Margaret Atwood, autora de The Handmaid’s Tale, compara criminalização do aborto à escravidão

Autora de The Handmaid's Tale, a escritora Margaret Atwood tem um trecho de livre em que compara a criminalização do aborto à escravidão. Veja.

The Handmaid's Tale, de Margaret Atwood

A autora Margaret Atwood se tornou um grande símbolo para mulheres em todo o planeta graças ao seu trabalho em The Handmaid’s Tale, que se tornou uma das séries mais aclamadas e necessárias do planeta nos últimos anos.

Com o assunto da legalização do aborto em alta internacionalmente por conta de uma possível decisão contrária a isto dos EUA, um trecho do livro Burning Questions, escrito por Atwood, foi transcrito recentemente pelo The Guardian por sua capacidade de conversar diretamente com o tema atual, comparando inclusive a criminalização do aborto à escravidão.

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Você pode ler uma tradução parcial desse trecho logo abaixo e, clicando aqui, acessa a transcrição completa.

Margaret Atwood (The Handmaid’s Tale) falando sobre aborto

Ninguém gosta de aborto, mesmo quando ele é seguro e legal. Não é o que qualquer mulher escolheria para se divertir numa noite de sábado. Mas ninguém gosta também que mulheres sangrem até morrer no chão do banheiro por conta de abortos ilegais. O que fazer?

Talvez uma forma diferente de abordar essa questão seria perguntar: Em que tipo de país você quer viver? Um no qual todo indivíduo é livre para tomar decisões que dizem respeito ao seu ou sua saúde e corpo, ou um em que metade da população é livre e a outra metade é escravizada?

Mulheres que não podem tomar suas próprias decisões sobre quererem ou não ter filhos são escravizadas porque o estado se diz dono de seus corpos e do direito de ditar o uso que estes corpos devem ter. A única circunstância similar para os homens é o alistamento militar. Em ambos os casos há risco à vida do indivíduo, mas um alistamento militar pelo menos provê comida, roupa e moradia. Até criminosos em prisões têm direito a essas coisas. Se o estado está obrigando [as mulheres] a terem filhos, por que ele não deve pagar por cuidados pré-natais, pelo nascimento em si, por cuidados pós-natais, e — para bebês que não forem vendidos para famílias mais ricas — pelo custo de criar esse filho?

E se o estado gosta tanto de bebês, por que não honrar as mulheres que têm mais filhos respeitando-as e tirando-as da pobreza? Se as mulheres estão provendo um serviço necessário ao estado — ainda que contra suas vontades — certamente elas deveriam ser pagas por seu trabalho. Se o objetivo é ter mais bebês, tenho certeza que muitas mulheres iriam concordar se recompensadas apropriadamente. Do contrário, elas estão inclinadas a seguir a lei natural: mamíferos com placentas vão abortar quando encaram escassez de recursos.

[…]

Ninguém está forçando as mulheres a abortarem. Ninguém também deveria forçá-las a parir um filho. Forcem o nascimento de crianças se quiserem mas pelo menos chamem isso pelo nome certo. É escravidão: uma decisão de ser dono de e controlar o corpo de outra pessoa, e lucrar com essa decisão.

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