Há algum tempo, Tim Bernardes vem se destacando como um dos grandes nomes da música nacional, seja com O Terno ou com seu projeto solo.
Se reafirmando novamente nessa posição, Tim acaba de divulgar seu mais novo single, “Nascer, Viver, Morrer”, a primeira prévia de seu novo disco Mil Coisas Invisíveis, sucessor da aclamada estreia solo Recomeçar, de 2017. Com menos de dois minutos de duração, a faixa serve como uma “espécie de abertura do disco” pois “de alguma forma apresenta uma ‘cosmovisão’ que permeia o todo” do álbum, como conta o próprio Tim em papo exclusivo com o TMDQA!.
Na conversa, o músico ainda revela que o novo trabalho será “mais longo” que o anterior e explica a ideia de se distanciar um pouco de Recomeçar, criando uma obra mais eclética:
Eu acho que, por um lado, isso é uma intenção, porque gosto que cada disco tenha uma cara própria e não queria soar muito próximo a nenhum trabalho anterior. Ao mesmo tempo, não procurei nenhuma ruptura, acho que ele tem pontos em comum também e eu vejo mais como um desenvolvimento na música, nas letras, arranjos, produção, etc… E, dessa forma, esse disco é um pouco mais eclético, cada música tem uma onda. O clima desse single não se estende pelo disco todo, vocês vão ouvir [risos]. Eu gosto de um equilíbrio, ter uma música mais contemporânea pra equilibrar outra que possa ser […] ‘vintage’; uma mais leve pra compensar uma mais densa; uma mais curta e outra mais longa; uma mais alegre e outra mais triste… É uma trama pra amarrar o disco como um todo. Pra mim, o produto é o álbum completo.
E, falando em álbum completo, é impossível ignorar o fato de que Mil Coisas Invisíveis teve boa parte de sua concepção durante o período pandêmico, tendo sido gravado entre a própria casa do músico e o Estúdio Canoa.
Apesar de sempre gravar materiais na sua residência — algo que, segundo ele, faz bastante diferença porque “você perde a noção da hora [e] às vezes se inspira do nada e pode correr pro equipamento” —, Tim Bernardes conta que, dessa vez, o processo foi um pouco diferente por todo o contexto:
Na pandemia, eu arranjei um gravador de fita mais ‘bacanão’ e experimentei muito com ele e algumas músicas do disco acabaram sendo em fita. Mas […] não busquei uma estética lo-fi no disco, produzi ele querendo tirar um som mais cristalino dos equipamentos, tanto dos analógicos quanto dos digitais. Isso aconteceu no Estúdio Canoa e também na minha casa. O mais maluco mesmo foi que durante muito tempo da gravação eu estava também quarentenando, né? Então, o isolamento foi mais intenso, o que foi um desafio em muitas fases do disco: você quer dar uma respirada, mudar de ares, tocar com gente, mas não pode. Nas fases que a pandemia melhorou, gravei com parceiros músicos e experimentei outros formatos. O processo foi muito longo, e, por consequência, foi muito híbrido também.
A primeira prévia dessa sonoridade, que já está disponível em todas as plataformas digitais e ao final desta matéria através da Coala Records, selo do Coala Fesival, é de fato um atestado a tudo que Tim conta e à sua prolífica relação com equipamentos de estúdio, já que ele próprio também assina a mixagem e masterização ao lado de Gui Jesus Toledo.
Tim Bernardes e Mil Coisas Invisíveis
A grande realidade é que, neste dia 3 de Maio, os fãs de Tim Bernardes ganharam de presente uma baita ansiedade para ouvir o restante de Mil Coisas Invisíveis, que chegará completo já no mês de Junho. A curta faixa introdutória deixa um delicioso gosto de “quero mais” e, para saciar um pouco dessa curiosidade, o músico nos deu alguns spoilers do que vem por aí.
Aos risos, ele deixa bem claro, por exemplo, que “não vai dar pra entender o disco a partir de uma música, nesse caso”, uma vez que ele é “realmente mais variado do que outros discos” de sua carreira — o que não significa que “Nascer, Viver, Morrer” não seja um belo cartão de visitas, já que traz “uma espécie de simplicidade” que é uma das várias facetas a serem exploradas no álbum. A ideia de Tim é explorar uma em cada single, como ele próprio explica:
O disco tem muitas facetas, quero ver se exploro uma em cada single, mas, no fim, cada música do trabalho tem um som e uma onda diferentes. A unidade existe, mas não está em um tipo de sonoridade fechada.
Em “Nascer, Viver, Morrer”, a missão foi “tentar preencher o espectro sonoro de um jeito meio mágico, com poucos elementos, e principalmente potencializar a canção, a letra”, além de “tentar falar muito com poucas estrofes, soar grande com pouca nota”. Esse duro objetivo, aliás, surge potencializado por vir somado a uma abordagem diferente de composição em relação a Recomeçar.
Enquanto no disco anterior o artista reaproveitou canções que estavam engavetadas, ele conta que, dessa vez, “já pensava que [as composições recentes] seriam para o próximo disco solo”. Em 2020, parcialmente por conta do contexto pandêmico, revela que começou a “olhar as canções que vinha compondo […] para entender como elas conversavam”, como ele detalha:
Então, 2020 foi o momento de juntar, polir e finalizar esse repertório, para ver a unidade que as músicas tinham. É meio que nem analisar sonho: você começa a entender um sentido inconsciente por trás do conjunto. Desses sentidos que vinham pintando e do momento que a gente vivia, surgiram mais algumas canções que entraram nesse repertório, costurando mais ainda esse sentido.
A principal diferença, segundo Tim, acabou até se desfazendo um pouco com o tempo, quase paradoxalmente. Se lá em Recomeçar e também em <atrás/além> (álbum mais recente d’O Terno lançado em 2019) a ideia era criar um disco conceitual, “que tem um tema permeando tudo, com conceitos fortes amarrando tudo”, o ponto de partida de Mil Coisas Invisíveis foi outro:
Queria que fosse simplesmente um disco de canções, para variar e para não fazer disco só de um tipo.
No fim das contas, o resultado acabou se tornando “uma mistura”, fazendo com que o novo álbum possa ser visto tanto como “um disco que junta canções separadas, quanto como um mergulho mais metafísico musical de cabo a rabo”, já que criou-se “um clima bem coeso e uma espécie de conceito implícito rondando as músicas”.
Alcance internacional e turnê pelos EUA
Como se não bastasse o enorme sucesso nacional, encantando grandes nomes da velha e nova MPB e inúmeros fãs, Tim Bernardes também tem aberto portas internacionalmente com seu talento inigualável — e isso não é algo que passa batido pelo músico, que tem seu novo material lançado globalmente pelo selo americano Psychic Hotline:
Poxa, essa parte tem me animado muito também! Com ‘Recomeçar’ e ‘<atrás/além>’, a atenção que os trabalhos receberam fora do Brasil veio crescendo de um jeito muito legal. Gente que sempre admirei veio escrever curtindo o som, BadBadNotGood, Fleet Foxes, Dirty Projectors, Devendra Banhart… Eu fico muito empolgado porque, além de ser mega fã, eu nunca pensei que fizesse parte do mesmo mundo. Então, a vontade de ter o lançamento simultâneo aqui e fora é uma vontade antiga que finalmente pode rolar com esse disco. Tenho aprendido muito sobre a profissão fora do Brasil e fico animado para ver o desdobramento do trabalho uma vez que o disco vai ser lançado.
Muito provavelmente com o disco na bagagem, Tim embarcará para uma turnê internacional no mês de Junho para abrir shows do Fleet Foxes, icônica banda com quem ele colaborou na faixa “Going-to-the-Sun Road”, parte do disco Shore (2020).
Logo abaixo, você confere todas as datas do giro, bem como ouve o novo single “Nascer, Viver, Morrer”. Mil Coisas Invisíveis tem previsão para ser lançado na íntegra em Junho de 2022.
Tim Bernardes – “Nascer, Viver, Morrer”
Turnê internacional de Tim Bernardes + Fleet Foxes
23 de junho: Seattle
27 de junho: Salt Lake City
28 de junho: Denver
29 de junho: Beaver Creek
1º de julho: Dallas
2 de julho: Houston
3 de julho: Austin
5 de julho: Phoenix
6 de julho: San Diego
8 de julho: Los Angeles
9 de julho: Santa Barbara
10 de julho: Berkeley
12 de julho: Portland
13 de julho: Vancouver
15 de julho: Seattle
16 de julho: Spokane
17 de julho: Missoula