Música

Win Butler, líder do Arcade Fire, é acusado de abuso sexual e publica comunicado

Quatro pessoas acusaram Win Butler, vocalista do Arcade Fire, de abuso sexual. Em comunicado, músico e esposa disseram que relações foram consensuais.

Win Butler com o Arcade Fire no Brasil em 2014
Foto de Win Butler com o Arcade Fire via Shutterstock

Alerta de gatilho: o conteúdo do texto a seguir descreve comportamentos abusivos

Win Butler, vocalista, guitarrista e compositor da banda indie canadense Arcade Fire, foi acusado de abuso sexual por quatro pessoas.

De acordo com matéria da Pitchfork, três delas são mulheres e a outra é fluida de gênero, se identificando com pronomes neutros.

Ainda segundo a reportagem, os abusos teriam acontecido entre 2016 e 2020, quando Butler tinha entre 36 e 39 anos de idade e teria se envolvido com fãs do Arcade Fire que tinham de 18 a 23 anos.

Todas essas pessoas descreveram comportamentos abusivos, dinâmicas desbalanceadas de poder e um lado do músico bem diferente do que se vê em público, já que ele sempre apareceu na mídia como alguém que coloca as pessoas em primeiro lugar e tem programas importantes de apoio a grupos em dificuldades, como shows realizados para arrecadar fundos para vítimas de guerras e desastres no Haiti.

Win Butler é acusado de abuso

As supostas vítimas de abuso de Win Butler não se conheciam e as denúncias vieram à tona após a primeira delas, que se identificou como “Stella”, compartilhar um post no Instagram afirmando que o músico é “um predador sexual que tentava me coagir constantemente para realizar encontros sexuais e mandava nudes meus além de nudes dele que eu não havia pedido, mesmo após eu dizer repetidamente que não estava interessada.”

A partir daí, três outras pessoas se identificaram com o relato e também fizeram publicações parecidas em plataformas como o Reddit.

Líder do Arcade Fire nega tudo

Em uma longa declaração oficial, Win Butler confirmou que teve relações sexuais com as quatro mulheres, mas disse que todas elas foram consensuais.

Quem também se manifestou foi sua esposa e colega de banda, Régine Chassagne, que defendeu o marido mesmo após as afirmações de que ele teria se relacionado sexualmente com outras mulheres durante anos em que eles já estavam casados.

Em sua declaração, Win Butler afirmou:

Eu amo Régine com todo o meu coração. Estamos juntos há vinte anos, ela é a minha parceira na música e na vida, minha alma gêmea e eu tenho sorte e sou grato por tê-la ao meu lado. Mas às vezes, foi difícil ser o pai, marido e colega de banda que eu quero ser. Hoje eu gostaria de esclarecer coisas sobre a minha vida, maus julgamentos e erros que cometi.

Eu tive relações consensuais fora do meu casamento.

Não há forma fácil de dizer isso, e a coisa mais difícil que eu já fiz foi ter que compartilhar isso com o meu filho. A maioria dessas relações foram curtas, e a minha esposa sabe delas – nosso casamento foi, no passado, menos convencional do que outros. Eu me conectei com pessoas pessoalmente, em shows, nas mídias sociais e compartilhei mensagens das quais eu não me orgulho. Mais importante ainda, cada uma dessas interações foi mútua e sempre com pessoas adultas que estavam consentindo. É profundamente revisionista, e francamente apenas errado, que alguém sugira que não foi o caso.

Eu nunca toquei uma mulher contra a sua vontade, e qualquer implicação de que eu tenha feito isso é falsa. Eu nego veementemente qualquer sugestão de que eu tenha me forçado para cima de uma mulher ou demandado favores sexuais. Isso simplesmente, e inequivocadamente, nunca aconteceu.

Mais adiante, Butler afirmou que luta com problemas de saúde mental já há algum tempo, e disse:

Apesar dessas relações terem sido consensuais, eu peço desculpas para qualquer pessoa que tenha machucado com o meu comportamento. A vida é repleta de dor e erros tremendos, e eu nunca quero fazer parte da causa da dor de outra pessoa.

Eu tenho lutado com questões de saúde mental e os fantasmas dos abusos na infância há muito tempo. Nos meus 30, eu comecei a beber para lidar com a mais pesada depressão da minha vida após a nossa família passar por um aborto. Nada disso serve para justificar o meu comportamento, mas eu gostaria de proporcionar algum contexto e compartilhar o que estava acontecendo na minha vida durante esse período. Eu não me reconhecia mais ou a pessoa que havia me tornado. A Régine esperou pacientemente me vendo sofrer e tentou me ajudar da melhor forma possível. Eu sei que deve ter sido muito difícil para ela ver a pessoa que ela amava tão perdida.

Eu tenho trabalhado duro comigo mesmo – não por medo ou vergonha, mas porque sou um ser humano que quer melhorar apesar das minhas falhas e do dano. Eu passei os últimos anos desde que a Covid chegou tentando salvar essa parte da minha alma. Eu dediquei tempo e energia significativos em terapia e cura, inclusive sessões dos Alcoólicos Anônimos. Estou mais ciente agora de como a minha persona pública pode distorcer relacionamentos mesmo que a situação pareça amistosa e positiva para mim. Sou muito grato a Régine, minha família, meus queridos amigos e meu terapeuta, que me ajudaram a voltar do abismo que às vezes eu tive certeza de que iria me consumir. A conexão que eu compartilho com os meus colegas de banda e a incrível conexão profunda que fiz com o público através da música literalmente salvaram a minha vida.

Olhando para o futuro, eu continuo a aprender dos meus erros e trabalho duro para me tornar uma pessoa melhor, alguém que possa orgulhar o meu filho. Eu digo para vocês, todos os meus amigos, família, qualquer um que eu tenha machucado e as pessoas que amam a minha música e estão chocados e desapontados com esse relato: peço desculpas.

Peço desculpas pela dor que causei – peço desculpas porque eu não estava mais ciente e ligado ao efeito que tenho nas pessoas – eu fiz merda, e apesar de não ser uma desculpa, continuarei olhando para a frente e curando o que pode ser curado, aprendendo das experiências do passado. Eu posso fazer melhor e irei fazer melhor.

Declaração de Régine Chassange

A multi-instrumentista do Arcade Fire e esposa de Win Butler afirmou:

Win é minha alma gêmea, meu parceiro de composições, meu marido e o pai do meu belo garoto. Ele tem sido meu parceiro na vida e na música há 20 anos. E através de todo o amor em nossas vidas, eu também o vi sofrendo com dores imensas. Eu fiquei ao seu lado porque sei que ele é um bom homem que se importa com esse mundo, com a nossa banda, com seus fãs, amigos e a nossa família. Eu conheço Win muito antes de sermos ‘famosos’, quando éramos apenas estudantes universitários comuns. Eu sei o que está em seu coração, e eu sei que ele nunca tocou e nunca tocaria uma mulher sem o seu consentimento e tenho certeza de que ele nunca o fez. Ele perdeu o rumo e agora o encontrou. Eu amo ele e amo a vida que criamos juntos.

Você pode ver a matéria completa e original da Pitchfork, em Inglês, clicando aqui.

Por lá, há relatos mais detalhados a respeito das declarações que as supostas vítimas deram sobre as abordagens e ações de Win Butler.