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"A gente acredita na mistura": Gilsons falam sobre primeiro disco, influência de Gilberto Gil e luau em Brasília

Na última quinta-feira (11), os Gilsons tocaram no Na Praia Festival, em Brasília, em um luau que emocionou e balançou o público da capital. Veja resenha!

Gilsons no Na Praia Festival, em Brasília
Foto: Bruno Soares / www.bsfotografias.com.br

O Na Praia Festival tem trazido uma das programações mais interessantes de 2022 em Brasília, e na última quinta-feira (11) o evento recebeu os Gilsons.

A banda vem despontando há algum tempo como revelação da cena nacional e teve uma grande ascensão na pandemia. Por isso, só agora Francisco Gil, José Gil e João Gil estão conhecendo de verdade o público que lhes acompanhava, e isso fica notável na empolgação com que eles subiram ao palco para apresentar canções de sua carreira, em especial do disco Pra Gente Acordar.

Em conversa exclusiva com o TMDQA! antes de se apresentar no evento, o trio falou sobre como vem sendo essa experiência. Para José Gil, a sensação é de uma “coisa acumulativa”:

Acumulou a vontade de estar com a gente, porque não podia, então teve que esperar mesmo a pandemia dar uma melhorada pra gente poder voltar a fazer os shows. E também a quantidade de gente que foi se acumulando!

Ele ainda comentou que a melhor definição possível para o sentimento é a de ver os números se transformando em rostos — em referência justamente ao fato de que o mundo digital finalmente está abrindo espaço para o mundo físico, permitindo aos Gilsons observar cenas como, por exemplo, a de todo o público presente cantando junto ao som do hit “Várias Queixas”.

José, aliás, também trouxe vários elogios à inusitada e ótima estrutura do evento brasiliense, que vem se tornando tradição na cidade:

É uma ideia maneira, né? É um lugar que é tradicionalmente seco, mas que tem um lago maravilhoso e aí se usufrui do lago pra fazer essa sensação de praia! Bota uma areia, bota uma vibe de praia, acho maneiro. A gente veio de dia, tá muito bonito o lugar.

Gilsons no Na Praia Festival, em Brasília

A apresentação do trio, que vem acompanhado por uma banda de apoio, é impecável. Com performances irretocáveis nos instrumentos e voz, Francisco, José e João proporcionaram uma experiência inesquecível para a multidão que foi acompanhá-los em plena quinta-feira. Era notável, aliás, como estavam presentes desde jovens até pessoas bem mais velhas.

Isso tudo é, possivelmente, um reflexo que vai além do sucesso de faixas como “Love Love” e “Algum Ritmo”. Ainda que muitos não saibam (ou só descubram depois de algum tempo), todos os integrantes da banda são herdeiros de Gilberto Gil — daí o nome do grupo —, sendo José filho do cantor e os outros dois integrantes netos da lenda da música brasileira.

Se isso definitivamente abre portas para que pessoas mais velhas, por exemplo, possam conhecê-los, também traz consigo uma pressão que não parece incomodar os artistas. O maior mérito dos Gilsons está justamente em ter uma identidade única, algo que foi construído ao longo desses últimos anos até culminar no lançamento de Pra Gente Acordar, como descreve Francisco:

O álbum foi a oportunidade da gente perpetuar o que já vinha construindo em termo de sonoridade, musicalidade, identidade mesmo. A gente veio de uma construção, a gente passou por um processo de se identificar dentro daquilo que a gente fazia enquanto música — e enquanto imagem também —, tudo que envolve essa coisa de ser um artista, o Gilsons.

Então, o disco foi o lugar onde a gente trouxe tudo que a gente construiu, tudo que a gente se identificou enquanto trio também, as nossas interseções, a forma como as canções que cada um traz conversam com essa identidade do projeto que a gente acabou construindo… O disco foi muito esse lugar, e acho que a gente foi muito feliz nisso, porque o mais legal de você fazer um disco é você ficar feliz com ele, e a gente já o lançou com a galera cantando todas as músicas desde o primeiro show. Isso já foi, tipo, a gente já tá muito feliz com esse disco.

Influência de Gilberto Gil

A influência de Gilberto, claro, também não poderia deixar de ser um dos temas de nossa conversa. Questionado se talvez a maior lição que recebeu do lendário músico foi justamente a missão de não se prender a nenhum gênero e se permitir “sair da caixinha”, João Gil comentou:

Eu acho que sim. Acho que a gente, pelo menos, sempre tentou construir essa nossa sonoridade e o que seria essa nossa identidade muito através de acessos próprios, influências próprias. É óbvio que o Gilberto Gil é uma grande influência pra todos nós musicalmente, a gente é super fã, a gente ama essa musicalidade, mas ela é uma parte dessa influência. Ela é misturada com diversas outras, e ainda, como somos três, isso acaba se ramificando.

Eu acho que, de aprendizado, é realmente essa escola de não ter medo da mistura, sabe? A galera apareceu botando o pé na porta com a Tropicália, que era justamente isso: tocando música tradicional mas com instrumentos modernos pra época. É uma coisa que eles fizeram a vida toda e a gente gosta muito, você conseguir trazer o Brasil mas você ter a guitarra elétrica, sabe? Você conseguir tocar com a Banda de Pífanos de Caruaru e a segunda música ser ‘Back in Bahia’ que é um Rock, sabe? Quando gravou o Expresso [2222, disco de 1972].

A gente acredita nessa mistura, só que a gente estava j́á em 2018, 2019, quando começou o projeto, então é outro contexto musical, aí a gente traz influências de agora, músicas utilizando beats eletrônicos, remix, que é uma coisa que a gente acredita bastante também. É isso, é não ter medo dessa mistura, porque é essa mistura que dá bom. Acho que essa escola é a grande escola da MPB.

O resultado está dando mais do que certo e, se você ainda tem alguma dúvida disso, basta conferir uma apresentação do trio. No formato luau, o grupo acertou em cheio e fez o que foi até hoje uma das performances mais memoráveis da edição 2022 do Na Praia Festival.

Na Praia Festival

O Na Praia Festival segue com sua programação cultural até o dia 11 de Setembro, contando com shows de todos os gêneros musicais. Vale destacar que o espaço tem ainda diversas opções gastronômicas e de entretenimento para além dos shows, proporcionando um ambiente único e jamais visto antes em Brasília.

Nesta semana, respectivamente nos dias 19, 20 e 21 de Agosto, o evento contará com Marisa Monte, Matuê + Filipe Ret + Poze do Rodo + Orochi e Murilo Huff + Clayton & Romário + Ícaro & Gilmar + Greg e Gont como atrações principais.

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