O dia em que Mano Brown deu uma aula sobre a sociedade brasileira e o preconceito no "Roda Viva"

Viralizou nas redes sociais a entrevista de Mano Brown no "Roda Viva" em 2007, quando discutiu a realidade das favelas e debateu sobre a repressão policial.

Mano Brown no Roda Viva em 2007
Reprodução/Twitter

Quem conhece Mano Brown sabe o quanto o rapper é politizado e batalha por justiça social em um país que humilha todos os dias os menos afortunados.

Nesta semana, viralizou nas redes sociais a entrevista do integrante dos Racionais MC’s no Roda Viva em 2007, quando discutiu a realidade das favelas e debateu sobre violência e a repressão policial.

Publicidade
Publicidade

No trecho divulgado no Twitter, Brown fala na famosa mesa redonda da TV Cultura:

Se vocês chamam de traficante, eu chamo de comerciantes. O cara que comercializa a cocaína, vamos dizer assim já abertamente, ou maconha ou qualquer outro tipo de droga, é um comerciante como qualquer outro.

E aí, concorda?

Mano Brown no Roda Viva

Após ser interrompido pela psicanalista Maria Rita Kehl, que destaca que a ação do traficante pode levá-lo para a cadeia ou cemitério, Brown continua:

Agora, o dono da 51 não tira cadeia pelos litros que ele vende. A Ambev, ninguém vai para a cadeia. Toma quatro garrafas de cerveja [para] você ver se não bate o carro, você vira o Super-Homem na Marginal [Tietê]. Ele não vai tirar cadeia, o filho dele não vai ficar manchado como o filho do ex-presidiário. O que faz mais mal: uma dose de 51 ou um cigarro de maconha?

“Eu não uso nenhuma das duas coisas,” retrucou um dos convidados da mesa redonda. Mano, então, seguiu com sua linha de raciocínio:

Eu não estou te perguntando se você usa, certo? O que faz mais mal? Teria que ter um médico aqui. Para se falar de drogas tem que ter um médico. Nem precisa usar para saber, isso dá para responder. É o 51, barato. Ele não está preso, esses caras não são presos. Porque eles não são pretos, não são… certo? [Eles] não são moradores de favela. Não são moradores de periferias. Eles não vão presos.

Agora, um comerciante de maconha, ele vai preso. Vamos dizer assim, eu sou a favor de que todo mundo vivesse bem, não precisasse de droga nenhuma para entender nada. Que você conseguisse entender o mundo [em] que você vive sem usar nada. Eu sou a favor disso, mas quando você passa a não entender o mundo [em] que você vive, você recorre a alguma coisa. Quem sou eu para dizer que ele é isso, ele é aquilo. Ele é B, ele é C, ele é traficante, ele é usuário. Eu não sou ninguém, meu. São situações, você vive uma situação hoje que você está bem. Você é jornalista, você opina, você fala, forma opinião… Amanhã você não sabe.

Que aula! Confira o vídeo da fala de Mano Brown a seguir ou clicando aqui.

Mano a Mano

Em tempo, muitos dos fortes discursos do artista podem, inclusive, serem conferidos em seu podcast Mano a Mano no Spotify, que recentemente encerrou sua segunda temporada com a participação de Zeca Pagodinho.

Sair da versão mobile