[RESENHA] Beyoncé nos encaminha de volta às pistas de dança com "RENAISSANCE"

Beyoncé consegue enorme sucesso em seu trabalho pela personalidade e o cuidado com que assume o papel de vocalista sobre as batidas tão representativas.

Beyoncé em RENAISSANCE
Beyoncé em RENAISSANCE

Após anos de reclusão, ela está de volta.

Esta frase não é sobre a cantora, e sim sobre a vida da noite, a balada, a pista de dança, que está funcionando no mundo inteiro, após a vacinação em massa e a diminuição dos dados referentes às vítimas da COVID.

E, após dois anos onde grande parte dos discos das estrelas eram introspectivos, reflexivos e um tanto depressivos, era hora de uma super-estrela nos devolver os hits de dança e músicas uptempo do que curtimos sob os domínios de Billie Eilish ou Olivia Rodrigo. Então, agora sim, ela também está de volta para nos trazer isso: Beyoncé.

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A artista vinha de seus dois melhores álbuns, com escrita e abordagens mais profundas, seja sobre problemas raciais ou sobre a autoestima. Em RENAISSANCE, isso mudou. Beyoncé quer celebrar sua liberdade, e faz isso com uma obra que orgulharia Barney Stinson, o personagem de Neil Patrick Harris em How I Met Your Mother: a música não precisa de altos e baixos, ela DEVE ser pra cima sempre.

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A presença do House

O Trap que dominou boa parte das músicas mais empolgantes de Beyoncé nos últimos tempos, como “APESHIT” ou “Formation”, não é exatamente o melhor estilo pra uma boate.

Já o House, gênero tão apropriado e referenciado nos mais diversos estilos, é algo intrinsecamente negro, desenvolvido em Chicago nos anos 80. Sua cadência mecânica de 4-por-4 é o fio condutor do disco, que se permite sair deste para passear por outros gêneros afrodiaspóricos como o Dancehall ou o Funk, com raros momentos mais calmos.

Mas, é claro, o Trap também aparece entre as sonoridades dominantes, e “CHURCH GIRL”, por exemplo, tem um instrumental que faria MCs brigarem até a morte para tê-lo — cortesia de No-ID. O ponto é que, aqui, o que costuma ser regra vira exceção.

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Ao contrário do que fez Drake no dolorosamente esquecível Honestly, Nevermind, Beyoncé consegue enorme sucesso em seu trabalho pela personalidade e o cuidado com que assume o papel de vocalista sobre batidas tão representativas, deixando claro que estudou os estilos antes de incorporá-los.

Ela caminha sempre por uma linha tênue entre não estar tão perto dos estilos a ponto de ser só uma cópia, nem tão distante a ponto de soar descolada das sonoridades. E, aqui, ela não dá nem sequer um passo em falso.

O tempo todo, Bey está falando com você

A mensagem clara de festa e escapismo também está presente nas letras e performances, com Beyoncé falando sobre a energia alta e a sensualidade — que você consegue sentir mesmo sem entender o que ela diz em tracks como “PLASTIC OFF THE SOFA” ou “THIQUE”.

Embora no geral as mensagens explicitamente políticas não apareçam (apesar de rápidas linhas, como “as Karens acabaram se tornando as terroristas”), a política do disco está em abraçar a autoestima e a liberdade para ser você mesmo.

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As mensagens ao longo das faixas são empoderadoras, além de ditas com potência suficiente para te forçar a crer que você é incrível sim. As repetições de frases auto-afirmativas e sexuais, inclusive, atuam bem demais para isso: você vai crer no que está dizendo.

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O álbum flui com perfeição

Embora as estéticas encontrem muitas semelhanças (afinal, muitas raízes são compartilhadas entre alguns dos gêneros explorados), seria comum que as faixas soassem apenas como uma playlist de festa, como ao misturar o baixo forte (muito forte) de “CUFF IT” e da primeira metade de “ENERGY” com a segunda metade da última, que passa para um reggaeton maximalista a là ROSALÍA e chega ao House noventista de “BREAK MY SOUL”.

Mas as transições são sempre feitas com um cuidado extremo. Esta última citada, aliás, talvez tenha soado um pouco crua como single, mas no contexto do disco soa simplesmente perfeita. Estes detalhes de sequenciamento fazem do álbum uma experiência sonora praticamente impecável.

Outro fator que faz o disco fluir bem entre as faixas é a proximidade sonora entre as baterias, onde timbres semelhantes são colocados para que as mudanças de cadência ao fundo passem despercebidas. Inclusive, às vezes, é possível nem saber quando acaba uma música e começa outra. Beyoncé demora tanto para lançar por isso: o cuidado e o perfeccionismo com sua obra é global.

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https://www.youtube.com/watch?v=FW4Xg3hl3rE

No fim, o álbum é a melhor pedida para curtir qualquer noite. Não seria incômodo nenhum se um DJ apenas o deixasse rolar, porque não existem momentos que não se encaixariam em uma festa.

Não é difícil imaginar, aliás, que todas as 16 tracks tenham sido tocado em alguma boate pelo mundo logo em seu primeiro final de semana. A falta de mensagens mais profundas e variações de ritmo podem não ser ideais para todo mundo ou para todos os momentos, mas esse é um álbum com propósito declarado. Talvez não seja o que você precisa, mas tudo bem: é só o primeiro de uma trilogia. Por ora, vamos nos divertir!

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