Música

Pink Floyd: 10 músicas que todo “fã” que não gosta de política precisa ouvir de novo

Em meio à volta das polêmicas por conta do posicionamento político de Roger Waters, relembre 10 músicas do Pink Floyd que abordam o tema.

Pink Floyd em 2005
Reprodução/YouTube

Nos últimos dias, o Pink Floyd voltou a ser um dos assuntos mais comentados das redes sociais.

Não se trata (infelizmente!) de uma reunião do grupo ou de um novo lançamento, mas sim de uma nova turnê de Roger Waters tendo início e, como já é de costume, diversos “fãs” usam as plataformas para mostrar sua indignação com os posicionamentos políticos do músico — um vídeo de 2020 onde ele pede o retorno de Lula ao poder, por exemplo, voltou a circular recentemente.

Em meio a tudo isso e a falas como a da apresentadora Ellen Jabour, que deixou claro que na sua opinião os shows de música não deveriam ter comentários de teor político, um usuário do Twitter resolveu brincar com a situação e montar uma thread com 10 músicas do Pink Floyd que “vão surpreender você”.

O jornalista Luís Felipe dos Santos fez uma sequência de publicações onde brinca com os significados das músicas, insinuando, por exemplo, que o clássico “Dogs” estava longe de ser sobre abuso de poder e dinheiro e falava, na verdade, sobre cachorrinhos.

Inspirados nessa lista sensacional montada pelo cara, que você pode conferir na íntegra por aqui, resolvemos resgatar as mensagens das músicas selecionadas para que qualquer “fã” que ainda tenha dúvidas possa entender, de uma vez por todas, como e por que o Pink Floyd é uma banda política.

LEIA TAMBÉM: Rock e política: uma relação que vai muito além de Pink Floyd e Rage Against The Machine

“Welcome to the Machine” (Wish You Were Here, 1975)

A ótima faixa de Wish You Were Here é uma crítica direta à indústria do entretenimento, que se importa primeiramente com o dinheiro e busca controlar bandas, sem se preocupar com o talento de jovens artistas. Aqui, como em boa parte do resto do álbum, Waters parecia se referir ao colapso mental sofrido pelo ex-integrante Syd Barrett, que foi consumido pela indústria e nunca reencontrou seu caminho.

“Dogs” (Animals, 1977)

Na narrativa da canção, os cachorros (“dogs”) são homens de negócios/empresários que não deixam nada os impedir de continuar acumulando poder em dinheiro, sejam essas questões internas ou externas — ou seja, são descritos como pessoas que estão dispostas a passar por cima de outras pessoas e até de si mesmos, já que terminam a música ficando velhos e gordos e morrendo de câncer, para obter o sucesso que desejam.

Em 2017, aliás, Roger Waters falou sobre como a letra é obviamente inspirada em A Revolução dos Bichos, de George Orwell, e definiu a música como “uma reclamação amarga contra o autoritarismo” e contra o que ele próprio percebia enquanto cresceu.

“Pigs” (Animals, 1977)

Apesar do termo “porcos” (“pigs”) ser geralmente usado em tom crítico para definir policiais, no contexto de Animals os animais eram aqueles que se sentiam autoridades morais. No caso da música, especificamente, Roger a escreveu inspirado em Mary Whitehouse, mulher britânica que liderava um movimento para que não houvesse sexo na televisão.

De acordo com o músico, Whitehouse não deveria ter o direito de escolher o que os outros iriam ver na televisão; para ele, ela tentava “arrastar a sociedade inglesa de volta para uma era de propriedade Vitoriana”. Até hoje, o porco inflável circula pelos shows de Roger Waters como uma representação dessa visão contrária à política conservadora e elitista.

“Sheep” (Animals, 1977)

Fechando a tríade de animais, as “ovelhas” (“sheep”) representam aquelas pessoas que apenas seguem cegamente as ordens de outras — ou, como costumamos chamar aqui no Brasil, “Maria vai com as outras” — por estarem enfraquecidas diante do grande capital e das elites políticas.

Também escrita por Roger Waters, a canção foi inspirada nas revoltas de Notting Hill, que aconteceram em 1976 em Londres. Em 2017, ele reforçou que essa era de fato ao menos uma das interpretações da música, já que “‘Sheep’ tem essa ideia de revolução, de pessoas sendo levadas até o abatedouro”.

“Time” (The Dark Side of the Moon, 1973)

A música fala sobre como o tempo (“time”) pode passar despercebido pelas pessoas. Tendo acabado de fazer 28 anos de idade, Roger Waters percebeu na época da composição dessa faixa que não estava mais se preparando para nenhum acontecimento e, sim, que estava vivendo tudo aquilo para o qual passou tempos se preparando. Basicamente, a mensagem é simples: a vida é aqui e agora e é preciso fazer acontecer, lutar pelos seus ideais.

“Another Brick in the Wall, Pt. 2” (The Wall, 1979)

Um eterno caso de má interpretação, “Another Brick in the Wall, Pt. 2” nunca foi sobre faltar na aula ou ser contrário à escola. Na verdade, Roger estava justamente fazendo uma sátira sobre como o sistema educacional vinha se desenhando de uma forma a moldar de forma cada vez mais unificada as mentes dos jovens, retirando a autonomia de pensamento.

Em 2009, ele explicou que é “a pessoa mais pró-educação do mundo” e deixou claro que o seu problema era com a educação que ele próprio, por exemplo, havia recebido. De acordo com sua fala, Roger passou por um sistema muito “controlador, que exigia a rebelião [pois] os professores eram fracos e, portanto, alvos fáceis”. Ele ainda concluiu dizendo que a música é uma “rebelião contra o governo errante, contra pessoas que têm poder sobre você, que estão erradas”.

“Vera/Bring the Boys Back Home” (The Wall, 1979)

A dupla “Vera/Bring the Boys Back Home” fala diretamente sobre questões de guerra, uma vez que o tema era bastante recorrente na vida de Waters — seu pai foi morto durante a Segunda Guerra Mundial. Em “Vera”, a referência é à cantora Vera Lynn, que atuava em programas de rádio para “fortalecer a moral” de soldados.

Já em “Bring the Boys Back Home”, Roger fala bem claramente sobre como é preciso acabar com a guerra, usando o personagem fictício de The Wall (Pink) como um exemplo de alguém que perdeu o pai na Segunda Guerra Mundial, em uma espécie de metáfora da própria vida do compositor.

Relembrando as composições em 2009, o músico reforçou que “crianças perdem seus pais de novo e de novo, por nada”, e citou o exemplo então recente da guerra no Iraque.

“Comfortably Numb” (The Wall, 1979)

Outra muito mal interpretada, “Comfortably Numb” não tem nada a ver com exaltar o uso de drogas. Na verdade, até veio inspirada no tema depois de uma experiência de Roger com um relaxante muscular que o deixou totalmente anestesiado antes de um show em 1977; ele relata que não conseguia levantar a mão acima do joelho e, mesmo assim, os fãs pareciam não se importar. Por isso, a canção se inclui perfeitamente no tema de The Wall, que explorava justamente essa relação alienada entre público e banda.

Ainda assim, Waters já explicou que a letra é “autobiográfica” e reflete sobre um tempo em que ele era criança e ficou com tanta febre que entrou em um estado delirante, onde se sentia desconectado da realidade.

“Wish You Were Here” (Wish You Were Here, 1975)

Novamente abordando as questões envolvendo Syd Barrett, se inspirou em toda a luta do ex-colega de banda contra a esquizofrenia para escrever “Wish You Were Here”. Ainda que não seja necessariamente uma crítica a nada, a canção relata a difícil jornada de algumas pessoas que, para sobreviverem à vida, precisam se isolar fisicamente, mentalmente ou emocionalmente.

“The Gunner’s Dream” (The Final Cut, 1983)

Inspirada parcialmente em ataques terroristas do IRA em 1982, a música conta a história de um soldado que acaba de pular de um avião e, enquanto flutua em seu paraquedas, sonha com um mundo onde há paz, onde o estado de guerra não existe e portanto não há censura, não há racionamento de comida e os homens não precisam dormir nas trincheiras, já que não precisarão ser mandados para “morrer pelos seus países”.

Em 2003, o músico explicou que o personagem da canção veio inspirado na sua própria percepção dos veteranos de guerra, que segundo ele não costumam falar muito sobre as coisas que viveram. “Você fica dessensibilizado por toda a violência na televisão, você nunca sente o verdadeiro trauma envolvido”, explica Roger.