Com mais de 30 anos de estrada, o Cypress Hill até hoje traz uma energia diferente aos palcos. Ainda produzindo material, o lendário grupo de rap será um dos headliners do festival Encontro das Tribos, que comemora no próximo sábado (02/10) sua vigésima edição com um line-up de peso.
Em um festival que sempre valorizou a união de gêneros como rap, rock e reggae, ninguém mais adequado que um dos grupos mais conhecidos por essa mistura de gêneros em um som único, sendo um grupo majoritariamente de rap que acabou de finalizar uma turnê com o Slipknot, por exemplo.
Em entrevista ao TMDQA!, o percussionista Eric Bobo diz que espera um público “excepcional e barulhento” para o show, que trará todas as eras do grupo, desde os clássicos como “Insane In The Brain” até o último lançamento, Back In Black, que saiu em março desse ano.
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Veja abaixo a íntegra da entrevista, onde além do show e do novo álbum, Bobo tocou em assuntos como a nova geração de rappers buscando inspiração no rock, como eles faziam 30 anos atrás.
TMDQA! Entrevista Eric Bobo (Cypress Hill)
TMDQA!: Olá Eric, obrigado por esta conversa. Meu nome é João e nosso site se chama Tenho Mais Discos Que Amigos, que é basicamente como levamos nossa relação com a música.
Eric Bobo: [risos] É, parece um bom negócio.
TMDQA!: Então, Back In Black é o primeiro disco do Cypress Hill em 4 anos. O que, fora, obviamente, o produtor, há de diferente aqui que vocês não tinham nos trabalhos anteriores?
Bobo: Foi um retorno ao verdadeiro hip-hop, lembra um pouco o primeiro álbum (Cypress Hill, 1991), até o segundo (Black Sunday, 1993). Eu acho que Elephants On Acid (2018) foi um álbum muito experimental e psicodélico, o que foi ótimo, e os antes desse eram misturas de hip-hop e rock, um pouco de reggae, alguns sons diferentes, mas Back In Black foi um retorno àquele solido boombap, e Black Milk (o produtor) colocou seu toque nisso.
Eu era fã do Black Milk e sugeri que ele produzisse o álbum, por ser fã do seu trabalho com Sean Price e esses grupos do underground. Ele é muito musical, ele sabe muito como mixar a instrumentação ao vivo, e eu acho que isso funcionou muito bem. No início nem era para ser um álbum completo, mas as músicas que ele continuou mandando eram tão boas que saímos de apenas algumas músicas para um trabalho completo. E foi uma mudança muito bem-vinda, já que alguns fãs queriam ouvir o Cypress Hill em um hip-hop mais “raiz”.
TMDQA!: E, embora o álbum soe como os primeiros, ele soa também mais atual. Vocês tiveram inspirações em artistas mais jovens, novos rappers ou produtores?
Eric: Quando você tem alguém como Black Milk, que é capaz de trazer uma pegada sombria mais atualizada, que não é um som tão diferente, que você não imaginaria o Cypress fazendo, foi bem fácil de ficar renovado musicalmente, e liricamente B-real e Sen Dog (os dois rappers do grupo) estavam incríveis, e com esse som reenergizado tudo funcionou bem. E era sem nenhuma pressão, já que ninguém estava esperando esse álbum, foi um álbum que só decidimos trabalhar e fomos na direção da música. Quando você está com pressa, com datas para cumprir, as coisas não fluem tão bem. E foi bom para os fãs, já que não esperavam essa colaboração.
TMDQA!: Em outra entrevista, Sen disse que nesse álbum vocês fizeram realmente com muita calma o disco, gravaram quando quiseram, algo que não podiam fazer antigamente com gravadoras pressionando pelas datas de lançamento. Quanto tempo demorou para que todo o projeto fosse finalizado?
Eric: Honestamente, a gente começou a trabalhar nesse álbum durante as gravações de Elephants On Acid. Então imagina trabalhar em dois álbuns com dois sons diferentes? DJ Muggs (o produtor do grupo, que não participou de Back In Black) tinha outros compromissos e a gente estava na pegada para continuar, às vezes para dar uma parada naquele trabalho. A gente também não queria que os fãs esperassem tanto para ter outro lançamento, então no meio do trabalho desse disco começamos a fazer o Back In Black, fizemos 13 ou 14 músicas e então voltamos a finalizar Elephants, ambos álbuns feitos antes da pandemia. Recentemente voltamos e trabalhamos nele, para mantê-lo novo, mas as ideias iniciais saíram naquela época.
TMDQA!: E o que o público do Encontro das Tribos pode esperar de vocês? Vamos ver sons de todas a eras, mais rap, mais trabalhos recentes?
Eric: Nós temos muitas músicas, mas vocês vão ver ao menos um pouco de cada disco, o público vai receber a experiência Cypress Hill completa. Claro que vão ouvir as clássicas, as faixas novas, mas também algumas surpresas. Vai ser um grande show.
TMDQA!: Vocês são talvez o único ou um dos únicos verdadeiros grupos do rap que tem o respeito máximo do rock, que são bem vistos na comunidade do rock. Por exemplo, lembro de receber do meu pai uma cópia do Black Sunday quando era novo, e ele é um daqueles caras que só ouvem rock. Como é caminhar em ambos os lados sendo respeitados por ambos?
Eric: É incrível por nos permitir tocar para audiências distintas. Não é incomum tocar em festivais totalmente de hip-hop, e não é incomum que sejamos a única banda de hip-hop em um festival de rock. É a energia que levamos, uma energia diferente, de um show de rock, não é só rimando e caminhando, sempre muito forte. O visual, as capas dos álbuns, sempre foram mais como uma abordagem de rock. Temos alguns fãs que dizem “eu não ouço hip-hop, mas eu amo Cypress Hill”. É ótimo especialmente em alguns países onde não tem muito hip-hop, e levamos essa energia, e isso ajuda a trazer a audiência do rock para o Cypress. Nós não falamos só sobre o ‘bling-bling’, nós trazemos aquela energia crua da qual você precisa no rock, mesmo se for uma música puramente de rap. É ótimo para nós porque nós podemos fazer muitas coisas diferentes, acabamos de fazer uma tour com o Slipknot, que é um grupo bem pesado, e nós conseguimos ganhar a audiência deles, que é bem “crítica”, e ganhar seus fãs diz muito. Somos gratos por viver isso.
TMDQA!: Por falar nisso, atualmente alguns artistas novos do rap estão olhando mais para o rock, principalmente o punk-rock, mas não só o som, e sim a energia, a estética. Como vocês vêem esses artistas fazendo coisas que vocês fizeram 20, 30 anos atrás?
Eric: É incrível, é uma evolução. É ótimo que os artistas tenham seus próprios sons e sejam influenciados pelo que outros grupos fizeram antes deles. Isso mantém a evolução acontecendo. Não é como os anos 90, que você tinha hip-hop forte, rock alternativo forte e a MTV expondo as crianças a esses lados totalmente diferentes da música. Eu acho boa a evolução, se você consegue colocar gêneros diferentes ou alguns elementos na sua música e fazer isso soar natural, de forma que não seja forçado, então ajuda muito. Se não parecer suave, natural, a música vai mostrar isso e o público vai perceber. Então parabéns aos artistas que diminuem o espaço entre rap e rock. E também é muito bom no palco, você só tem que ser real quanto a isso.
TMDQA!: Bom, não podia faltar essa pergunta, para fechar. Artistas sempre falam do público no Brasil. Tem algo diferente dos shows daqui para vocês, algo que vocês esperam quando vêm para cá? Vocês esperam algo diferente ou é o mesmo trabalho de sempre?
Eric: Eu sempre curto tocar no Brasil porque a energia dos fãs é incrível. Na América do Sul em geral, o público é sempre muito empolgado, ficam loucos, também porque nós não vamos com tanta frequência, todo ano, então sempre que vamos eles ficam animados para essa experiência. E tenho certeza que sempre ouvem histórias sobre nossos shows, como somos no palco, e eu estou esperando um público excepcional, que faça muito barulho e com certeza será divertido. Estou ansioso por isso.
TMDQA!: Estou ansioso por isso também, muito obrigado!