Quem é Sylvia Robinson, a "mãe do Hip Hop" que será homenageada no Hall da Fama do Rock em 2022

Conheça Sylvia Robinson, a "mãe do Hip Hop" que será homenageada pelo Hall da Fama do Rock and Roll em 2022 e foi uma fundadora do gênero.

Sylvia Robinson

Nas últimas horas, te contamos por aqui quem são os indicados ao Hall da Fama do Rock and Roll como parte da classe de 2022. Além de nomes como Duran Duran, Eminem e Lionel Richie, chama a atenção a presença de Sylvia Robinson, que não entrará de fato no Hall mas será homenageada com o “Prêmio de Influência Precoce”.

A “mãe do Hip Hop” surgiu no final dos anos 70 para mudar o estigma do gênero, que na época era considerado um estilo musical “das ruas”, no sentido de que ele não deveria ser gravado — era para ser consumido ali, naquele momento efêmero.

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Felizmente para tantos de nós, Sylvia, com a ajuda de um trio que viria a ser conhecido como The Sugarhill Gang, formado por um pizzaiolo, um aprendiz de barbeiro e um estudante, mudou essa situação. Juntos, eles deram vida à inesquecível “Rapper’s Delight”, lançada em 1979 e amplamente considerada a primeira música mainstream de Hip Hop da história.

Sylvia Robinson e “Rapper’s Delight”

Michael “Wonder Mike” Wright“Big Bank Hank” Jackson Guy “Master Gee” O’Brien foram encontrados de maneiras bastante peculiares — e até hoje incertas — por Sylvia para realizar seu plano de formar o primeiro grupo de Rap do mundo.

Segundo a maior parte dos relatos, Joey Robinson Jr., filho da produtora, foi quem descobriu inicialmente “Big Bank Hank” ao ouvi-lo fazer Rap na pizzaria onde trabalhava. O “teste” para o grupo foi ali mesmo, assim como o de “Master Gee” ocorreu dentro do próprio carro de Robinson.

Com mais de 17 minutos em sua versão original, a canção foi gravada em um único take e conta com uma banda de apoio que certamente merece reconhecimento, afinal todo o instrumental baseado em “Good Times”, do Chic, foi gravado de forma mecânica.

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Eventualmente, a música foi moldada para que pudesse ser executada em rádios e afins e chegou a um formato mais acessível, que é o mais conhecido pelo público em geral.

O sucesso foi instantâneo: boates e programas por todo os EUA começaram a tocar “Rapper’s Delight” e dali — mais especificamente da linha “Hip-hop, hippie to the hippie, to the hip-hip-hop” — surgia o que viria a ser o movimento conhecido como Hip Hop.

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Carreira Solo e Polêmicas

É claro que o Hip Hop já existia antes do lançamento de “Rapper’s Delight”. O que a música fez foi, basicamente, popularizar um estilo que antes se via refém de sua própria comunidade e acabava sendo constantemente marginalizado, como se fosse uma brincadeira e não um gênero musical propriamente dito.

Por isso, Sylvia teve de lidar com muitas críticas e acusações. Parte da letra, por exemplo, teria sido escrita por Grandmaster Caz em um livreto e foi descartada até ser utilizada na música. Além disso, o próprio Nile Rodgers (Chic) ouviu a música em uma festa e ficou extremamente irritado ao reconhecer a linha de baixo de “Good Times”, já que a banda não havia recebido créditos por isso.

Mas Sylvia Robinson sempre esteve acostumada a lidar com polêmicas. Bem antes de lançar “Rapper’s Delight”, ela aprendeu a tocar guitarra para compor suas próprias músicas e, depois de alguns anos com uma carreira relativamente bem-sucedida baseada em parcerias, estourou de vez com “Pillow Talk”.

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A sensualidade de Sylvia foi algo de difícil digestão para o público da época. A própria “Pillow Talk” foi inicialmente oferecida para Al Green, que recusou a gravação por achar que era uma canção “vulgar” demais — agora imagine o quão difícil foi para uma mulher convencer uma gravadora a aceitar a faixa em 1973.

Ao falar sobre a música (em entrevista à Dazed), Sylvia cravou:

Eu só queria dizer as coisas que as mulheres queriam dizer mas tinham medo. Eu cantava sobre pensamentos sexy e fantasias.

Assim, enquanto algumas portas se fecharam, inúmeras outras se abriram para uma mulher que aprendeu desde cedo a não depender de mais ninguém para fazer suas próprias músicas. É claro que esse foi o embrião para que surgisse a Sugar Hill Records, que por sua vez deu vida a toda a cena Hip Hop.

Grandmaster Flash

Pioneira em “Rapper’s Delight”, ela expandiu ainda mais seu vanguardismo ao corrigir o que muitos consideravam o maior erro da Sugarhill Gang: dar maior palco aos rappers do que aos DJs, considerados os grandes responsáveis pela cena na época.

Foi com a ajuda de Grandmaster Flash que ela consertou isso, colocando uma verdadeira lenda urbana em evidência para o mundo todo, mas é claro que isso também não veio sem polêmicas. A própria produtora falou sobre Flash, ainda na mesma entrevista com a Dazed:

Meu primo trouxe esse grupo até mim e eles eram chamados Grandmaster Flash and the Furious Five e eu pensei, uau, que nome fantástico. Então todos os discos saíram com esse nome, mas o Flash na verdade não tinha voz em nada, e eu digo nada mesmo, que eu gravava. Ele era um ótimo DJ mas era só isso, sabe.

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De toda forma, foi com a inesquecível “The Message” que teve início a politização do Rap, algo que hoje é quase uma obviedade dentro do gênero.

Com trechos como “Não me provoque, porque eu estou perto de explodir / Eu estou tentando não perder minha cabeça / É como uma selva de vez em quando / Fico pensando como eu consigo não ir pra baixo da terra”, a canção liderada por Melle Mel Ed “Duke Bootee” Fletcher deu o tom para o discurso de nomes atuais como Kendrick LamarChildish Gambino e tantos outros.

Legado

Da ambição de Sylvia veio a Sugar Hill, e por conta da ambição de Sylvia a Sugar Hill se viu em problemas. Eventualmente, as tentativas de obter créditos e participações em situações onde não se aplicavam, ainda que compreensível devido ao histórico apagamento que as mulheres sofriam à época, não colaborou para os negócios.

Tal apagamento, aliás, é citado por Robinson quando ela fala de Ike & Tina Turner. Ela jura ter sido responsável por produções da dupla, e garante que gravou as guitarras de “It’s Gonna Work Out Fine”, nomeada ao Grammy. Ela fala, inclusive, que ensinou a canção a Tina — mas o crédito da produção foi para Juggy Murray, dono da Sue Records.

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Certamente também não colaboraram as acusações de sonegação e outras práticas questionáveis que foram se acumulando com os anos, mas nada disso jamais apagará o legado musical deixado por Sylvia antes de seu falecimento em 2011, aos 76 anos de idade.

Agora, 11 anos depois, só nos resta agradecer pelo que ela nos trouxe e celebrar essa trajetória incrível.

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