Sabe aquele ditado que fala sobre a diferença entre o veneno e o antídoto ser apenas a dose? Thor: Amor e Trovão passa exatamente por isso quando tem na sua maior virtude o tom descontraído, que destaca o Filho de Odin no panteão de heróis da Marvel, mas também vê isso ser seu maior defeito, pois tenta inserir piadas em momentos desnecessários e tira o peso das próprias decisões ao fazê-lo.
Todo fã da Marvel ainda deve colocar o joelho no chão e agradecer pela escolha de Taika Waititi para assumir os filmes solo do Deus do Trovão mas, em Thor: Amor e Trovão, o diretor se distanciou do humor sutil que o caracterizava para uma comédia mais óbvia e repetitiva, o que não foi algo muito bom.
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Engraçadinho ou sem timing?
Mesmo sendo um dos melhores diretores de comédia da atualidade, Waititi parece ter se empolgado com a liberdade criativa que lhe foi concedida após o grande sucesso que foi Thor: Ragnarok.
Em vez de apostar no seu estilo sarcástico e perspicaz, com gracejos sutis que davam um tempero especial a histórias de aventura, drama ou qualquer gênero que fosse, que o consagrou em obras como A Incrível Aventura de Rick Baker, Jojo Rabbit e Reservation Dogs, o neozelandês distribuiu piadas à beça ao longo de todo o filme.
Isso diminuiu, inclusive, o impacto que foi a própria existência da Poderosa Thor, de Natalie Portman. O retorno de Jane Foster como a nova detentora do Mjolnir não teve tanta importância como poderíamos prever. Ela teve muito mais influência na mente de Thor do que no mundo em si.
Enquanto Taika apresentava questões delicadas como a luta contra uma doença perigosa, um vilão ameaçador e sequestro de crianças, tudo perdia gravidade devido ao grande elefante cômico na sala que todos sabiam que eventualmente iria se manifestar.
Pior do que a quantidade de piadas, porém, foi o quanto algumas delas se repetiam excessivamente, como os comentários sobre a relação de Thor com Rompe-Tormentas e as orgias dos deuses. Waititi conseguiu iniciar muito bem essas gracinhas, mas não soube a hora de parar com elas.
Nem mesmo o óbvio talento de Chris Hemsworth para o gênero e a participação dos Guardiões da Galáxia foram capazes de equalizar essas questões. Além disso, o Loki de Tom Hiddleston fez falta nesse que foi o primeiro filme do Thor sem a presença do irmão.
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Thor ainda tem o “selo Marvel”
Apesar do desequilíbrio entre os subgêneros, Thor: Amor e Trovão ainda é um bom filme de ação. A jornada do herói é bem executada, as cenas de luta são muito criativas, especialmente as que envolvem Thor e Jane Foster, e as intenções do vilão e o motivo para ele existir são coerentes.
O Gorr de Christian Bale, inclusive, é um dos vilões mais interessantes dentre os filmes solo dos heróis da Marvel. A performance é muito convincente e, apesar de ser diminuído a “apenas mais uma aventura típica do herói asgardiano”, como um quadrinho secundário em meio a uma grande saga, é muito melhor do que vários outros que já vimos por aí.
É uma pena que essas qualidades sejam manchadas pelos defeitos muito aparentes. Mas há esperança para o futuro: se os primeiros filmes do Thor eram excessivamente sombrios e esse exagerou na graça, o meio-termo é o segredo.