Poucas bandas têm uma carreira tão intensa quanto a do Metallica. A banda já passou por altos e baixos, tragédias e alegrias, e nessa trajetória de mais de 40 anos o grupo acumula “apenas” 11 discos de estúdio — talvez um pouco a mais ou a menos, dependendo do que você considerar nessa conta.
O número pode parecer baixo (e inegavelmente é), mas mostra também a capacidade que o Metallica sempre teve de dosar sua intensidade e, com exceção dos primeiros anos de trabalho, exibe a facilidade que a banda tem em fazer seus trabalhos renderem, algo que acontece graças às inúmeras turnês realizadas pelos norte-americanos.
Pensando em tudo isso, nós montamos um ranking com todos os discos do Metallica, do pior ao melhor. Confira a seguir e conta pra gente depois: acertamos?
Lulu (2011)
11 anos se passaram desde o lançamento de Lulu, parceria do Metallica com Lou Reed, e não adianta: esse é um baita erro.
Há alguns poucos momentos em que as coisas parecem funcionar, mas Lulu não se apresenta nem como um bom disco do Metallica e nem como uma obra interessante do saudoso músico, ficando em uma espécie de limbo que também não atraiu novos públicos.
Ao final das contas, o disco é uma mistura infeliz que coloca uma das maiores bandas da história como espécie de apoio de um dos músicos mais influentes do Rock. E curiosamente a soma dessas duas forças resultou em algo negativo.
Load (1996)
Trazendo uma completa mudança sonora e estética, Load tentou, de certa forma, surfar na onda do sucesso de seu antecessor, o aclamado Black Album. No entanto, o tiro saiu pela culatra: apesar dos grandes números comerciais, fazendo com que o disco se tornasse a melhor estreia da banda, as opiniões foram extremamente divididas.
Algo que vale ser destacado sobre o trabalho é a profundidade dos temas explorados nas letras. São três músicas falando sobre a morte da mãe de James Hetfield (“Bleeding Me”, “Mama Said” e “Until It Sleeps”) e, até hoje, há bastante especulação de que “The Outlaw Torn” trata do falecimento do lendário Cliff Burton.
Ainda assim e mesmo levando em conta os singles mais populares como “King Nothing”, Load se perde em voltas que parecem não levar a muitos lugares diferentes e acaba sendo um dos pontos mais baixos da discografia da banda.
Death Magnetic (2008)
Depois do período experimental que englobou Load, Reload e St. Anger, o Metallica se viu praticamente obrigado a retornar às raízes. Os fãs se mostravam impacientes com as aventuras musicais da banda, que não eram bem recebidas pela maioria, e também com a demora para lançar material inédito.
Em 2008, então, surgiu Death Magnetic como uma resposta a tudo isso. A volta dos elementos Thrash Metal é marcante: logo de cara, “That Was Just Your Life” é uma música que facilmente caberia em outros discos da banda. Aliás, essa é a maior qualidade e ao mesmo tempo o maior defeito do álbum.
Com o exemplo mais crasso sendo “The Day That Never Comes”, Death Magnetic soa como uma versão reciclada e sem sentimentos de alguns dos melhores discos do Metallica, como se cada uma das músicas do trabalho tivesse saído de uma demo abandonada no passado. Ainda assim, tem bons momentos como “The End of the Line” e “All Nightmare Long”.
St. Anger (2003)
Ah, o polêmico St. Anger! Sem dúvidas, o álbum mais injustiçado da carreira do Metallica — o que também não significa que seja um grande trabalho, é claro, mas a chuva de críticas que o disco de 2003 recebeu fugiu totalmente das proporções que deveria.
Sim, a caixa de Lars Ulrich é horrível por aqui. Sim, faz falta não ter os solos de guitarra de Kirk Hammett. Sim, a tentativa de surfar na onda do som do momento não deu tão certo. Mas, levando tudo isso em conta, St. Anger ainda tem algumas composições bastante interessantes e que refletem muito bem o estado do Metallica na época.
Se nos trabalhos anteriores (e no sucessor Death Magnetic) a sensação era de que faltava verdade, St. Anger vai completamente na direção contrária e exibe o grupo em sua forma mais vulnerável e direta. Os conflitos internos tomavam conta do estúdio e isso está completamente refletido em faixas como “Frantic”, “Some Kind of Monster” e “The Unnamed Feeling”. É um álbum que merece outra chance de coração aberto!
Reload (1997)
Controverso, Reload é um daqueles discos que normalmente causam reações de amor e ódio, mas é inegável que ele carregue algumas verdadeiras pérolas da banda. “The Memory Remains”, “The Unforgiven II” e “Fuel” foram lançadas como os primeiros singles do álbum e todas elas trazem o Metallica misturando traços clássicos com novidades que tiraram a banda da zona de conforto, como o Southern Rock.
Comercialmente, o disco que tem participação da gigante Marianne Faithfull chegou ao topo da Billboard ao vender quase meio milhão de cópias na primeira semana, e já alcançou disco triplo de platina nos EUA pela venda de 3 milhões de cópias.
Como curiosidade, a arte da sua capa foi desenvolvida por Andres Serrano, polêmico artista visual que resolveu usar sangue bovino e sua própria urina para criá-la. Foi ele também quem criou a capa de “Load”, dessa vez usando sangue bovino e seu próprio sêmen (!).
Hardwired… to Self-Destruct (2016)
Como falamos acima, o retorno do Metallica ao Thrash Metal com Death Magnetic lá em 2008 não foi tão bem recebido assim. Soando genérico e sem paixão, o grupo parecia finalmente ter perdido sua grande forma e muitos fãs já perdiam a esperança de um novo trabalho que impactasse a vida de tanta gente como foram os da década de 80.
Dizer que Hardwired… to Self-Destruct é comparável aos grandes clássicos da banda é um pecado, mas a verdade é que os 8 anos de espera depois de Death Magnetic valeram muito a pena. Com faixas como “Moth Into Flame”, “Hardwired” e “Atlas, Rise!”, os caras finalmente conseguiram reencontrar não apenas os elementos que os consagraram, como também a paixão que os levou a esse som em primeiro lugar.
Essas três faixas citadas têm tudo para se transformar em clássicos atemporais com o tempo, e o resto do álbum complementa muito bem essa perspectiva. Mais importante do que qualquer outra coisa, entretanto, Hardwired… mostra que o Metallica ainda tem muito a entregar.
Kill ‘em All (1983)
A fase de ouro é uma grande divisora para os fãs do Metallica, já que é difícil chegar em consenso sobre a ordem dos melhores trabalhos. Por aqui, é com dor no coração que deixamos Kill ‘em All como o “menos ótimo” dessa grande época, em parte pelo mesmo motivo que o torna tão interessante: a crueza das músicas.
As composições em si são enormes clássicos e não há nenhuma dúvida disso. Desde a abertura com “Hit the Lights”, passando por “The Four Horsemen”, “Whiplash” e “Seek & Destroy”, Kill ‘em All é uma pedra fundamental do Thrash Metal e, claro, da música pesada de forma geral, tendo aberto caminho para inúmeras outras bandas que viriam a explorar essa sonoridade.
No entanto, é importante destacar também que essas canções — por mais clássicas que sejam — soam bastante semelhantes aos primórdios do Metal europeu, que influenciou e muito o Metallica em seu início, antes da banda pegar tudo isso e desenvolver a sua própria identidade por cima.
Metallica/The Black Album (1991)
Divisor de águas não apenas para o Metallica mas também para toda a indústria da música, Metallica, mais conhecido como Black Album, é um dos álbuns mais importantes independente de qual categoria esteja sendo analisada. E, claro, grande parte disso é pela quebra de barreiras que levou a banda de James Hetfield e companhia ao mainstream.
Hoje, o trabalho que estreou no topo das paradas mundiais em dez países diferentes já recebeu 16 certificações de platina, tendo vendido mais de 17 milhões de cópias ao redor do mundo. “Enter Sandman” se tornou um hit inacreditável, alcançando mais pessoas do que qualquer um jamais imaginaria, e outras canções como “Sad but True” e “Nothing Else Matters” seguiram caminhos parecidos.
Aqui, o Metallica teve seu auge, ao menos no sentido de encontrar um som que vendesse e ao mesmo tempo agradasse a sua base de fãs. Ainda que dificilmente seja considerado o melhor trabalho do grupo, foi o Black Album que permitiu que muita gente encontrasse o restante dos discos, marcando ainda mais sua importância.
…And Justice for All (1988)
Bastante conhecido por músicas como “One” e “Harvester of Sorrow”, …And Justice for All é o disco mais intrigante do Metallica. Sem Cliff Burton, que havia acabado de falecer, e relegando Jason Newsted a um papel de fundo, o trio remanescente parecia determinado a explorar complexidades musicais, talvez em uma tentativa de substituir o saudoso Cliff, que era conhecido por sua vasta gama de conhecimento musical.
O resultado é um disco com uma sonoridade progressiva, trazendo músicas longas e arrastadas mas, ao mesmo tempo, bastante agressivas. Um exemplo perfeito é a ótima “Blackened”, na qual é difícil sentir que qualquer segundo dos mais de seis minutos e meio de duração seja desperdiçado. Ao invés disso, o que temos é uma grande pancada do começo ao fim.
A ausência do baixo sempre será uma polêmica, mas é virtualmente indiscutível que AJFA possui as composições mais geniais do grupo quando se trata apenas de estrutura e técnica. E fazer isso sem deixar de lado o peso e a agressividade que vinha acompanhando toda a trajetória até então é um feito e tanto.
Ride the Lightning (1984)
Como falamos acima, o ótimo Kill ‘em All tinha como “grande” defeito o fato de não ter uma identidade tão própria. Ride the Lightning corrige isso logo nos primeiros segundos de “Fight Fire with Fire”, faixa que abre o trabalho: com a entrada de um violão e uma harmonia que desafia qualquer concepção de peso, o Metallica abre caminho para um dos riffs mais potentes de sua carreira, aos poucos cedendo também espaço para os vocais mais maduros de Hetfield.
Ao decorrer de Ride the Lightning, isso só vai ficando mais claro. Enquanto faixas como “For Whom the Bell Tolls” exploram a dinâmica do peso de formas diferentes, usando neste caso as notas agudas do baixo para contrastar com a base mais grave, outras como “Fade to Black” evidenciam a capacidade da banda de transformar a raiva em belas melodias, abraçando a dicotomia do melancólico com o agressivo.
Além de tudo isso, o grupo ainda mostra com força a influência do Metal europeu e abraça elementos épicos que se somam a isso, resultando em canções como a atemporal “Creeping Death”, um dos maiores clássicos da história do gênero. Simplesmente genial.
Master of Puppets (1986)
Tudo que foi falado acima sobre Ride the Lightning também se aplica a Master of Puppets, que é quase unanimidade quando se fala de “melhor disco do Metallica”. A grande sacada aqui, que coloca o álbum acima de seu antecessor, é a forma como o peso é trabalhado com mais groove — a velocidade ainda está presente, mas o foco passa claramente a ser aquele som que te faz bater cabeça no ritmo da música.
A faixa-título, obviamente, é o maior exemplo disso. Com quase 9 minutos de duração, se tornou um sucesso (graças, em parte, à exposição que a banda ganhou com o Black Album) e é até hoje considerada por muitos a melhor e mais importante música do Metal. Mas não é a única, vale ressaltar: “Battery”, por exemplo, também traz uma pegada parecida e pra lá de especial.
Apesar disso, talvez os momentos mais únicos de Master of Puppets estejam em outras canções. “Welcome Home (Sanitarium)”, por exemplo, parece uma evolução natural de “Fade to Black”, no sentido de que a banda foi capaz de novamente transformar sentimentos complexos em música pesada mas, dessa vez, encontrou esse mesmo caminho do groove sendo priorizado em relação a outros elementos.
Por fim, é impossível não destacar “Orion”, instrumental que exibe toda a maestria dos músicos do Metallica. E não apenas no sentido de virtuosidade, mas também (principalmente) com sua exímia habilidade de composição e de levar os ouvintes por uma viagem apenas com a junção de melodias e harmonias, sem necessitar da voz de Hetfield nesse caso.
Master of Puppets é uma verdadeira obra-prima, uma daquelas coisas que serão eternizadas na história como algo único e tão especial. O melhor disco de uma discografia recheada!
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