TMDQA! Entrevista: Trinidad Cardona fala sobre cantar na música tema da Copa do Mundo, a experiência de viralizar no TikTok e relação com fãs brasileiros

Filho de pai mexicano e mãe porto-riquenha, Trinidad Cardona foi de morar em seu carro a estrelar a faixa-tema da Copa do Mundo de 2022 no Catar.

Trinidad Cardona
Divulgação

Por Nathália Pandeló Corrêa

Trinidad Cardona vive o Sonho Americano. Nascido em Phoenix, nos EUA, filho de pai mexicano e mãe porto-riquenha, o artista de 23 anos foi de morar em seu carro a estrelar a faixa-tema da Copa do Mundo de 2022 no Catar.

“Hayya Hayya (Better Together)” é uma canção que une as raízes afromexicanas de Trinidad ao astro do nigeriano do afrobeats, Davido, e à cantora catari AISHA. O resultado, como se pode esperar, é uma mescla multicultural que traduz o espírito global do futebol, como o esporte mais popular do mundo.

Não é de hoje que bola e música caminham juntos, dos cânticos das torcidas até canções clássicas dos mundiais. Curiosamente, “La Copa de La Vida” e “Waka Waka”, protagonizadas por dois super astros da música latina – Ricky Martin e Shakira – estão entre os mais notórios exemplos de canções-tema da Fifa.

Já Trinidad Cardona não vinha na mesma toada. Isso porque o artista, que viralizou com os hits “Jennifer” e “Dinero”, viu a popularidade desaparecer da mesma forma que chegou. Sem perspectivas na música, Trinidad sobrevivia de empregos informais durante o dia. À noite, dormia no estacionamento de um Walmart.

Pouco tempo depois, “Hayya Hayya” caía no seu colo. Novamente em um acontecimento meteórico, a gravação foi proposta pelo produtor RedOne e logo Cardona gravou uma demo direto de seu quarto. Corta pra novembro, quando, no dia 21, Trinidad, AISHA e Davido se apresentam em um dos palcos mais assistidos ao redor do planeta: a cerimônia de abertura da Copa do Mundo.

Agora, Trinidad Cardona tem outra perspectiva na música. Segue lançando singles e recentemente fechou contrato com a tradicional gravadora DefJam para seu próximo álbum. O Tenho Mais Discos Que Amigos! teve a oportunidade de conversar com o artista via Zoom – diretamente do quarto onde ele gravou o vocal de “Hayya Hayya” para inaugurar uma nova fase em sua carreira.

Confira a entrevista abaixo!

TMDQA! Entrevista Trinidad Cardona

TMDQA!: Nós brasileiros conhecemos sua música, claro. Mas entre Jennifer e agora, você passou por altos e baixos – como muitos de nós. Você pode nos contar um pouco da sua jornada entre aquela época e agora?

Trinidad Cardona: As coisas foram boas e ruins nos últimos anos (risos). Jennifer e Dinero foram momentos divertidos, mas Dinero não estourou até uns dois anos após o disco sair. Nesse meio tempo, me mudei de volta pra casa, no Arizona, e comecei a trabalhar em empregos esquisitos. Fazia o que precisava pra ganhar dinheiro, porque na época eu dormia no meu carro, no estacionamento do Walmart. Vocês têm Walmart no Brasil? Acho que sim, não?

TMDQA!: Não temos mais!

Trinidad: Ah então, eu ficava lá usando o wi-fi gratuito. Estava entregando comida, limpando casas… e alguém me contou que minha canção Dinero tinha viralizado no TikTok. Aos poucos, fui me direcionando novamente à música e aí soltei Love me Back, e desde então as coisas vão bem. No último ano e meio, tem dado certo pra mim.

TMDQA!: Isso que eu ia dizer, que as coisas estão melhorando! Claro que quero falar de Hayya Hayya, porque uma oportunidade dessa muda o jogo pra muitos artistas. Você já sentiu a sua vida mudando, profissionalmente e pessoalmente, desde que o single saiu?

Trinidad: Claro! É uma oportunidade enorme, pude realmente estar sob um novo holofote, tenho muitas coisas acontecendo no momento. E a Copa do Mundo é algo tão grande e tudo aconteceu tão rápido, que eu não esperava. Então estou super grato por uma oportunidade como essa.

TMDQA!: Imagino! E falando em mudanças, nos últimos anos, a música latina cresceu exponencialmente, em especial na década que passou. Você acha que ritmos como reggaeton se tornando mais conhecidos fizeram a Fifa procurar especificamente um artista latino, para fazer um som mais global?

Trinidad: Acho que sim. Olhando todas as músicas que saíram, quando eu tinha 10 anos, eu morava no México e foi quando saiu Waka Waka, com a Shakira. E isso já trazia esses elementos, era em espanhol e inglês. É algo que eles já vem fazendo porque o futebol é um esporte global, é o esporte mais jogado. Não importa a língua que você fala ou de onde é, você provavelmente conhece ou joga futebol. Acho que foi bem legal eles abrirem essa oportunidade enorme pra mim esse ano.

TMDQA!: Aliás, muitos de nós não fazem ideia de como uma música assim se materializa! Você pode nos contar como foi o processo de como esse trabalho caiu no seu colo, até o lançamento?

Trinidad: (risos) Foi muito louco! Eu estava no meu quarto, igual estou agora, fazendo música no meu computador. Recebi uma ligação do nosso amigo, RedOne, que é um produtor bem popular, trabalhou com muitos artistas, fez muita coisa com a Gaga. Ele falou “olha, temos essa gravação, queria ver como ficaria com a sua voz”. Fiz uma demo da música no meu quarto e eles amaram, falaram “ficou muito maneiro”. Eu joguei também umas frases em espanhol aqui e ali, e eles não tinham uma versão em espanhol. Então acrescentei um pouco, mas boa parte veio do RedOne, que me deu uma linda música. Acho que soou lindo, não quis mudar muito, porque estava perfeita. Era Hayya Hayya, exatamente como você pode ouvir agora. No meu quarto! Me gravando sozinho.

TMDQA!: Nossa, parece que caiu do céu! (risos) Mas queria falar sobre a colaboração em si. Porque você é do México e EUA; o Davido tem as raízes africanas; e a Aisha é do Oriente Médio. Como você acha que suas histórias tão diferentes se combinaram pra criar um som único?

Trinidad: Eu gosto do fato de que é um som de todos esses lugares, porque como eu vinha dizendo, o futebol é um esporte global. É algo que todos esses países jogam muito. Quando eu vou para o México, todos os meus primos estão assistindo a Copa do Mundo ou algum tipo de jogo de futebol. O mesmo com o Oriente Médio. Quando fomos pra lá, deu pra sentir o quanto o esporte é importante para a cultura deles. Quando juntaram todos nós em uma música, parecia divertido e algo muito certo. Sempre fui fã de Davido, que tem clássicos. E Aisha tem uma voz linda. Porque Hayya Hayya é “somos melhores juntos”, e de que forma melhor de fazer isso do que somar artistas de países e até continentes diferentes, se unindo?

TMDQA!: Sim, é algo que todos precisamos agora. Aqui no Brasil, quando tem jogo da Copa, o comércio fecha, escola nem existe! Mas falando em cultura, me parece que futebol e música andam de mãos dadas, se você pensar nos fãs que sempre cantaram nos estádios. Você já teve essa experiência de cantar junto com uma torcida num jogo? E você acha que esse espírito, de alguma forma, está presente no single?

Trinidad: Claro! Eu fui para Estados Unidos x México, eu devia ter uns 7 ou 8 anos. Esse foi um que eu assisti, e depois eu joguei um pouco. Nada sério, só pra me divertir, na escola, com outros garotos. Eu estava sempre perto do futebol, sempre tinha alguém próximo a mim assistindo. Outro dia eu fui na casa de um amigo, ele estava jogando Fifa no Playstation 5. Foi muito fácil entrar nesse clima, porque é algo que faz parte de como fui criado.

TMDQA!: Claro, faz sentido. Quero falar também sobre seu futuro! Agora você é um artista da DefJam, e o que é bem maneiro. Você pode contar algo sobre seu próximo disco?

Trinidad: Tudo que eu sei é que temos entre 100 e 150 músicas que fizemos no último ano. É meio difícil escolher as melhores, porque queria que as pessoas ouvissem todas, mas estamos selecionando para chegar às melhores canções. Temos um novo projeto saindo, se der tudo certo entre setembro e outubro, e depois disso temos um novo projeto que ainda não posso comentar. Você pode esperar muitas novidades minhas, inclusive algo já para o começo de 2023. Esse é o plano.

TMDQA!: Eu estava pensando que você teve duas músicas virais – uma no Facebook e outra no TikTok. Parecem duas coisas de gerações diferentes já. Você nota alguma diferença nesses dois momentos, com relação à forma como as pessoas consomem música ou como nos relacionamos com ela?

Trinidad: Sim, acho que o TikTok mudou o jogo. Minha primeira viral foi no Facebook – sabe, onde todos os pais estão (risos). E depois Dinero foi no TikTok. Isso foi bem diferente, porque foi mais global. No início, com Jennifer no Facebook foi como me tornei bem popular no Brasil. Pelo analytics, dava pra ver que 50, 60% dos meus fãs eram do Brasil. E Dinero foi popular em vários lugares, como Índia, Filipinas. Porque o TikTok tem um alcance em todo lugar. E quando Love me back saiu, foi a mesma situação, porque também viralizou no TikTok. É assim que eu descubro minhas músicas favoritas agora, ouço no TikTok. Se o TikTok começasse a fazer streaming de música, eu usaria só o TikTok (risos).

TMDQA!: E falando em futuro, você vai dar um passo enorme nesse fim de ano, com a cerimônia de abertura da Copa do Mundo. Quais são expectativas e planos? Pode nos dar algum spoiler?

Trinidad: Nenhum, porque eu também não tenho! Só sei que vou me divertir. Deve ser divertido para todos, eles sempre fazem shows muito legais por lá.

TMQDA!: E finalmente, você estava falando sobre como os brasileiros conheceram seu trabalho. O que veio depois, provavelmente, foi um monte de “come to Brazil”, bandeirinha verde e amarela nas suas redes sociais. Então preciso perguntar se você tem planos de vir pra cá, talvez se apresentar?

Trinidad: Claro! Estou com meu passaporte agora, espera aí (pega o passaporte e mostra na câmera). Agora estou com o passaporte atualizado, vou encher o saco da minha equipe para irmos para o Brasil. Isso vai acontecer em 2023.

TMDQA!: Você está pronto, agora eles que lutem! (risos)

Trinidad: Sim! É uma loucura, já faz alguns e eu não fui aí.

TMDQA!: Então é isso! Desejamos boa  sorte nessa nova fase da sua carreira.

Trinidad: Obrigado! Mucho gusto falar, gracias, amo vocês!