“Sempre sentimos que tínhamos algo a provar”: Isaac Hanson fala do próximo álbum da banda e turnê no Brasil

Em entrevista exclusiva ao TMDQA!, Isaac Hanson fala sobre o próximo álbum do grupo Pop e relembra suas melhores memórias do Brasil. Confira!

Hanson
Foto por Jonathan Weiner

Por Nathália Pandeló Corrêa

Talvez a longevidade da banda Hanson surpreenda algumas pessoas — mas só aquelas que nunca prestaram atenção no talento e profissionalismo dos irmãos Taylor, Zachary e Isaac desde muito cedo. Há 30 anos, o trio de Tulsa circula o mundo com hits como “MMMBop”, “Save Me” e “I Will Come To You” — e, considerando que o mais velho deles tem hoje 41, é uma vida inteira lançando álbuns desde a estreia, Boomerang.

A trajetória longa fez a banda se reinventar em alguns momentos chave. Uma versão mais madura dos meninos já surgia em This Time Around, de 2000, com uma veia mais pop e sem deixar de lado as origens do trio de guitarra, bateria e piano. Com Shout It Out, 10 anos depois, fizeram uma nova guinada, com arranjos mais potentes, mais groovados. String Theory, de 2018, levou o grupo a recriar sucessos com orquestras pelo mundo todo. Against the World, lançado no ano passado, foi uma prova do potencial rock e pop de Hanson, agraciado com a participação de Rick Nielsen, do Cheap Trick, na irresistível “Don’t Ever Change”.

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Agora, os Hanson embarcam no projeto mais ousado da banda nos últimos anos. Red Green Blue será um disco com três EPs — cada um deles liderado por Taylor, Ike e Zac, respectivamente. O revezamento no protagonismo das faixas sempre existiu, mas agora ganhará maior destaque com a personalidade e a assinatura de cada integrante, bancando todas as decisões criativas de suas faixas.

O resultado já começou a ser revelado: “Child At Heart”, de Taylor, “Write You A Song”, de Isaac, e “Don’t Let Me Down”, parceria de Zac com Zach Myers, da banda Shinedown, estão disponíveis para streaming. Juntamente desse anúncio, Hanson revelou uma turnê mundial que passará por sete cidades brasileiras em outubro: Porto Alegre, Curitiba, Ribeirão Preto, São Paulo, Uberlândia, Brasília e Rio de Janeiro.

Aproveitamos a oportunidade para conversar com Isaac, por Zoom, sobre trabalhar em família, tomar caipirinhas no Brasil e os desafios de um projeto com o peso das três décadas da banda. Confira abaixo!

TMDQA! Entrevista Hanson

TMDQA!: Oi Isaac! Quero falar sobre o que vocês têm planejado, claro, o disco, a turnê e tudo mais. Mas estava pensando em como a força do Hanson está na união de vocês, em como as vozes harmonizam, a soma de todas as partes, por assim dizer. E nesse projeto novo, vocês vão mostrar suas forças individuais e personalidades, que é algo que sempre transpareceu na música de toda forma, só que agora vai ser com mais protagonismo, imagino. Pra mim, parece até que vocês estão lançando música como artistas solo, de certo modo. Pra vocês também tem essa cara de recomeço, de uma nova página? E se sim, isso não dá um frio na barriga?

Isaac Hanson: Primeiro, não poderia estar mais orgulhoso do que fizemos nesse álbum. Crescemos muito como indivíduos e como uma banda ao longo desse disco. Foi um processo muito interessante e era algo que eu estava empolgado para fazer, mas também acho que não nos dávamos conta do quanto precisávamos fazer. Porque acho que o valor desse disco não vai ser sentido totalmente, ou totalmente entendido, por pelo menos cinco anos. Estamos no início de entender como esse álbum vai nos ajudar a crescer e nos tornar. E nesse sentido, acho que dá pra sentir que é um novo começo, de certa forma. Ou um momento de redefinir a carreira.

O que é interessante sobre esse disco é que ele é basicamente três projetos solo em um álbum, ou então um álbum de projetos solo. Mas ao invés de acabar com a banda para fazer algo solo, só dissemos “ei, aqui está o lance: não vou produzir com você, não vou compor com você. Não vou sequer te dizer o que acho sobre o que você está fazendo. Vou só chegar e perguntar: ‘o que quer eu eu toque?’. E vamos começar aí. Vou te dar minhas ideias, mas no fim das contas, eu não tenho voto. Posso te dizer minha opinião, mas no final você pode dizer ‘não era o que eu estava pensando. Obrigado, mas vamos fazer essa outra coisa aqui'”. E há algo muito significativo e poderoso em dar um ao outro esse tipo de confiança e sinceridade. Porque estamos fazendo isso juntos há 30 anos. Isso é muito tempo! É duas vezes o tempo que eu estou casado. São três quartos da minha vida. Para o Zac é até mais, é basicamente a vida dele toda (risos). Então fomos pessoas muito diferentes ao longo do caminho. Começamos a fazer isso muito jovens. Evoluímos muito. De certo modo, fomos duas ou três bandas diferentes com o passar do tempo.

Acho que sentimos que, com 30 anos, esse é o momento de fazer algo completamente diferente do que já fizemos. Parecia apropriado que eram 30 anos e um projeto de três partes. Tudo fazia sentido. Dissemos “ok, agora é a hora, vamos fazer isso”. E nos jogarmos nisso foi muito empolgante. Aprendemos muito sobre nós mesmos como indivíduos e sobre a banda, também.

TMDQA!: Aposto que sim. Na verdade, você já antecipou algumas coisas que eu queria te perguntar. Mas queria dizer que sei que vocês se alternando em um lugar de destaque na banda não é novo e que “More Than Anything” é provavelmente a música mais subvalorizada do Hanson. E isso mostra há quanto tempo vocês fazem isso.

Isaac: Espera, qual? “More Than Anything”?

TMDQA!: Isso!

Isaac: Nossa, e essa é de um disco ao vivo [Live From Albertane].

TMDQA!: Pois é! Mas quero falar sobre Against the World, na verdade, porque é bem recente. E o disco, bem como a própria faixa-título, me parece um recado. “Sempre fomos nós contra o mundo”, apesar de tudo que passaram, de tudo que disseram sobre vocês. Como você mesmo disse, lá se vão 30 anos. Então queria saber primeiro se você achou que ia durar tanto! E o que os mantém motivados hoje. Porque sei que vocês são família, antes de tudo, mas trabalhar com familiares pode ser tanto uma bênção quanto uma maldição (risos).

Isaac: Com certeza, ter uma banda em família pode ser uma bênção ou uma maldição (risos). Mais uma bênção, mas pode criar desafios com limites. Essa é uma das maiores dificuldades. Quando a banda desliga e o irmão começa? Quando um jantar em família vira uma reunião de trabalho? E a vantagem é termos começado tão jovens. Não teríamos começado tão cedo se não morássemos na mesma casa, cantando músicas, e tínhamos pais empolgados que toparam nos ajudar a correr atrás de um sonho. E quando você olha pra trás, foi bem louco! Eu penso que o meu filho mais velho tem a mesma idade que eu tinha quando estávamos gravando Middle of Nowhere, então eu penso “espera aí! Ele tem… uau! Ok, entendi!” (risos).

Você entendeu perfeitamente a letra de “Against the World”, na minha opinião. Essa música era sobre nós e nossos fãs, apoiadores, pessoas que estiveram conosco esse tempo todo. Sempre nos sentimos como os azarões, um pouco incompreendidos, desde o início, mesmo quando chegamos no máximo de popularidade que já tivemos, vendendo milhões de discos, quando milhares de pessoas apareciam num estacionamento em algum lugar só pra ver a gente tocando umas músicas acústicas. Nos sentimos apoiados, o amor do nosso público. Sempre reconhecemos isso e colocamos em primeiro lugar.

Mas também sentimos, ao longo do caminho, que tínhamos algo para provar para todo mundo. Primeiramente, que iríamos durar. Que não era “fogo no rabo”, uma ideia de uns garotos que ia desaparecer. Essa era nossa paixão, nosso coração e alma. E você pode ouvir em músicas como “MMMBop”, “Where’s The Love” e “Weird”, “This Time Around”, “Save Me”… Acho que quando as pessoas ouvirem os singles de cada parte desse disco, as pessoas vão ouvir isso também, se estiverem prestando atenção. Porque a verdade é que a música “Child at Heart” [escrita por Taylor] tem tanto em comum com bandas como Oasis, Travis e Radiohead quanto tem em comum com “MMMBop”. A mensagem, o que a música fala, tem até mais a ver com “This Time Around”.

E tem “Write You A Song”, e é o single principal da parte verde do disco, e fala sobre se agarrar aos momentos que realmente importam e apreciar o tempo que tem com os que ama, porque passa muito rápido. A música tem um jeito de ser esse álbum de fotos no nosso coração, nas nossas memórias, que nos leva de volta pra esses lugares. E essa música é sobre isso, sobre compor uma canção para alguém que você ama. Ela pode te levar para um lugar novo e também te lembrar de onde esteve. De certa forma, lembra também “Penny and Me”. Tem muitas coisas ao longo do caminho que se conectam, continuamente, ao longo da vida, e é o que sempre tentamos escrever.

TMDQA!: Com certeza. “Write You A Song” é da sua parte do disco, certo?

Isaac: Isso. Uma música sobre a preciosidade de cada dia. Porque a verdade é que você não sabe quantos dias tem. Você tem que respirar fundo e se jogar nas horas e momentos que tem com quem ama.

TMDQA!: E “Only Love” eu sinto que é uma música muito Ike, com você assumindo os vocais. O arranjo é muito ambicioso, mas sinto que a letra é o que realmente importa. E quando você liga as notícias, é só guerra e doença, parece mais urgente que nunca. Você escreveu pensando no que estamos enfrentando, mundialmente, nos últimos anos?

Isaac: Eu diria que você sempre escreve de experiências pessoais, de alguma forma, então temos que levar isso em consideração. Ouvi alguém dizer uma vez que se você escrever uma música para todo mundo, está escrevendo para ninguém. Mas se escrever para uma pessoa, você escreve pra todos. Porque todos ouvem a música a partir de sua perspectiva, não como um grupo. Não vivemos nossa vida como grupos, e somos todos parte de muitos grupos diferentes. Dá pra filtrar por muitos ângulos – de onde você é, sua idade… Mas a verdade é que isso não importa. O que importa é o coração da pessoa, a integridade, e se estão explorando a melhor versão de si mesmos, se estão oferecendo aos outros a mesma empatia, amor e respeito que esperam receber do próximo. Porque se sim, vamos errar, muitas vezes, mas se formos honestos, podemos encontrar um lugar de amor e consideração apesar das dificuldades. Existem muitos desafios na vida.

TMDQA!: Com certeza. Bom, pra encerrar, queria perguntar sobre a turnê, claro. Porque vocês estiveram no Brasil muitas vezes, vocês viram nosso país mudar ao longo do tempo. Então queria saber se tem algo que te deixa empolgado pra vir aqui ou se tem alguma memória que se destaca do tempo que passaram aqui.

Isaac: Eu estaria mentindo se algumas das minhas melhores memórias não envolvessem caipirinhas (risos)! E sentar numa espreguiçadeira com um charuto, algo assim! Ou até dançando um pouco de samba (risos), fala sério!

TMDQA!: Verdade?

Isaac: Sim! Quer dizer, eu não danço samba BEM.

TMDQA!: Ah, isso nem eu!

Isaac: Mas todo mundo aprecia um bom ritmo e uma oportunidade para se mexer. E o Brasil é cheio de oportunidades de fazer isso. Eu tive ótimas experiências no Brasil, muita diversão. É um país lindo e acho que uma das coisas que o fazem mais bonito é o povo, porque há muito coração, muita paixão, muita alegria, e um orgulho que é importante e muito valioso. Todos precisam saber que fazem parte de um lugar. Seja na sua família, na sua vizinhança, na sua cidade, seu país… Essas coisas são importantes. Claro que queremos trabalhar juntos para ser um mundo melhor. Mas antes precisamos começar conhecendo a nós mesmos e sendo as melhores pessoas que pudermos ser. Isso começa com uma clareza de quem você é e onde se encaixa no mundo. Os brasileiros entendem quem são, e isso é certamente algo muito valioso.

TMDQA!: Verdade. E, falando em fãs apaixonados, temos muitos por aqui.

Isaac: Com certeza!