Música

Rage Against The Machine: conheça a história por trás da icônica capa do disco de estreia da banda

A capa do disco homônimo registra um dos protestos mais chocantes da história e sintetiza a mensagem política que o Rage Against The Machine transmite.

Capa disco Rage Against
Capa disco Rage Against

Com o primeiro show realizado em 11 anos, o Rage Against The Machine está se apresentando para muitos jovens fãs de rock em 2022. Alguns estão até surpresos com as mensagens políticas da banda. Então vamos lembrar um pouco dos 30 anos de história do grupo?

É raro que o disco de estreia já faça com que uma banda seja considerada uma das maiores do planeta. Mais raro ainda que esse álbum seja considerado um dos mais influentes de seu tempo, mas foi o que aconteceu com o grupo californiano em 1992.

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O primeiro disco tem o mesmo nome da banda, dando a ele uma cara de manifesto: a postura, o posicionamento, a estética sonora — tudo que a banda acredita está naquelas 10 faixas e 52 minutos.

Com clássicos como “Killing In The Name”, “Bombtrack” e “Know Your Enemy”, o grupo mostrou uma musicalidade visceral e uma mistura perfeita de rock, rap e funk através dos riffs e solos inventivos de Tom Morello e a métrica dos versos de Zack de la Rocha.

A lírica, então, é um capítulo à parte; um marco na história da música de protesto, atacando temas como a desigualdade social, a escravidão moderna, a violência do estado, o racismo, o moralismo e a hipocrisia.

Para embalar todo esse conceito em um álbum, eles precisavam de uma capa à altura. E o pano de fundo foi um conflito religioso no Vietnã cheio de intervenções do governo dos Estados Unidos.

A história da capa do primeiro disco do Rage Against The Machine

Em junho de 1963, o monge vietnamita Thích Quảng Đức optou por um ato extremo na esperança de acabar com a perseguição à sua crença.

Na época, os budistas, que eram entre 70 e 90% da população do país, entendiam que o então presidente do Vietnã do Sul, Ngô Đình Diệm, favorecia os católicos. O budismo tinha status de “religião privada”, e tinha que pedir permissão para realizar suas atividades em público.

Depois de um mês de protestos e conflitos nas ruas de Saigon, os líderes budistas chamaram a imprensa para um ato que prometia ser grande. Cerca de 350 monges marcharam pelas principais avenidas da capital com cartazes em inglês, denunciando o governo.

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Quando chegaram a um cruzamento a poucas quadras do palácio presidencial, Thích Quảng Đức foi escolhido para o ato final por ser o mais velho do grupo, então com 65 anos.

Um monge colocou uma almofada no chão e o outro trouxe um galão de gasolina. Então Thích se acomodou na posição de lótus enquanto o combustível era despejado em seu corpo, e depois ele mesmo acendeu o fósforo.

As últimas palavras documentadas do monge foram as seguintes:

Antes de fechar meus olhos e me dirigir à visão de Buda, eu peço respeitosamente para que o presidente Ngô Đình Diệm tenha compaixão com o povo e melhore a igualdade religiosa para manter a força da nação eternamente. Eu peço para que os veneráveis, reverendos, membros da sangha e os budistas se organizem de forma solidária para fazer sacrifícios como forma de proteger o budismo.

As fotos do protesto chocaram o mundo, ao ponto do presidente do Vietnã do Sul anunciar, no mesmo dia, que estava “consternado” e iria retomar as negociações com os budistas. O então mandatário dos Estados Unidos, John Kennedy, retirou o apoio que dava a Ngô Đình Diệm.

Pouco tempo depois, em novembro de 1963, houve um golpe militar no país e o presidente foi assassinado. Em 1975, o Vietnã do Norte conquistou Saigon e, no ano seguinte, começou o processo de unificação da República Socialista do Vietnã.

A foto mais representativa desse ato extremo é justamente a que estampa a capa do Rage Against The Machine. Ela foi tirada por Malcolm Browne, que era correspondente da Associated Press, e foi eleita a Melhor do Ano no renomado prêmio World Press Photo.

Mais recados no encarte do disco

Outras curiosidades com relação ao disco estão no encarte. Em uma sessão chamada “Obrigado pela inspiração”, a banda cita o ativista do IRA Bobby Sands, que morreu fazendo greve de fome, e o fundador dos Panteras Negras Huey Newton, além do músico Ian MacKaye, do Minor Threat e Fugazi.

Em notas pequenas na contracapa, o RATM se mostrou orgulhoso do som orgânico que fez e escreveu:

Nenhum sample, teclado ou sintetizador foi usado ​​na produção deste disco.

Vale lembrar que o álbum recebeu o famoso selo “Parental Advisory”, criado por um grupo conservador para classificar produtos e obras de arte que consideravam inadequados para menores de idade sem supervisão dos pais.

O adesivo estampado na capa, na verdade, funcionava como uma propaganda para os jovens e roqueiros que queriam consumir músicas transgressoras. O disco recebeu três certificados de platina nos Estados Unidos e três no Reino Unido, vendendo mais de 5 milhões de unidades no total.

Ouça abaixo esse registro seminal para a história do rock!

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