Titãs é uma das bandas mais influentes da história do rock nacional e, não por acaso, desperta a curiosidade de todos sobre a formação do grupo, o processo criativo envolvendo nove integrantes, as tretas ao longo da carreira e como é a relação com os ex-participantes.
Para matar um pouco dessa vontade de saber o que rolou nos bastidores, o Star+ lança um documentário sobre a lendária banda brasileira nesta sexta-feira (29 de julho), como parte da série Bios. Vidas que Marcaram a Sua.
A apresentadora Sarah Oliveira é a cronista escolhida para contar a história do grupo nesta produção, que conta com imagens de arquivo inéditas, conversas incríveis com Tony Bellotto, Sérgio Britto e Branco Mello, os atuais integrantes do Titãs, além de um ensaio exclusivo.
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Bios. Vidas que Marcaram a Sua
Bios. Vidas que Marcaram a Sua é uma série de documentários produzidos pela National Geographic que reconstroem a história das personalidades mais marcantes da cultura popular latino-americana. As produções revelam bastidores interessantíssimos da carreira dos entrevistados.
No episódio protagonizado pelo Titãs, por exemplo, todos os ex-integrantes do grupo foram entrevistados e falaram abertamente sobre as suas saídas, desde as mais polêmicas, como as de André Jung e Nando Reis, até as mais tranquilas.
O documentário também mostra de forma profunda e delicada o impacto da morte de Marcelo Fromer, em 2001, e a luta dos demais integrantes para seguirem adiante apesar de tudo.
O TMDQA! conversou com a banda e com Sarah para entender um pouco mais sobre o documentário, que também comemora os 40 anos dos Titãs. Confira a seguir!
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TMDQA! Entrevista Titãs e Sarah Oliveira
TMDQA!: Queria começar falando sobre a experiência de vocês com audiovisual. Vocês já têm experiência atuando, escrevendo, existe outro documentário sobre o Titãs… então, o quanto vocês gostam desses registros em imagens da carreira de vocês e dos bastidores?
Branco Mello: A gente sempre teve esse impulso, né. Desde o início, quando começaram a surgir as primeiras câmeras de vídeo (portáteis), a gente acumulou muita imagem e fizemos o documentário “Titãs: A Vida até Parece uma Festa”.
Então a gente sempre gostou de registrar o nosso momento. Naquela época, a gente estava conhecendo o Brasil, viajando. Agora é uma abordagem bem diferente, que já tem os depoimentos, as pessoas que já saíram, então é bem interessante ter feito esse novo documentário, com uma abordagem diferente de estética e conteúdo.
Tony Bellotto: O Branco tá falando que a gente comprou câmera, mas quem tinha essa consciência era ele! Desde o começo ele já vinha com aquelas câmeras enormes, então ele que teve essa sacada.
O que eu acho interessante é que o documentário do Branco e do Oscar (Rodrigues Alves, diretor de “Titãs: A Vida até Parece uma Festa”) tem uma abordagem completamente diferente deste, e os dois são muito bons. A nossa carreira fica muito bem registrada.
Branco Mello: Uma coisa bacana é que muitas das nossas imagens feitas por nós que estão no primeiro filme estão também no documentário agora. Tem um encontro muito interessante de conteúdo.
Sérgio Britto: Além dessa questão do documentário, a gente sempre teve uma visão voltada pra esse lado visual. Registro sim, mas como se apresentar visualmente. Quando a gente foi para a televisão, para os programas de auditório, como Chacrinha, a gente se preparou, pôs figurino, aqueles ternos todos coloridos, a gente fez uma coreografia… a gente chegou a fazer aulas de coreografias, como contamos no documentário.
Depois com o advento dos videoclipes também, e até levou um tempo para termos clipes que a gente pudesse comandar e ter domínio sobre o que tava fazendo.
TMDQA!: Então vocês aproveitaram isso, especialmente ali nos anos 1990, quando a cultura dos videoclipes era muito forte aqui no Brasil?
Sérgio Britto: A gente até ganhou alguns prêmios na MTV por conta disso, né. Com o “Flores” a gente foi participar do VMA, lá nos Estados Unidos. Depois a gente fez o “Será que é isso que eu necessito”, que também teve o mesmo destaque.
Tony Bellotto: O fato de a gente ter feito recentemente uma ópera rock, que foi o “Doze Flores Amarelas”, com direção do Otávio Juliano, faz um apanhado e explica essa nossa vontade de fazer o visual junto com a música.
E isso desde o começo, como o Britto falou, da gente se preparando para os programas de auditório. Algumas bandas contemporâneas achavam que fazer programa de auditório em televisão era uma coisa que de certa forma rebaixava o músico, mas a gente não.
É por aqui que a gente tem que se expressar, então vamos fazer o melhor possível, vamos entender como que funciona esse formato e vamos fazer de um jeito que a gente se coloque artisticamente aqui também.
Branco Mello: E a gente via isso como uma nova linguagem. Aquilo era uma forma de se expressar diferente do disco e a gente gostava.
TMDQA: E o público? O público mais velho vai procurar o documentário para rever alguns momentos icônicos da banda e reviver algumas memórias e momentos nostálgicos. Mas e o público mais jovem? Como o Titãs se conecta com os jovens?
Sérgio Britto: Isso é algo imponderável. A gente tá aí, tem as nossas redes sociais, as nossas músicas, a gente se apresenta em televisão e tudo mais, mas essa conexão, de verdade, é complexa. É alheio um pouco à nossa vontade.
Na época do acústico, aconteceu um fenômeno radical nesse sentido. A gente passou a ter, já com trinta e poucos anos, sucesso com um bando de adolescentes. Parecia show, entre aspas, dos Beatles, com meninas histéricas gritando e tudo. Não foi premeditado, mas aconteceu.
Hoje em dia, você bolar estratégias para isso… eu não sei se adianta muito. O que adianta é você ser autêntico e ter a esperança de que as pessoas compartilhem coisas independente da idade.
No caso dos jovens, muita gente deve ter curiosidade de conhecer uma banda que tem 40 anos de existência, que tem tanta música, que passou por tanta coisa. Acho que isso, por si, já é um atrativo.
Tony Bellotto: Concordo com o Britto. Não é uma preocupação nossa no sentido de “vamos fazer uma música para atrair os jovens”, isso não existe, a gente nunca fez isso. Mas é claro que são muito bem-vindos.
Nos shows a gente vê jovens de 16, 17 anos cantando “Sonífera Ilha”, que é uma música de mais de 40 anos. Então isso é muito satisfatório, muito legal para a gente.
Mas como o Britto falou, é algo que a gente espera que aconteça, a gente faz o máximo para a nossa música chegar ao maior número de pessoas, só que a gente não trabalha com estratégias assim.
Sérgio Britto: A gente não programou nenhuma série de dancinhas pro Tik Tok ainda…(risos)
Branco Mello: A gente conta com a curiosidade do público, dos jovens, em conhecerem uma história tão longa como a nossa. Tudo o que a gente passou, acho que é interessante e isso é bom.
TMDQA!: Sarah, quão próxima você era do pessoal do Titãs antes das gravações e quanto precisou ficar para aproveitar essa experiência ao máximo?
Sarah: Ah, eu tenho uma história com o Titãs, né. Eles fizeram o Luau (MTV) comigo, me viram crescer (risos)! A minha relação pessoal vem do meu pai, de quando eu era menina, vem da Malu Mader, que era minha paixão, então tem toda uma coisa assim.
Profissionalmente falando, conheci eles na Rádio Rock (89FM) e o primeiro Titã que eu conheci foi o Marcelo Fromer, porque ele também tinha um programa lá. Entrevistei eles lá e depois, na MTV, foram muitos encontros. Eles eram praticamente residentes, já tinham gravado o acústico.
O Arnaldo já não tava mais, mas eu sempre tive uma relação forte com ele por fora. Depois o Nando saiu e eu continuei com muito contato, principalmente por causa da Cássia Eller. Outro dia fiz um programa com ele e a gente chorou (risos), então sempre foi com muito carinho, cresci com eles e foi muito legal.
E foi muito interessante porque eles que me convidaram.
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TMDQA!: E foi para outro nível, né. Você visitou a escola onde eles estudaram, a casa deles…
Sarah: Sim, aí foi outra coisa! Tive que mergulhar na história deles como nunca. Entender a importância do (Colégio) Equipe, do Jack Endino (produtor), que rumos eles tomaram quando o Nando saiu, quando o Arnaldo saiu. Porque eu não sabia como tinha sido.
Acho que era isso que o Star+ queria. Não era uma apresentadora, alguém que já sabe de tudo; era alguém que ia descobrindo junto.
Isso que deu o tom, foi emocionante. Inclusive, eu nunca tinha visto eles falando tão abertamente sobre o Fromer, sobre como ele era agregador.
TMDQA!: Essa característica realmente chamou a atenção. Eles estavam sem filtro, falaram abertamente sobre tudo.
Sarah: Sim, sobre tudo! A linguagem foi diferente, porque tem a Sarah ali mexendo e descobrindo, e tem a Sarah atrás da câmera fazendo a pergunta e deixando eles brilharem.
TMDQA!: Sobre a série Bios, se você não fosse apresentadora e, sim, uma espectadora, o que você diria que tem de mais legal para indicar para o pessoal?
Sarah: Eu acho que tem um aprendizado muito forte de como trabalhar no coletivo, do que é ser uma banda. As pessoas talvez não saibam como é ter uma banda grande, que tem que ter democraticamente a opinião de todo mundo. Nove, oito, sete, seis, cinco, quatro, até chegar em três (integrantes), respeitando o olhar do outro e 40 anos depois. Acho isso muito bonito.
Bios. Vidas que Marcaram a Sua sobre o Titãs já está disponível para streaming. Confira!