Em meio a atmosfera sombria e sintetizadores intensos, Geminin ganha vida própria no EP "Tudo Que Eu Quero Está Longe"

Com intenso uso de sintetizadores e inspirações que vão da música ao anime, Geminin lança seu segundo EP "Tudo Que Eu Quero Está Longe". Ouça!

Geminin, projeto de Lucas Furtado (Scalene), lança novo EP
Foto por @youknowmyface

Transformar a solidão em música foi uma das tarefas que Geminin pegou para si durante o processo de composição de Tudo Que Eu Quero Está Longe, segundo EP de um projeto pra lá de interessante que coloca a sonoridade dos sintetizadores em uma atmosfera sombria e mística.

Assinado por Lucas Furtado, mais conhecido como baixista da banda brasiliense Scalene, o alter ego chegou despretensiosamente com o EP V – Dia do Hierofante em 2021. Desde então, vem ganhando vida própria e a chegada de Tudo Que Eu Quero Está Longe representa um passo importante para o músico, em especial com o recente anúncio de que o trio entrará em hiato ainda em 2022.

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Falando com exclusividade ao TMDQA!, Lucas explicou que todo esse processo tem funcionado como “aprendizado e experimento” com relação à independência de fazer tudo na hora que lhe for conveniente. Ele detalha:

Por enquanto, o plano para o projeto é ir lançando as coisas à medida que eu achar que tá pronto pra sair, sem muita pressa mas também sem parar de produzir. Pras 10 músicas já lançadas (2 EPs e um single), teve umas 20 que não ficaram prontas ou eu guardei pra fazer algo diferente com elas no futuro.

O músico ainda contou que o formato de EPs curtos tem sido interessante porque “abre espaço para compilar ideias que combinam juntas e partir pra próxima sem ter que necessariamente seguir nenhuma linha estética ou conceitual entre as coisas”, como foi o caso com Tudo Que Eu Quero Está Longe.

Tudo Que Eu Quero Está Longe

O recente EP, inclusive, tem apenas 4 músicas e 14 minutos de duração — menos da metade do que o EP de estreia, que teve um processo de composição bem diferente, de acordo com o próprio Lucas. Ele nos conta que V – Dia do Hierofante surgiu “de muita experimentação ao vivo, improvisos, lives e ideias soltas” que foram costuradas de alguma maneir, gerando uma estética “bem baseadas nas ferramentas usadas pra isso”, incluindo “melodias salvas nos próprios sintetizadores e timbres que aconteceram meio por acidente”.

Agora, a abordagem foi outra:

Toda a composição foi mais focada e criada já pensando num trabalho fechado. Isso trouxe uma estética mais densa, porque as coisas já estavam sendo compostas assim, eu já estava com essa sonoridade na cabeça. Além disso, a experiência de ter produzido o primeiro trabalho totalmente sozinho do início ao fim fez com que eu aprendesse muita coisa que eu apliquei melhor no EP novo, deixando tudo mais fechadinho e com essa cara mais ‘dark’.

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Para produzir um material assim, no entanto, não basta se auto-referenciar. E Geminin é um ávido consumidor de arte, seja ela a música ou em qualquer outro formato, mas em especial com filmes e livros, como ele mesmo descreve:

Filmes e livros são grande parte das minhas inspirações, não só pro Geminin mas pra qualquer coisa que eu coloque minhas mãos pra criar artisticamente. Entre as obras que me trouxeram inspiração pra esse projeto especificamente eu posso citar os animes ‘Attack on Titan’, ‘Devilman Crybaby’ e ‘Cowboy Bebop’, os filmes ’13º Andar’ e ‘Alien’ e o livro ‘Crônica do Pássaro de Corda’ do Haruki Murakami.

A faixa “Saudade”, por exemplo, foi escrita justamente após um episódio de Attack on Titan que gerou em Lucas “uma saudade de estar com uma pessoa específica durante uma cena”, fazendo com que a música fosse pensada “quase que como uma trilha sonora alternativa para aquela cena e para aquele momento”.

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Geminin

A pequena mas já significativa trajetória do Geminin é, na verdade, um reflexo da conexão de Lucas com a música para além do que sempre entregou ao vivo e no estúdio com o Scalene.

Se na banda ele por vezes se expressa através de letras, seja em composições como letrista principal ou assinando embaixo dos versos e estrofes dos companheiros de banda, os EPs mostram que o músico brasiliense também enxerga uma possibilidade — e talvez até uma necessidade — de externar seus sentimentos através da música instrumental, algo que nem sempre é visto como possível por muitos.

Para ele, no entanto, essa sensação sempre esteve presente:

Eu sempre amei muito música instrumental. Eu acho que esse tipo de som é extremamente poderoso justamente porque você pode ‘projetar’ nele o que você quiser. Não precisa existir uma mensagem que tá sendo passada pra você por uma letra. O que você sente ao ouvir é a mensagem, e pode ser o que você quiser que seja.

Ele complementa explicando também a enorme gama de possibilidades de interpretação que a música instrumental fornece:

Quando eu escuto as músicas do Geminin eu sei o que eu tava pensando e sentindo quando criei aquilo e foi esse sentimento que eu quis transparecer, o que tava dentro DE MIM. Mas é maravilhoso ver que às vezes uma música que eu fiz sobre um sentimento de raiva, por exemplo, é interpretado como uma parada pacífica ou romântica pra outra pessoa.

O que eu acho bonito na música instrumental é justamente isso: o ouvinte vai ser tocado por sensações sonoras que vão despertar a mensagem da música dentro dele e o que essa mensagem vai significar é algo totalmente único pra cada pessoa que ouvir. Se tocar alguém de alguma forma profunda o suficiente pra ela associar o som a algum sentimento, lembrança ou emoção e acessar isso sempre que escutar, acho que a mensagem acaba sendo extremamente clara.

A boa notícia é que esse é só o começo pra Geminin — ou o começo do fim, talvez, já que a grande graça do projeto é justamente a liberdade e imprevisibilidade que oferece tanto a quem o produz quanto a quem o ouve, nos forçando a estarmos sempre prontos para qualquer coisa e nada ao mesmo tempo.

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Mas, deixando de lado as divagações, Geminin definitivamente está nos planos de Lucas e a ideia é até mesmo encontrar uma forma de fazê-lo funcionar ao vivo, de uma forma que traga a ideia de improviso e experimentação usada no primeiro EP; ou seja, não espere um “setlist bonitinho”, mas sim uma ideia de “cada show ter uma pegada, cada apresentação ser uma jam diferente, que vai pra lados diferentes toda vez”.

Por enquanto, você pode embarcar na viagem de Tudo Que Eu Quero Está Longe em todas as plataformas de streaming ou logo abaixo.