Emicida tem feito parte dos line-ups dos principais festivais de música pelo país e é, por exemplo, um dos poucos artistas que tocou em um Lollapalooza e um Rock In Rio no mesmo ano.
Pois quem viu o seu show no Autódromo de Interlagos no primeiro semestre já tem uma boa noção do que é uma apresentação do rapper transformado em ícone da nova MPB: como uma espécie de congregação, as canções são entoadas para passar mensagens de amor, ativismo, celebração e mais.
Hoje mais cedo no Palco Sunset, ele voltou a apresentar um palco que lembra uma igreja e ainda trouxe parceirxs da sua gravadora/selo/agência, a Lab Fantasma, com Rael e Drik Barbosa.
Os músicos costumam aparecer com frequência nos shows de Emicida, e dessa vez foram creditados no line-up oficial, em uma jogada inteligente de branding para a empresa que o músico fundou com seu irmão, Fióti.
Como foi o show de Emicida no Rock In Rio
Um pouco diferente do Lollapalooza, o show no Rock In Rio foi ligeiramente mais voltado ao Rap e ao peso das letras de Emicida, que nos fazem pensar toda vez que são entoadas através do seu microfone.
Passagens como “Cês diz que nosso pau é grande / Espera até ver nosso ódio”, de “Boa Esperança”, foram cantadas com força e apoiadas por uma banda pra lá de roqueira, voltada completamente às guitarras, aos baixos e à percussão.
Para dar força a um momento de conexão com a plateia como é o show de Emicida, a sua caneta é o fator mais importante, já que há muito respeito pelo letrista que ele é, o que faz que as pessoas cantem menos e ouçam mais.
“Triunfo” deu início aos trabalhos em uma sequência pesada que logo chegou no mega hit “Hoje Cedo”, e quem fez as vezes de Pitty, cantora da versão original, foi outra convidada: Priscilla Alcântara.
A (ex?) artista Gospel emprestou sua voz para cantar o refrão marcante e ficou no palco para apresentar “Você Aprendeu a Amar”, parceria recente com Emicida que foi produzida por Lucas Silveira, vocalista e guitarrista da banda Fresno.
“A Chapa é Quente”, parceria com Rael, apareceu seguida por “Luz”, cuja gravação original une justamente os três. Aqui, mais uma vez, a Lab Fantasma mostra seus dons em criar uma espécie de ecossistema liderado por Emicida, seu principal nome, e apoiado por gravações, apresentações ao vivo e ativações que só engrandecem o seu nome.
“AmarElo”, Bolsonaro e “Tudo Que Nóis tem É Nóis”
Após “Levanta e Anda”, que Emicida disse “fazer tempo que não aparecia”, Rael celebrou a Música Preta Brasileira e apresentou “Envolvidão”, som que antecedeu o melhor momento do show.
Ele veio com “AmarElo” e assim que o sample de “Sujeito de Sorte”, de Belchior, começou a tocar no sistema de som, todos sabiam que estávamos próximos de uma força poderosa.
E ela chegou através de mais guitarras pesadas da incrível Michele Cordeiro, a plateia finalmente cantando junto em peso e o maior entre os mais recentes lançamentos do músico.
Não por coincidência, a canção pra lá de inclusiva que conta com Pabllo Vittar e Majur na gravação original, incentivou gritos de protesto contra o presidente Jair Bolsonaro, e quando percebeu, Emicida ironizou ao microfone, dizendo que não conseguia ouvir a mensagem e pedindo para que ela fosse gritada mais alto.
A resposta veio e ele disse que gostaria de ver essa força no dia 02 de Outubro, quando teremos o primeiro turno das Eleições 2022.
Com Priscilla Alcântara nos backing vocals, “Principia” proporcionou o final em clima apoteótico com a celebração das conexões e da união.
A frase “tudo que nós tem é nós”, repetida à exaustão, simboliza o que Emicida tem apresentado nos últimos anos e a música que tem gravado e tocado ao vivo, que se distancia do Rap e se aproxima da Música Popular Brasileira, repleta de convidados, cada vez mais.
Ao final das contas, o show é um plano de fundo grandioso para letras incríveis que, quando ouvidas com atenção, proporcionam verdadeiras aulas e palestras.