O recém lançado A Bit of Previous, décimo primeiro álbum da banda escocesa Belle and Sebastian estava a um dia do lançamento quando Chris Geddes and Dave McGowan (também membro da Teenage Fan Club) se sentaram em frente a seus computadores, cada um de um canto do mundo, para conversar um pouco com essa que vos escreve – que inclusive precisou segurar muito a emoção de fã para falar com eles.
O novo trabalho, primeiro do grupo desde Fold Your Hands Child, You Walk Like a Peasant (1999) gravado 100% em Glasgow, terra natal da banda, também é o primeiro lançamento após o período mais intenso da pandemia, e uma das obras mais diversas e cheias de poesia da banda. Todo o disco, com um total de 12 faixas, foi produzido por conta própria e gravado com as contribuições de Brian McNeill, Matt Wiggins, Kevin Burleigh e Shawn Everett, ressaltando mensagens de otimismo em uma época tão conturbada ao mesmo tempo em que reconhece a necessidade de se falar de temas urgentes, como autocuidado e saúde mental, medo, angústia, ameaças e, claro, amor e esperança de um mundo um porquinho melhor.
Confira o papo / entrevista com Chris e Dave abaixo e ouça o disco A Bit of Previous na sua plataforma de streaming favorita!
TMDQA! Entrevista Belle And Sebastian
Rakky: Oi gente, eu sou a Rakky, do Tenho Mais Discos Que Amigos (esse site que está no meu background!) – tempos de Zoom!
Chris: Ah, que legal. Acho que nós dois podemos nos identificar com Tenho Mais Discos Que Amigos também. (levanta do sofá da sala e mostra ao lado prateleiras cheias de discos de vinil)
(risos!)
Rakky: Eu amei isso! Minha coleção não é tão grande quanto a sua, mas nossa, nós sempre falamos no site de como música e músicos são sim parte das nossas vidas, e amigos de fato!
Só para começar, gostaria de saber a opinião de vocês sobre o novo álbum, A bit of Previous. Percebi que vocês estão falando cada vez de maneira mais próxima com um público que envelheceu com vocês, e que também precisa daquele apoio extra que esses últimos anos tão difíceis demandam. Achei as letras mais focadas em falar sobre temas importante como saúde mental, algo que tem surgido mais nas letras. Queria saber como vocês se sente sobre isso e como foi o processo de gravação do novo álbum.
Chris: Sim, eu acho, eu acho que certamente em termos do que está nas letras, o Stuart, eu tenho certeza que você provavelmente leu em outro lugar, o Stuart tem se dedicado profundamente ao estudo do budismo por vários anos. E ele, com este álbum, definitivamente fez um esforço consciente para colocar algumas das coisas que aprendeu com isso nas letras. Eu o ouvi dizer que em algumas das músicas ele meio que tenta passar conselhos para as pessoas. Ele tenta fazer isso quando está em casa com sua família, sua esposa e filhos, mas eles não necessariamente prestam nenhuma atenção ao que ele tem a dizer sobre essas coisas. Então o fato de que ele tem uma audiência através da banda e ele pode colocar seus pensamentos nas letras assim é muito importante para ele.
Rakky: E o grande dia esperado, o lançamento, é amanhã. Como vocês estão se sentindo? É o primeiro álbum que vocês gravaram em Glasgow desde “Fold your Hands”, certo?
Dave: É Ótimo. É sempre emocionante lançar um disco. É sempre uma emoção ter a chance de gravar músicas, então estou muito animado!
Chris: Sim, eu acho que dentro do Belle and Sebastian parece que as coisas de repente ficaram muito corridas em torno do lançamento do álbum. Eu acho que, por tanto tempo, quando estávamos trabalhando no disco no estúdio, nós estávamos trabalhando, mas era um ritmo bastante relaxado, e parecia que poderíamos apenas nos manter fazendo isso por um bom tempo. E aí, de repente, precisamos nos preparar para sair em turnê. E há muita atividade no Reino Unido nos dias em que o álbum está sendo lançado e de repente é como, sim, tudo está acontecendo muito rápido depois de não ter tido esse nível de atividade por um longo tempo. Então é muito emocionante.
Dave: Sim, eu acho que é uma correria que meio que se apoderou de nós um pouco também.
(todos riem)
Dave: E da melhor maneira possível.
Continua após o vídeo
Rakky: Sim, e falando desse longo tempo em que muitas coisas não estavam realmente acontecendo, é claro, todos nós sabemos que A Bit of Previous foi gravado durante a pandemia. Vocês tinham um plano anterior de começar a gravar em Los Angeles, mas claro que isso precisou ser adiado, por causa da COVID-19. Então o que eu quero saber é, gravar um álbum durante a pandemia. Isso influenciou o tom do álbum?
Dave: Acho que sim. Para mim, eu nunca consigo de fato dizer onde esse tipo de coisa tem mais influência, mas obviamente é um disco diferente do que teríamos feito em Los Angeles. Não foi uma decisão consciente fazer um disco de “lockdown” ou algo assim. Eu acho que, bem, todos aqueles lugares onde você trabalha, e os ambientes em que você vai, tudo influencia no que sai de alguma forma, mas é difícil saber exatamente como saber exatamente.
Chris: É difícil comparar o disco que você acabou fazendo com o disco que você não fez porque você nunca sabe qual seria o disco que você não fez.
Dave: Eu acho que teria sido… poderia ter sido terrível, sabe? E esse parece que saiu legal, sabe? (risos)
Continua após o vídeo
Rakky: Sim. Eu acho que há muitas coisas acontecendo no mundo agora e nossas visões de todas essas coisas impactariam a maneira como produzimos qualquer coisa. Acho que o Belle and Sebastian é uma banda que traz isso para o público, em termos de sua visão do mundo, a forma como todos se posicionam, em grandes eventos e eventos mundiais em geral. Acho lindo porque crescer e envelhecer com uma banda que te faz sentindo para você em tantas causas diferentes é muito importante.
(Percebendo que o lado fã aflorou forte aqui…)
Mas continuando com a entrevista!
Sendo uma banda que existe há mais de 25 anos, vocês provavelmente estão acostumados a ver seu público crescer e envelhecer com todos vocês. E também novas audiências chegando. Como estão as expectativas da banda sobre como os fãs antigos e novos vão receber o novo disco? E como vocês estão se preparando para voltar aos palcos?
Dave: Eu mal posso esperar para voltar ao palco. Estou muito animado para subir no palco de novo. Acho que a gente entrega um bom show. Sempre entregamos uma boa apresentação ao vivo para os fãs. Quero dizer, você sabe, eu só estou envolvido por um tempo relativamente curto, mas eu acho que, para um grupo que tem uma longa história, há definitivamente mais jovens na plateia do Belle and Sebastian do que você pode imaginar. O que é ótimo, é incrível, é ótimo saber que a gente alcance diferentes gerações assim.
Rakky: É uma experiência diferente da que você tem com o Teenage Fan Club?
Dave: Hum, não… Não, na verdade, porque eles, eles têm muitos jovens aparecendo nos shows hoje em dia também. Muitos dos fãs (do Teenage Fan Club) com quem conversei, eles não estão realmente cientes dos discos anteriores, eles apenas ouvem algo no Spotify ou qualquer outra plataforma, gostam, mas nem sempre se dão ao trabalho de mergulhar na história, sabe? Eles apenas ouvem algo e gostam, então eles vão no show para ver o que é aquela banda ao vivo. Então, e provavelmente é o mesmo para Belle and Sebastian. Sabe, você simplesmente acha uma faixa que você gosta numa playlist, vai ao show, olha para os caras no palco e pensa “Oh meu Deus, esses caras são muito velhos!” (risos)
Rakky: Eu não diria velho, eu diria experiente! (risos)
Dave: Pois é! Acho que a forma como os jovens descobrem música hoje em dia é diferente de como descobrimos música quando éramos mais jovens. Acho que talvez os jovens de hoje em dia sejam um pouco menos obsessivos do que nós quando éramos jovens sobre discos, música e coisas assim.
Chris: Eu acho que é verdade. Acho que a atual geração talvez não defina sua identidade pelo gosto musical, da mesma forma que pessoas de nossa geração ou pelo menos pessoas como nós de nossa geração talvez o fizessem. Mas isso não é necessariamente uma coisa ruim. Acho que cada geração tem sua própria cultura. A cultura da nossa geração era bastante centrada na música. E nós temos muita sorte que existem pessoas que gostam da nossa música hoje em dia.
Rakky: Falando nisso, estou vendo muitas datas de turnê na Europa, muitas datas de turnê nos EUA, mas a pergunta de 1 milhão de reais é, podemos esperar vocês no Brasil e na América Latina?
Chris: Bem, se você oferecer 1 milhão de reais, nós estaremos lá! (risos!)
Dave: Ah sim, nós vamos!
Rakky: Eu adoraria oferecer isso, mas sou apenas uma pobre jornalista! Ainda assim, as pessoas na América Latina e no Brasil podem esperar vocês em breve?
Dave: Oh nós realmente esperamos que sim. Estamos meio que analisando isso agora. Acho que não podemos dizer mais do que isso agora, mas…
Chris: Sim, definitivamente está sendo analisado, então espero que em breve a gente tenha novidades nessa frente porque nós, sim, nós estamos desesperados para voltar a tocar no Brasil de novo! Definitivamente!
Rakky: Isso é muito bom saber! E por falar em Brasil, todos vocês parecem ter um gosto musical muito específico e compartilham isso com os fãs na forma de alguns covers e até mesmo das compilações do Late Night Tales, por exemplo. Eu gostaria de saber se vocês estão ouvindo alguma banda nova ou alguma banda antiga do Brasil recentemente?
Dave: Bem, na verdade tem um cara novo, acho que ele é um artista brasileiro bastante novo chamado Sessa. Você conhece ele?
Rakky: ah sim!
Dave: Eu tenho ouvido e gostado muito do álbum dele. Você já ouviu, Chris?
Chris: Não, não, ainda não. Preciso conferir!
Dave: Sim, é um cara chamado Sessa. Acho que o LP dele se chama “Grandeza”. Isso está certo, Rakky?
Rakky: Sim, está sim!
Dave: É realmente ótimo, eu amei o disco. Tenho certeza que todo mundo no Brasil já vai conhecer, mas eu realmente achei ótimo.
Rakky: Incrível, que legal Dave! E você, Cris?
Chris: Bem, não é novo e provavelmente não seria novidade para ninguém, mas um disco que eu tenho ouvido bastante ultimamente é o primeiro autointitulado da Gal Costa, aquele de 68 ou 69.
Rakky: é incrível, é muito bonito também.
Continua após o vídeo
Chris: Eu tive que responder um questionário recentemente falando sobre os discos que mais me marcaram em diferentes épocas da minha vida. E eu pensei nesse álbum da Gal Costa. Então eu estou escutando bastante, é o disco que tenm “Baby”, que foi uma das músicas brasileiras que fizemos uma versão cover, com Sarah cantando, na primeira vez que estivemos no Brasil. Mas todas as músicas do álbum são ótimas, e esse tipo de mistura de orquestração do Rogerio Duprat e os elementos de rock psicodélico, é simplesmente incrível.
Rakky: E só para acabar, eu sei que o Chris mostrou que tem mais discos do que amigos, mas Dave, você tem mais discos do que amigos?
Dave: Claro que sim. Não posso mostrá-los agora, eles estão na outra sala, mas… sim! Definitivamente!
Rakky: Vocês querem mandar um recado para seus fãs no Brasil e para os leitores do Tenho Mais Discos Que Amigos!
Dave: Claro! O Brasil é um dos meus lugares favoritos na Terra, e um dos meus países favoritos para tocar, então mal posso esperar para voltar.
Chris: Eu estou muito animado para as pessoas no Brasil ouvirem as novas músicas e espero que vocês gostem de ouvi-las tanto quanto nós gostamos de fazê-las.
Rakky: Tenho certeza que sim! Muito obrigada pela entrevista e por tirar um tempo para conversar com a turma do TMDQA! Tenham um ótimo lançamento de álbum amanhã, pessoal e sucesso!