone”.

A temática do clássico disco remete também ao momento atual de renascimento que todos estamos passando nesse período de início de pós-pandemia e o retorno de todas as atividades da música, turnês e festivais presenciais.

Batemos um papo super especial com Rafael Bittencourt sobre os detalhes da comemoração e o guitarrista relembrou histórias de como as músicas foram feitas, a sintonia com o parceiro Kiko Loureiro e as novidades sobre os próximos passos da banda, incluindo um novo disco.

Todas as informações sobre as datas e ingressos da “Rebirth 20th Anniversary” você pode conferir no Instagram oficial do Angra clicando aqui!

TMDQA! Entrevista: Rafael Bittencourt

TMDQA!: Tudo bem, Rafael? Que prazer falar com você!

Rafael Bittencourt: Bom, 20 anos depois estamos aqui falando do Rebirth que, com todos os méritos, é um clássico inquestionável do heavy metal, sendo um dos maiores do metal brasileiro.

TMDQA!: Não temos como começar de outra forma, a não ser: como está a ansiedade para a celebração desse momento, no palco, tocando músicas tão emblemáticas pro Angra?

Rafael Bittencourt: Bom, eu estou muito ansioso, né? Muito feliz também por poder olhar pra trás, ver que vinte anos se passaram e esse álbum ainda representa tanto pra banda, pras pessoas e pra representatividade do metal brasileiro no mundo.

Vai ser uma celebração do renascimento da banda, o retorno aos palcos, então estou muito feliz com tudo isso.

TMDQA!: A temática do Rebirth girou em torno do momento em que a banda se encontrava na época do lançamento, em virtude da entrada dos novos membros, sendo literalmente um renascimento. No momento atual, de que forma essa tour também representa uma espécie de renascimento, em virtude de tudo que estamos atravessando?

Rafael Bittencourt: Além do renascimento da banda, é um renascimento de toda a sociedade. Aquela história que era uma metáfora, de certa forma se fez verdadeira, porque agora o mundo praticamente colapsou, com problemas na saúde pública, uma pandemia gigantesca super trágica e que gerou profundas cicatrizes em todos, inclusive comportamentais, não foi só a saúde.

A reclusão total foi gerando uma série de traumas, as pessoas agora saem das casas mais antissociais, muitas delas sensibilizadas, agressivas, é isso que eu tenho notado. Então, vai ser uma celebração cheia de esperança de que o mundo retorne agora um pouco melhor, um pouco mais renovado. Todos tiveram tempo pra uma reflexão de como cada um pode fazer pra melhorar no mundo.

TMDQA!: Você costuma ouvir esse ou outros trabalhos do Angra, além das músicas que estão constantemente no repertório? Como foi duas décadas depois, olhar para as composições que estão no Rebirth e como essas composições conversam com você hoje em dia?

Rafael Bittencourt: Eu costumo ouvir quando alguém posta e a gente é marcado. Não tenho tanto costume, porém agora que gente tá focando nessa turnê eu tenho ouvido.

É engraçado que além de ser um trabalho muito maravilhoso, ele me remete também a uma época da minha vida, do que eu estava vivendo. Cada música me faz lembrar o momento que a banda estava.

Lembro dos encontros na casa do Kiko Loureiro, lembro dos primeiros ensaios com a banda, traz muitas memórias, né? Eu ouço as músicas do Angra e elas me colocam nas memórias de tudo que aconteceu, na preparação pra pra criar essas músicas, o contexto que minha vida pessoal estava, traz muitas lembranças, porque é sempre um paralelo. Não tem como evitar, você precisa conciliar a sua vida pra fazer existir esses álbuns e tal. Então, eu lembro direitinho de tudo isso.

TMDQA!: O Rebirth foi um sucesso de vendas de CDs e hoje em dia continua sendo um sucesso no streaming, atravessando gerações. Muitos fãs mais novos do Angra sequer tiveram a chance de ver os shows da época.

Como é pra você subir ao palco e tocar para gerações diversas, fãs mais antigos e fãs que irão ver pela primeira vez algumas dessas músicas sendo tocadas ao vivo?

Rafael Bittencourt: Eu acho que o mais legal da banda durar bastante tempo é justamente transcender as gerações, essa coisa de tocar esse álbum pra uma geração que nunca viu.

É uma coisa interessante, porque cria todo um misticismo ao redor da banda e essa é uma banda que existe há trinta anos, passou por muitas formações e consegue resistir ao tempo, consegue se manter firme, se manter viva e isso acho que é o mais mais legal de tudo isso.

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TMDQA!: A ideia dessa turnê de comemoração é fazer como a turnê da época e literalmente rodar o mundo? Voltar a lugares em que o disco fez um sucesso absurdo, em países como o Japão, por exemplo? E no Brasil, a ideia é chegar em cidades que na época a turnê não passou? Como estão esses planos? 

Rafael Bittencourt: Olha, sobre a turnê a gente começou com uma coisa mais modesta mesmo, a gente não quer perder a oportunidade, a data, porque existe também o plano de começar a finalizar as composições e gravar um disco novo.

Seria maravilhoso voltar pro Japão com essa turnê, passar por outros lugares agora renovados de certa forma e também muito amadurecidos, né? Eu tinha trinta anos na época, agora eu tenho cinquenta, então a visão, a relação com o público, a relação com toda a carreira, o próprio disco é muito diferente. Seria muito legal, mas nós começamos com uma meta um pouco mais modesta de fazer alguns shows no Brasil pra não perder a data, reaquecer a banda, voltar aos palcos pra trazer motivação, rever o público e aí fazer o disco.

TMDQA! Um dos maiores clássicos do Angra até hoje é a lendária faixa “Rebirth”, com o dedilhado inesquecível do início, que até hoje é um dos momentos mais esperados do show. Você lembra o momento em que compôs essa música? Pode matar essa curiosidade?

Rafael Bittencourt: Sobre a composição da música “Rebirth”, eu me lembro direitinho como foi. Esse dedilhado tão icônico foi trazido pelo Kiko Loureiro, era uma ideia que ele tinha inspirado em algumas coisas do Steve Morse, que é um guitarrista que tanto eu quanto ele gostamos muito.

Eu peguei aquele dedilhado e praticamente desenrolei a música, inspirado pelo dedilhado, eu consegui deixar a música fluir, ela veio quase que de primeira.

Nós estávamos no EM&T, Escola de Música e Tecnologia, estávamos lá fazendo alguns cursos e tal, também dávamos aulas e workshops lá. Era um ponto de encontro, a gente pegava umas salas de ensaio e eu lembro direitinho onde era o andar das guitarras ali.

Era uma sala com vários violões, a gente pegou um violão emprestado e fizemos essa música ali mesmo. Eu lembro da sintonia dessa época de composição com o Kiko, eu lembro direitinho como a gente passava bastante tempo junto, das nossas conversas e a nossa sintonia na música e no pessoal, claro. A nossa amizade foi fortalecendo porque um foi amparando o outro nessa época, os dois muito magoados e machucados com o desligamento de três membros da banda naquele período, mas existia uma vontade de continuar e nós nos apoiamos nessa vontade.

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TMDQA! – E quanto ao show, podemos esperar algumas surpresas? Como estão sendo os preparativos da banda para essa celebração, em relação às reuniões presenciais da banda, já que o Fabio Lione [vocalista] mora na Itália e o Bruno Valverde [baterista] nos Estados Unidos? 

Rafael Bittencourt: Olha, pode ser sim que tenhamos surpresas no show, ainda não tem nada confirmado e o Fábio Lione e o Bruno Valverde que moram fora do Brasil, devem vir pelo menos uma semana antes pros ensaios, pra gente preparar isso daí.

Nós já estamos falando sobre cenário, sobre como vão ser esses shows, a estrutura do palco, o que mais vai ter no palco além dos músicos, o tipo de luz, equipe, tudo isso a gente já tá vendo.

TMDQA!: Voltando no tema renascimento, creio que todo disco novo, apesar do fator continuidade, representa também um renascimento, correto? E falando em novo disco, já podemos esperar boas notícias a respeito de um novo trabalho do Angra?

Rafael Bittencourt: Todo novo disco representa um renascimento porque é um novo momento que você prepara e sai em turnê. O ato criativo, o percurso criativo é sempre um percurso de autoconhecimento. No que você faz uma música, uma obra, você já está renovado.

Por ter conseguido, vamos dizer, traduzir em palavras, coisas que são muitas vezes profundas, isso por si já te renova, já te mexe e aí quando isso tem aceitação do público e o público te devolve também, isso vai vai mexendo contigo. Uma turnê é sempre um aprendizado, o lançamento de um disco é um aprendizado. Então quando você termina todo esse processo você já se renovou, você já é outra pessoa.

A cada disco, sim, você está renascido e nosso novo disco vem nessa pós-pandemia, nesse momento onde estão todos tão modificados, tão sensibilizados. Não tem ninguém que não tenha sido movido por tudo que aconteceu. Então esse é o berço desse novo álbum, um berço onde o mundo inteiro passou de maneira muito coletiva, um trauma e aí tudo que se escreve, tudo que se faz agora tem um pouco dessa dor e a gente também tem as nossas dores, nossas cicatrizes, mas como sempre, com mensagens de esperança, mensagens pra que as pessoas ergam a cabeça e continuem.

TMDQA!: Bom, foi um imenso prazer falar com você. Há 20 anos atrás, vi o show de lançamento do Rebirth, em Fortaleza e será um prazer ver essa celebração acontecendo. Antes de encerrarmos, a pergunta que fazemos sempre: você, Rafael, tem mais discos que amigos?

Rafael Bittencourt: Valeu pessoal, eu que agradeço também, adoro Fortaleza! Vocês sabem que o Angra tem uma relação com Fortaleza muito forte, acho que foi a primeira cidade que o Angra foi fazer show fora de São Paulo e a gente foi muito bem recebido, fizemos muitos amigos aí, alguns que perduram até hoje.

Sobre se eu Tenho Mais Discos Que Amigos, vamos lá; se a gente considerar que é amigo mesmo, se for considerado todo mundo que eu gosto, os meus colegas, todos ao redor de mim com quem eu tenho carinho e afeição, eu tenho mais amigos do que discos, porém, se for apenas aqueles amigos que são amigos de verdade, aqueles que realmente te conhecem além da casca e da roupa de Rock Star, esses que são íntimos, esses que eu confio, esses são poucos. Aí nesse caso, eu tenho mais discos que amigos, mas graças a Deus eu tenho muitos amigos dos dois tipos, tanto dos íntimos quanto os mais distantes.

Eu posso dizer que eu sou muito feliz por ter como amigos também os discos, né? Porque os meus discos fizeram muita companhia durante a vida, especialmente na adolescência quando eles me ajudaram inclusive na minha formação.

Abraço a todos vocês aí, fiquem de boa, fiquem em paz.