Não há dúvidas de que o Bring Me the Horizon tem uma trajetória bastante única. Surgindo em uma cena específica, a banda conseguiu aos poucos desabrochar para o mainstream de um jeito que diversos outros grupos da mesma época jamais sonharam.
Em grande parte, isso se dá pela adaptabilidade dos músicos, que foram absorvendo e aceitando novas influências a cada lançamento. Por isso, analisar a discografia atual do BMTH é uma experiência bem curiosa — afinal de contas, como comparar álbuns tão diferentes entre si?
Tentando levar em conta não apenas fatores objetivos mas também a própria evolução dos músicos e os resultados de cada trabalho, o TMDQA! decidiu montar um ranking com os discos lançados pelo Bring Me the Horizon até agora. Vem com a gente!
Count Your Blessings (2006)
Em seu primeiro disco, o BMTH era uma banda crua. Count Your Blessings, no entanto, virou um clássico do Deathcore porque faz muito bem o que se propõe a fazer, ainda que soe um pouco genérico e não tenha um grande diferencial com relação às outras bandas do gênero.
Algumas faixas viraram queridinhas dos fãs, mas a verdade é que a vasta maioria prefere que o álbum fique de fora do repertório ao vivo e, mais do que qualquer pessoa, os próprios membros entendem que o trabalho não tem lá uma identidade muito própria.
Suicide Season (2008)
Em seu segundo disco, o Bring Me the Horizon finalmente começou a desenvolver uma sonoridade própria. Ainda muito influenciado pela cena em que estava inserido, o grupo viu no vocalista Oli Sykes o potencial para um verdadeiro ícone e passou a explorar mais as nuances de sua voz, que aqui ainda aparece bastante crua e, apesar de sem técnica, muito honesta.
Não à toa, canções como “Chelsea Smile” e “Diamonds Aren’t Forever” viraram favoritas do público que acompanha a banda desde então, e até ganharam mais respeito em retrospecto quando se analisa o trabalho dos caras sob um olhar mais generoso. Na época, vale lembrar, a tal “cena” era vista como tosca por muita gente, o que sem dúvidas influenciou os julgamentos iniciais de Suicide Season.
amo (2019)
Em seu disco cheio mais recente, Oli Sykes e companhia deram mais uma guinada total em sua sonoridade. amo acertou em cheio ao levar o som dos caras para as massas, aproveitando a beleza e a suavidade de singles como “medicine” e “mother tongue” para introduzir um novo público ao peso de canções como “MANTRA” e “wonderful life”, além de experimentar com mais elementos eletrônicos do que nunca como na ótima “nihilist blues”.
Não há dúvidas de que amo foi uma porta de entrada gigantesca para os britânicos, mas seria injusto com o restante da discografia colocá-lo em uma posição maior. A grande realidade é que a soma do corpo de trabalho do BMTH é que torna amo tão especial, ou seja, não o disco por si só mas sim a forma como ele foi inserido no catálogo e pensado para renovar a vida da banda.
There Is a Hell Believe Me I’ve Seen It. There Is a Heaven Let’s Keep It a Secret (2010)
Em sua fase mais pesada, o BMTH teve seu primeiro auge com o incrível There Is a Hell…, que viu a banda explorando melodias e até mesmo a agressividade sob uma nova e única perspectiva. Em músicas como “Crucify Me” e até mesmo a intensa “Fuck”, o grupo encontra timbres (tanto instrumentais quanto de voz) que dão um novo ar a uma cena que estava exausta de ver bandas diferentes fazendo a mesma coisa.
Ainda que usasse alguns dos elementos comuns à época, o Bring Me mostrou aqui seu lado mais cyberpunk de um jeito que só viria a aparecer de novo em 2020, além de também ter aberto espaço para canções lentas como a emocionante e incômoda “Don’t Go”, que traz os vocais rasgados de Oli Sykes em um contexto totalmente inesperado e que evoca desconforto à mesma medida em que fascina.
That’s the Spirit (2015)
Para muitos, That’s the Spirit é onde a banda encontrou seu auge. Aqui, no entanto, pensamos no álbum como o momento em que os caras conseguiram balancear suas influências e sonoridades como nenhuma outra fazia há anos. É bem claro que há um espelhamento no Linkin Park, mas Oli e companhia conseguem criar algo único apesar disso, gerando hits radiofônicos como “Throne” e “Drown” que abraçam um lado um pouco mais Emo e menos Metal.
Para além disso, aqui a banda deixa de apenas flertar com elementos eletrônicos e os abraça com força. “Follow You” é um ótimo exemplo disso, além de “Oh No”, por vezes esquecida pelos fãs e que trouxe bem antes de amo a sonoridade tão comercial que foi criticada no álbum de 2019.
O destaque de That’s the Spirit é conseguir englobar tudo isso sem perder a identidade do BMTH, que se renova em faixas como “Doomed” e “Happy Song”. O peso segue presente, com diversos elementos que impedem a banda de se distanciar de si mesma, como acabou fazendo no trabalho seguinte seja por bem ou por mal.
POST HUMAN: SURVIVAL HORROR (2020)
Depois das experimentações de amo em 2019, veio o caos e a raiva que culminaram no surgimento de POST HUMAN: SURVIVAL HORROR. Meio disco, meio EP, não tem como não considerar o trabalho uma parte da discografia dos caras simplesmente por ele oferecer uma oportunidade de ser cravado como um resumo de tudo que foi feito até então.
Talvez a grande crítica dos últimos dois álbuns era a ausência de elementos que remetessem aos primeiros trabalhos da banda ou mesmo ao clássico Sempiternal, que os elevou de patamar (como falaremos em breve!), mas aqui tudo isso voltou com força e de ares renovados, graças às experiências com That’s the Spirit e amo.
Desde “Dear Diary,”, que remete aos primeiros discos, até o breakdown eletrônico e distópico de “Ludens”, POST HUMAN funciona como um passeio pela discografia do Bring Me the Horizon, somando cada uma das coisas que os tornou uma banda tão única e condensando tudo em faixas que têm tudo para permanecer entre as melhores do grupo por décadas.
Sempiternal (2013)
O primeiro lugar não poderia ser diferente. Com tudo que foi dito sobre POST HUMAN, nada seria possível sem Sempiternal. Um disco que abraçou todo o cenário caótico em que a banda estava inserida — a sensação de não pertencer a uma cena específica, o turbilhão de sentimentos ao qual os integrantes da banda (e majoritariamente Oli, claro) estavam submetidos tanto em suas vidas pessoais como profissionais e até mesmo as polêmicas e abusos de substâncias serviram como combustível para a explosão desse álbum.
Trazendo um estilo único de peso que conversava tanto com o mainstream quanto com o underground, Sempiternal se tornou um álbum essencial da década de 2010 por ser tão único. É o disco que fica no meio da linha divisória entre quem gosta apenas do “velho” BMTH e os que preferem o “novo” BMTH; geralmente, ambos os grupos apertam as mãos e se unem em amor pelo trabalho de 2013.
Canções como “Can You Feel My Heart”, “Shadow Moses” e “Sleepwalking” são verdadeiros marcos da última década, marcando muito provavelmente a primeira vez nos últimos anos em que uma banda tão pesada chegou a lugares tão impressionantes desde, claro, o Linkin Park. As comparações acabam por aqui e a discussão fica pra outra hora, porque agora a missão é dar um play nesse discasso e curtir essa obra de arte.