Há alguns anos, já virou moda em Hollywood apelar para remakes e reboots de filmes consagrados, além de continuar histórias que fizeram sucesso há muito tempo. Na mesma medida, viraram tendência as reclamações dessas sequências e da falta de criatividade da indústria do cinema, repetindo-as tanto que até perderam parte da sua força e viraram lugar comum.
Mas e quando os caras acertam a mão e fazem jus à obra original?
Aconteceu com Mad Max: Estrada da Fúria (2015), Blade Runner 2049 (2017), recentemente com Top Gun: Maverick (2022) e agora, novamente, com Abracadabra 2 (Hocus Pocus 2). O retorno aconteceu só 29 anos depois do filme que apresentou as Irmãs Sanderson, mas faz atualizações pertinentes, melhora os efeitos especiais e explica pontas soltas daquela produção.
É claro que esse filme não chega aos pés dos demais citados em questão de complexidade, mas é bastante divertido e, como não se propõe a nada além disso, acaba agradando.
Abracadabra 2 acompanha Rebecca (Whitney Peak), uma jovem que acidentalmente desperta três bruxas em um ritual de aniversário, realizado com sua melhor amiga, Izzy (Belissa Escobedo). As bruxas são Winifred (Bette Midler), Sarah (Sarah Jessica Parker) e Mary Sanderson (Kathy Najimy), que voltam com sede de vingança contra a população de Salem e acabam criando uma série de confusões pela cidade.
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Continuou ou começou de novo?
Apesar do grande intervalo para retornar, a história de Abracadabra 2 é uma continuação da obra original. As possíveis dificuldades de retomar a narrativa com as mesmas protagonistas são contornadas por atualizações muito boas do roteiro, como em uma sequência na qual as três bruxas são apresentadas ao mundo moderno ou com a utilização de objetos tecnológicos para fins mágicos e… alternativos.
Além da criatividade para criar situações em que as bruxas desenvolvem novas aventuras, a diretora Anne Fletcher (A Proposta, Vestida para Casar) conta com a atuação inspiradíssima das atrizes principais.
Bette Midler é simplesmente incrível. Winifred é a bruxa mais relevante, com mais falas, e a experiente atriz resgata exatamente a mesma energia que deu à personagem quase três décadas atrás. Cheia de toques e trejeitos, ela poderia facilmente cair no exagero, mas isso definitivamente não acontece e uma das personagens mais legais dos anos 90 volta com estilo.
O destaque para Midler coloca Sarah Jessica Parker estranhamente em segundo plano, considerando o tamanho que a atriz conquistou ao longo da carreira. Ela, sim, afeta demais a sua atuação em alguns momentos, mas nada que prejudique o clima divertido do filme. As interações entre as irmãs são um primor de química e até quando exageram o resultado fica engraçado.
Sem contar os números musicais, que tinham potencial para estourar a escala cringe nos espectadores, mas, na verdade, são os momentos mais divertidos de todo o filme.
Atualizações não forçadas
Um aspecto que frequentemente é pontuado pelos fãs mais críticos é uma suposta “lacração” forçada para levantar pautas progressistas. Aqui, a militância existe mas não é evidenciada para ser notada.
A protagonista é uma jovem negra, não há um interesse romântico que a faça progredir na história e sua melhor amiga é latina, por exemplo. Ela até critica certas heranças patriarcais de uma época em que bruxas eram caçadas, mas em uma piada que rapidamente faz a trama caminhar adiante.
Continuar trilhando esse caminho é uma tendência interessante para filmes leves assim. Isso é um detalhe importante: este é um filme infantil — tanto que será lançado no Disney+. Não faz sentido chegar esperando a profundidade de uma obra de Jordan Peele ou a visão crítica de um Spike Lee.
O segredo para apreciar Abracadabra 2 é nivelar as expectativas à altura do que ele oferece. Uma viagem nostálgica a um dos filmes mais queridos dos anos 90, quase duas horas de humor bestinha e uma história simples que não vai te exigir muito.
Abracadabra 2 estreou diretamente em streaming e já está em cartaz no Disney+! Confira!