Mesclando referências vintage com abordagem e sonoridade atuais, saudade inaugura uma nova fase criativa, oferecendo o frescor de um novo olhar para a MPB. Nas últimas semanas, o músico lançou o seu segundo álbum de estúdio, bem vindo, amanhecer.
O disco foi composto no auge da pandemia e entrega no título a vontade de sair para viver intensamente a vida lá fora. Com faixas dançantes e esperançosas, o registro abraça as contradições para criar uma musicalidade plural e versátil, que vai de Jorge Ben Jor a Tim Maia em arranjos inspirados por Lincoln Olivetti.
saudade é o projeto solo do cantor, compositor e multi instrumentista Saulo von Seehausen. Nessa nova fase, sua sonoridade deu uma guinada mais intencional para a música brasileira, incorporando arranjos de metais aos sintetizadores, as influências da MPB setentista a beats e guitarras. O que poderia soar anacrônico se torna uma transição natural nas mãos de um artista que compreende sua identidade.
As canções de bem vindo, amanhecer ousam ver a luz no fim do túnel, indo do amor próprio ao romântico, passando por dias de sol à beira-mar, pela idealização dos sonhos, por conceitos científicos que explicam a forma como lidamos com a mente e o coração. As letras são marcadas pela candura e pela sinceridade já inerentes ao projeto, agora amadurecidas pela estrada.
Celeste
A banda instrumental Celeste faz a sua estreia com o single “Lei de Benford“. O grupo nasceu da união dos músicos baianos Ivan Souza (baixo e synths), Marcus Rossini (bateria e efeitos de percussão) e Sergio Magno (guitarra e programações) e do carioca Rodrigo Barba (bateria e efeitos de percussão), integrante da já renomada Los Hermanos.
O quarteto traz influências diversas, que vão de Tom Morello a Guilherme Arantes, de Marina Lima a Neil Young, de Gal Gosta a Metallica, e intitula sua sonoridade como “PósPan”. Criando melodias fáceis à quebra de expectativas, a banda bota as baterias em evidência e cria atmosferas rítmicas e ambiências que brincam com cadências sonoras inusitadas.
O título do single, lançado via Banana Atômica, faz referência à Lei de Benford que afirma que, em conjuntos de números aleatórios, a probabilidade de o primeiro dígito desses números ser 1 é maior do que a dos dígitos seguintes. Por isso, nada melhor do que este nome para a primeira faixa do EP que está por vir, reflete Barba:
Ela [a lei] fazia parte de umas anotações que tenho de tudo que vejo quando estou perdido na internet. É uma lei da matemática do final dos anos 1800. Achei interessante. Acho que música e matemática são primas, então está tudo em casa.
Já o nome da banda, Celeste, é em referência a um jogo de plataforma canadense que teve a arte gráfica desenvolvida pelo estúdio brasileiro MiniBoss. Ivan explica que o “jogo é repleto de metáforas sobre a vida, sobre os obstáculos que precisamos passar e o quanto é importante conhecermos a nós mesmos” e, como a máxima pra o quarteto “era se divertir, [o nome] caiu como uma luva“.
Leo Middea
“Se Eu Disser Que Quero Um Beijo” é o novo single do cantor e compositor carioca Leo Middea. A faixa dá o primeiro passo em direção ao novo disco do artista, intitulado Gente.
A música recebeu um clipe que remete à celebração da vida e à volta dos beijos e encontros depois do período mais crítico da pandemia da COVID-19. Segundo Middea, a canção faz querer “correr pro abraço e voltar para um lugar de carinho, aconchego e felicidade”.
Não à toa, o compositor e a equipe focaram em movimentos que mostrassem as diferentes formas de reconexão com o mundo e com os próprios desejos e individualidades. A inspiração simbólica, já que o beijo não é explícito no clipe, vem de diversas influências cinematográficas, incluindo o surrealismo de Alejandro Jodorowsky.
Tanto no clipe — produzido por Beri, com roteiro de Bernardo Peixoto, Leo Middea e Rita Grazina — quanto na música, “Se Eu Disser Que Quero Um Beijo” traz ainda referências de outras décadas, sons e lugares, como explica o artista:
O single teve a composição em Portugal, a produção na Holanda, mas a base e a inspiração vêm do Brasil. Também há elementos eletrônicos, percussões gravadas diretamente de São Paulo pelo músico Kabé Pinheiro e coros femininos inspirados na MPB dos anos 60 e 70. É quase uma pesquisa sobre diferentes lugares que a música pode ir e uma tentativa de expor um pouco do que se passa sobre esse meu novo momento.
O novo momento descrito pelo compositor carioca iniciou na pandemia, período que se dedicou a estudar, descobrir e conhecer outros estilos, ritmos, nuances e sons que fazem parte do novo álbum. Gente vem sendo construído em parceria com o produtor musical catarinense Breno Virícimo e tem previsão de lançamento para 2023. Do início ao fim, o disco marca a celebração da vida e a chegada de novos ciclos.