Cultura

Homem fica 17 anos sem falar por achar que não tinha nada a dizer

O ambientalista John Francis manteve por quase duas décadas seu voto de silêncio até achar que tinha algo relevante para compartilhar. Saiba mais.

Homem fica 17 anos sem falar por achar que não tinha nada a dizer
Reprodução / YouTube

O ambientalista americano John Francis decidiu passar 17 anos de sua vida sem falar até que tivesse algo relevante para compartilhar.

Este curioso fato teve início depois de um desastre ambiental causado por uma colisão entre dois petroleiros em 1971 que contaminou a Baía de San Francisco, na Califórnia, com mais de meio milhão de galões de petróleo (via Uol).

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Francis, que se considerava hippie naquela época, ficou tão impactado com o ocorrido que sentiu que precisava fazer algo como forma de protesto.

Foi assim que ele decidiu que não iria mais dirigir automóveis, o que naquele tempo era uma decisão bastante ousada já que todo mundo ia para todos os cantos dirigindo.

Imaginando que outras pessoas iriam adotar sua postura, devido ao impacto do derramamento de óleo, John se viu andando sozinho e começou a ouvir que o que estava fazendo “era loucura” e “não iria mudar nada”.

Francis manteve sua decisão e tentava se defender contra os motoristas que o criticavam por fazê-lo se sentir mal ou que acusavam o rapaz de querer que eles se sentissem mal. De tanto tentar argumentar, um dia, John se cansou do som de sua própria voz.

Ambientalista passa quase 20 anos sem falar

Prestes a completar 27 anos, John estava lendo O Hobbit, de J. R. R. Tolkien, e lembrou que “quando os hobbits fazem aniversário eles não esperam receber presentes, eles dão”.

Usando este lema como referência, Francis, que sempre falou muito, decidiu que seu presente para as outras pessoas seria parar de falar.

O americano conta que no dia do seu aniversário ele acordou, levantou e ficou em silêncio. Sobre a experiência deste primeiro dia, ele disse:

Foi muito interessante, porque as pessoas tinham muito a dizer e, para sua surpresa e deleite, eu só escutava. Para mim, foi revelador porque ouvi o que as pessoas tinham a dizer, talvez pela primeira vez.

Até este dia, o que eu costumava fazer quando começavam a falar comigo, era pensar no que eu ia responder, em como ia dizer que estavam equivocados e eu tinha razão. Durante esse voto de silêncio de 24 horas, percebi que não escutava ninguém e que, agora que estava escutando, poderia aprender alguma coisa. Pensei: ‘Vou ficar calado outro dia’, que se transformou em outro dia e depois em uma semana.

Questionado sobre não voltar a falar mesmo sendo chamado de louco por alguns conhecidos, Francis explicou por que seguiu fazendo isso:

Porque me senti bem, porque percebi que estava aprendendo. E quando estava andando na natureza, sentia que era realmente um lugar que precisava explorar. Era algo que precisava fazer.

Nas primeiras semanas, havia muitas conversas na minha mente sobre o que eu deveria dizer e quando começaria a falar, até que finalmente cheguei à conclusão de que continuaria assim por um ano. E uma vez que tomei a decisão, tudo se acalmou, e me acomodei no silêncio, e o silêncio se instalou em mim.

Decidido a ficar um ano sem falar, John começou a caminhar pelos Estados Unidos e improvisou uma linguagem de sinais e usou muita mímica para conseguir se comunicar ao longo do tempo.

Quando seu próximo aniversário chegou, o americano reavaliou sua decisão e estabeleceu que ficaria mais um ano em silêncio, e com isso os anos foram se acumulando.

Ao longo dos 17 anos que ficou sem falar, Francis conseguiu se formar na Universidade do Sul do Oregon, em Ashland, fez um mestrado na Universidade de Montana e um doutorado na Universidade de Wisconsin, em Madison.

Depois deste período, e após ter sido convidado a a assessorar o governo americano sobre derramamentos de óleo e redigir regulamentações para os mesmos, John sentiu que tinha algo a dizer e colocou em seu diário que voltaria a falar no dia 2 de Janeiro de 1990. Ele explicou:

Escolhi o Dia da Terra porque queria falar sobre o meio ambiente, algo que para mim tinha deixado de ser sobre o que tradicionalmente pensamos — mudanças climáticas, derramamentos de óleo, poluição e coisas assim — para incluir como tratamos uns aos outros.

Isso é algo que eu não ouvi nos meus estudos, mas foi o que aprendi caminhando e convivendo com pessoas de todo o país.

Ao falar sobre a conexão entre cuidar do meio ambiente e o cuidado mútuo, John explicou que ela “é a nossa primeira oportunidade de tratar o meio ambiente de maneira sustentável ou até mesmo descobrir ou entender o que queremos dizer com sustentabilidade”.

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