3 lançamentos para ficar de olho: Marcos Paiva, Lince e Ozu

Separamos três novidades do cenário nacional para você conhecer e acompanhar. Marcos Paiva, Lince e Ozu são os nomes da vez!

Marcos Paiva - Slamousike
Foto por José de Holanda

Conhecido na cena instrumental brasileira contemporânea, o contrabaixista, arranjador e compositor Marcos Paiva vem, desde 2017, junto ao seu sexteto MP6, criando em colaboração com alguns MCs e slammers da cena hip hop paulista.

Max B.O., Kivitz, Killa Bi e Juliana Jesus são os nomes que trabalharam com o artista em canções que cruzam o jazz afro-brasileiro e o rap, numa parceria frutífera e duradoura que culminou no álbum Slamousike.

O disco, que surge agora via ProAC-SP, tem suas raízes em 2010, quando Marcos Paiva passou a frequentar a Cooperativa da Rima de Guarulhos. O músico explica:

Eu levava meu baixo lá e fazíamos um som juntos. Depois, me afastei um pouco dessa ideia, pois lancei três discos ligados ao universo do choro, e retornei a ela somente em 2017. Me ‘tomou conta’ a ideia de que precisava falar algo através da palavra. Juntar a palavra falada e a música instrumental afro-brasileira.

De lá para cá foram cinco anos até a realização do disco. Além de Paiva, os músicos Edu Ribeiro, Gustavo Bugni, Daniel D’Alcantara, Jaziel Gomes e Cássio Ferreira completam o sexteto MP6, responsável pela base sonora de Slamousike. Dentro do projeto, a banda se destaca por navegar em diversos elementos da cultura brasileira, elevando a improvisação jazzística como principal caminho melódico para os artistas convidados.

Entre samples, bases, frases e ideias, o Slamousike quer se comunicar com cada vez mais pessoas. Marcos Paiva acredita que esse trabalho pode alcançar uma fatia boa dentro do público de slam, poesia e rap: “Público jovem e atento ao mundo que se transforma diariamente em nossas vidas“.

Lince

Lince
Foto por Gustavo “Sw” Cruz / Arte por Leyla Carvalho

The Great City Of São Paulo (Feel So Small)” é o primeiro single de Lince, projeto do cantor, compositor e violonista mineiro Vitor Loureiro Netto. A canção marcou também a estreia do selo independente paulista Manul Records.

Com formação musical voltada para o jazz e para a música brasileira, o músico de Belo Horizonte celebra essas influências junto ao pop no single que retrata o momento de sua mudança para a capital paulista.

Lince chegou a São Paulo em 2021, para cursar música na Belas Artes. Foi lá que ele conheceu Vitor Siqueira (produtor musical, arranjador e multi-instrumentista) e Orlando Cisneros (produtor musical, compositor e baterista), e, mais tarde, Bárbara Marques (ilustradora, designer, animadora, redatora e figurinista do Theatro São Pedro). Esse é o grupo que fundou o selo de música alternativa Manul Records.

Bárbara Marques e Vitor Siqueira foram também os responsáveis pela direção do videoclipe de “The Great City Of São Paulo (Feel So Small)”. A produção audiovisual densa traz imagens gravadas pelos metrôs e ruas de São Paulo e cenas em estúdio.

Com o single, o jovem compositor e intérprete mineiro dá início à sua jornada musical enquanto lida com conflitos internos e com a solidão que marcou o momento de sua mudança para a maior cidade do Brasil.

“The Great City Of São Paulo (Feel So Small)” acompanha cuidadosamente seu ouvinte em uma viagem de metrô, com versos declamados que soam como se estivessem sendo ouvidos através dos ásperos e metálicos alto-falantes do vagão, com uma pequena homenagem em sample a “Night Lights”, do jazzista americano Gerry Mulligan — um clássico da melancolia urbana.

Ozu

Ozu
Foto por Mariana Harder

Já nos primeiros dias de 2020, a banda paulista Ozu trabalhava em seu novo álbum. De lá até aqui, o disco passou por dois anos pandêmicos de reflexão, reestruturação e reconfiguração. Foi a partir desses processos, individuais e coletivos, que surgiu Burnout.

O registro chega como um conceito que poderia definir muito bem o espírito dessa época em que vivemos, onde “estágios avançados do capitalismo neo-liberal diluíram e terceirizaram as desigualdades de nossa sociedade” enquanto “seguimos atribuindo nossos problemas financeiros e emocionais a nós mesmos, desenvolvendo então uma constante sensação de culpa, preocupação e ansiedade“, reflete o grupo.

[…] nenhum título, que não ‘Burnout’, poderia ser melhor para esse registro. Guerras e conflitos distantes servem como respiro para achar um ‘culpado’ externo e desafogar a responsabilidade de nós mesmos. Porém, o mecanismo segue sendo o mesmo – ignorar os fatos e terceirizar as faltas. […]

Paradoxalmente, nesse novo trabalho o trio formado por Juliana Valle (voz), Francisco Cabral (compositor/tecladista) e Sue-Elie Andrade-Dé (guitarrista) desenvolve uma sonoridade menos sombria e mais dançante, sem perder sua já conhecida característica introspectiva.

Neo-soul, hip hop e jazz estão, faixa a faixa, mais presentes, assim como os andamentos rápidos e marcantes. O trip-hop também segue vivo enquanto o lo-fi hip hop vem trazendo o estilo que é hoje popular na internet em roupagens de produções instrumentais. Como um todo, a Ozu deixa de lado o estilo minimalista e se arrisca em composições complexas.

Com essa obra propomos uma reflexão na escuta, um convite a diminuir o ritmo das nossas vidas e olhar não só para o que está ao redor, mas também para nós mesmos.

Ouça a seguir!