A equipe do TMDQA! acompanhou o primeiro show do rapper Coruja BC1 para divulgar seu aclamado mais recente álbum, Brasil Futurista, em apresentação no SESC Santo Amaro.
Brasil Futurista foi um dos melhores álbuns de 2021 para praticamente todo mundo, inclusive para este portal. Tivemos a oportunidade de conversar com Coruja BC1, autor do disco, e acompanhar o primeiro show oficial da turnê do álbum.
“É uma estética musical mais madura para o Coruja. Não dá para brincar mais, a gente está rodando por grandes festivais, e hoje eu entendo a estética que eu quero levar para esses palcos,” disse o MC ao falar sobre o novo show.
Show de Coruja BC1 no SESC Santo Amaro
O primeiro show, antes dos festivais, ocorreu na última sexta-feira, 25 de março, no SESC Santo Amaro. Aos que chegassem cedo o SESC, como sempre, dispunha de atividades diversas para passar o tempo, seja só sentar e comer algo na cantina, praticar alguma atividade física no ginásio, passear pela biblioteca ou acompanhar o show do grupo Batuque Negro que acontecia no saguão.
O show de Coruja foi no teatro, onde o artista estava acompanhado de sua competentíssima banda, formada pelo guitarrista Melvin Santhana, a baixista Beatriz Lima e Thiago Sonho na bateria e percussão
Por fim, na direção, percussão, bateria, teclado e o que mais fosse necessário estava Theo Zagrae, que além de multi-instrumentista no show foi o produtor de todo o álbum: “era pra ser um disco de samba-rock, e algumas músicas como ‘Brasil Futurista’ e ‘Lobo-Guará’ estão nesse tempo do samba-rock.”
Eu falei ‘Théo, vamos fazer com banda, 10 músicas nesse naipe’ e ele disse ‘mano, vai ser uns 100 pau (o disco custaria cerca de 100 mil reais) e eu disse que não tenho isso, então ele deu a ideia de mesclar, trazer o eletrônico, ele disse também que eu não podia perder meus elementos do rock, do jazz, do funk, tem que ter isso no seu disco, trazendo para o Brasil’
E aí fizemos o disco, fomos mudando a estética, e foi bacana que nós encontramos uma sonoridade nossa.
Ainda num momento de pandemia, o SESC solicitava que o público ficasse em suas cadeiras, o que durou uma música. Então, após Coruja cumprimentar a todos e seguir com o show, um a um, praticamente todos se levantaram. A energia, que era verdadeiramente uma troca entre banda e público, puxava aos poucos alguns que sentavam mais atrás para a frente, onde o cantor verdadeiramente interagia com olhares, aproximações e às vezes apontando os dedos. A presença de palco de Coruja era contagiante, e no meio da apresentação até o pedestal do microfone foi tirado do meio do palco para dar ao MC liberdade de movimentação.
Sempre sendo reconhecido como um grande rimador, para entregar a sonoridade desejada para “Brasil Futurista” o MC teve que cantar muito mais do que fizera nos álbuns anteriores. “O cara do rap que faz essa migração geralmente já canta, e eu não sou cantor, eu entendo onde está meu limite vocal”, pondera Coruja. “Eu sou partideiro, versador, eu venho dessa cultura antes de fazer rap, porque a minha família já veio desse bagulho. (…) afinado todo mundo pode cantar. É muito estudo e coragem, pra sair da minha zona de conforto, mas eu quero sair de uma forma honesta, não vou sair metendo a Whitney Houston, sei que não vou chegar nisso”.
Este estudo não parou no álbum, pois nos shows Coruja usa muito sua voz para se aproximar do que faz em canções marcantes do disco, como “O Piano” ou “Bolhas”. As inflexões vocais são usadas de acordo com o álbum, e sem desafinar nos momentos em que tem que passar um tempo maior cantando, o artista entrega performances à altura do álbum.
Em alguns momentos se pedia um canto nato, e Jota.pe foi o convidado da noite para suprir isso. No meio do show, o artista que assim como o anfitrião vem de Osasco, foi uma doce voz de apoio em uma das faixas favoritas do público, “Éramos Tipo Funk”, e seguiu ao lado de Coruja por mais duas canções.
Com um talento absurdo, ele também cantou músicas próprias em uma pausa no formato voz e violão para o público que havia pulado com algumas das faixas mais agitadas da carreira de Gustavo.
Quem esperava apenas um show com faixas do “Brasil Futurista” se enganou redondamente. Ao longo do show foram incorporadas diversas faixas de seus álbuns antigos, incluídos algumas das favoritas dos fãs, como “Gu$tavos” (que conta com participação de Djonga) e “NDDN”, mas não como o ouvinte está acostumado: “o momento do show é (para) proporcionar uma experiência além do disco. Também tem os clássicos, mas com outra roupagem”.
Essa nova roupagem casou bem com o evento, onde a banda estava envolvida até nos primeiros sons do MC, levando um calor para o público mais antigo sem deixar de apresentar uma experiência nova. Alguns blocos, como a sequência de músicas mais agressivas de rap, tiveram um up com o baixo ecoando na cabeça de cada ouvinte e as baterias dando novos ares sem desrespeitar a obra antiga.
Agenda e Shows Futuros
“Um cara do hip-hop, mas um cara do hip-hop brasileiro” é como Coruja se descreve quando fala sobre os shows planejados. O MC já está agendado para festivais de música para além do rap, como o MITA Festival, em maio, e o João Rock, em junho. Mas não para aqui, pois Gustavo levará o Brasil Futurista para fora do país: “eu não quero chegar nos Estados Unidos e ser mais um Travis. Eu quero ser o Coruja, que os caras falem “pô, isso aí é brasileiro, isso tem um swing, um groove, um bagulho que a gente não tem aqui”, planeja o artista.
Eu estava com saudade demais de fazer show de rap, de abraçar as pessoas (…) eu estou me sentindo grato, não consigo encontrar outra palavra, eu tô conseguindo fazer o que eu amo, a gente quase morreu, eu peguei COVID duas vezes. Eu não consigo encontrar outro sentimento além de gratidão. Nós estamos vivos e felizes.
E todo esse sentimento foi colocado em aproximadamente 1h45 de um excelente show, do início ao fim, que só iniciou uma turnê onde pode-se esperar ótimas experiências.