Entrevistas

"O Rap é uma mulher preta": Rico Dalasam, Don L e MC Marechal conversam com o TMDQA! sobre a importância da cultura Hip Hop

Em conversa com o TMDQA!, Rico Dalasam, Don L e MC Marechal falam sobre a importância do Rap e suas relações pessoais com o gênero.

MC Marechal, Rico Dalasam e Don L falam sobre Rap no Festival CoMA
Foto de MC Marechal por Bené França; fotos de Rico Dalasam e Don L por Thaís Mallon

No primeiro final de semana de Agosto, o Festival CoMA recebeu alguns dos maiores nomes do Rap brasileiro em Brasília. Curiosamente, o primeiro dia de shows do evento, 6 de Agosto, também marcou a celebração do Dia do Rap Nacional, e o TMDQA! aproveitou a oportunidade para conversar com algumas das estrelas presentes no local sobre o que o gênero representa para eles.

Verdadeiro ícone do Rap e influência para boa parte dos artistas que se apresentaram nos palcos, MC Marechal trouxe um show que contou até com música nova, algo raro para sua carreira. Ao conversar conosco depois da apresentação, o carioca revelou que havia acabado de descobrir a data em questão, mas ressaltou o quanto isso é importante para a cena:

Eu acho incrível. Sempre trabalhei com a continuidade; pra mim, eu só faço e me divirto com isso. Eu tô ali me divertindo. É um privilégio poder fazer isso me divertindo, porque a maioria das pessoas que faz não tem a oportunidade de viver disso, mas eu me dedico tanto que acaba sendo possível. Pra mim, esse momento é uma continuidade e eu espero também poder estar quando as próximas gerações chegarem e eu acredito que vai existir esse lance da velha guarda do Rap, também. Espero poder ser o Nelson Sargento da galera. [risos]

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Com uma carreira que vem desde os anos 90, Marechal também abordou a atual relação do Rap com o Funk. Hoje os dois gêneros estão mais próximos do que nunca, e para ele isso é algo praticamente natural, que foi surgindo depois que artistas que consumiam o Funk (como ele próprio) passaram a ouvir canções de nomes como Gabriel, o Pensador e Racionais.

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“O Rap foi o bagulho que fez minha vida fazer sentido”

Não é à toa que hoje essas duas vertentes quase se confundem, e Don L é um ótimo exemplo de cantor que incorpora ambos em suas canções. O aclamado Roteiro Pra Aïnouz, Vol. 2 conta com diversos samples de clássicos do Funk, que dão o tom para o flow do cearense em muitas ocasiões.

Ao conversar conosco, Don também destacou o quanto o gênero foi importante na sua vida e até tentou fugir do clichê, mas acabou explicando por que é impossível fazê-lo:

O Rap foi o bagulho que fez minha vida fazer sentido, né, mano? Eu não gosto muito de usar esse clichê de ‘o Rap salvou minha vida’ e tal, mas eu acho que se eu não disser isso eu posso dizer que o Rap fez minha vida fazer sentido. Eu uso o Rap pra fazer minha vida fazer sentido, pra trazer sentido pra minha vida. E eu coloco isso nas minhas letras, né? Foi a minha busca, é a coisa mais importante na minha trajetória.

Você pode conferir a entrevista com Don L na íntegra por aqui.

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“O Rap é uma mulher preta”

Também parte do line-up do CoMA, Rico Dalasam traz um terceiro recorte do gênero — em alguns momentos mais romântico, em outros mais intenso, mais pessoal. No fundo, entretanto, conversar com o paulista sobre a sua relação com o Hip Hop é entender que essa cultura tem um papel virtualmente igual para todos que vivem dela.

De forma poética e bela, Rico descreve a relação com a música como uma relação familiar, contextualizada dentro da vida da família preta que representa a sua história de vida e, notavelmente, a de boa parte dos grandes nomes do gênero (veja a entrevista completa aqui):

É muito especial o que o Rap fez comigo ao longo do tempo. Eu só sou grato. Pelo Rap, pela cultura Hip Hop, pelas pessoas que eu encontrei no caminho. O Rap me educou como… O Rap, pra mim, era um homem preto, tá ligado? E, no caminho, ele foi se transformando e hoje é outra coisa. Hoje, pra mim, o Rap é uma mulher preta. E aí ele me educou, de um jeito duro, como a vida tenta fazer com os homens negros, e no caminho ele se tornou um lugar pra onde eu quero sempre voltar — como o colo de uma mulher preta, de uma mãe. Essa é a minha relação com o Rap, é muito pessoal.

Talvez essa pessoalidade citada por Rico seja justamente o que torna a cultura Hip Hop tão incrível: cada um pode entendê-la como quiser, e ela pode assumir o papel que for necessário para a vida de cada artista ou ouvinte. Vida longa ao Rap!

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