Nas últimas décadas a cena do Hardcore testemunhou um movimento frequente e curioso.
Bandas que estavam acostumadas às guitarras distorcidas, baterias rápidas, baixos furiosos e vocais berrados se renderam a subgêneros do Rock como Indie, New Wave, Pós Punk, Shoegaze e mudaram completamente os seus sons.
É claro que mudanças tão bruscas assim ocasionam um montão de coisas novas nas carreiras dos grupos e muitas vezes acabam causando rupturas internas ou entre os grupos e seus fãs.
De qualquer maneira, em muitos dos casos o que temos são discos incríveis e hoje listamos 5 desses exemplos, começando por um bem recente que acabou de se apresentar no Lollapalooza Brasil.
Turnstile
Turnstile é a banda de Rock mais interessante do momento e isso se deve à mistura do seu Hardcore certeiro, repleto de quebras de ritmo geniais, com uma estética visual bastante ligada ao Indie.
Com seu mais recente disco, Glow On, a banda mostrou desde a capa até momentos onde o grupo embarca em viagens psicodélicas, que há muito do rock alternativo dos Anos 80 e 90 e de gêneros como o Shoegaze.
Mostrando que ainda tem um pé em outros estilos, em diversos momentos é possível ligar os vocais de Brendan Yates a nomes clássicos dos Anos 90, navegando por gêneros como Grunge, Funk Rock e mais.
Tudo isso bem diferente da estreia em 2015 com o álbum Nonstop Feeling, por exemplo, que era bem mais voltado a traços clássicos do Hardcore, principalmente aquele feito em cidades como Nova York.
Hundredth
A banda norte-americana foi fundada em 2008 e lançou três discos pesadíssimos entre 2010 e 2015.
Acontece que em 2017 veio RARE e tudo mudou, pois se antes tínhamos guitarras distorcidas e vocais brutais, passamos a ouvir muito mais de Post Rock e Shoegaze do que Hardcore propriamente dito.
Nesse álbum, o grupo encontrou o equilíbrio perfeito entre suas raízes e novos horizontes, perdendo a mão no lançamento seguinte, Somewhere Nowhere (2020), onde focaria todas as suas atenções apenas no Dream Pop e acabaria soando como uma cópia de Tame Impala.
Title Fight
Outro gigante do Hardcore, o Title Fight surgiu como um verdadeiro sopro de energia no gênero, já que trazia abordagens diferentes para fórmulas já usadas no passado, com melodias e vocais bem particulares.
Shed (2011) e Floral Green (2012) são verdadeiros marcos do rock alternativo no início dos Anos 2010, mas em Hyperview (2015) o grupo chegou à fórmula perfeita entre elementos da sua sonoridade, música pesada e elementos de Shoegaze, Dream Pop e Indie.
O resultado é um dos melhores discos daquele ano, que inclusive deixou saudades, já que é o último do grupo até hoje.
Ceremony
Uma das primeiras bandas a “virar a casaca” e fazer barulho com a mudança do Hardcore para o Indie nos anos 2010, o Ceremony deu o que falar com seu quarto disco de estúdio, Zoo.
Antes, é preciso um pouco de contexto: em 2010 o grupo californiano disponibilizou seu terceiro álbum, Rohnet Park, e conquistou a mídia especializada em música, furando bolhas e se tornando a “queridinha” do Hardcore até por veículos que não o cobriam.
Talvez como resultado a banda tenha visto uma brecha para ampliar o leque sonoro, e isso veio logo em 2012 com o disco que foi lançado por uma das gravadoras mais emblemáticas do rock alternativo em todos os tempos, a Matador.
O disco ainda tinha traços fortes do Hardcore, mas já marcou um período de transição que ficaria bem claro no lançamento seguinte, The L-Shaped Man, de 2015.
Aqui, nem precisava apertar o play: era só ver a capa do álbum pra saber que estávamos falando de algo mais inspirado em Joy Division do que em Black Flag, por exemplo.
Nothing
Nosso último nome da lista tem uma história um pouquinho diferente.
O Nothing em si sempre teve suas raízes ligadas ao shoegaze, mas o projeto foi fundado por Domenic “Nicky” Palermo, que foi vocalista do Horror Show.
Seu antigo grupo era amplamente ligado ao Hardcore e chegou a lançar EPs através da gravadora Deathwish, conhecida pelo cast de bandas pesadas. Além disso, mostrando que tão pesado quanto as guitarras da banda era seu estilo de vida, Nicky foi condenado a dois anos de prisão após esfaquear um homem e ficou na cadeia durante esse período.
Segundo ele, foi uma “época violenta” onde ele e seus colegas iam para os lugares e “ferravam tudo na cena Hardcore”.
Em 2014 veio o primeiro disco do Nothing, Guilty of Everything, e em 2016 o grupo nos presenteou com o ótimo Tired Of Tomorrow, um dos melhores lançamentos do gênero nos últimos anos.
A banda continua na ativa e em 2020 lançou seu quarto álbum com The Great Dismal.