Há alguns dias, falamos por aqui sobre o anúncio feito por Andreas Kisser da realização do Patfest, um evento em homenagem à sua saudosa esposa Patricia, que nos deixou há pouco.
O guitarrista do Sepultura destacou, desde o começo, a importância do evento — que acontece hoje, 28 de Setembro, e traz uma escalação recheada — para dar voz a uma causa que é muito pouco comentada no país: a necessidade de cuidados paliativos para aqueles que precisam deles e, em casos mais extremos, a possibilidade de uma eutanásia, que ainda é considerada crime por aqui.
Em conversa com o TMDQA!, Andreas explicou que o evento foi um pedido da própria Patricia antes de seu falecimento em decorrência de um câncer, descoberto em Janeiro de 2021:
Esse festival é uma consequência de uma ideia da própria Patricia. É um pedido da Patricia, na verdade. A Patricia pediu esse show para celebrar o fim da quimioterapia, o fim do tratamento. Infelizmente um mês e meio depois que acabou esse processo, a doença voltou nos exames e não deu tempo, porque ela acabou falecendo no dia 3 de Julho deste ano. E aí eu sentei com a Anna Butler, que organiza Os Pitais e trabalhava na MTV há muitos anos, que conhecia a Patricia muito bem também, e a gente resolveu seguir essa ideia de fazer uma festa para a Patricia com Os Pitais e eu convidei todo mundo que eu conhecia, as pessoas mais próximas — porque a Patricia conhecia todo mundo.
As pessoas mais próximas, aliás, já formam um belo cartaz de atrações: nomes que vão desde Dinho Ouro Preto e Samuel Rosa até Chitãozinho e Xororó e Sandy estão no line-up do evento que acontece na Audio, em São Paulo.
Além deles, é claro, está o projeto Os Pitais, do qual Andreas faz parte há alguns anos junto com o filho Yohan e outros músicos, sempre levando a música de todos os gêneros possíveis para hospitais, creches e outros lugares do tipo.
Andreas Kisser, Patricia e a Comunidade Compassiva
Não bastasse a belíssima iniciativa de Andreas para celebrar a vida de sua esposa, o Patfest tem um propósito muito nobre: toda a arrecadação será doada para a Comunidade Compassiva, uma instituição que busca justamente levar as propostas citadas por Kisser (como os cuidados paliativos) para locais onde isso ainda é precário.
Falando de sua própria experiência, o músico ressalta a importância que tiveram os cuidados paliativos no fim da vida de sua esposa, e aponta para o quão fundamental é falar sobre a morte:
A Patricia sempre falava da morte de uma maneira muito leve, muito tranquila. No momento que aconteceu, a gente viu que a família estava preparada pra isso, e isso também foi o meu empurrão, o meu ímpeto pra falar, ‘Mano, a gente precisa falar de morte’. Sacou? Não pode ignorar isso! Acontece e está todo mundo despreparado, desesperado, família brigando, já tem que enterrar porque não tem tempo… Enfim, tá tudo errado. Tudo errado. Por quê? Só por medo de falar da morte? É ridículo isso.
De forma muito aberta, Andreas comenta também sobre a importância do trabalho da Comunidade Compassiva e as durezas do que é visto no dia-a-dia do projeto:
A gente achou a Comunidade Compassiva, que é do Rio de Janeiro e de Minas Gerais, e faz esse trabalho nas favelas, leva o processo paliativo pra gente que tá esquecida, que tá largada e tá ali, sem acesso a medicamentos, a plano de saúde. […] É um trabalho maravilhoso. O Alexandre é uma pessoa iluminada por perceber essas lacunas que as pessoas ignoram, até a própria classe médica. Tem hospitais que não tem nem equipe de paliativo. Tem pessoas que não sabem que isso existe.
Esse é o grande problema! Educação, informação, conteúdo. É um processo muito falho no Brasil de não se falar de morte. E a Comunidade Compassiva vai onde as pessoas estão largadas. As histórias que o professor Alexandre traz são absurdas, mas muito reais, infelizmente. Uma senhora sobrevivendo tomando sopa de papelão durante uma semana; outro corpo de um cara jogado sendo comido por ratos, velho. Assim, absurdos, e a sociedade não tá nem aí. E tudo isso a poucos metros do metro quadrado mais caro do Rio de Janeiro, que é o Leblon.
Ele finaliza explicando ainda sobre o Movimento Mãetrícia, que deve ser lançado em breve para dar ainda mais voz a esta causa:
Junto com o Patfest a gente tá criando o movimento Mãetrícia, onde a gente quer juntar tudo isso. Tem muita gente falando sobre isso, mas as pessoas têm medo, têm fobias, têm superstições, e quando chega ninguém está preparado. Essa é a principal bandeira: vamos falar da morte, porque a gente pode passar esse processo de uma maneira mais tranquila.
Abaixo, você confere todas as informações sobre o Patfest e clicando neste link você pode garantir seu ingresso!
Patfest – serviço
PATFEST
Dia 28 de setembro, às 20h
Local: Audio (Av. Francisco Matarazzo, 694 – Barra Funda – São Paulo/SP)
Ingressos a partir de R$30
Toda a arrecadação será destinada à instituição Comunidade Compassiva.
@comunidade_compassiva
Line Up: Andreas Kisser, Amilcar Cristofaro, Anna Goes, Badauí, Beto Lee, Branco Mello, Bruna Viola, Caian, Canisso, Céu e Pupillo, Chitãozinho & Xororó, Daniel Weksler, Dinho Ouro Preto, Eduardo Escalier, Esteban Tavares, Eloy Casagrande, Fernando Nunes, Filipe Fi, Igor Godoi, Jão (Ratos de Porão), Jean Patton, João Barone, João Gordo, Johnny Monster, Junior Lima, Kiko Zambianchi, Lefê, Luiz Carlini, Marcio Mello, Marcio Sanches, Marcos & Belutti, Martin Mendonça, Nando Reis, Paulo Miklos, Paulo Zinner, Pedro Bandera, Paulo Xisto, PJ, Rafael Bittencourt, Rafael Mimi, Renato Zanuto, Rodrigo Luminatti, Samuel Rosa, Sandy, Sérgio Britto, Tony Bellotto, Trouble, Val Santos, Vasco Faé e Yohan Kisser
Apresentadores: Marisa Orth e Serginho Groisman
Produção: Anna Butler, Tom Gil, Adriana Prado, Caio Piovesan, Cavalo, Levi Henrique, Pedro Bermuda e Rafael Lacerda